Notas da história: Esses contos de ano novo eram para ter saído entre o Natal e o Ano Novo, mas eu peguei uma gripe fudida na ocasião e depois uma cólica homérica, acabou que só consegui terminar a tempo o conto de ano novo das garotamatsu (que já foi postado).
E começando a minicoleção, temos um KaraxOso que se iniciou lá nos contos de Natal. Não é obrigatório a leitura do conto natalino, mas se quiserem dar uma espiada, procurem a fanfic de nome Hou-hou-housomatsu e leiam o conto 1.
Venha conferir os irmãos mais velhos indo a primeira visita do ano ao templo.
Boa leitura!
Notas de vocabulário no fim.
Hatsumode – by Anjo Setsuna
Desde o Natal Osomatsu podia ser resumido em uma palavra: frustrado. Queria dizer que foi propaganda enganosa do irmão doloroso, mas a verdade era que Karamatsu, ou como ele mesmo se apelidou naquela noite de véspera de Natal, Karako, havia apenas o chamado para ir com ele no bar onde se apresentava.
Mas por Kami-sama, ele tinha peitos e verdadeiros, seria um desperdício deixar passar aquela oportunidade de aproveitar um corpo feminino tão belo.
O bar, que descobriu mais tarde ser um pub inglês, era aconchegante e com poucos frequentadores, no canto do estabelecimento havia um pequeno palco, com direito a um piano vertical.
Ainda se lembrava como foi difícil ignorar o ciúme que sentiu ao perceber os vários olhares lançados a Karako desde o momento que "a moça" entrara no pub. Mas todo o desejo e ciúmes foi deixado de lado, quando ela pediu para se apresentar no pequeno palco. A voz era fluída, envolvente, e para ninguém ali parecia realmente incomodar ela ser mais grave do que deveria para uma mulher, já que era harmônica a canção entoada.
Palmas foram batidas quando Karako terminou de cantar e um pedido de bis era solto pela pequena plateia bêbada. Um dos frequentadores subiu ao palco e começou a tocar no piano uma das canções de Yutaka Ozaki, os suspiros começaram, algumas fungadas de lágrimas nostálgicas eram soltas por uns e Osomatsu apenas conseguiu ficar estático ao pensar na letra da música que era tocada, "Futatsu no Kokoro". Uma canção sobre amor mútuo, em que dois corações resolvem cuidar um do outro. Uma canção que Karako cantava olhando profundamente para ele, sem desviar em momento algum.
Naquela noite ambos os irmãos ficaram tão absortos com a música que logo o tempo do remédio, que Dekapan havia dado, terminara, restando apenas pare eles saírem do pub e caminharem de volta para casa, absortos em pensamentos.
- Pensando bem ele sempre canta essas músicas do Ozaki... Talvez eu tenha entendido errado. Bom, já é quase ano novo, vamos ver se algum dos demônios quer ir ser exorcizado comigo no templo.
Osomatsu sorriu ao lembrar de algumas visitas ao pequeno templo da cidade em que moravam, ele e os irmãos adoravam pregar peças nos visitantes enquanto os pais ficavam na fila para rezar aos deuses por mais um bom ano.
- Não Osomatsu-nii-san, eu odeio ir no templo na véspera, é demorado e cheio.
Todomatsu dispensara o mais velho, assim como os demais irmãos. Faltava falar com Karamatsu, mas Osomatsu ficou com preguiça só de imaginar a resposta dolorosa e dramática de seu irmão. Deu de ombros, como senão tivesse outro jeito a não ser enfrentar a desgraça ao encontra-lo no quarto.
- Ei Karamatsu, quer ir no templo no ano novo?
- Okay, my brother! - o sorriso confiante de sempre estava ali.
Osomatsu suspirou discretamente, achava que o clima entre eles estava estranho desde o Natal, mas chegou a conclusão que era coisa da sua cabeça.
- Quero sair as onze daqui, pra dar tempo de ouvir o sino tocar no Joya no Kane*.
- Eu preciso passar no pub antes, te encontro lá então.
A menção do pub fez Osomatsu franzir o cenho, assentiu com a cabeça e resolveu ir tirar uma soneca, já que pretendia passar o ano novo acordado.
