O Patrocínio do Mal

A continuação de "Ares-1 Vs. Nemesis"

Introdução

Em meados de 2004, escrevi minha primeira fanfic, chamada "Ares-1 Vs. Nemesis: A Batalha do Século", um crossover entre uma série de contos de ficção científica escritos por mim, chamada "Projeto Ares", e a saga Resident Evil. Tal história superou todas as minhas expectativas, pois a aceitação por parte de quem leu foi ótima e recebi grande número de elogios. Por isso resolvi escrever uma continuação.

Só para lembrar, esta história se passa numa realidade alternativa da série Resident Evil, com algumas mudanças em relação à trama oficial. Como escrevi "Ares-1 Vs. Nemesis" antes do lançamento do game Resident Evil 4, quando ainda havia apenas rumores sobre o enredo do jogo, nesta minha saga a filha do presidente ("Kate Jackson", ao invés de "Ashley Graham") foi seqüestrada por Albert Wesker ao invés da seita "Los Illuminados", e levada para uma base abandonada da Umbrella na Amazônia, onde ele também mantinha Sherry Birkin como refém. Numa operação arriscada, o vilão é detido por um grupo de ação composto por Chris Redfield, Jill Valentine, Barry Burton (única baixa da equipe durante a missão), Rebecca Chambers, Claire Redfield, Carlos Oliveira e Leon S. Kennedy, sendo que este último tira a vida de Wesker após intensa batalha num complexo subterrâneo. Pouco tempo depois, toda a verdade sobre a Umbrella é revelada ao mundo pelos ex-membros do S.T.A.R.S. e um misterioso indivíduo conhecido como "Trent" (personagem dos livros de S. D. Perry). Até que, quatro anos depois, em outubro de 2008, os acontecimentos de "Ares-1 Vs. Nemesis" têm início...

Por "O Patrocínio do Mal" ser uma continuação direta da fic anterior (ela começa apenas alguns dias depois do desfecho), a leitura dela é necessária para um melhor entendimento dos acontecimentos desta nova história. Espero que quem tenha lido minha primeira fanfic também aprecie esta, a qual estará centrada nos personagens Rebecca Chambers e Ark Thompson, com trama baseada no filme "A Volta dos Mortos-Vivos", um clássico do gênero "zumbi". Boa leitura!

You once again entered...

the world of survival horror...

Good luck!

Prólogo

1º de outubro de 2008: A destruição de Raccoon City devido à epidemia do "T-Virus" completa dez anos. Dia de homenagens no mundo inteiro.

4 de outubro de 2008: Uma misteriosa explosão ocorre na Sibéria, não muito longe da cidade de Vladivostok, provocando avalanches na região. Ninguém sai ferido, mas o governo russo promete investigar as causas do incidente.

16 de outubro de 2008: O Laboratório Vinnewood, localizado em São Francisco, EUA, anuncia o primeiro protótipo de um medicamento eficaz contra 80 dos tipos de câncer conhecidos. A doutora Rebecca Chambers integra a equipe de pesquisas.

21 de outubro de 2008: A promotora Sherry Birkin escapa por pouco de um atentado contra sua vida nas ruas da capital norte-americana. Acredita-se que o mandante tenha sido algum ex-funcionário da Umbrella Inc. prejudicado pela promotora. Tais suspeitas são investigadas pelo FBI.

23 de outubro de 2008: É onde começa esta história...

Capítulo 1

Hospital Geral de São Francisco, Califórnia, EUA, 23 de outubro de 2008.

Escuridão. Súbito, a porta do quarto se abre. A pequena Érika oculta a cabeça sob o cobertor da cama. Ela tinha medo de monstros que devoravam criancinhas indefesas, como o bicho-papão. Com tais pensamentos em sua mente, a menina de oito anos de idade viu a luz do quarto se acender com um "click" no interruptor.

Ainda um tanto receosa, Érika tirou a cabeça de baixo do cobertor. Não era um monstro que entrava ali, muito pelo contrário. Era a doutora Chambers, que pedia a todos os pacientes que a chamassem apenas de "Becca". Era um amor de pessoa, como dizia a mãe de Érika, a senhora Rachel Guston. E também bonita. Seus longos cabelos ruivos lhe escorriam até os ombros, e seus olhos eram dos mais bonitos que a menina já vira. Em seus 28 anos de idade, Becca era um colírio para os olhos.

