Capítulo 01

Abri os olhos bem devagar naquela manhã. O sol entrava sorrateiro pela fresta da janela do meu chalé e batia diretamente nos meus olhos, mesmo tendo outra cama sobre mim, já que eu dormia em um beliche. Podia ouvir o barulho da fonte que meu pai me dera bem próximo a mim, levemente irritante, admito.

Levantei-me e olhei em volta. Vazio. Bem, era óbvio, afinal apenas eu morava lá, e Tyson, meu meio-irmão ciclope, quando ele passava um tempo no acampamento. Um ano atrás meu pai falara algo sobre reconhecer os outros filhos - confesso que entrei em pânico com a possibilidade - mas aparentemente, era brincadeira, afinal, nenhum outro filho de Poseidon fora reclamado nos últimos meses e meu pai não quebraria uma promessa a mim.

Ah, sim, eu sou Percy Jackson, filho de Poseidon - o deus dos mares, sabe? - com uma mortal, portanto sou um semideus. Sim, exatamente o que você está pensando, sou um cara no mesmo estilo do Hércules, claro que de pais diferentes, ele era filho de Zeus. O qual é... hã, meu tio. E odeia meu pai. Mas problemas de família eu vou deixar pra mais tarde.

Voltando ao meu glorioso dia. Bem, ele não era, de forma alguma, glorioso, foi ironia. Veja bem, fazia um ano que havíamos passado por uma enorme batalha contra o titã Cronos, que estava vivo possuindo um amigo que nos traiu e depois de redimiu, e acabou se matando. Parece complicado, e é mesmo, mas como esse não é o ponto da história, fica pra outra hora também. O ponto é: fazia um ano que a tal batalha havia ocorrido e em consequência eu finalmente tomara coragem de falar com minha melhor amiga sobre... bem, ela ser mais que uma amiga. Está bem, sendo sincero, eu tentei falar, mas não sou o melhor nessas coisas, e acabou que foi ela que tomou uma iniciativa. Vergonhoso, eu sei, mas pelo menos deu certo.

Eu e Annabeth estávamos namorando desde o verão passado - desde o dia do meu aniversário, para ser mais preciso - e nossa relação ia bem. Quero dizer, eu gostava de Annabeth, muito, mais do que jamais gostei de outra pessoa, e acho que ela gostava muito de mim também. É claro que, ocasionalmente, tínhamos nossas brigas. Annabeth não perdia uma oportunidade de zoar comigo, e muitas vezes eu perdia completamente a paciência. Não que a culpa fosse sempre minha por perder a paciência, ela também era expert em fazer tempestades em copos d'água.

Mas apesar de tudo nos dávamos muito bem. Já havíamos passado por coisas demais juntos - em sua maioria, casos de vida ou morte - e tínhamos uma confiança e intimidade muito grande.

Mas no dia anterior havíamos tido uma briga um pouco maior do que de costume. Ok, talvez maior do que apenas um pouco maior. Havíamos... terminado. Quero dizer, ela havia terminado comigo, depois de gritar, me bater, chorar e todas as coisas mais embaraçosas que você esperar quando se está em público. Afinal, é claro que não poderíamos ter brigado em paz, perto do lago ou mesmo na casa grande. Foi bem no meio do terreno cercado por todos os chalés dos deuses e deuses menores do Olimpo. Com todos olhando pra nós.

Honestamente, o menor dos problemas era que tínhamos plateia. Eu estava mesmo chateado com a briga, com ter terminado com ela, com tudo o que acontecera. Eu gostava demais de Annabeth para aceitar isso.

Me arrumei, e saí do chalé. Havia vários campistas conversando e indo em direção à sala de refeições, e quando me viram, vários começaram a cochichar e apontar.

Ignorei cada um deles e segui pro refeitório. Ele não era mais dividido em mesas por deus, pois havia deuses demais e a quantidade de gente em cada um era desproporcional, portanto, havia dez mesas compridas e você se sentava onde tivesse sorte de ter um lugar. Assim que entrei no salão meu olhar procurou rapidamente por Annabeth, varri todo o recinto e nada dela em lugar nenhum. Não era difícil encontrá-la, seus cabelos loiros brilhavam e destacavam-se entre os outros, podendo ser confundidos apenas com outros filhos de Atena, mas olhei para todas as cabeças louras e não a encontrei.

Suspirei. Obviamente que minha sorte não colaboraria ali, afinal, quando que ela havia colaborado antes?

Procurei então por um lugar vazio. Definitivamente, minha sorte tinha ido dar um passeio. Encontrei um lugar disponível e fácil de sentar; sorte. Mas onde ele estava? Obviamente que entre cinco irmãos de Annabeth e em frente a três irmãs. Não que houvesse brigas ou ciúmes por parte deles, afinal, eles não eram irmãos mesmo, apenas por parte de mãe, e só se viam nos verões, mas mesmo assim havia certa proteção entre eles. E duvido que eles fossem gostar de me ver depois do que Annabeth me acusara de ter feito.

