Autora: Mary Spn

Beta: TaXXTi

Personagens principais: Jared / Jensen

Sinopse: Nada mais era como antes. Algumas coisas haviam se perdido pelo caminho, barreiras haviam sido construídas entre eles, e tudo o que Jensen podia fazer agora era tentar reparar os estragos.

Avisos: Trata-se de Universo Alternativo, Jared e Jensen são apenas personagens desta fic. Contém violência e cenas de relação homossexual entre homens. Não gosta, não leia!


Com todo meu amor e carinho, quero dedicar esta fic à Michelle (Pérola)

Era para ser um presente de aniversário, mas está um pouquiiiiinho atrasado... rsrs. Espero que goste, amore! Você é uma das pessoas mais especiais que conheci neste fandom *-*


Sombras do Passado

Capítulo 1

Já passava da meia noite quando Jensen deixou o pequeno apartamento alugado onde vivia, carregando consigo apenas uma mala com algumas roupas e pertences pessoais.

Caminhou, arrastando sua a mala até o posto de gasolina mais próximo, onde conseguiu carona com um caminhoneiro.

O homem de meia idade dirigia em silêncio, concentrado na estrada, e o único incômodo era o fato dele fumar dentro da cabine. Jensen não ousaria reclamar, afinal, estava ali de favor, com um homem que sequer o conhecia.

Aquilo trouxe recordações de Jeffrey, seu irmão mais velho. Ou meio-irmão, já que eram filhos apenas da mesma mãe. Ao fechar os olhos, podia vê-lo nitidamente, sentado na carcaça de algum dos carros do ferro velho, com uma perna dobrada e um cigarro aceso entre os dedos.

Saudade. Uma palavra tão simples, mas que machucava tanto... Jensen deixara seu irmão e seu sobrinho há cinco anos, e desde então, só tinham trocado uma palavra ou outra por telefone. Basicamente, ligava apenas para dizer que estava vivo.

Encostou a cabeça no vidro da janela do caminhão e fechou os olhos; um sorriso se formou em seu rosto ao lembrar-se de Jared, seu sobrinho.

O garoto tinha quinze anos quando o vira pela última vez. Era magro e alto demais para a sua idade. Mas era o garoto mais ativo e cheio de energia que conhecera. Lembrava-se dele correndo pelo ferro velho, os cabelos compridos demais caindo sobre os olhos e sempre com um sorriso enorme no rosto. As gargalhadas dele eram o som mais gostoso que já ouvira, ainda melhor quando somadas àquele gesto, o jeito como ele jogava a cabeça para trás e ria até perder o fôlego.

A única vez que o vira triste de verdade fora alguns dias antes de ir embora de lá, quando Amy, a mãe do garoto falecera. A mulher tivera um ataque fulminante durante a noite, e Jeffrey a encontrara morta pela manhã. Seu irmão também estava arrasado, mas a lembrança de Jared caindo de joelhos diante da cama, gritando para que aquilo não fosse verdade, era a imagem mais dolorosa que carregava consigo. Jeffrey abraçara o garoto e o tirara do quarto à força, para que os paramédicos pudessem levá-la, e Jensen apenas ficou lá, observando a cena, sem coragem de fazer qualquer coisa. Como se todos os seus músculos tivessem paralisado naquele momento.

O caminhão deu um solavanco ao passar por um desnível da estrada e Jensen de repente abriu os olhos, saindo do transe. O dia estava amanhecendo, mas ainda tinha um longo caminho pela frente.

Não sabia como seria recebido na casa de seu irmão, depois de tantos anos. Pensou muito a respeito antes de ligar para Jeffrey, pedindo por um lugar para ficar, e seu irmão apenas perguntou quando chegaria, sem hesitar.

Esse era o seu velho irmão, sempre com um coração enorme, um homem direto e sem rodeios. Provavelmente ainda guardava mágoas, pelo fato de Jensen ter ido embora daquela maneira, sem nenhuma explicação plausível, mas jamais lhe negaria abrigo por causa disso.

- x -

Em uma de suas pausas para fumar um cigarro, Jeffrey observava Jim Beaver, seu sócio, e Chad Lindberg, seu funcionário, empenhados no concerto de uma das prensas do ferro velho. Tinham pouco serviço naquele dia, e Jeffrey teve que rir ao ver Chad entregando as ferramentas a Jim, e o mais velho resmungando alguma coisa, de mau humor.