Érika sorriu, enquanto a doutora se aproximava da cama, vestindo jaleco e com aquele aparelho usado para verificar a respiração pendurado no pescoço, do qual a pequena menina não lembrava o nome. Ao vê-la sorrindo, Becca também exibiu os belos dentes brancos, sentando-se na cama. Ela exclamou, sempre simpática:

--- Olá, minha lindinha! Está se sentindo bem hoje?

--- Sim, Becca! – riu Érika. – Minha barriga parou de doer!

--- Oh, que bom! Sabe, quase todas as pessoas passaram por isso que você passou, inclusive eu. Chama-se apendicite.

--- "Apendi" o quê?

--- Apendicite. Mas não se preocupe! Talvez já amanhã você esteja brincando no parque com suas amiguinhas!

--- Seria muito bom! Não agüento mais dormir aqui no hospital...

--- Por que, minha fadinha?

--- É que eu tenho medo de monstros, como o bicho-papão...

Imediatamente Rebecca ficou séria, pois sua mente fora tomada por péssimas lembranças. O sorriso desapareceu de sua face. Érika, sentando-se na cama, perguntou, intrigada:

--- Está tudo bem, Becca?

--- Sim, querida – respondeu a doutora, sorrindo brevemente, enquanto acariciava o rosto da menina com uma das mãos. – Está tudo bem... Mas lembre-se, Érika: na nossa vida, nós devemos sempre enfrentar os nossos medos!

Érika sorriu amavelmente em resposta, mas Rebecca nem percebeu. Sua cabeça estava em outro lugar.

As lembranças daquela noite macabra tomaram de assalto sua mente:

--- Chris! Socorro, Chris!

Rebecca rastejava sentada no chão, seguindo de costas na direção de uma das paredes da biblioteca, enquanto o Hunter caminhava em sua direção. Estava encurralada. Mas uma inesperada e bem-vinda esperança tomou a integrante do Bravo Team do S.T.A.R.S. quando ouviu a outra porta da sala se abrindo. Era Chris, ele a salvaria.

Ela fechou os olhos enquanto ouvia os tiros. Dois, três, e veio em seguida o berro agonizante do monstro. Rebecca se levantou, vendo, ao abrir os olhos, Chris apontando sua Magnum para a criatura morta numa poça de sangue no chão.

Chambers estava envergonhada. Demonstrara mais uma vez que não sabia se defender sozinha. Ela imediatamente saiu por uma das portas, zonza de tanta vergonha e frustração, deixando Chris para trás, antes que pudesse dizer algo, dar-lhe uma bronca. Se ele havia dito alguma coisa, Rebecca não se recordava.

--- Rebecca!

A doutora voltou ao mundo real quando ouviu aquela voz conhecida. Voltando-se para a entrada do quarto, viu a doutora Jane Weston, uma bela morena, de pé olhando para ela, aparentando impaciência.

Antes de levantar da cama, Rebecca virou-se para Érika e disse:

--- Tenho que ir, minha linda... Mas prometo que voltarei amanhã, para lhe dar alta! Não tenha medo de nada, OK?

--- Tudo bem! – sorriu a menina. – Boa noite!

--- Boa noite!

Chambers caminhou na direção do corredor, apagando a luz antes de deixar a sala e fechar a porta. Ela e Jane estavam agora num dos iluminados corredores do quinto andar do hospital. Logo Rebecca perguntou:

--- O que foi?

--- Murray marcou uma "reunião-surpresa" para daqui a meia-hora.

--- Meia-hora? Mas e meus pacientes?

--- Becca, Murray deixou claro que você poderia ser obrigada a renunciar a todos os seus pacientes quando aceitou entrar neste projeto. Você deveria estar se dedicando bem mais à pesquisa!

--- Mas essas pessoas dependem de mim, Jane! Será que você não entende?

--- Você deveria entender que nossa pesquisa pode salvar um número bem maior de vidas, Rebecca...

Rebecca desviou o olhar do rosto da amiga. Primeiramente fitou uma das luzes no teto, depois olhou para o chão e por último sua visão voltou para a face de Weston, que exigia uma atitude a favor do projeto. Infelizmente Chambers teria que optar entre ele e seus pacientes.

