–Heero, nós precisamos conversar. –aquelas palavras lhe chegariam ao ouvido como o mais abjeto ruído se não tivessem sido ditas pela linda voz dela.

Ele aprendera a ansiar por aquela voz como algo vital para si. Não se imaginava habitando outra vez o silêncio de sua vida se aquela voz se calasse. Seria uma espécie de tortura, uma fácil de impingir.

Viu ela hesitar, revirar os olhos, suspirar. Mas ele não reagia. Apenas esperava. Sua vida tinha sido uma muito sofrida, muito vazia até conhecê-la. Não sabia muito bem como expressar suas emoções, como mostrar o que pensava sobre tê-la consigo. Porque passara muitos traumas, acabara ficando insensível.

Por isso precisava dela. Quando tinha Relena por perto, as coisas pareciam mudar dentro dele e ao seu redor. As cores pareciam mais nítidas, a alegria parecia possível – e não uma ilusão como ele costumava pensar.

Mas ali, sabia o que provavelmente ela diria, via pelo constrangimento no rosto bonito que o evitava.

Já tinha passado por isso também, algumas outras vezes – era por isso que vivia sozinho.

Com voz clara e entorpecida, murmurou:

–Pode dizer, Relena.

Foi claro para ele que sua falta de rodeios deixou Relena ainda mais desconfortável. Os dois tomaram suspiros profundos, como se tudo fosse muito difícil. Ele tinha uma espécie de lamento aparecendo no olhar, mas aquilo não era suficiente ainda para definir se estava mesmo se importando.

–Sinto muito, mas não posso mais continuar como estamos. –ela explicou dolorosamente.

–Você quer terminar?

–Não sei, não sei, estou confusa… Mas não consigo mais, Heero, estou cansada de… seu jeito frio e seu descaso. Acho que, sinceramente, você não corresponde o que sinto por você. Me sinto mais solitária do seu lado ás vezes do que quando estou sozinha. Me desculpe. Tentei meu melhor para ver… se você reage.

Heero suspirou de novo, levou a mão aos cabelos como que para coçar a cabeça, pensativo. Não ia conseguir tirar os motivos dela.

–Sei que talvez não seja por mal, mas não consigo levar isso adiante mesmo. Preciso de um pouco mais de calor.

O olhar imparcial que ele lançava para o rosto da moça não se alterava em nada, acompanhava tudo o que ela dizia sem se esforçar em contradizê-la ou se justificar. Isso causou estranheza nela, entretanto.

–Você… nem ao menos vai dizer alguma coisa? Protestar…? –e uma evidência de choro surgiu na voz confusa dela.

Ele quase sorriu ao mesmo tempo em que quase franziu a testa, foi como se se dividisse incerto sobre como reagir, porque não tinha prática.

–O que quer que eu diga? Eu fiz o que pude. Não posso forçar você a fazer o que não quer. Se já decidiu assim, Relena, está decidido.

–Você não tem coração?

Ele não disse nada sobre isso.

–Não estou entendendo. –ela murmurou, passando a mão pelos cabelos loiros.

–Nem eu. Como exatamente queria que eu agisse? Você vê, eu nunca disse não para você.

–Talvez esse seja um problema.

–Não me importo. Veja como você se sente feliz…

–Qualquer coisa está boa para você? Você não quer tentar me fazer sentir feliz?

–Você já não decidiu, Relena? Por que simplesmente eu faria você mudar de idéia?

–Porque é o que os namorados fazem normalmente! Mas está certo. Você não é normal, Heero! Acho que nem humano você é. Deve ser só um boneco, um brinquedo… –brigou com ele, contrariada, e dando as costas, foi embora, decidida a não regressar, antes que ele pudesse vê-la chorar.

Heero estalou os lábios e se sentou, um pouco cansado da tensão. Será que Relena estava certa? Será que ele não era humano e nem tinha um coração? Nunca antes tinha encontrado um motivo para procurar suas emoções – tinha perdido tudo isso em uma esquina qualquer da vida. E toda vez que experimentava alguma emoção, só lhe fazia mal – julgou não precisar delas.

