01 - Graxa, lágrimas e dúvida

- Se você tivesse ouvido o meu conselho e deixado o carro mais afastado isso não teria acontecido... – comenta Gwen sorrindo.

- Você ri por que não é você que vai ter que consertar – exclama Kevin de baixo do Camaro, apenas com as pernas de fora.

- O Ben estava estranho hoje. Você percebeu?

- O Ben é estranho Gwen. Tente aceitar... – disse Kevin em um típico sorriso debochado enquanto saía de baixo do carro verde com listras pretas.

- Muito engraçado... – respondeu a ruiva em tom de desaprovação, logo depois soltando uma das suas pequenas gargalhadas – Você devia ver o seu rosto.

Kevin usava uma blusa preta que realçava a musculatura rígida de seus ombros e braços, além do rosto manchado de graxa sob os olhos. Enfiou a mão no bolso da calça e tirou um lenço vermelho que usou para limpar o rosto e as mãos, mas só conseguiu espalhar ainda mais a graxa.

- Vai lavar o rosto né. Graxa não vai sair assim – disse Gwen rindo – E eu tenho que ir, se ver o Ben diz que eu quero falar com ele.

- Ok ok – soltou Kevin aborrecido com a situação.

---

A porta estava destrancada e Kevin entrou cantarolando na casa e já estava no banheiro quando ouviu um barulho vindo de um dos quartos. Saindo do banheiro percebeu no final do corredor a porta de um dos quartos abertos e entrou.

- Tennyson?! – exclamou quando encontrou o dono do Omnitrix deitado de bruços na cama bagunçada – tá tudo bem hein? – perguntou sem saber como reagir em situações como essa.

- Eu to bem. Não precisa ficar aqui – o tom era ríspido, mas ao mesmo tempo choroso. O que deixou Kevin apreensivo, e ainda mais perdido. Se aproximou da cama devagar, e ao perceber a aproximação Ben levantou, seus olhos estavam úmidos e seus lábios estavam vermelhos, como sempre acontecia quando ele chorava.

- Isso é o que os Tennyson chamam de estar bem então? – perguntou Kevin com um meio sorriso na boca.

- Idiota, eu falei para ir embora – respondeu Ben. Mas ele sabia que Kevin não iria, a amizade dos dois, mesmo havendo muitos desentendimentos, era mais forte. Quase nunca demonstravam algum afeto, mas no fundo se importavam muito um com o outro.

- Hmm. Vai me dizer o que aconteceu ou não? – perguntou Kevin sentando na cama.

Ben sentou e pegou e limpou as lágrimas que acumularam na bochecha. O amigo ao ver a cena ofereceu o lenço vermelho completamente sujo de graxa, que Ben aceitou, mas teve o cuidado de não se sujar.

- Às vezes as coisas ficam difíceis para mim – começou Ben – a maioria dos garotos da minha idade estão saindo com suas namoradas, indo ao cinema com os amigos e ficando bêbados em festas. E eu... nem consigo fazer amigos. Meu tempo é dominado por alienígenas. Eu tenho inclusive um relógio que não mostra as horas, mas me transforma em...

- Um herói – completou Kevin – e você não devia se preocupar com essas coisas. Isso o que você tem é muito mais do que qualquer garoto da sua idade nunca vai ter... além do mais você tem a mim.

O silêncio imperou terminada a frase. Kevin não sabia se a situação de ver o amigo tão triste e quase indefeso o deixara com um instinto protetor, ou se na verdade o que sentia por Ben era bem mais que amizade, Kevin desejava se aproximar de Ben e lhe fazer sentir o que estava sentindo. Com o único gesto que deixaria tudo mais claro. Ou apenas mais confuso. E controlando seus impulsos, Kevin continuou: - e eu sou seu amigo, por isso nós vamos sair, só nós dois. Até por que vai ter uma festa no próximo final de semana e eu queria que você fosse comigo.

- Sério? – perguntou Ben atônito. E como se nunca tivesse o corrido, toda a angústia que sentia se foi. Um final de semana só deles. Isso ia ser divertido.