Disclaimer: The GazettE não me pertence. Essa fanfic não tem fins lucrativos.

Sinopse: "Agora sabia qual o preço de sua desconfiança. Sabia que perdê-lo era mais do que poderia agüentar. Entendera que ferir a ele era como ferir a si mesmo" - The GazettE - YAOI - AxU

Notas: Essa fanfiction começou a ser postada no Nyah Fanfics no dia 05/11/2008 e concluída em 25/12/2008. Estou postando aqui pelo fato de agora não serem permitidas por lá e em breve não poderão mais ser visualizadas.


DO JEITO CERTO

Capítulo 1. Ciúme Inconsequente

O jovem loiro estava sentado no chão do seu apartamento. Sentado não: jogado. Em seus olhos uma tristeza que não conseguia explicar. Sentia a garganta doer, e como se a respiração fosse faltar a qualquer momento. Pensar lhe parecia um grande esforço. Não queria pensar, porque isso significava lembrar de tudo... e a lembrança era dolorosa demais naquele momento.

Por que Aoi tinha feito aquilo? Por que? O que fizera para merecer aquele ódio todo, afinal?

Só por causa de um beijo roubado de uma fã? O que ele queria que fizesse? Empurrasse a garota pra longe?

As palavras eram duras demais. Por mais que não quisesse se lembrar, tudo voltava a sua mente. E também não ia passar nem tão cedo.

Estava ali sentado há algum tempo. Horas talvez. Não quis calcular, não fazia questão de tomar conhecimento do que estava a sua volta. Não queria saber de nada. Só queria dormir... sumir... talvez morrer.

É. Talvez morrer fosse a melhor coisa. Pena que não tivesse a coragem. Sentia-se fraco demais, até mesmo para acabar com tudo.

As lágrimas riscavam seu belo rosto, tornando seus olhos vermelhos. Ainda bem que estou sem maquiagem, pensou, dando-se conta de que estava vestido normalmente. Tinha medo de olhar para o espelho e descobrir-se com a aparência do que realmente era: um palhaço, uma puta... um brinquedo, um nada.

Levantou-se, subitamente. Ainda estava sem forças porque sentia o corpo pesado, seus pés o levando através de passos arrastados para o banheiro. Sem querer encarar o espelho, abriu rapidamente o armarinho e tirou de lá um vidrinho: remédios. Tranqüilizantes.

Era isso. Se queria dormir, precisava recorrer a isso. Os remédios eram fortes, odiava toma-los mas eram os seus companheiros tanto quanto a solidão e a depressão. Se antes fugia a todo custo, agora percebera que não havia alternativa. Naquele vidrinho, as cápsulas coloridas representavam toda a sua chance de fuga.

Sim, queria fugir. Não queria sentir aquela dor. Não queria mais lembrar daquelas palavras, embora soubesse que elas ficariam gravadas na sua memória. Sabia que sim, mas por enquanto apenas fugir da realidade. Uma anestesia, pelo menos enquanto não podia lidar com isso ou a dor não diminuía.

Fechou o armário e viu seu reflexo. Olhos inchados e vermelhos assim como o seu nariz. Uma imagem que o atraiu, mesmo não sendo a melhor, mesmo sendo a que não gostaria de ver. Naquele reflexo estava vendo a verdade. Sua verdadeira aparência.

Sim, tudo que Aoi dissera era verdade. Não passava de um bêbado, vadio e digno de pena.

Apenas uma boa foda.

O que o fazia pensar que merecia mais?

Não... não merecia amor, carinho ou qualquer coisa. Nem piedade.

Com mãos trémulas, mas ainda rápidas, derramou comprimidos na mão. Alguns caíram no chão, mas não se importou. Queria apenas ser rápido e fazer com que aquilo acabasse. Queria dormir, precisava dormir.

Levando a mão a boca, começou a ingerir os comprimidos a seco. Depois, sentindo que estava engasgando começou a tomar a água da torneira mesmo, apenas para engolir e poder tomar outros. O gosto ruim começava a incomodar, mas Uruha ignorou solenemente.

Não soube quanto tempo demorou fazendo isso. Não se dava tempo pensar, parando apenas quando o gosto não poderia mais ser ignorado. Sentiu a bile começar a subir pela garganta, o organismo reagindo a aquela violência a que estava lhe submetendo, mas foi firme. Não podia vomitar, ou todo remédio que tomara não faria qualquer efeito.

Dormir. Estava cansado demais e precisava dormir. Escorando-se nas paredes, praticamente arrastava-se até o quarto, já sentindo os efeitos daqueles comprimidos mágicos. Logo não conseguiu mais manter-se de pé. Perdendo as forças, desabou para o chão, mas entorpecido mal pôde sentir o impacto. Seus olhos estavam pesados demais para querer mantê-los abertos.

