O que está acontecendo? Eu não sei. Só sei que você está aqui... Mas eles a mataram... Como posso te tocar desse jeito... Eles mataram você!

Eu devo estar louco... Por que corro tanto? Não me mexo... Era ela sim... Que barulho é esse... NYUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!

Despertador. São 7:00 da manhã. Hora de acordar. Na verdade eu já deveria estar na faculdade. Esse cheiro... Nana deve estar ajudando Yuka com o café... Maya já foi... Ninguém me acordou? Estranho... Elas normalmente fazem uma algazarra enorme. E acabam me acordando cedo... Elas costumam me acordar melhor que o despertador. Mas eu acertei para 6 da manhã... Droga, acho que pus no snooze. Ainda bem que essa aula era só uma revisão, e nessa matéria vou muito bem. O cheiro do café está tão agradável... Vou comer... Melhor tomar meu banho e me arrumar. Se for de pijama me sentar à mesa, Yuka pode até me dar vassouradas...

(Algum tempo depois, na sala de jantar. Todos reunidos à mesa para o desjejum.)

-Bom dia, meninas.

-Bom dia, Kouta...

A voz de Yuka é muito boa... Ela sempre me olha feliz. Sempre penso em fazer mais por ela, arrumar nossa situação... Mas... Lucy...

-Bom dia, Kouta!

Nana... Agora ela sorri mais, está mais esperta... Não é a menina bobinha que conhecemos. Nana cresceu bastante. E isso me deixa feliz. Ela também faz faculdade. Matemática. Quem diria...

-Itadakimasu!

A comida está boa, como sempre... Mas...

-Falta um prato, Yuka...

-É... Eu resolvi não colocar esse prato hoje.

- Por favor, coloque. É o prato dela, e ela estaria conosco agora, com certeza.

- Kouta... Devemos aceitar. Já se passaram 3 anos... Ela não voltará, Kouta. E colocar um prato a mais na mesa não a trará de volta.

As palavras de Yuka magoaram, e muito. Deram-me muita raiva. Mesmo que ela não voltasse, o prato dela deveria estar ali, como sempre, como deveria ser! Sua lembrança jamais deixaria esta casa, muito menos meu coração! Num impulso de raiva, bati na mesa e me retirei, irritado. Nana olhava com aquela carinha de que não havia entendido nada. E Yuka... Tinha lágrimas nos olhos. Não queria vê-la chorar, mas... Ela não deveria ter feito aquilo. Nunca na vida dela. Nunca.

Coloquei outra roupa e saí. A casa estava me sufocando, precisava respirar um pouco. Fui caminhar pela cidade, ver o movimento... Fugir um pouco daqueles pensamentos confusos. Há três anos, eu perdi alguém que nunca saberia classificar como amiga ou inimiga. Mas apesar disso, ela era importante para mim, e não sei por quê, mas sempre tive a sensação de que ela nunca tinha ido embora de verdade... Sempre achei que ainda estivesse viva... Em algum lugar nesse mundo. Não sei por que essa sensação nunca diminuiu, nem se esgotou. Começo a pensar que é só minha imaginação... Mas... Esses sonhos que tenho toda noite com ela são estranhos. Neles eu a vejo, a abraço... Sinto seu cheiro... Eu a vejo nitidamente, como na última vez em que a vi. Porém nos sonhos ela está de cabelos compridos...

Ah! Andei tanto que nem me dei conta. Cá estou eu, na praia novamente. Na praia onde a conheci... Ou melhor, onde a reencontrei... Bem, já que estou aqui... Posso muito bem tirar meus sapatos, molhar os pés na água um pouco, admirar a beleza desse lugar. É um ótimo lugar para pensar. Renovar minhas forças no balanço das ondas... É...

(começa a anoitecer, e Kouta continua na praia sentado, esquecido das horas.)

Meu Deus! Está tão tarde!Perdi a noção do tempo! Acho melhor calçar os sapatos e correr, as meninas devem estar preocupadas... Ou talvez bravas. Pensando na Yuka furiosa, dá vontade de morrer agora mesmo...

Mas...

Não acredito...

O vento marinho balança os cabelos dela... Aquela expressão morta... Maligna... Fria... Ela olha fixamente para mim... Eu sequer consigo dizer oi... Meu Deus...

-Kouta.

-Lucy...

Eu estava apavorado no instante em que a vi. Mas agora... Só estou surpreso...

-Kouta... Eu... Voltei.