--- OK... – suspirou Rebecca, vencida. – Vou pedir para o Kenningan cuidar dos meus pacientes por hoje, enquanto vou averiguar o que o senhor James Murray quer desta vez!

--- É assim que se fala, garota!

As duas caminharam na direção de um elevador e pouco depois partiam de carro pelas ruas de São Francisco. Era quase meia-noite.

O sujeito atendeu ao telefone, tendo pilhas de papéis enormes em sua mesa:

--- Alô?

--- Alô, Ark? Aqui é o Leon!

--- Hei, como vai?

--- Por que você não apareceu no churrasco domingo? Todos compareceram!

--- É que eu ando meio ocupado, Leon... Muito trabalho, você sabe...

--- Eu não sei o que você estava pensando quando aceitou esse emprego! Bem, passe aqui quando for possível. Eu e a Claire queremos te ver!

--- OK. Até mais!

--- Até mais, sobrecarregado!

Ark Thompson desligou o telefone, e voltou a olhar para os documentos empilhados. Desde que ele e os S.T.A.R.S. colocaram um fim na Umbrella, o ex-detetive havia continuado na polícia, mas, cansado de tanta adrenalina e perigos, resolvera tentar algo diferente, mais calmo. Dessa maneira, arranjou um cargo burocrático no Departamento de Polícia de Denver, Colorado. Thompson, porém, já havia se arrependido de sua escolha e agora o trabalho era algo que realmente o estressava, ao invés de lhe deixar tranqüilo, como tanto desejava.

No final do ano sairia de férias e passaria uma temporada na fazenda de Lott e Lily, localizada na Escócia. Quase dez anos após Ark ter salvado os dois irmãos na ilha Sheena, Lott havia se tornado médico e Lily cursava Direito. Finalmente se reencontrariam depois de tanto tempo, e com certeza teriam boas histórias para contar...

Súbito, Ark foi tirado de seus pensamentos por seu chefe, o comissário Peterson. Ele estava de pé na frente da mesa, olhando furiosamente para Thompson por cima dos papéis. Em seguida disse irritado, com um charuto na boca:

--- Mexa-se, Thompson, mexa-se!

Ark voltou a trabalhar, enquanto olhava furiosamente para o superior, que se distanciava de costas. Ele não devia ser muito diferente de Brian Irons, chefe de polícia de Raccoon City que fora comprado pela Umbrella, segundo Leon...

Rebecca e Jane caminhavam apressadas pelos corredores vazios do Laboratório Vinnewood. Qualquer um que visse aquele ambiente à noite dificilmente conseguiria pensar que durante o dia o lugar ficava cheio de pesquisadores.

Após cruzarem um último corredor cheio de entradas lacradas, as duas mulheres pararam na frente de uma porta maior, com um painel eletrônico ao lado. Jane tirou um cartão magnético do jaleco que usava e o inseriu num leitor do painel, fazendo com que a tranca da porta fosse liberada com um som.

--- Vamos! – disse ela, já entrando na sala.

As duas ganharam o cômodo, que era na verdade uma sala de reuniões. Toda vez que Rebecca entrava ali, se lembrava da sala de dados visuais da Mansão Spencer, semelhante em grande parte àquela. No centro havia uma mesa de metal cercada por várias cadeiras, de frente para uma tela numa parede onde eram projetados slides através de uma máquina sobre o móvel. Numa outra parede havia uma prateleira de metal com relatórios, discos de dados, slides, entre outras coisas.

Ao redor da mesa estavam sentados vários homens e mulheres de jaleco, sendo que havia apenas dois lugares vagos, onde Rebecca e Jane deveriam se sentar. As duas, envergonhadas por terem certeza de que estavam atrasadas, ouviram um homem sentado numa das extremidades da mesa perguntar:

--- Agora que nossas últimas convidadas chegaram, podemos começar?

Aquele era James Murray, o homem por trás de tudo aquilo. Quando digo "tudo aquilo", refiro-me a todo o projeto em si, incluindo a pesquisa. Muitas mentes brilhantes trabalhavam com Murray, mas sem ele com certeza não teriam conseguido nada. Ele era um sujeito debochado e muitas vezes irritante, mas todos deveriam reconhecer que, se não contassem com seu talento, talvez o projeto nunca houvesse atingido o ponto em que se encontrava. Além disso, Murray também era dono do laboratório, apesar de depender da ajuda de terceiros para progredir com a pesquisa.