O gêmeo mais velho estava sorrindo em seu sono, Karako passava suas delicadas mãos em seu rosto e beijava-o com seus lábios macios, que logo se tornaram ásperos e estranhos.
- Ah! – despertou assustado, um dos gatos de Ichimatsu o lambia. – Maldito, na melhor parte me acorda... Ah, quase perco a hora, aposto que o Merdamatsu já deve tá me esperando.
Osomatsu saiu apressado, vestindo apenas seu usual moletom e kimono* vermelho por cima da malha surrada. Ao se aproximar do templo, depois de vários minutos de caminhada, praguejou baixo em arrependimento de sair de casa para enfrentar fila. Procurou a figura brilhante e dolorida de Karamatsu no meio da multidão, pois certamente ele estaria com alguma lantejoula, mas sem sucesso. Resolveu pegar a fila da lojinha para comprar algumas plaquinhas de desejo*, já que o local parecia o mais vazio dali conforme a hora do pesado sino do templo ser tocado se aproximava.
- Haha esse ano tem placa em formato novo. Mas por que um pinto? Ah "trazer fertilidade as mulheres"...
- Hey, my brother! Finalmente te achei.
Osomatsu deixou a plaquinha que segurava cair no chão. Claro que era normal as pessoas irem vestidas com roupas tradicionais no dia de ano novo, mas Karamatsu vestido normalmente, e bonito, o pegara de surpresa. O kosode* era azul marinho, o hakama* era de um preto sóbrio e o haori* acompanha a cor do kosode, tendo o típico trevo verde da família bordado nas laterais da vestimenta. O cabelo também estava penteado diferente, jogado para trás, dando um ar mais sério.
- Osomatsu?
Ao ver a cara preocupada do irmão, finalmente percebera que havia ficado estático com a visão. Coçou o nariz como costumeiramente fazia e ofereceu uma caneta para Karamatsu escrever em uma das plaquinhas. Desejos realizados e pendurados, entraram na fila para realizar suas preces aos deuses.
Um silêncio estranho entre eles se instaurou, caminhavam lado a lado na fila vagarosa, vez ou outra Osomatsu espiava de canto de olho o irmão, a música de Ozaki repetindo em sua mente, quase começou a cantarolar a melodia.
- Então você...?
- Pediu o que...?
Riram por falar ao mesmo tempo, Karamatsu observou o irmão coçar novamente o nariz como costumeiramente fazia e tirar uma das plaquinhas de desejo em formato fálico do bolso da calça.
- Quem sabe assim o Punhematsu desencalha!
- Sempre tão considerativo, my brother he! – tirou algumas plaquinhas normais do bolso do hakama – Vou levar essas pra kaasan e o velhote.
- Então o que pediu?
- World Peace! - sorriu largo e ajustou um óculos imaginário em seu rosto. E você, Osomatsu o que... Ah, o sino começou a bater!
O som grave e solene da balada ecoou, o barulho de voz da multidão instintivamente diminuiu. Se aproximavam cada vez mais de sua vez de jogarem uma moeda para os deuses e fazerem suas preces.
Osomatsu sentia seu estômago afundar a cada badalada, principalmente quando pensava no desejo escrito em sua plaquinha. Estavam ali para rezar por um ano novo bom, e os sinos eram para espantar e purificar o mal, mas e quando você era o mal, refletiu agoniado, será que os deuses iam jogar alguma praga sobre si?
Encarou a caixa de oferenda, jogou várias moedas só para garantir uma sobrevida segura e bateu palmas fazendo sua prece muda. Karamatsu fez a mesma coisa, porém jogou também algumas notas junto.
- Pelo visto a sorte já sorriu pra você, Merdamatsu. Jogou até nota hehe!
- Recebi meu pagamento no pub hoje. Let's go, my brother, eu pago o Chibita hoje!
- Yay! Ah, começou a nevar.
- No problem!
Karamatsu tirou um guarda-chuva pequeno e preto de dentro do kosode e puxou Osomatsu para baixo. Caminharam devagar em direção a saída, pois parecia que todos tiveram a mesma ideia depois que a última badalada do sino tocou.