Conhecia Jim há muitos anos, trabalharam juntos em uma empresa e, depois de cansarem de aborrecimentos e de trabalhar para os outros, decidiram abrir seu próprio negócio. Agora, ambos viúvos, continuavam ali, trabalhando duro, cuidando de um ferro velho e uma oficina de automóveis. Não ficaram ricos, mas tinham o suficiente para se manter.

Jeffrey nunca fora um homem ambicioso, mas queria ter algo para deixar ao seu filho – ou enteado, já que não era o seu pai biológico – quando lhe faltasse algum dia.

Apagou o cigarro e caminhou até a porta da oficina. Jared estava lá, deitado debaixo de um Corvette 69, recém restaurado. Jeffrey criara o garoto desde os quatro anos de idade, portanto, era como um filho para ele. Quando a mãe dele, esposa de Jeffrey morrera, há cinco anos, o mais velho sequer deixou Jared cogitar a ideia de ir embora dali. Era o seu único filho, e ali era o seu lugar.

Teria que conversar com o garoto sobre a chegada de Jensen. Estava enrolando desde o dia anterior, e agora não tinha mais como adiar. Não sabia qual seria a reação de Jared. Sempre esperava o pior. Ultimamente, já não sabia mais qual seria a reação dele em qualquer uma das situações.

Jeffrey suspirou com tristeza e entrou na oficina.

- Quase pronto? – Perguntou ao parar ao lado do Corvette, e puxou uma banqueta para se sentar.

- Sim, só estou dando uma última apertada aqui. – Jared respondeu de baixo do carro.

- Sabe quem me ligou ontem?

- Quem?

- O Jensen.

- O que ele queria? - Jared perguntou, sem demonstrar muito interesse.

- Está vindo para cá.

- Está vindo? Mas o que ele vem fazer aqui? – Jared empurrou o carrinho e saiu de baixo do carro, olhando espantado para o seu pai.

- Ele está vindo para ficar, Jared.

O moreno nada disse, apenas se levantou e foi guardar as ferramentas.

- Está tudo bem pra você? – Jeffrey queria se certificar.

- Está. – Jared limpou as mãos no macacão que usava. – Por que não estaria? – Forçou um sorriso.

- Ótimo. – Jeffrey sorriu, aliviado. – E você se importa de dividir o quarto com ele, se eu colocar mais uma cama lá?

- O meu quarto? Não, claro que eu não me importo. – Jared não tinha gostado da ideia, mas jamais reclamaria. Era o irmão de Jeffrey, afinal. – Mas... Ele falou por que resolveu voltar?

- Não. Ele foi muito vago, mas... Provavelmente está encrencado. Você sabe como o Jensen é.

- Sim, eu sei. – Jared falou baixinho. – Será que eu posso terminar aqui por hoje? – Jared estava incomodado demais para continuar ali.

- O Corvette está pronto, então você já pode ir.

- Obrigado.

- Ah... Jared?

- Sim?

- Está tudo bem mesmo?

- Está, sim senhor. – Jared sorriu forçadamente e se retirou da oficina, indo para a casa onde morava com seu pai, e ficava ao lado da oficina.

Jeffrey caminhou até onde Beaver e Chad estavam, e os ajudou a terminar o serviço na prensa.

- Falou com ele? – Jim perguntou assim que Chad foi para a oficina e os deixou a sós.

- Sim.

- E aí?

- E aí que... Reagiu melhor do que eu esperava. – Jeffrey disse simplesmente.

- Bom. Quero dizer, isso é bom, não é?

- Você sabe que o problema são as coisas que ele não diz. Mas eu quero acreditar que esteja tudo bem mesmo.

- E quando é que o Jensen chega?

- Amanhã. – Jeffrey sorriu. – Pra falar a verdade, eu sinto falta dele. Aquele moleque irresponsável...

- Ele era só um garoto quando saiu daqui, Jeff.

- É, eu sei. Mas isso não justifica o fato dele ter ido embora daquele jeito, de uma hora pra outra. Depois mal ligava pra dar notícias, o ingrato! – Jeffrey bufou e Jim deu risadas.

- Talvez ele seja uma boa companhia pro Jared. Eles eram muito próximos e Jensen é apenas quatro anos mais velho.

- É, talvez. O problema é que ele foi embora logo depois que a Amy morreu, e eu sei que o Jared guarda ressentimentos. Só espero que eles se entendam.

- x -

Jensen desceu do caminhão há duas quadras da casa de Jeffrey. Sentia saudades da cidade, mas estava tão ansioso por chegar que sequer curtiu a viagem.

