- Presente para Lirit Toshiyuki –

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Sasori abriu a porta do apartamento, sentindo o cheiro suave de desinfetante de pinho, e jogou o jaleco branco de qualquer modo sobre o sofá azul. Lançou um olhar para o relógio da parede e outro para a janela da sala. A qualquer momento, o Sol começaria a se pôr.

Sakura terminou de passar o esmalte vermelho nas unhas dos pés, assoprando-as logo em seguida. Uma rápida olhadela para o céu a fez sorrir. Não ia demorar para anoitecer.

Eles não faziam idéia de quem o outro era fora daquele ambiente. Era a rotina dos dois. Ao cair da noite, quando o céu começava a tomar todas as cores possíveis de uma aquarela, ele aparecia na janela de seu apartamento e ela na sua própria.

A conversa, após um devido cumprimento entusiasmado, típico a velhos conhecidos, fluía leve e divertida. As risadas escandalosas dela ecoavam pelo espaço de poucos metros entre um prédio e outro. No começo (quanto tempo fazia desde que aquilo começara?), algumas cabeças irritadas apareciam andares acima ou abaixo, mandando-os calar a boca ou ofendendo a mãe. Logo, todos se acostumaram. Os vizinhos sabiam que o barulho acabaria em breve, mais pontualmente às oito horas (nada que suas vidinhas medíocres, já acostumadas com muitas coisas incômodas, não pudessem aceitar).

Eles eram amigos? Talvez. A definição de amizade, afinal, é um sentimento de afeição. Ambos eram afeiçoados um ao outro. Ou, pelo menos, eram afeiçoados à pessoa que se debruçava na janela do prédio para conversar. À Sakura e ao Sasori da janela. Não havia segundas intenções.

Assuntos pessoais jamais eram comentados, somente coisas banais, como o tempo, os filmes da TV e a mais nova briga do casal do andar de baixo de Sakura. Ou o que desse tempo de ser comentado entre o crepúsculo e as oito horas da noite. Se um dos dois começava a seguir para um caminho que poderia dizer mais que o necessário, o outro o alertava. Eles haviam prometido não ser mais que amigos de janela. Nenhum dos dois precisava saber se o outro era médico ou varredor de rua. Realmente não importava.

"Boa-noite, Sasori.", ela sempre se despedia primeiro, cerrando a diáfana cortina roxa.

"Boa-noite, Sakura. Até amanhã.", o rapaz respondia. Ele nunca soube se a garota realmente o ouvia, uma vez que ela afastava-se tão logo fechava as cortinas, mas sempre fez questão de despedir-se.

O homem fechava o vidro da janela, voltando-se para o interior do seu apartamento. Para a vida real.

Ela fechava as cortinas, mas não o vidro. Era bom sentir o vento invadindo o quarto. Quando Sasori se despedia, ela fingia não ouvir, mas gostava. Sakura voltava para a vida real. Um mundinho de fantasia, mas a sua vida real.

Eles voltavam a ser os verdadeiros Sakura e Sasori. Pelo menos, até o próximo pôr-do-sol.


N/A para todo mundo: Ficlet feita já há algum tempo e permanecia com personagens indefinidos, somente escrita em um caderninho da Hello Kitty. Mas quando eu li o epílogo de Flocos de Neve, da Tia Lirit, eu decidi que seria SasoSaku (mesmo que eles não sejam exatamente um casal aqui!). Aliás, recomendo, Flocos de Neve é uma fic liiinda *---* \propaganda off

N/A para Tia Lirit: Aaah, essa fic TINHA que ser sua. Sakura e Ino com os ruivos é muito amor (L). Obrigada, pela centésima vez, pela "Manias". Eu amei, mesmo.

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Tema 08. Pôr-do-sol