A escuridão daquela cela quase não era mais um incômodo. Com o passar dos dias, até virara uma boa companheira. Olivia espremia-se no canto mais afastado da porta não por medo do escuro. Na verdade, a agente fugia de algo que não se encontrava ali física e externamente. O grande problema estava dentro dela. Havia um buraco em seu peito grande o bastante para fazê-la chorar por horas a fio. Profundo o bastante para fazê-la perder-se e não saber como voltar para a superfície. Aquele buraco chamava-se saudade, e a cada instante enchia-se com um líquido escuro e amargo chamado medo.
Ela agradecia diversas vezes por não poder se olhar num espelho. Mesmo sem enxergar, odiava a cor nova do seu cabelo, aquele castanho que usara para colorir seus fios louros, a fim de ficar igual à outra Olivia. O cheiro da tintura ainda podia ser sentido, mesmo que de leve. Ou era apenas sua mente pregando-lhe uma peça, incitando-a ainda mais? Não importava. Queria sua cor e seu cheiro de volta.
O silêncio a atormentava ainda mais. Chegava até a fazer um zumbido incômodo no ouvido. E era até engraçado dizer que sentia falta das teorias impossíveis – que muitas vezes mostravam-se possíveis – de Walter, de suas esquisitices e manias nada convencionais, de Astrid atendendo seus pedidos absurdos com a maior boa vontade – às vezes não.
Sentia falta de Peter. Mais até do que era saudável. Sentia falta da proteção de sua presença, pois sempre quando ele estava por perto as coisas pareciam ter um sentido, uma solução. E céus, daria tudo para beijá-lo de novo, dizer a ele mais uma vez que seu lugar era com ela. Por outra vez as lágrimas correram soltas, pois sabia que Peter a amava. Amava-a e devia estar dizendo isso a elanesse momento, à outra que tomara seu lugar; que agora passara a viver em seu mundo, a viver sua vida.
Olivia levantou-se com raiva e passou a andar de um lado para o outro, o tamanho da salinha já memorizado de tanto que já tomara aquela atitude. Seu sangue borbulhava com a nova emoção, sua respiração tornando-se mais rápida gradativamente. Tinha as mãos fechadas em punhos, e com um pouco de iluminação poderia-se notar a brancura dos nós dos dedos. Num acesso enfurecido socou a janela vedada, sentindo logo em seguida o sangue escorrer dos machucados recém-adquiridos. Com as mãos ainda na superfície, deixou-se cair de joelhos, novamente as lágrimas de dor e medo escorrendo pelo rosto. A frase mal saiu de sua garganta, chegando aos seus próprios ouvidos como um sussurro amedrontado.
_ Quero ir pra casa.