Já passava das dez da manhã quando chegou em frente à casa do seu irmão. Pouca coisa havia mudado por ali. O jardim, a pintura da casa, mas o restante continuava exatamente como se lembrava. A oficina ao lado, o ferro velho nos fundos, a velha camionete de Jim estacionada ao lado da oficina... Era como voltar no tempo.

Tocou a campainha e quando a porta da frente se abriu, um Jeffrey sorridente o puxou para um abraço. Jensen tentou esconder a emoção, porque só agora se dera conta do quanto sentira falta do seu irmão.

- Jensen... Eu quase não acreditei que você viria mesmo. – Jeffrey falou quando se soltaram do abraço e Jensen percebeu que ele tinha os olhos marejados.

- Obrigado por me receber, Jeffrey. Eu não sei como...

- Esqueça isso. Você sabe que sempre será bem vindo na casa do seu velho irmão. Agora venha, você deve estar exausto.

Jensen entrou, carregando sua mala, um pouco sem graça. Jeffrey percebeu seu constrangimento, mas nada comentou.

- Não mudou muita coisa desde que você foi embora, não é? – O mais velho sorriu – O banheiro ainda é no mesmo lugar e você terá que dividir o quarto com o Jared. Espero que não se importe.

- Imagina, Jeff. Claro que não! O Jared... Está na faculdade?

- Não, ele... – Jeffrey pigarreou – Está lá na oficina, trabalhando.

- Oh. – Jensen não conseguiu esconder a surpresa. – Eu... Então eu falo com ele depois. Será que eu posso tomar um banho?

- Claro! Tem toalhas limpas no banheiro, eu vou colocar sua mala no quarto e preparar algo pra você comer. Fique à vontade, Jensen.

Jensen ligou o chuveiro e deixou a água morna escorrer por suas costas, relaxando seus músculos. Sabia que Jeffrey não o pressionaria, faria de conta que estava tudo bem, e as coisas entre eles se ajeitariam aos poucos.

Mas com Jared talvez as coisas não fossem assim tão fáceis. Logo que chegou, sentiu vontade de correr até a oficina para encontrá-lo, mas perdera a coragem. O medo de ser rejeitado quase sufocava o seu peito. Infelizmente, era algo que teria que encarar.

Terminou seu banho e foi até o quarto que dividiria com Jared. Havia duas camas de solteiro nele, uma de cada lado do quarto. Uma escrivaninha com um computador e alguns livros, um porta retratos com uma foto de Jared, Jeffrey e Amy. Jensen o segurou em sua mão e aquilo o trouxe ainda mais saudades.

Olhou para a cama de Jared que estava desarrumada, provavelmente tinha saído do quarto às pressas. Jensen sorriu ao se lembrar do quanto Jared era ansioso com tudo, sempre correndo, falando rápido demais, gesticulando...

Ouviu a voz de Jeffrey chamá-lo na cozinha e vestiu-se rapidamente. Foi até lá e comeu um lanche que o mais velho havia preparado, então o seguiu até o ferro velho, onde reencontrou Jim Beaver, e conheceu Chad, um funcionário deles com um jeito engraçado.

Ao entrar na oficina, ficou boquiaberto ao ver o quanto seu sobrinho havia mudado. Era praticamente um homem agora, mas o jeito e o olhar de menino ainda estavam lá.

- Hey Jared, venha cumprimentar o seu tio. – Jeffrey chamou a atenção do mais novo que ainda não tinha notado a presença dos dois.

- Jay! – Jensen abriu um largo sorriso e se aproximou do moreno, já que este não havia saído do lugar. – Você cresceu, hein garoto! – Jensen o abraçou apertado, cheio de saudades, mas se arrependeu de ter feito isso quando sentiu o outro ficar tenso em seus braços e não corresponder ao abraço. Parecia ter congelado.

- É... Vamos dar uma volta por aí? – Jeffrey puxou Jensen pelo ombro e o levou para fora da oficina, ao perceber o quão embaraçado ele ficara.

Antes de sair, Jensen olhou mais uma vez para Jared, tentando entender se tinha feito alguma coisa errada. Por mais que o moreno guardasse alguma mágoa, Jensen não esperava este tipo de reação. Tentou perguntar a Jeffrey o que havia acontecido, mas assim que saíram da oficina, foram interrompidos por Jim Beaver.

Jensen então resolveu deixar para lá; teria muito tempo para conversar com Jared e resolverem as coisas, afinal, ambos dividiriam o mesmo quarto.

Continua...