Título: Verona
Casal/Personagens: Sirius/Remus e Remus/Tonks
Sumário: Dizem que a importância que tivemos em vida é medida pelo número de pessoas dispostas a carregar nosso caixão. É a hora em que percebemos: não passamos de um peso morto, cujo único bem são lembranças. Lembranças pelas quais não se vale a pena chorar.
Aviso: Esta fanfic contém SLASH, ou seja, relacionamento amoroso entre homens. Se você acha que Remus e Tonks tiveram o casamento mais feliz do mundo, nós definitivamente não lemos o mesmo livro.
Disclaimer: Harry Potter não é meu. Nunca foi. Mas se for um dia, bem, vocês já sabem pelo que esperar.
Verona
por Dana Norram
PRÓLOGO | Americana ¹ |
Sempre gostei de literatura trouxa. Li quase todos os clássicos em que pude pôr as mãos. Mas confesso que custei a entender como algo que terminava em tragédia podia ser considerada a mais famosa história de amor do mundo. Talvez seja por isso que levei tanto tempo para apreciar 'Romeu e Julieta'.
Mesmo hoje tenho lá minhas dúvidas se realmente compreendo a história deles. Daquilo sobre morrer e se deixar matar pelo que consideramos mais importante.
Eu entendia, sim, o que levara os personagens a agirem da forma como agiram. Eu podia compreender que o amor entre eles era maior do que qualquer outra coisa. Maior do que suas posições na sociedade e do que suas próprias famílias. Do que preconceitos ou pré-suposições. Maior do que eles mesmos. Foi exatamente por isso que os dois sucumbiram ao peso daquele amor e acabaram como acabaram.
Mortos antes que tivessem tempo de viverem plenamente. Antes de poderem colocar seu amor à prova da convivência e, é claro, do tempo. Mortos antes de poderem errar de fato, de sofrer e de, por fim, serem capazes de sentir o reconfortante alívio ao serem perdoados por cada um de seus erros. Mortos antes de terem a real oportunidade de saber que continuavam a amar e a serem amados da mesma maneira que antes.
Antes de saberem se iriam se arrepender daquilo também.
Parecia tolo, sim, mas tanto Romeu quanto Julieta achavam que poderiam viver respirando apenas o que sentiam um pelo outro. Que era possível se alimentarem somente daquilo. Eles achavam que amar bastaria e por isso acabaram vítimas daquele amor tão grande e tão intenso. Amor trajado de negro. Despido de misericórdia. Vicioso, viciado. Armado de veneno e punhal.
Colocados em xeque, eles decidiram dar fim às próprias vidas, achando que não havia mais pelo que continuar. Morreram por acharem que não poderiam viver num mundo onde o outro não pudesse estar também. Preferiram a dúvida da eternidade juntos à certeza de uma vida inteira separados. Nenhum quis parar e pensar que poderia haver uma alternativa. Que talvez pudesse haver algum engano.
Julieta achou que tudo daria certo. Romeu pensou que tudo estava acabado.
Ainda assim nenhum deles se arrependeu de seus atos e, no fim, cheguei à conclusão de que provavelmente era mesmo aquela idéia de amor proibido, eterno e incondicional que, no fim, unia a todos nós. O ato de confiar. Acreditar. Ter esperança. Tudo o que fazia parte de sermos humanos e de termos alguém para chamarmos de nosso.
Alguém por quem matarmos. Por quem morrermos.
Por outro lado, eu não conseguia realmente acreditar que todos nós éramos mesmo capazes de sentir tais coisas e ainda assim conseguir amar de verdade. Porque amar, eu sabia, não era só querer estar junto, mas também saber ficar separado. Era entender que as coisas terminavam, às vezes sem mais nem menos, especialmente quando, inocentes, achamos que tudo vai ficar bem.
O que eu mais gostava de pensar a respeito da história daqueles dois, entretanto, era o cenário que os envolvia e o poder que este exercia sobre eles. A cidade de Verona que apresentou um ao outro e que, em silêncio, assistiu àquela paixão crescer e se transformar em amor.
A mesma Verona que os acobertou, que lhes deu a oportunidade de terem os seus poucos, sim, mas bons momentos juntos. A cidade que, durante esse período, foi o lar deles, a sua fortaleza e que, talvez como castigo por tentarem abandoná-la, transformou-se em seu túmulo. Como se desejasse mantê-los junto de si, por toda a eternidade. Tal como se aqueles dois lhe pertencessem, acima de tudo. Ou talvez ela achasse que assim poderia, finalmente, protegê-los do mundo que os condenava pelo que sentiam.
