Estavam sentados perto dos testrálios. Harry já não se incomodava com qualquer coisa neles.

"Experimente", disse a garota, animada, tirando do rosto os óculos psicodélicos.

Harry se viu rindo de puro prazer lúdico. Estremeceu quando ela lhe tirou os óculos redondos, tornando-se um borrão amarelo contra o verde da floresta ao crepúsculo. Mas antes que ele esboçasse uma reclamação, ela lhe pôs delicadamente os espectrocs.

E o que ele viu o calou.

Os zonzóbulos eram apenas um detalhe. Esvoaçando ao redor da cabeça de Luna como pequenas ninfas bizarras, não pareciam sequer cogitar invadir seu cérebro. Antes a adornavam – a coisa indefinida que se percebia em torno dela a olho nu. E ela... embora naquele momento fosse a criatura mais fascinante que Harry já vira, não tomou toda a sua atenção em detrimento de tudo o que havia em volta, e que ele olhou embasbacado.

E nunca saberia contar o que viu. E compreendeu; a estranha sintonia já pressentida entre ele e a-menina-que-também-já-vira-a-Morte. Uma espécie de mundo ainda mais mágico, oculto atrás da linha tênue que, no caso, poderia ser chamada de lentes de espectrocs. O mundo de Luna. Tão normal quanto o dele, à medida que seus olhos míopes se acostumavam com a visão caleidoscópica.

Piscou algumas vezes quando voltou a pôr os próprios óculos. Estava ainda mais mudo. Ela, ainda mais fascinante. Ambos, ainda mais parecidos.

Luna sorriu diante da expressão dele. Inclinou-se em sua direção.

"Eu sei", sussurrou em seu ouvido. "A realidade é desconcertante."