Herança

Certa manhã, no início do ano letivo, eu ouvi Minerva conversando com o quadro do Dumbledore sobre a visita que Harry Potter faria ao gabinete da diretora de Hogwarts naquele dia. Parecia que o tema em questão era o nascimento do segundo filho dele.

Não pude extrair mais informações, pois ouvimos uma batida na porta e, logo em seguida, um Harry Potter muito inquieto invadiu a sala da diretora.

- O que deseja, Potter? – Perguntou a professora com um sorriso, - soube que seu filho nasceu. Não deveria estar com ele e sua esposa, ou talvez com o pequeno James?

- Andrômeda está com o James e Molly está com Ginny e o bebê. Eu queria conversar com o prof. Dumbledore e o prof. Snape. Posso?

Minerva McGonagall olhou para o homem diante de si. Eu não posso dizer quem aparentava mais surpresa: eu ou ela. Dumbledore, claro, parecia mais calmo que nunca. Minerva provavelmente se recuperou antes de mim, porque, quando dei por mim, ela já havia deixado a sala.

- Quando meu filho mais velho nasceu, eu decidi colocar o nome dos dois homens que eram, de fato, meus pais: James, meu pai biológico, e Sirius, meu padrinho. O pequeno James hoje apresenta uma personalidade parecida com a dos seus homônimos.

- O professor Neville nos contou sobre o pequeno James, - falou Dumbledore, - disse que ele é um menino inteligente e educado, mas adora fazer travessuras, também. Parece-me mais com o próprio pai.

- Não entendo o que isso tem a ver conosco, Potter. – Falei, impaciente, - mas educado realmente não é uma palavra que caracterize o seu pai.

Potter sorriu timidamente. Eu sabia que ele concordava comigo, ainda que não admitisse. Ele era como a mãe dele e concordava com ela, sabia que o pai era arrogante, naquela época.

- Eu gostaria de dizer a vocês que o nome do meu novo filho será Albus Severus Potter. Albus porque você, Dumbledore, foi como um pai para mim, ninguém me ensinou tanta coisa. Severus porque você, Snape, me ensinou sobre o meu pai o que ninguém queria ensinar, e amou a minha mãe. Ele tem os olhos dela.

Eu me senti lisonjeado, ainda que eu não tenha deixado o Potter saber disso. Dumbledore não segurou as lágrimas, ainda que fosse tão orgulhoso quanto eu.

- Se, como James puxou seus homônimos, Albus também o fizer, tenho certeza que meu filho será corajoso e inteligente.

Os onze anos que se seguiram àquele evento se passaram rapidamente. Talvez, por eu estar morto, coisas como o tempo não tem mais importância. Eu costumava freqüentar as aulas de Poções através do meu quadro que havia nas masmorras.

Vi James Sirius Potter chegando a Hogwarts, ele era travesso, mas tinha a gentileza que eu associava à Lily e, mais recentemente, ao filho dela. Ele era ruivo, como um Weasley, seus olhos castanhos. Era, de fato, muito mais Weasley que Potter.

A partir de então, o tempo pareceu se arrastar. Eu estava curioso para conhecer meu homônimo. Talvez me orgulhasse dele, talvez o odiasse. Acho que Dumbledore sentia-se assim também, mas ele nunca me falou a respeito.

Quando, enfim, chegou o 1º de setembro do ano em que Albus Severus Potter entraria em Hogwarts, Minerva entrou em sua sala pensativa acerca da seleção das casas daquele ano.

- Então, Minerva. Como foi com o nosso pequeno Potter?

Minerva ergueu os olhos para mim e, de repente, eu soube o que a perturbava. Mas, em lugar de me incomodar, a notícia me agradou muito.

- Albus Severus Potter foi selecionado para a casa Slytherin.

Dias depois, eu o vi freqüentando sua primeira aula de Poções. Em aparência, ele era exatamente como Harry Potter quando ele chegara em Hogwarts. Nos olhos dele, eu vi um brilho peculiar: ele era determinado e inteligente como um típico Slytherin, mas também era corajoso como um Gryffindor.

Eu soube, então, que ele estava destinado a grandes feitos. Não só porque ele era um Albus e um Severus, mas, também, porque ele era um Potter sem cicatriz.