O amor de um maia
Melkor POV
Caio ao chão, cansado. Por pouco! Por um triz! Quando fui ver, estava gritando e chamando por nem sabia quem. Já nem sabia que havia aliados meus por aí!
Mas eles, estranhamente, vieram. Os balrogs. Eles lutaram contra Ungoliant e a sobrepujaram. Apesar de ter sobrevivido e descoberto que ainda há seres a meu favor, fiz duas descobertas bastante ruins. Uma delas é que não posso mais mudar de forma; tentei fazê-lo quando Ungoliant me atacou mas não consegui.
A outra é que estou mais fraco.
Sempre tive tanto poder à disposição que nunca pensei que ele pudesse diminuir ou decrescer. Mera ilusão. Não consegui derrotar sequer Ungoliant; eu, que anteriormente poderia derrotar a todos os Valar juntos caso quisesse!
Agora sequer consegui derrotar a uma aranha! Poderosíssima, munida do poder das Árvores, mas... uma aranha!
Respiro fundo algumas vezes antes de voltar meu olhar para cima e ver aos balrogs outra vez.
- De onde... de onde vieram?
Gothmog, o líder deles, me faz uma reverência respeitosa e diz:
- De Angband, meu senhor Melkor.
- Angband? Mas... os valar não a destruíram?
- Destruíram a superfície, mas não os porões e masmorras. Lá, muitos dos seus servos remanescentes se esconderam e após algum tempo reergueram a fortaleza.
- Sério?! Eu quero ver isso de perto!
Gothmog, bem como os outros, me reverencia mais uma vez e todos me escoltam até minha antiga fortaleza. É incrível como parece maior e mais bela do que antes da minha prisão.
- Quem foi que cuidou de tudo isso enquanto estive fora? - pergunto, o ar perplexo não deixando meus olhos.
Gothmog me olha como se eu estivesse perguntando algo tão óbvio quanto o resultado de dois mais dois.
- Mairon.
- Mairon ainda está aí?
- Ele nunca saiu. Após a queda da fortaleza, passou por um curto período de luto e em seguida se pôs a trabalhar dia e noite. Ele fez com que os edain, os quais vivem menos e morrem mais frequentemente, nunca esquecessem seu nome.
Fico atônito por alguns segundos. Por muito tempo, pensei que ele teria ido embora. Afinal de contas, já havia conseguido o poder que almejava. Poderia até, já livre do meu jugo, ir para qualquer lugar até mesmo com alguns de meus antigos servidores e lá começar a uma nova e completamente sua fortaleza ou domínio.
Mas não. Ele preferiu ficar. Não havia ninguém forte o suficiente para retê-lo, e ele preferiu ficar.
Lembro involuntariamente das palavras que ele me proferia, ainda logo no começo.
"Te amo".
Será que é verdade mesmo? Será que é por isso que escolheu ficar?
Afasto o pensamento, ainda temeroso. Não posso confiar assim! Tenho de ver com meus próprios olhos.
Ando até a entrada da fortaleza e os guardas não acreditam. Os imortais lembram de mim, pois me viram ser preso. Agora estou mais abatido, porém ainda reconhecível - assim espero.
Vários deles logo vão até o encontro de Mairon e lhe declaram que voltei. Posso ouvir os brados daqui - são muitos.
E de repente - ouço a voz dele outra vez. Mairon...! Ele replica os servos, dizendo:
- Ora, não me venha com bobagens! Eu saberia se ele estivesse liberto.
- Mas senhor, ele está! Os gritos que escutamos noite passada... eram dele!
- Hun? Ora, vejam só, se estiverem mentindo, os castigarei de forma exemplar!
A voz dele... é como água pura e cristalina para alguém que passou anos sedento. Mairon! Quantos séculos passei naquela prisão, apenas levando chicotada e escutando impropérios! Após isso, fingi por um tempo convivência pacífica com todos aqueles eldar aborrecidos - mas nenhum deles me agradava! Nenhum deles era fundamental a mim como você o é!
Mairon... de repente, escutar a sua voz me mostra o quão importante você é e sempre foi a mim.
Não demora muito pra que ele venha, a fim de averiguar o que os servos dizem. Vejo seus cabelos louros e luminosos dobrando a esquina - está esplêndido. Eu, preso num hröa, mais fraco, abatido, as mãos ainda doendo das queimaduras - e ele esplêndido. Magnífico como sempre, talvez mais.
E mesmo assim, mesmo eu tendo decaído e ele não, assim que coloca os olhos em mim, sua expressão é tomada do mais puro espanto, como se visse a alguém realmente magnífico - como fui no começo do mundo e agora não sou mais.
- Ele realmente veio! E eu, que ainda sequer me ataviei!
E precisava de algum atavio? Sua beleza é tão esplêndida que não precisa de nenhum.
Ele vem até mim e, em vez de somente me reverenciar, joga-se com o rosto ao chão, não ousando me olhar nos olhos.
- Seja bem vindo, ó Senhor de Angband!
Não respondo coisa alguma. Os demais servos bradam, aplaudindo, enquanto eu nada ouço. Apenas vejo a sua cabeleira loura estendida ao chão, enquanto ele não ousa se mover.
Ajoelho-me e, com a mão livre, toco seu ombro. Ele estremece, mas ainda demora pra me olhar. Após algum tempo, porém, ele ousa um olhar para meu rosto. E sorri enfim.
- Seja bem vindo...!
- Obrigado, Mairon. Como você está?
- Eu... bem, na medida do possível! Estou bem... mas... o libertaram? O que ocorreu?
- É uma longa história, meu belo servo. Creio que dois mil e novecentos anos devem dar uma longa história, tanto da minha quanto da sua parte. Venha. Vamos botar a conversa em dia.
Sendo assim, o chamo para uma sala contígua enquanto os demais servos continuam festejando a minha volta.
To be continued
OoOoOoOoOoOoO
Fazia tempo que queria fazer uma dessas! É a volta do Melkinho da primeira prisão de três eras dos Valar. Sobre a batalha do começo, seria contra a Ungoliant. Mais uma vez, não tive saco de narrar. Não gosto de narrar batalhas.
Em breve continuo!
Beijos a todos e todas!