Todos os presentes responderam afirmativamente à pergunta de Murray, balançando a cabeça. Ele então se levantou, com seu ar de superioridade habitual, e ligou o projetor de slides. O símbolo do Laboratório Vinnewood, uma cruz vermelha embaixo de um pinheiro sobre uma folha de louro, surgiu na tela, enquanto Murray dizia, circulando pela sala com as mãos cruzadas atrás da cintura:

--- Bem, como todos vocês sabem, nossa pesquisa está prestes a ter pleno sucesso. O desenvolvimento de um medicamento eficaz contra o câncer já é praticamente realidade. Retomando a pesquisa do doutor Mário Petroni, do ponto em que foi abandonada, descobrimos que certas ervas da Amazônia, usadas há milhares de anos pelos indígenas em rituais de cura, possuem realmente a capacidade de "curar" as células cancerígenas, fazendo com que o tumor desapareça completamente ou no mínimo se torne benigno. Graças à experiência da senhorita Chambers, importante parte de nossa equipe, descobrimos que um tipo de erva encontrada nas montanhas Arklay, nos arredores de onde um dia foi Raccoon City, possui propriedades bem parecidas com aquelas das plantas estudadas por Petroni na América do Sul. As ervas de Raccoon, de pigmentações verde, azul e vermelha, têm o poder de retardar a infecção do "T-Virus" e até curar envenenamentos. Quando combinadas, tais propriedades tornam-se ainda mais eficazes. Então, a partir de substâncias presentes nas ervas amazônicas e nas de Raccoon, criamos um medicamento em comprimido, útil no combate a quase todos os tipos de câncer: pele, pulmão, estômago, próstata, sangue... Será o fim da quimioterapia e de tratamentos caros e sofridos. Uma verdadeira revolução, senhoras e senhores.

Nesse instante Murray trocou o slide do projetor e surgiu a foto de um senhor de idade na tela.

--- Mas há um problema – continuou James. – Como sabem, nós sempre dependemos de ajuda externa para prosseguir com nosso trabalho. Entre nossos colaboradores, o mais significativo era Elliot Carl Padston, que vocês vêem na tela, um bilionário cuja filha faleceu de leucemia há alguns anos. Infelizmente, semana passada Elliot também veio a falecer e ficamos sem patrocínio algum, comprometendo a pesquisa.

Murray trocou o slide novamente, e a foto de um homem que aparentava ter pouco mais de quarenta anos de vida foi vista pelos presentes.

--- Esse, senhoras e senhores, é Josh Burke. Há alguns meses, esse senhor herdou alguns milhões de dólares devido à morte de seu tio e agora ele será o mais novo patrocinador de nossa pesquisa. Burke é perito em biogenética e deseja acompanhar de perto nosso trabalho, auxiliando-nos no que for possível.

James desligou o projetor de slides.

--- Mais alguma coisa? – perguntou um dos pesquisadores.

--- Ah, sim. Amanhã chegará o novo membro de nossa equipe, vindo direto da Universidade de Oxford, Grã-Bretanha. Espero que todos o recepcionem bem. Estão dispensados.

Todos começaram a deixar a sala. Do lado de fora, Rebecca resmungou para Jane:

--- Eu fui tirada do hospital só para o Murray avisar que nosso patrocinador mudou? Pensei que fosse algo de maior importância!

--- Isso é algo de extrema importância, Rebecca! – exclamou Weston, aparentemente irritada. – Sem ajuda, não poderemos mais trabalhar no projeto! Tente entender, querida!

--- Estou começando a achar que estou no lugar errado...

Rebecca começou a andar mais rápido e deixou Jane para trás, atônita. Chambers tinha em mente o rosto do tal Burke. Havia algo de estranho nele, amedrontador. Pela primeira vez em muito tempo Rebecca teve um mau pressentimento.

Estavam ali, sentados e mudos, um diante do outro. Após colocar uma das mãos em sua testa por um instante, Bryan ergueu os olhos lentamente, deliciando-se com a visão do belo corpo de sua namorada no sofá logo à frente. Logo fitou o rosto dela, tão atraente e perfeito. Num sorriso, perguntou em voz baixa:

--- Você está bem?

