Good Times Gonna Come¹
Então, eu te abandonei. Não foi algo planejado, como se não gostasse de você, como se não te amasse, mas era o que devia fazer, era o que podia ter, todas as minhas escolhas apontavam para isso, para o final indesejado do que jamais seria um conto de fadas.
Eu não era um príncipe e, você não tinha nada de princesa, mas era a melhor coisa que poderia me acontecer. E a pior. Era a melhor porque eu podia sorrir, podia finalmente sair daquele Malfoy apresentado para todos os outros, podia ser apenas um cara com uma garota interessante e diferente, mesmo assim você estava tão fora do meu mundo que me deixava nervoso. E era a pior porque tinha que ser uma Weasley pobretona, tinha que destoar meu mundo, meu lugar na sociedade, no convívio entre todos aqueles que conhecia.
Não sabia o que fazer, não sabia como agir e você nem mesmo estava chorando, parecia resignada, parecia ter previsto minhas ações. E quando disse adeus, disse de forma firme, sua voz sequer tremeu. Seus olhos nem mesmo marejaram e eu quis voltar, quis correr e me segurar em você, abandonar tudo e não ligar pra nada, mas simplesmente não pude.
E em todos os lugares me lembrava de você, mesmo que nada nos salões, nem nos rostos de porcelana, tão diferentes das suas sardas, lembrassem Ginevra Weasley.
Draco Malfoy sorria, sorria livre da insanidade que o atacara quando se envolveu com aquela Weasley, Draco Malfoy tentava sorrir por dentro, não havia como sorrir se por dentro estava vazio.
Tinha orgulho, por todos me considerarem um exemplo, por ser um puro sangue, porque ia me casar com alguém da minha estirpe. E tinha vergonha de desejar de verdade estar tocando seus cabelos.
Lembrar de todas as noites, da languidez dos momentos curtos, dos dias de ausência, quando eu sentia tanta falta de você, tanta falta, mas não podia admitir, não podia aceitar. Você apareceu tão subitamente.
Aquelas velhas histórias sobre pecados pareciam tão bobas para mim, coisas de trouxas, mas a Vaidade era, de fato, o pior dos pecados, porque eu não podia voltar atrás, não podia correr para você e pedir perdão e mesmo que pudesse, não merecia. Não poderia viver com todos me olhando torto.
Tentei imaginar mil maneiras de contornar a situação, não precisar escolher, ter as duas coisas, ter minha imagem, ter você, mas obviamente eram pólos opostos, Ginny. Disseram que éramos tão diferentes, tão completamente dispares que acreditei. Aceitei que não havia mais jeito, que nunca houvera um jeito, estava sendo teimoso. Minha escolha foi clara, decidi pela honra, pela família, por todas essas baboseiras importantes demais para jogar tudo pro alto e levar você embora. Não fui homem o bastante para isso.
Eu era vaidoso demais, era cheio de pecado e falhas. Soberbo.
Seu primeiro filho nasceu hoje. Um Potter. James Sirius Potter. Não sei que tipo de nome imbecil é esse, mas é seu filho mesmo assim. Quando te vi grávida, andando cheia de orgulho, segurando a mão de Potter, meu corpo gritou em protesto, até me forçar a lembrar que tudo era minha culpa.
Quis pelo menos sorrir, mas passei sem sequer olhar nos seus olhos, com a cabeça levantada, cheio de orgulho, cheio de frustração, na verdade. Não consegui evitar pensar que as coisas poderiam ser diferentes se eu não fosse tão pecador, tão vaidoso, mas eu sou um Malfoy, minha família errou o suficiente. Você seria erro demais.
E quando os anos passarem, sei que vou desejar ter errado.
NA. Fanfic feita para o Challenge DG, da seção DG, do Fórum 6v.
¹Música do Aqualung.
