O sol começava a deitar no horizonte para aquele pequeno bairro já esquecido pelos deuses, ignorado pelos poderosos e guardado do mundo exterior. Não que fosse um local exatamente largado e destruído, pelo contrario. Era um belo lugar para quem via de fora a vida daquelas pobres almas que ali ainda residiam.

Uma rua com o asfalto em dia, sem muitos buracos. Casas comuns, pequenas, com pequenos quintais. Carros estacionados em seus devidos locais. Arvores dispersas pelas calçadas, gramados bem aparados e de um verde que daria inveja ao mais cuidadoso jardineiro. Mas o que tornava aquele local tão belo e aparentemente comum, tão silencioso e triste? Nem mesmo um canto de pássaro era ouvido, um riso de criança por qualquer outro barulho. As casas apesar de bem cuidadas não possuíam nenhum morador, e daquele local, ao longe tudo que se via era uma mansão que se estendia até se perder a vista.

Aquela mansão diferia de tudo a sua volta, não parecia um local vivo e belo como as demais localidades. Era fria, as arvores ali já não tinham folhas, a fonte em frente a entrada estava seca e já não parecia ser limpa a anos. Mas é aqui o único local que se podia ouvir algum som a quilômetros. Sons esses que agora sim refletiam o ambiente de onde eles emanavam. Gritos aterrorizados, gemidos quietos, soluços chorosos. E junto desses ainda havia o som de golpes de chicotes encontrando carne fresca, risos sádicos e piadas banais sobre o sofrimento alheio.

Tais sons tinham por fonte o interior daquele lugar, mais precisamente o seu porão, ou masmorra. O local era feito de pedra bruta, como um castelo medieval, o que diferia de toda a construção. Grades selavam algo que parecia como celas de prisão. E ao fundo diversas pessoas ajoelhadas no chão eram açoitadas por homens escondidos por detrás de mascaras negras. Os risos sádicos que eram liberados a cada novo golpe daqueles chicotes eram maus e frios o suficiente para derrubar o mais corajoso dos homens a seus joelhos chorando como um bebê.

E a frente de tudo isso, atravessando o corredor estava um homem caminhando a passos decididos, seu sorriso era capaz de congelar um oceano sem muita dificuldade. Ele parecia bastante satisfeito com o que ali estava a acontecer. Seus soldados pareciam estar se portando cada vez mais como deveriam se portar. E o mundo parecia a cada momento temer mais o simples fato de ele existir e continuar a dar fim a aqueles que se opunham um a um.

Era incrível a capacidade de uma simples existência como a dele causar tanto terror a um mundo que deveria se mostrar tão poderoso e implacável a este momento da historia. Já havia sido derrotado uma vez por um simples bebê à 17 anos, mas isso ainda não havia conseguido digerir. Seus lábios se moveram lentamente para proferir suas palavras.

- Meus convidados estão sendo bem tratados? – Sua voz era fria a maligna exatamente como todos ainda podiam se recordar. – E o jovem Draco Malfoy já esta preparado para se tornar um comensal de verdade? Ao invés dessa criança patética que se mostrou?

Um olhar mais minucioso daquelas pessoas sendo torturadas, estranhamente a golpes de chicote ao invés de com magias melhores preparadas para isso, revelava rostos conhecidos e que agora estavam bastante feridos e aparentando medo, fraqueza e diversos outros sintomas de que é torturado por horas, ou talvez dias. Dentre esses rostos, um se mostrava diferente dos demais, sob cabelos loiros claros havia um servo de Voldemort, sendo torturado como se fosse um daqueles lixos que estavam próximos a ele, Draco Malfoy. Seu olhar continha mais ódio do que já havia sido visto em toda sua vida. Ao seu lado outros eram atacados friamente, por simplesmente existirem, ou ajudarem a quem Voldemort considerava a pessoa errada. Até mesmo o atual Ministro da Magia, Rufus Scrimgeour, e seu antecessor Cornelius Fudge. Os professores de Hogwarts Filius Flitwick e Caridade Burbage. E os aurores John Dawlish e Gawain Robards.