Então, a única coisa que realmente acreditou ter no mundo como uma referência de sua existência, a única preciosidade que conseguira, caminhou porta a fora diante de seus olhos, descontente, deixando-o. Sempre acabava sozinho e vazio.

Não sabia decidir se sentia amor por Relena, embora fosse fácil ver que ela o amava. Às vezes quis saber por que nunca lhe disse não… por que, quando ela apareceu naquela noite, ele não disse não à curiosidade dela, ao assunto que ela iniciou, à fascinação que passou a sentir pelo mistério que via nele? Porque os olhos azuis dele tão profundos e intensos pareciam vazios e detentores de algum segredo, como se mascarassem algo. E ele pensou mais: por que, quando seus rostos ficaram perigosamente próximos demais, ele não disse não ao beijo que ela queria, mas por sua vez quis também aquele beijo? Não sabia explicar nada disso.

Heero tomou um grande copo de café puro com o mínimo possível de açúcar. Nem o gosto amargo mordaz da bebida criava rugas no seu rosto.

Foram apenas alguns meses. Ele nunca lhe dizia não, ela continuava presa nele, disposta a quebrar o gelo. Mas o fascínio foi acabando e a frieza contagiando-a. Beijos, abraços e palavras insípidas em conversas sérias não lhe eram mais o suficiente. O mistério dele era estranho e inexistente, pelo que lhe pareceu. E o que ela mais queria era fazê-lo vivo.

–Eu sou uma idiota! Por que achei que conseguiria fazê-lo entender meu amor? Simplesmente, não sei como posso lidar com ele, nem sei como suportei tanto… –ela disse a si mesma, lacrimejando pela calçada. –Acabou. –e consolou-se, parando em algum lugar para beber um grande copo de café.

–Acabou. –Heero disse para si mesmo, conclusivo. –Simples assim. Tão fácil quanto vem, vai. –suspirou. Julgou que tinha demorado para acontecer, entretanto.

E quando Relena tomou o primeiro gole, o gosto amargo e mordaz do café não lhe consolou, só lhe foi cruel, porque fez-la lembrar o sabor de Heero quando se beijavam. O amargor dele, quase sempre por causa do café, por mais desagradável que fosse às vezes, revigorava e provocava, dando uma sensação de plenitude emocional difícil tanto de descrever quanto de entender, até Relena admitia. E só Heero proporcionava isso.

–Vou sentir sua falta assim tão rápido? –reclamou, bebendo mais, a um grande gole então, fechando os olhos e deixando as lágrimas rolar. Ela ia descobrir então como era difícil esquecer de alguém do qual o coração ainda lembra muito bem.

Heero ia tentar fabricar um lamento que não sabia fazer, bem como tentar criar algo que consolasse tal. Ah! Se ao menos conseguisse! Mas mesmo pondo toda sua força nisso, não sentia tristeza ou qualquer outra coisa a não ser o vazio interno e derredor de si. Vazio. E só. E de tão vazio que era, nem explicação tinha – nem isso.

Capítulo I - Café


Boa tarde queridos leitores!

Estão surpresos em verem uma fic nova de minha autoria?

Eu também estou surpresa por estar escrevendo mais alguma coisa enquanto tenho tantos planos, tantas coisas por fazer.

Mas tudo bem, uma escapadinha não vai fazer mal nenhum.

Me deu vontade de por esse casal numa outra situação e contexto desde que eu ouvi o CD da Katy Perry milhões de vezes..

Baseei sem compromisso essa fic em algumas músicas dela. Agora, que avancei na escrita, a coisa escapou um pouco da inspiração original, mas continua bem legal.

E isso tudo quando eu estava crente de que nunca mais seria capaz de escrever fanfics.

Os capítulos são curtinhos mesmo. E a fic também é bem pequena. E já estou no final da escrita dela.

Espero que dêem alguma atenção para ela e me premiem com seus comentários, críticas, sugestões, dúvidas, agradecimentos, elogios, recados! Estou aguardando-os todos!

Beijos e abraços!

18.11.2008