Hero!
Autora - Alicia, eu.
Classificação - +12
Gênero - UA, Drama, Angst
Disclaimer - Reborn pertence à Amano Akira e ela pode muito bem ficar com ele desde que me dê o Spanner e o Gamma de presente.
Personagens - Julietta e Gamma, 5743.
Era só uma criança. Nada mais, nada menos. Uma criança de rosto de porcelana, de olhos de jade de onde lágrimas de cristal transbordavam, manchando de cinza as bochechas coradas. Suas mãos pequenas eram garras no chão de terra batida, garras brancas como osso tingidas com o vermelho do sangue, as mãos de quem matou e de quem morreu, de quem se agarra à roupas sujas com o próprio sangue e chora pela alma perdida, pela inocência que nunca voltará.
Ela precisava de alguém. Não, não, não queria só alguém. Ela precisava do seu pai. Precisava ouvir sua risada de novo, precisava que ele a pegasse no colo e risse, queria estar em seus braços de novo, precisava de seu herói outra vez, era só uma criança abandonada pelo amor de Deus uma criança largada num campo de uma batalha que já acabou uma criança que morreu e que matou e que viu morrer.
Não era tarde demais ainda, mas se ela fosse deixada para trás sua vida seria pelo sangue e por mais nada, não haveria mais sentido, ela queria alguma coisa, qualquer coisa, qualquer coisa que pudesse aquecer seu peito vazio, qualquer coisa que pudesse fechar os machucados em suas costas, qualquer coisa lhe satisfaria no momento mas ninguém ali estava em condições de ofecer-lhe algo além do seu próprio vazio.
Gritos rasgam seu peito e garganta e cortam o ar como uma faca, dilaceram o vazio com sua dor, com o seu desespero, é uma criança selvagem, suja de terra e sangue e pólvora, que arranha o chão como se fosse cavar sua cova, ela clama por um herói, chama um salvador sem nome, mesmo que seja a morte, ela rasga a própria farda, tentando livrar-se da dor, quer arrancá-la do peito com as unhas quebradas, rasgando a pele, arrancando o próprio sangue e vendo-o escorrer para a terra, tentando fazer a Mãe aceitá-la e devorá-la como fez com o seu pai.
Um homem tentou pará-la, agarrando seus braços para que parasse de se ferir, inutilmente. A garota permaneceu berrando, chamando pela morte na forma que ela quisesse vir colher sua alma corrompida. Gritava em todas as línguas que conhecia, forçando-se no aperto do homem que machucava seus braços segurando-os e machucava seus ouvidos pedindo ajuda para controlá-la.
Só uma criança. Outro tiro, o som se misturando os gritos da menina numa harmonia cruel, carnal, arrancando mais sangue e fazendo-o respingar no rosto de porcelana e nos cabelos de fogo e fazendo o sangue desconhecido misturar-se ao seu suor e o homem que antes a segurava tombou para trás, morto.
E outro homem veio. Seus braços envolveram a menina que se debatia com força e uma delicadeza estranha que ela não reconheceu de imediato. O homem parou suas mãos, prendedo-as com as dele, e a apertou contra o peito, contra o coração, a única fonte de vida da qual ela conseguiria tirar forças, e o homem disse que seria seu herói se ela quisesse, que seu pai foi um herói e que ele estaria ali se ela precisasse.
Não importava para ela se era uma armadilha. Ela queria o seu herói tão sujo de sangue e terra quanto ela mesma, queria ouvir o som forte de seu coração até sentir-se bem, mesmo que não conseguisse lembrar seu nome agora, ela reconheceu o homem de rosto bom e voz afável e o aceitou, deixando-se esquecer em seus braços. Seu herói viera. Não importava se iria morrer, era seu herói e o que viesse dele seria bom.