- Milorde... – Uma voz fraca ecoava do fundo da sala – esta na hora de fazermos todos os preparativos. Logo darão falta daquela pequena cidade e de membros exemplares do mundo bruxo.

- Eu decido a nossa pressa Rabicho – Disse o Lord sem se virar na direção de seu servo – Senhor Ministro. Decidiu-se já a me apoiar e entregar o garoto Potter ou terei de lhe substituir no ministério?

- Você sabe sua resposta. O garoto não será jamais entregue a você, e aqueles fieis jamais permitirão que você assuma ao poder.

O clima dentre os torturados mudou após estas palavras, como se uma nova força e fé nascesse dentro de cada um deles, os olhos que a poucos momentos pareciam estar desistindo de lutar agora apresentavam força e vontade de lutar... Mas nada mais do que isso, presos e fracos nada mais poderiam fazer. Voldemort tirou o sorriso sarcástico do rosto e voltou a ficar serio. Fez um breve movimento de mão que foi rapidamente entendido por seus soldados. A masmorra escura agora observou seis raios verdes irradiarem da varinha dos torturadores. E aqueles olhos que a poucos momentos haviam retornado a vontade de lutar, agora já não brilhavam. E um a um os seis corpos encontraram, em baques mudos e sem vida, o solo da masmorra. O sétimo torturado foi liberado também e se levantou. Os olhos do jovem Malfoy também haviam mudado... Ali não parecia mais residir qualquer humanidade, apenas ódio, dor e poder.

- Limpem esta sujeira e preparem tudo para a ascensão do novo ministro da magia.

E dando as costas para os corpos Voldemort voltou a subir a escada em direção a parte superior da casa aonde ainda existiam diversos assuntos a serem resolvidos antes de ser dada sequencia a toda aquela guerra... No andar térreo já estavam à sua espera dois de seus comensais retornados de suas ultimas missões. Severo Snape e Lucius Malfoy.

Após a morte de Dumbledore muitas coisas começaram a mudar no mundo bruxo. Todos estavam ainda mais aterrorizados com a ascensão cada vez mais rápida e avassaladora de Voldemort. O assassino do ex-diretor, Severo Snape, se autoproclamou o novo diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Lucius Malfoy, cada vez mais infiltrado no interior do ministério era agora o principal candidato a se tornar o novo ministro da magia. E assim se fechavam as pontas para que Voldemort tivesse controle sobre tudo que ali havia.

- Lucius. O ministro esta morto, você já sabe o que fazer. – Voldemort mantivera durante todo o tempo o tom frio e de deboche para com Lucius. E em um gesto o fez sair dali e deixar apenas o Lord das Trevas e seu mais novo servo favorito na sala. – E quanto a você Severo. Como vão as novas intervenções em Hogwarts?

- Milorde... A escola servirá a nossos desejos como me foi pedido. E em breve todos aqueles que traíram a nós. E se mantiveram fieis a Potter e Dumbledore serão mandados embora do castelo em direção a seus devidos cemitérios.

- E aquela tal... Ordem da Fênix? – Voldemort debochava do nome da ordem fundada para o combater. Eram fracos demais para serem levados realmente a serio – e o garoto?

- Infelizmente já não tenho mais acesso à Ordem e muito menos ao jovem Potter – algo na voz de Snape não estava certo. Mas nem mesmo Voldemort pôde perceber isso naquele momento.

Um vento frio começou a percorrer toda a área de forma estranha. Voldemort sorriu e olhou pela janela daquele local em direção ao horizonte. Finalmente a sua nova era estava tendo o inicio que lhe era merecido, desta vez não cometeria nenhum erro e tomaria de uma vez por todas o mundo a seus pés. E não haveria mais nenhum trouxa, sangue-sujo ou traidor que pudesse se opor a ele. E se houvesse... Seriam mortos um a um sem piedade.

A noite, negra e completamente escura, caiu sobre aquele fim de mundo enquanto comensais saíam um a um com os corpos dos mortos em seus braços, o aviso seria dado ao mundo de uma vez por todas. Voldemort havia retornado, mais poderoso do que nunca e desta vez para sempre.