Retratação: os personagens dessa fic não me pertencem!
Atenção: Contém YAOI, não gosta? Sinto muito... Não leia!
INSÔNIA
Já fazia quase uma hora que o sono de Gaara estava leve e conturbado, revirava-se entre as cobertas, sentindo-se desconfortável. Chegou mesmo a abrir os olhos umas duas ou três vezes e viu, pela fresta da cortina, que ainda era noite. Seu corpo estava cansado e sua mente, esgotada, voltava para aquele estranho estado de semiconsciência. Alguns pensamentos vagavam errantes, entre compromissos, missões, Lee...
Abriu os olhos repentinamente e levou a mão ao peito. Teve a nítida impressão de que estava sem o terço de madre-pérola que lhe guardava o sono.
A peça, belíssima, fora recebida como presente de um monge com o qual encontrara acidentalmente muitos anos antes, nas imediações de Suna. "Para afastar os maus espíritos que perturbam o seu sono", o monge disse na ocasião. Talvez devesse ter ficado surpreso com tal comentário – afinal, apesar de ter se livrado do Ichibi há algum tempo, ainda não conseguia dormir profundamente, continuava tendo pesadelos terríveis – mas não ficou. Apenas guardou o terço e prosseguiu, sem dar muita atenção. De noite já havia esquecido completamente as palavras do monge e, mais uma vez, intercalou breves instantes de sonolência com outros tantos de plena consciência. Como sempre, já era quase de manhã quando resolveu se levantar, cansado de tentar conciliar o sono. Viu o terço que havia sido displicentemente depositado sobre o criado-mudo e lembrou da recomendação que recebera no dia anterior. Enfiou a jóia pela cabeça e deitou novamente sem acreditar que teria realmente algum efeito. Dormiu um sono pesado e ininterrupto até a manhã do dia seguinte e, desde então, não passava uma noite sem o terço.
Entretanto, estava enganado, o terço permanecia lá como todas as noites. Então, o quê havia? Sentou-se na cama já sem paciência e olhou instintivamente para o seu lado direito, vazio. Lee?
Sentiu-se aliviado pela certeza de ter descoberto o motivo do seu desconforto, era a presença do rapaz que lhe fazia falta. Segundos depois a sensação de alívio deu lugar a de preocupação, dependia mesmo tanto assim de Lee? Não era mais capaz de uma noite tranqüila de sono sem ele? Recostou-se em alguns travesseiros pensando que depois refletiria melhor sobre esse assunto, para o momento ficaria satisfeito se Lee retornasse logo.
Esperou por longos 15 minutos e nada. Impaciente, levantou e se aproximou da jarra de água que mantinha no quarto, estava intacta. Vasculhou os demais aposentos da casa e Lee não estava em nenhum deles. Onde, então?
Parou em frente a uma das janelas, o vento açoitava impiedoso as copas das árvores, espalhando folhas secas - era outono - por toda parte. Abriu um pouco a janela e sentiu no rosto o frio que fazia do lado de fora. Talvez Lee estivesse ali por perto, sentado sob uma figueira apenas observando a noite. Somente Lee seria capaz de suportar aquele vento frio - que ele certamente nem achava tão frio assim - apenas para estar ao ar livre e dar um pouco de vazão ao excesso de energia que tinha. Esse era esse o jeito dele. E Gaara, com a certeza de que não conseguiria simplesmente voltar para a cama e dormir, foi até o quarto, pegou um pesado casaco, um cachecol e protegeu-se do frio como podia, abriu a porta da casa e saiu.
Andou pelo jardim com seus passos curtos ainda mais curtos de frio e, quando já estava prestes a desistir de encontrar Lee, o avistou alguns metros a frente, deitado na grama com os braços sob a cabeça e as pernas flexionadas. Encarava o céu escuro de uma noite sem lua, distraído, tão distraído que só percebeu a aproximação de Gaara quando ele se sentou ao seu lado
Lee dedicou ao outro pouquíssima atenção - e isso era muito raro -, apenas se deu ao trabalho de desviar o olhar para ele por uma fração de segundo, antes voltar a fitar o céu. Gaara conhecia bem aquela expressão vaga no rosto dele, anos de convivência, não precisaria nem perguntar o que se passava. Lee era espontâneo, se fosse algo importante, lhe diria logo, e se fosse só um breve momento de introspecção, em pouco tempo estaria "de volta".
Depois de alguns instantes de muito silêncio, Lee se levantou, colocando-se sentado de frente para o outro, finalmente olhando-o nos olhos com interesse. Afastou carinhosamente uma mecha ruiva que parecia fora de lugar, Gaara sentiu a mão dele quente, decididamente aquele frio não era suficiente para incomodá-lo.
- Gaara-kun...
Talvez não fosse apenas um breve momento de inrospecção.
- Você pensa em ter filhos?
- Nani? - não entendeu muito bem a pergunta, quer dizer, as palavras entendeu mas não conseguiu contextualizar aquele questionamento em suas vidas.
