Entreatos


Disclaimer: Não são meus, são todos da sadística e genial Suzanne Collins. Só estou me divertindo. Contém spoilers de MOCKINGJAY!


A pípula que Gale havia me dado fora colocada cuidadosamente no bolso de meu casaco. Era pequena o suficiente pra que a engolisse de uma vez, mas parecia pesar quilos. A cada passo que eu dava, seu peso aumentava e era como uma voz me pedindo, implorando para que eu sucumbisse, a pegasse em minha mão e a levasse à boca. Nightlock, ela era chamada. Eu imaginava que seria rápido e indolor, como se eu estivesse prestes a dormir. Mas sem pesadelos. Com um simples movimento, eu poderia engolí-la e acabar com todas as agonias. Esquecer. Esquecer o dia em que eu havia sido escolhido para representar o Distrito 12 nos Jogos Vorazes, esquecer os jogos em si e tudo que aconteceu depois dele. Esquecer a Capital, a fome, os insetos, os mutantes, os gritos. Esquecer Katniss e o monstro que eu havia me tornado.

Katniss. Respirei fundo e continuei andando com a cabeça baixa, ignorando o peso da pílula em meu bolso que crescia a cada passo que eu dava. Eu precisava continuar, precisa protegê-la. Do capitol, dos rebeldes, de mim. Como exatamente eu a protegeria, eu não sabia. Sem uma arma e sem treinamento próprio, tudo que eu tinha a meu favor era meu rosto, conhecido por todos após a infinidade de entrevistas e aparições para os Jogos e para a agenda pessoal do Presidente Snow. Continuei a segui-la, perto o suficiente para que eu pudesse avistá-la mas longe o suficiente para que ela não pudesse me ver caso me procurasse. E para que as pessoas pudessem me reconhecer e me matar caso meu lado mutante viesse à tona antes que eu chegasse até ela.

Foi então que começaram os tiros, vindos de todos os lados, e eu a perdi. Gritos e tiros e pessoas caindo ao meu redor. Mortas ou feridas ou simplesmente tentando se proteger. Não importava. Nada importava a não ser encontrar Katniss. Para matá-la. Não! Para protegê-la, eu precisava protegê-la. Por quê? Não sei, não sei! Num instante de desespero, me apego à uma imagem, à uma memória, à algo que eu sei ser real: os olhos de Katniss encontrando os meus e então colhendo uma pequena flor amarela. Respirei fundo. Meu nome é Peeta Mellark, eu sou do Distrito 12. O Distrito 12 foi destruído. Meus pais e irmãos estão mortos. Sou um sobrevivente dos Jogos Vorazes e Katniss Everdeen salvou minha vida.

Uma dor aguda em meu braço me alertou que eu havia sido atingido. Não havia tempo pra verificar se o corte era profundo ou apenas de raspão. Ignorei a dor da mesma forma que ignorei a pequena pílula da morte e segui em frente, rumo à residência do presidente Snow. Era pra lá que Katniss e Gale estavam indo, e foi lá que eu a avistei novamente, sozinha. Foi lá também que aconteceu a primeira explosão.

Gritos e mais gritos. Pedaços humanos voando em toda direção e eu tentei me locomover o mais rápido que podia. Em minha mente só haviam duas ordens: encontrar Katniss. Tirá-la daqui. E de repente lá estava ela, tentando abrir caminho entre dezenas de pessoas como se sua vida dependesse disso. Seu rosto descoberto, completamente à mercê de quem quer que a reconhecesse e decidisse que a Mockinjay não precisava mais viver. E então eu vi Primrose e entendi o que ela estava fazendo, na direção de quem ela corria como se sua vida dependesse disso. Mas algo não estava certo. Não havia nada pra indicar que Katniss estava em perigo, mas ela precisava sair dali. Foi então que eu comecei a correr, batendo em quem quer que estivesse na minha frente. Como o monstro que matou Mitchell. Eu estava prestes a alcançá-la quando ouvi a segunda explosão e meu corpo foi jogado para trás, ardendo, queimando. Meu último pensamento antes de desmaiar foi que eu deveria ter sucumbido à vontade de aliviar meu bolso do peso do nightlock quando eu tive a chance.


N/A: Um agradecimento especial à querida Lany, por ter me indicado Hunger Games (trilogia devorada em apenas alguns dias), me entendido com relação à minha paixão por Peeta, e me apoiado durante a montagem dessa fanfic.