Eu ia dar meia volta e desistir do café, quando uma mão tocou em meu ombro e disse alegremente enquanto me empurrava levemente em direção ao lugar que eu evitava:

— Ora, vamos Percy, tenho certeza que meus irmãos arrumarão um lugar para nós dois.

Engoli em seco. Era outro irmão de Annabeth. O mais próximo dela. O único que a protegia mesmo, como se ela fosse sua irmã de sangue e em tempo integral. Malcom.

— Ah, na verdade, não estou com muita fome. Acho que vou voltar pro meu chalé. — Tentei me desvencilhar dele, mas ele era mais alto. Maldição!

— Não diga bobagens, você precisa se alimentar. Você sabe, os treinos são bem exaustivos.

O tom de voz dele fez um arrepio gelado percorrer toda a minha coluna vertebral. Havia um tom de ameaça em sua voz e confesso que estava me apavorando.

— Ok. — Foi tudo o que eu consegui dizer.

Chegamos à beirada da mesa e todas as cabeças loiras se voltaram pra mim.

Morri, foi tudo o que passou pela minha mente.

Sentei-me com três irmãos de Annabeth de cada lado, o mais protetor ombro a ombro comigo, e eu podia sentir o olhar das meninas sobre mim. Não podia ser pior.

Claro que eu estava enganado.

— Então Percy, como passou a noite? — Um dos meninos perguntou, comendo uma torrada.

— B-bem. — Eu murmurei, gaguejando. Já enfrentara tanta coisa e, no entanto, eu sentia que eles seriam realmente perigosos se decidissem que eu merecia um castigo.

— Mesmo? — Malcom perguntou, as sobrancelhas erguidas em descrença.

Acho que não foi uma resposta muito inteligente, afinal, eu havia terminado com minha namorada e minha noite tinha sido boa? Acho que realmente não foi uma resposta inteligente.

— Ah, vocês sabem, o melhor possível... — Falei antes de enfiar uma torrada quase inteira na boca. Se eu estivesse mastigando não precisaria falar, era o meu plano.

— Sozinho, espero. — Disse uma das garotas de forma discreta, antes de levar uma xícara de chá à boca e fingir que não tinha dito nada.

Engasguei na mesma hora, e nenhum deles se moveu pra dar tapas nas minhas costas ou qualquer outra coisa, simplesmente continuaram comendo e me observando. Terminei minha torrada, tomei um gole de suco e levantei rapidamente.

— Preciso ir, bom dia pra vocês. — E me afastei a passos largos antes que algum deles me seguisse.

Estava na saída do refeitório quando trombei com alguém e quase caí pra trás.

Annabeth.

— Hã, oi. — Foi a única frase que conseguiu sair dos meus lábios. Eu a olhava diretamente nos olhos, e eles estavam um pouco inchados e tristes. Senti meu coração se apertar com aquela visão, não queria que Annabeth sofresse, muito menos por minha causa.

— Olá. — Ela disse antes de desviar e seguir para dentro do salão. Eu estava ciente do silencio mortal que se instalara no local e podia sentir vários pares de olhos sobre mim.

Eu queria ir atrás dela. Mas ao mesmo tempo eu queria simplesmente ir embora. Quero dizer, eu precisava conversar com ela, tentar fazê-la ver a razão e retomar o nosso namoro. Mas ao mesmo tempo eu não tinha a mínima noção do que dizer e me parecia extremamente ridículo me aproximar e fazer papel de idiota, gaguejando frases sem sentido.

Respirei fundo e decidi arriscar. Virei-me em meu eixo e disse:

— Espere!

Pude ouvir várias pessoas prendendo a respiração. Annabeth virou apenas a cabeça pra mim e esperou que eu dissesse algo. Ótimo, a parte não planejada havia chego.

— Eu queria conversar com você.

— Não tenho mais nada pra te dizer, Percy.

Aquilo doeu mais do que eu imaginava. Percy. Percy. Nada de Cabeça de Alga. Apenas Percy.

— Então apenas... escute.

Ela pareceu relutar. Fechou os olhos por um instante e respirou com força.

— Mais tarde. — E virou-se em direção a uma mesa, seguindo sem olhar pra trás.

Eu só pude fazer o mesmo: virar e seguir sem olhar pra trás.

N/A: Bom, é isso por enquanto. No próximo capítulo falo mais da briga, e só no outro eu vou mostrar o real motivo disso tudo. O dois já está pronto, e já foi amndado pra Marcia, então acredito que eu não demore muito O plano é finalizar a fic no aniversário do percy, anyway, que é dia 18, então em uma semana espero que ela esteja completa.

Por favor, relevem qualquer bobagem, e espero que gostem.