- Droga, vai esfriar demais assim – Osomatsu puxou o capuz vermelho do moletom sobre a cabeça, tentando se aquecer – Karamatsu isso é uma daquelas samurai umbrella? Haha doloridoooooo!
- Vocês não entendem meu estilo cool, hunf.
Finalmente conseguiram alcançar a rua depois de atravessar o pátio cheio do templo, Karamatsu cantarolava baixo a melodia de "Futatsu no Kokoro", ainda aborrecido pelo irmão ter zoado seu guarda-chuva. Osomatsu acompanhou baixinho e timidamente a canção, mas logo os dois cantavam empolgados pelo caminho.
- Podemos não ter nada em comum, mas enquanto tiver coração, podemos ficar juntos como estamooooosss.
Karamatsu cantava profusamente e teatral os versos finais. O vento frio soprou mais forte, fazendo os dois se encolherem e Karamatsu passar o guarda-chuva para o irmão mais velho segurar, já que ele resolveu apertar mais o nó do haori, para a vestimenta lhe proteger melhor do frio.
- Até que a noite acabe... Possuímos um ao outro – Osomatsu cantarolou suave as últimas notas enquanto envolvia Karamatsu num abraço improvisado – Junto, como nós somos.
O vento forte levou o guarda-chuva para longe, assim como os receios do Matsuno mais velho, que por milésimos de segundos calculava quantas moedas havia jogado para os deuses. O beijo foi desajeitado e urgente, mas logo ficou ritmado quando os irmãos entraram naquela sintonia esquisita que só gêmeos possuíam. A neve começou a cair mais espessa, fazendo Osomatsu ir atrás do guarda-chuva perdido.
- Droga Osomatsu, meu haori ficou todo amassado.
- He, resolvemos isso logo, logo.
Karamatsu corou com o tom de voz pervertido do irmão, entrelaçaram as mãos quando voltaram a caminhar debaixo do guarda-chuva. Voltaram a cantarolar baixinho a música de Osaki.
- Oh droga Merdamatsu, estou ficando tão doloroso quanto você. – riu.
FIM.
Notas de fim: bom é isso, amanhã tem um conto novo, no mesmo estilo que fiz no Natal um por dia, só que no caso do ano novo vai ser apenas 6 contos contando com esse aqui. Eu tentei não usar muito termos japoneses, mas bom, é um ano novo japonês né, impossível xD espero que as notas de vocabulário ajudem em algo.
piano vertical – é aquele simples que você vê nas casas encostado na parede. (Imaginando o Karamatsu em cima de um de cauda e tenho nosebleed)
*Joya no Kane – ritual budista, em que nos templos tocam 108 badalas para "purificar" e saudar o ano novo.
*sabem aqueles quimonos coloridos que eles usam nos episódios com neve, então, o nome desse vestuário não é exatamente quimono como podem ver na apresentação da roupa do Karamatsu, mas deixei assim, já que pra nós brasileiros tudo é quimono xD.
*Kosode – imagem no link autoexplicativa, pois não temos uma palavra equivalente, porque como disse, pra nós tudo vira quimono (joguem na wikipedia kosode, o maldito fiction net come meus links)
*Hakama – espécie de calça, quem gosta muito de filme de samurai deve ver bastante (joguem na wikipedia Hakama)
* Haori – quase que como um casaco que jogam por cima do kosode, mas diria que é mais elegante ( joguem na wikipedia Haori)
*plaquinha de desejo (ema) – provavelmente vocês já viram em algum anime, os personagens escrevem algum pedido em plaquinhas de madeira e penduram nos templos. É um ritual comum. E dependendo do templo pode ter variados formatos e decoração.
*kaasan – mamãe.
Yutaka Ozaki (um cantor bastante cultuado no Japão) – Two Hearts (Futatsu no Kokoro) – Uma pena que não consegui achar uma versão melhorzinha /qDyShM15whg - Tradução inglês aqui, passei alguns versos para português, numa tradução bem das livres, pra não soar muito como google tradutor haha, já que eles estavam cantando! two-hearts/
