Lugar-comum do Amor e Ódio

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"Sabe o que é ódio? É saber o que dizer, conhecer as palavras certas para dizê-lo, saber o que fazer em seguida, ter a coragem para fazê-lo e ficar muda na hora de abrir a boca. Pronto! Ódio é o que você sente nessa situação."

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Presente para Morg - sabe-se lá Deus por que causa, motivo, razão ou circunstância - espero que goste, Deusa s2

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Karin não falou nada demais. Não reclamou, não brigou por qualquer razão, nem gritou. Mas eu estou tremendo ao vê-la sair do quarto de novo. Acho que é por causa dela, de qualquer forma. É o jeito que ela olha. Mexe comigo desde as minhas entranhas até as amídalas.

Sufoca, entende?

Com a Ino eu não sentia isso tudo. Ela brigava, gritava, discutia, reclamava e eu conseguia rir da cara dela e mandá-la relaxar – e Ino relaxava com uma rapidez incrível. Mas Karin? Não. Eu não seria capaz. Ela me mata só com o jeito de olhar pra mim. Com o jeito de olhar todo mundo. Olhos de lobo adulto no ponto de vitimar cordeiros.

O cordeiro Haruno Sakura.

E eu não tenho medo. Sério. Não mesmo. O problema é que sinto raiva. Não dela, mas de mim por me sentir assim, tão patética.

Sabe o que é ódio? É saber o que dizer, conhecer as palavras certas para dizê-lo, saber o que fazer em seguida, ter a coragem para fazê-lo e ficar muda na hora de abrir a boca. Pronto! Ódio é o que você sente nessa situação.

Então posso dizer que a odeio, sem me sentir mal – ou pior – por isso.

É aquele maldito lugar-comum que diz que o ódio é amigo íntimo e sem-vergonha do amor.

Eu sinto até um pingo de inveja, porque eu queria ser um pouco mais fria e parecer um pouco mais com ela.

Ser maior que esse sol diário e ofuscante como o canto das arpias.

Cantos ofuscantes.

Entende isso? Encontra coesão nas comparações mirabolantes que eu consigo formular para encaixá-la?

Eu só encontro Karin.

A Karin que me deixa tonta e vulnerável quando se aproxima e faz isso. Isso, sabe? Isso de não fazer nada e já fazer eu ficar paralisada e abobalhada olhando pra ela, como se Deus fosse ela, e eu acreditasse em Deus, duvidando dela.

Mas as dúvidas eu prefiro que fiquem em mim e caladas, sem pronunciar nenhuma baboseira infantil – infanto-juvenil – adolescente e otária como ela costuma taxar todas as dúvidas que eu decido verbalizar.

Qual a cor do meu sorriso quando eu olho pra você?

Amarelo, cor-de-amor, chuva-com-caramelo, azul-celeste, verde-mar, cor-de-sonho-com-baunilha?

E que som tem a minha voz quando eu digo olá?

Música antiga tocada num velho disco, voz de passarinho acuado, som de vitrola quebrada, voz de pato faminto, suspiro de menina idiota apaixonada e sem graça?

E é tudo por culpa de Karin. Por ela ser assim tão estranhamente ferina com seus trejeitos de mulher fatal e carnívora – do tipo que devora por mero prazer de ser carnívora. Por mero prazer de devorar meus nervos e mastigá-los a sangue frio – sem tempero, acompanhado de um vinho tinto cor-de-sangue-fresco.

Eu me ponho em dúvida sobre a capacidade de alguém ser tão perfeito, mesmo muda, brigando comigo e muda. Só de brigar sem voz, sem verbos, adjetivos, conjunções, sem as malditas vírgulas! Karin vem sem dizer absolutamente nada e vai embora me deixando igualmente vazia.

Ela faz de propósito, só para me ver tão nua de motivos e de razões.

É profissional na arte de ser carrasco. E eu estou ficando fraca por ser a única vítima. Mas, de verdade, não posso reclamar disso.

Daí ela apresenta sua fraqueza mais notável:

Karin é influenciável demais.

Se alguém (eu) disser que o azul é feio ela manda pintar o céu de vermelho. Se reclamarem das nuvens ela obriga que toda a chuva caia em um dia só, para poder limpar a vista de quem reclamou por tal absurdo (eu). Se disserem que o tempo passa rápido, ela quebra todos os relógios do mundo e segura o mundo com as mãos para que ele não gire tão depressa (por mim). Se eu disser que o batom que ela usa é feio, juro, ela o tira em dois segundos e bota a culpa no revendedor.

E eu sou oposta a isso. Tento apenas convencer que o azul não dura vinte e quatro horas no céu, que as nuvens vão sumir depois do inverno, que o tempo só dura o bastante para que possamos viver cada segundo como se fosse a eternidade inteira – cabendo magicante entre o espaço de um ponteiro e outro dos relógios analógicos, e sutilmente digo que não é da conta de ninguém a cor do batom que uso.

A diferença está nos detalhes mínimos, eu sei.

Tipo na cor do céu – que nem é azul.

Mas o olhar dela, de alguma forma, ainda me deixa com raiva.

Só por ser dela.

Só por me olhar assim.

Só por ser Karin.

Você já sentiu isso por alguém?

Que ódio!

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N/A: Reverências, reverências! Algum ser do além veio e disse "Deçe e ahaza, beesha, que o mumdo eh tel." Pois bem, criaturas. Reverenciem-me. Um pseudo-yuri quentinho e feliz. Ok, nem tão feliz. Mas dane-se. Eu gostei dessa coisa, porque veio-me num surto de inspiração espontânea e não me deixou em paz até ganhar vida. O nome é ridículo, mas eu até achei criativo. (E, acreditem, a fic ainda não tem nome enquanto eu escrevo essa NA, e eu disse isso de ser criativo só pra ver se tenho alguma idéia brilhante). Pois é. É isso.

Ah, e eu dei pra Morg porque ela é fã de Yuri. Acho que é o segundo Yuri da vida que dou pra ela. O outro foi mais digno, eu sei (??), mas vá, goste deste e ganhe um pirulito do Zorro.

Anne, eu te amo /Random.

Mandem reviews ou eu enfio vocês na bunda do Cartman. O.O