Foi quando percebi que Romeu e Julieta não era apenas uma história de amor que acabava em tragédia, mas também uma história de enganos, sacrifícios e mal-entendidos.
Sobre não se arrepender.
Por ser perfeita dentro de sua imperfeição era que as pessoas se identificam com ela. Era por isso que se emocionavam, que compreendiam e que amavam. Todos queriam que houvesse um final feliz para aqueles dois, mas não deixavam de admirar a força de seus personagens enquanto lamentavam o seu cruel desfecho.
Os dois eram humanos, afinal. Como eu e você. Sujeitos a erros e enganos. Humanos que apesar de seus equívocos, não faziam disto uma desculpa para se arrependerem do simples ato de amar. Nenhum deles tampouco sabia ao que estava realmente disposto até chegar a sua hora. Não faziam idéia de que, no auge da luta, quando parecia que as coisas iriam se resolver... tudo simplesmente acabaria.
Tal como a vida. Como a felicidade que se esvai igual a sal, pelas frestas entre os dedos. Deixando apenas queimaduras para trás.
Eis a sua história: alegoria da realidade, feita de fantasias e rostos pintados, encenada sobre um palco, montado de improviso. Peça que o mundo aplaudiu de pé, quando as cortinas caíram.
Não que eu pensasse que haveria aplausos no fim. No nosso fim.
Eu realmente não achava que iríamos nos curvar para agradecer àqueles que acompanharam o desenrolar de nossa história. Saga de enganos e sacrifícios. Da falta e sobra de arrependimentos. De cada um dos inúmeros mal-entendidos. História onde alguém conheceu alguém e se apaixonou por esse alguém.
E que foi amado em retorno, mesmo que tardiamente.
Mas então aconteceu o que ninguém queria e alguém se foi. E o outro pensou, desesperado e quase, quase conformado: 'Eu poderia ir também, certo? Optar pela eternidade? A incerteza junto dele?'.
Não aconteceu assim. O nosso final demorou bem mais. O segundo alguém decidiu ficar e continuar, descobrindo que não se arrependera disso, tampouco. E sabia que o outro acabaria entendendo. Queria, precisava que ele entendesse.
Entendesse que haveria novas oportunidades de morrer e de matar por ele. Morrer por aquilo que ambos lutaram. Matar pelas suas lembranças. E que tampouco se arrependeriam disso. Não se arrependeriam de mais nada.
Alguém ficou e decidiu deixar a cargo da velha Verona a escolha da hora para finalmente juntá-los pela última vez.
(TBC)
¹ Todos os títulos que dividem os trechos dessa fic são nomes/frases/termos do livro (e/ou trilha sonora do filme) "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford". A esmagadora maioria não têm absolutamente nada a ver com a fic em si, mas como escrevi uns 97,3% da belezinha aqui ao som da trilha e no embalo da leitura do livro, simplesmente não dava para desassociar.
[x] A quem interessar, 'upei' a trilha sonora completa no seguinte endereço: http: // www. 4shared. com/ dir/ 7726764/ cf6c5d13/ sharing. html (para acessar, retire os espaços). É toda instrumental e acho que combina bem com o clima da história. Por conta e risco de vocês.
Sobre a fic: Verona está dividida num total de 27 Capítulos (incluindo prólogo e epílogo). E, sim, a fic está concluída e agora devidamente revisada, então, prometo atualizações regulares (dois capítulos por semana, em média). Comentários e críticas serão muito bem-vindos e apreciados. ;)
NdA: Quando terminei de ler Deathly Hallows eu fiquei completamente estarrecida pela maneira como o Remus se apresentou. Não que eu achasse que ele era uma pessoa completamente diferente dos livros anteriores, mas é fato que o sétimo mostrou uma nova faceta dele. Levei mais de um ano para escrever "Verona" e, agora, com ela concluída, espero conseguir expressar o que o Remus de Deathly Hallows representou para mim e porque, apesar de tudo que fez, ele continua sendo meu personagem favorito.
Agradecimentos: Ao lindo, fofo e apertável do Shaka Dirk por ter topado a ingrata missão de revisar todas as 122 páginas desta história.