Mal conseguia se mexer ou sentir direito o corpo, mas de qualquer modo estar deitado no chão o incomodou. Ainda tentou levantar, mas sentia-se tão pesado... o máximo que conseguiu foi encostar-se na parede, sentando-se, mal sabendo se conseguiria manter-se assim.

Não, não tinha desistido de adormecer. Não sabia o que ia acontecer, mas fosse como fosse não precisava parecer mais humilhado do que estava. Sabia que tomara muitos remédios, que talvez aquilo o fizesse mais do que adormecer. Sabia que os riscos que corria eram grandes, mas queria apenas dormir, esquecer. Se não acordar fosse o risco que deveria correr, pouca diferença faria. Quem se importaria?

Ninguém ia sentir sua falta. Nem mesmo Aoi, o único que julgava ser capaz disso... era o que achava há poucas horas atrás. Agora que o castelo de areia tinha desabado, a verdade estava em sua frente.

Dolorosa, feia, cruel... mas era o que tinha para si. Era a sua verdade. A única coisa que não lhe arrancariam.

– Você é um bêbado que não merece respeito! Fica dançando e se oferecendo que nem uma vadia qualquer!

– Se é assim por que ainda está comigo?

– Por que você é uma boa foda!

Sentiu a respiração pesar exigindo de si uma força que não tinha. Não se incomodou pois sabia que o desconforto não duraria muito. O sono logo o levaria, sem hora marcada pra chegar, então não pretendia lutar contra e adiar o momento. Não justo agora que seu corpo finalmente estava cedendo.

Ouviu um barulho muito distante... agudo. O som da campainha? Não sabia. Que tocasse! Estava fraco demais pra isso.

Não soube quanto tempo aquele som ecoou. Provavelmente segundos insignificantes. Logo cessou dando vez a um silêncio que o deixou em paz. Não sabia quem poderia ser a uma hora daquelas, mas certamente não era quem gostaria.

O silêncio também durou pouco, dando lugar a um som mais alto e mais grave. Pareciam... golpes. Estavam golpeando alguma coisa do lado de fora. Será que estavam tentando assaltar o apartamento da frente? Bem, sentia muito mas não poderia dar uma de herói naquele momento. Alguém que chamasse a polícia.

O barulho ficou mais alto, como se quem estivesse golpeando usasse mais força. Foi quando se deu conta de que talvez não fosse o apartamento do lado, e sim o seu que pudesse ser assaltado. Riu-se ao pensar na possibilidade, ou ao menos tentava pensar, já que os calmantes já nublavam sua consciência. Quem entrasse ali não teria a menor dificuldade em roubá-lo. Tanto fazia. Podiam pegar o que quisessem. Não importava o que lhe fizessem: pouco se importava se quisessem matá-lo.

Num instante que não pareceu durar mais que segundos o estrondo foi realmente forte. Tão forte que Uruha chegou a se mexer, como se reagisse ao susto. Reação que durou pouco e que não diminuiu o torpor. Será que era isso mesmo? Era a sua porta? Não quis mais saber, já estava com os olhos fechados, sentindo-se longe, ouvindo apenas sons tão distantes que mais pareciam sussurros.

– Kouyou!

Uruha ouviu seu nome, sussurrado mas parecia indistinto. Não tentaria abrir seus olhos por isso. Não estava curioso para saber quem era, não quando finalmente o sono estava chegando.

– Kouyou!

O sussurro agora fora mais alto, um leve tom de desespero acompanhado por uma sacudidela no ombro. As mãos que se fechavam em seu braço não lhe pareceram pesadas. Estava anestesiado demais para sentir se o machucavam.

– Kou! Kou fala comigo, por favor!

A voz pedia, implorava. As mãos em seus braços apertaram com mais força. Uruha cedeu e abriu os olhos. Sua visão estava turva, nublada mas ainda assim pôde reconhecer a pessoa a sua frente. E não pôde conter a surpresa.

Yuu...?

Será possível? Não... devia ser uma visão provocada pelos remédios. Não podia ser ele. Não depois de tudo. Sem saber se era uma alucinação, ainda quis falar alguma coisa, mas não conseguiu. As palavras não saíram. De qualquer forma era tarde demais pra falar qualquer coisa. O sono o faria parar a qualquer momento.

– Kou, onegai, fica acordado! Onegai!

Quis falar, xingá-lo, mesmo sem saber se era frutos de seu sono, ou se eram realidade. Não acreditava que fosse real, de qualquer modo. Não tinha forças para manter os olhos abertos, muito menos pra brigar. Não queria medir forças com a visão de quem lhe fizera tanto mal. Não valia a pena. Simplesmente não valia a pena. Então, deixou-se levar pelo apelo de seu corpo, deixando aquilo que tanto almejara viesse: o sono.


Continua -