- Perguntei se você quer ter filhos...
Filhos... Filhos... Como assim filhos? Será que Lee não sabia? Para nascer uma criança era preciso um homem e uma mulher, eles eram dois homens e...
- Eu tenho pensado nisso ultimamente. Queria saber o que você acha - disse interrompendo a linha de raciocínio que Gaara seguia.
Engoliu em seco. Filhos... Que pergunta era aquela? Nunca poderiam ter filhos...
Imediatamente lembrou da reação de Lee ao conhecer o filho de Sasuke, a expressão fascinada - quase comovida - em seus olhos agora passava para Gaara uma mensagem muito óbvia. E era muito óbvia afinal. Lee não tinha família. Por mais que mantivesse uma relação estreita com seu sensei, por mais que fosse idolatrado por seus orientados, por mais que estivesse o tempo todo ao lado de Gaara... Enfim, por mais que amasse profunda e sinceramente todas essas pessoas, elas não eram do seu sangue. Não eram a sua família.
Era razoável pensar que algum dia Lee se daria conta da falta que isso lhe fazia. Entretanto não era nada agradável para Gaara pensar que era incapaz de fazer parte deisso...
Lee queria ter filhos... E precisaria de uma mulher para isso...
Gaara sentiu uma súbita dificuldade para respirar. Ele não era exatamente um poço de auto-confiança - por muito tempo chegou a duvidar do que Lee dizia sentir por ele, achava que era apenas um misto de gratidão, admiração e respeito ao Kazekage - entretanto, apesar disso, nunca sentira-se verdadeiramente ameaçado. Nunca sentira-se com agora. Nunca se deparara de forma tão crua com a possibilidade de ficar sem Lee, nunca! E essa possibilidade doía...
- E quem seria a mãe? - perguntou sem pensar muito e fechou os olhos com força em seguida, se preparando para ouvir um nome de mulher. Talvez fosse até mesmo Sakura, por quem Lee foi "apaixonado" durante a adolescência.
Entretanto Lee apenas sorriu de leve, confundindo o outro ainda mais antes de dar a resposta.
- Mãe? A menos que você decida passar a usar saias, nosso filho terá dois pais... Isso é, se você quiser ter filhos comigo... - Respondeu com uma expressão séria que logo se desfez novamente em sorrisos.
Gaara passou de preocupado a irritado em uma fração de segundo.
- Que estupidez é essa, Lee?
Daquele ponto em diante ele seria rude, duro e insensível, passaria firme por cima dos sentimentos de Lee. Entretanto, ao contrário do que diriam suas palavras, o inconveniente não era pelo evidente absurdo daquela pergunta, não era. Mas talvez fosse por ter que admitir para si mesmo que sentia ciúmes de Lee, que perderia o rumo se ele desaparecesse da sua vida. Ou talvez fosse porque pensar em filhos o fazia lembrar de sua própria infância, solitária e infeliz...
A briga não durou muito, nenhum dos dois eram de discutir. Retornaram para o interior da casa em silêncio, ambos derrotados pela guerra de nervos travada. Gaara tentava acumular argumentos que justificassem a sua reação exagerada, sem muito sucesso. Apesar disso mantinha no rosto o petulante ar de superioridade, mesmo sabendo que isso também incomodava o outro.
Deitaram lado-a-lado, mas nenhum dos dois foi capaz de pregar os olhos. O ar pesava como chumbo e cada minuto daquela vigília parecia durar horas e horas. Por dezenas de vezes Gaara esteve prestes a colocar de lado o seu orgulho e pedir desculpas para Lee, entretanto sempre recuava no último instante. Por fim concluiu que talvez fosse bom que Lee também provasse um pouco de insegurança e mais uma vez decidiu deixar por conta dele as pazes. Esperou ansiosamente pela iniciativa de Lee, até que os primeiros raios de sol da manhã começaram a invadir o quarto pela fresta da cortina, quando o Jounin finalmente se levantou.
Gaara fingiu estar dormindo e cada vez que Lee passava perto da cama ele tinha a certeza de que agora viria o pedido de paz, selado com beijos e declarações bobas. Estava enganado. Em pouco tempo ouviu a escada ranger e levantou de súbito.
Talvez tivesse passado dos limites.
pose de nice guy
Bem, é a minha primeira fic de Naruto - até hoje só havia me aventurado por SaintSeiya - e devo confessar que ainda nem terminei de assitir o anime. Mas resolvi escrever essa fic assim mesmo, porque eu sou abusada!!! E porque eu já estou perdidamente apaixonada por Gaara e Lee S2...
Uma outra revelação que eu me sinto obrigada a fazer é que a idéia original dessa fic foi fazer um m-preg bem-humorado do Gaara-sama. Mas como eu sou uma criatura cruel, cá estão eles sofrendo antes de acertarem os ponteiros. Enfim, também não descarto a possibilidade de ressuscitar a idéia original algum dia.
Espero que tenham gostado... E deixem reviews!!!
Lola - maio de 2007
