A História por trás da História

As pessoas sempre me perguntam: "Por que você se preocupa tanto, Lily?" "Porque você só não é você mesma?" Elas acham que é fácil. Nenhuma delas conhece a minha história.

Ele nem sempre foi assim, segundo minha mãe. Ela me dizia que depois que eu nasci ele começou a mudar.

Eu sempre gostei mais da minha mãe. Petúnia se dava melhor com papai. O natal era nossa época favorita. Na véspera havia uma grande festa, na qual meu pai nunca comparecia. Ele viajava todo ano. Eu via as pessoas naqueles vestidos magníficos, dançando. Daí a minha mãe chegava, me via e largava o que estava fazendo para dançar comigo. Quando todo mundo já tinha ido embora, Petúnia subia e minha mãe e eu assistíamos ao nosso filme favorito. Anastácia. O filme acabava e ela me pegava pela mão e cantava comigo Once upon a December.

Se eu fechar os olhos quase posso a ouvir cantando enquanto me abraçava. "And a song someone sings once upon a December".

Ela sempre esperava até meia-noite para por a estrela na árvore. Ela me pegava no colo e me levantava para eu poder alcançar. Daí ela ria e me abraçava de novo.

Foi assim por um bom tempo. Mas as coisas mudam. Eu tinha 8 anos, eu me lembro. Minha mãe tinha saído para ir às compras. Eu me lembro de me despedir dela com um aceno. Eu fui para dentro e vi que ela tinha esquecido a bolsa. Eu a peguei e sai correndo atrás da minha mãe. Eu corro e ouço um barulho, uma batida e um grito. Naquele dia Sarah Evans foi morta. Eu chorei mais do que possível no enterro. Petúnia seguiu o exemplo do pai e fingiu não se importar.

Eu me lembro do olhar do meu pai naquele dia. Mas ele só disse alguma coisa quando chegamos em casa. Ele mandou minha irmã subir, me pegou pela mão e começou a gritar comigo:

- Você não pode aparentar fraca, menina. Você não pode mostrar seus sentimentos assim. Você não pode ser fraca! Você tem que se mostrar fria.

- Mas... Mas a mamãe! Ela está morta!

E recomecei a chorar. Ele me deu um tapa. Eu gritei que ele era um mostro. Ele me bateu pela primeira vez naquele dia. Foi a mais forte também. Ainda tenho a cicatriz nas costas. Foi naquele dia que eu descobri as 1001 utilidades de um cinto. As coisas nunca mais foram as mesmas.

Ninguém sabe de verdade como é. Acordar todas as manhãs e descobrir que não era um sonho ruim. Descobrir que é mais real do que eu possa descrever.

Só a Alice e a Marlene sabem o que eu passo desde que a minha mãe morreu. Ele me bate porque eu não consigo aprender a ser como ele. Fria. Mas alguma coisa ele me ensinou: não mostrar seus sentimentos. A experiência com Sonserinos me mostrou que seu eu aparentar ser fraca, vão ser cruéis comigo.

Com o tempo eu aprendi a fazer poções cicatrizantes, mas eu tenho que fazê-las a noite quando ele não possa ver. Se ele aceitou eu ir pra Hogwarts, foi só para se livrar de mim. Ele me acha uma aberração. Mas melhor para-normalidade longe do que perto.

Semana passada um homem que morava na vizinhança ouviu os gritos e chamou o Juizado de Menores, já tendo uma idéia do que seria. Fui eu que confirmei os boatos, mostrei a cicatriz nas minhas costas. Mas ele já tinha ido embora. Meu pai fugiu, como o covarde que sempre foi. Minha irmã foi para casa do noivo gordo dela, e eu vou ficar com eles até poder ir para Hogwarts.

Eu estou aqui sentada na minha cama, quase chorando. Eu sei que deveria estar sorrindo, afinal mesmo que não esteja preso como eu gostaria, ele se foi, logo serei pelas leis bruxas maior de idade e além disso tudo só faltam poucos dias para eu voltar a Hogwarts. Mas eu não estou sorrindo. Por que ele deixou em mim marcas demais. Não só as cicatrizes, mas por dentro também. Como as pessoas querem que eu siga em frente com a memória dele ainda tão forte dentro de mim?

Bem, isso não importa logo eu vou voltar para o meu verdadeiro lar e pela primeira vez quando eu acordar eu vou poder dizer a mim mesma que tudo não passou de um sonho ruim.

Eu seguro na mão o retrato de minha mãe e sorrio. Porque eu sei que ela ainda estará cuidando de mim.

E pela primeira vez em anos Lily Evans se deita acreditando que ainda possa haver esperanças para o dia seguinte.

Dancing bears,
Painted wings,
Things I almost remember,
And a song someone sings
Once upon a December.

A garotinha ruiva de 7 anos ajeita o vestido verde e olha através da fresta da porta. Ela fica encantada com a decoração natalina e dá atenção especial ao piano onde sua mãe toca uma clássica canção de natal. A mulher a vê, joga os cabelos loiros para trás e vai até a menina.

Someone holds me safe and warm.
Horses prance through a silver storm.
Figures dancing gracefully
Across my memory...


Ela a pega pela mão e rodopia com a menina. As duas riem enquanto se misturam aos casais que dançam graciosamente. A mulher a abraça e as duas se encaram com olhos verdes idênticos.


Someone holds me safe and warm.
Horses prance through a silver storm.
Figures dancing gracefully
Across my memory...

A mulher leva Lily até o piano e sorri quando a menina toca sua música favorita. Algumas pessoas param de dançar para ver a adorável garotinha tocando tão perfeitamente a aquela musica. E se assustam ainda mais quando Sarah Evans começa a cantar com a menina.

Far away, long ago,
Glowing dim as an ember,
Things my heart
Used to know,
Things it yearns to remember...

Elas cantam a musica inteira antes de rirem e a anfitriã dizer a todos que é quase meia-noite. Ela pega a menina no colo e a leva até a árvore. Lily pega a estrela e coloca bem no topo da árvore. Ela ascende as luzes da árvore e os seus olhos brilham ao ouvir os fogos de artifício anunciando meia-noite.

And a song
Someone sings
Once upon a December

As duas sorriem e se abraçam, sem saber que aquele seria o último natal que passariam juntas. Um último e feliz natal.

N/A: Um surto mas... O que acharam?

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