Que pergunta! Era claro que ela não estava bem. Apesar de fisicamente não ter sofrido praticamente nada com o atentado, Sherry Birkin possuía uma grande ferida em sua mente. Dois dias antes ela havia concluído de uma vez por todas que era uma aberração, um maldito experimento, algo inumano, uma "arma bio-orgânica", como diziam os sádicos cientistas da Umbrella. Um ser humano comum não teria resistido àquela explosão. Mas ela sobrevivera...

--- Não se preocupe! – disse Jessen, segurando uma das mãos da promotora. – O agente Adams está trabalhando arduamente para descobrir quem foi o mandante!

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Sherry. Ela nunca havia desejado tanto a presença de sua falecida mãe quanto naquele momento. As raras carícias, as canções de ninar ainda mais escassas... Apesar do pouco carinho que Annete havia lhe dado em vida, a jovem desejava com todas as forças amar e ser amada. E sabia muito bem que Bryan era o caminho...

O indivíduo de longos cabelos negros venceu os poucos degraus diante de si, subindo no improvisado palanque situado numa das extremidades da grande caverna subterrânea. Respirando fundo, caminhou até o local em que se encontrava um microfone, olhando para as centenas de homens e mulheres que observavam minuciosamente seus movimentos, sentados em cadeiras dobráveis, todos trajando uniforme militar. Fitando em seguida uma grande e imponente bandeira dos EUA fixada na parede às suas costas, o recém-chegado voltou-se novamente para os espectadores após alguns segundos, saudando-os solenemente:

--- Sejam bem-vindos, jovens revolucionários!

A resposta foi uma longa e respeitosa salva de palmas, que terminou quando o homem no palanque levantou a mão direita num sorriso, provocando silêncio imediato. Logo depois o discursador começou a falar de forma faustosa e influente, fazendo com que suas palavras tocassem em cheio o coração dos presentes:

--- Compatriotas americanos, há anos nós viemos lutando pela soberania de nossa nação no planeta, atrapalhando as ações dos conspiradores de Washington. Esses hipócritas, que se dizem preocupados com o futuro do país, são na verdade democratas impotentes que aprovam todas as medidas inconcebíveis da ONU, as quais visam apenas enfraquecer a Mãe América. O homem que diz ser nosso presidente entregou a essa maléfica instituição as armas nucleares de nossa nação, deixando-a totalmente desguarnecida diante das pretensões mesquinhas e traiçoeiras das demais potências mundiais! É preciso que ajamos, revolucionários! Esses sabotadores que ocuparam o governo dos Estados Unidos devem aprender uma lição, a qual será dada pelos verdadeiros patriotas!

Todos gritaram eufóricos, ao mesmo tempo em que uma grande porta metálica numa das paredes da caverna, à esquerda do palanque, se abria. Surgiram vários revolucionários carregando uma pesada jaula, a qual foi colocada ao lado do discursador. Os espectadores demoraram a perceber que dentro do engradado havia um homem quase nu, corpo coberto de feridas, com vários ossos à mostra. Rodeado de moscas e exalando terrível mau cheiro, o estranho indivíduo agarrava as grades da jaula freneticamente, gemendo e urrando enquanto tentava em vão se libertar.

Fitando o homem enjaulado com grande assombro, a platéia ouviu atentamente a explicação do discursador:

--- Este ser deplorável que se encontra diante de nossos olhos é um agente enviado pelo FBI para investigar nosso movimento! Ele foi desmascarado, aprisionado e sumariamente infectado com nossa mais nova arma biológica, que será usada em nossa próxima ação em nome da Mãe América!

Os espectadores se levantaram das cadeiras e gritaram com intensidade ainda maior, erguendo os braços num gesto de plena empolgação. Enquanto isso, os revolucionários que haviam trazido a jaula pichavam três letras em preto sobre a bandeira dos EUA, sorrindo de orgulho: "FPA". As iniciais de "Frente Patriótica da América".

O discursador fechou os olhos, visualizando tudo em sua mente. Era um plano genial. Rindo, cruzou os braços e continuou ouvindo o som provocado pelos integrantes do movimento, já sentindo o gosto do triunfo. Em breve uma importante metrópole norte-americana se tornaria a mais nova e inescapável Raccoon City...

Continua...