Capítulo 1
Por mais confortável que fosse o avião particular que nos trazia de volta a Corte, eu não conseguia relaxar. Eu sabia que estávamos seguros aqui, que Lissa estava em segurança, mesmo tendo escolhido trazer só a mim nessa viagem. Ainda assim eu não era capaz de relaxar.
Estávamos longe da Corte há cinco dias e isso já parecia uma eternidade. Cinco dias longe de Dimitri eram mais do que já tínhamos estado nos últimos meses.
Enquanto eu ainda tentava relaxar, fui surpreendida por Lissa.
- Sabe Rose, às vezes eu acho que não é justo.
- O que não é justo? – Eu perguntei meio sem vontade de conversar, mas aquela era não apenas a minha amiga. Era a Rainha Vasilisa Dragomir e eu não podia negar-lhe atenção.
- Essa coisa toda do laço. Nunca foi muito justo.
- Bem, ele agora também já não existe mais.
- É eu sei – disse ela parecendo um pouco vaga – mas de qualquer forma ainda me incomoda que você saiba coisas sobre mim que eu não saiba sobre você.
Tentei disfarçar um sorriso malicioso. Eu sabia do que ela estava falando, mas eu não queria entrar em detalhes com... a Rainha. Ainda que ela fosse a minha melhor amiga desde sempre.
- Ah, qual é? Você sabe tudo da minha vida.
- Não sei não, Rose. Por exemplo, até o episódio da invasão de St. Vladimir, eu não sabia do seu relacionamento com Dimitri. Vamos lá. O que mais você esconde de mim?
- Eu não escondo nada, Lissa.
- Ah Rose, por favor! Olha, estamos só você e eu. Há quanto tempo não temos oportunidade de conversar assim, sem ninguém por perto, sem outros compromissos? Estamos presas aqui, vamos fazer isso ser divertido!
- Lissa, não tem nada de divertido na minha vida. Bem, ao menos, nada que você não saiba.
- Não se faça de desentendida! Você entrou na minha mente, através do laço, várias vezes! E eu sei de várias coisas que você pode ter visto. Como a minha primeira vez com Cristian. Eu sei que você estava lá, você me falou.
- Sim, eu estava, e assim que percebi, eu cai fora, eu não fiquei.
- Mas poderia ter ficado... Já eu – ela falou com um jeitinho de quem se faz de vítima, mas não de uma forma ruim, ao contrário, até zombeteira - nunca soube detalhes de sua vida amorosa.
- Ah, Lissa, por favor, não faça isso... – Deus, como eu queria sumir dali.
- Tudo bem então. Eu só achei que, da última vez que falamos disso, você estava indo embora, eu estava magoada e você de coração partido. E como agora está tudo bem, poderia ser um momento entre amigas.
Às vezes eu achava que ela estava abusando de seus poderes de Rainha, fazendo-me sentir transgressora. Ou pior, do de amiga, porque esse fazia com que eu me sentisse culpada.
Eu soltei uma gargalhada pensando em como contaria a minha primeira vez para Lissa, e me ajeitei em minha poltrona e ainda rindo, a ameacei:
- Está certo, eu vou te contar. Mas se você rir de mim, eu juro que você vai conhecer a fúria de sua própria Guadiã!
- Eu topo o desafio!