Autora: Blanxe
Revisada por: Andréia Kennen
Gênero: Yaoi, Canon, Romance, Angst, MPREG, Violência, Incesto.
Aviso1: Leram os gêneros aí em cima? Então, se houver qualquer coisa que não tolere, não continue lendo.
Aviso2: Personagens podem vir a perecer durante esse arco.


Pensei que encontrando você talvez
Toda tristeza do mundo que sei
Fosse embora num segundo, eu achei
Que bastaria você…
E eu… errei.

Pedro Mariano - Procura

oOo

Prólogo

Hoshi sentia o abraço como jamais havia sentido antes. Como se aquela percepção de realidade fosse extremamente singular e as sensações que experimentava, mesmo já sendo reconhecidas em seu íntimo, continuassem novas para si.

Itachi estava vivo e o acolhendo em seus braços, enquanto o alívio percorria seu corpo inteiro. Naruto sobrevivera. Sua ida ao passado não fora em vão. As coisas haviam certamente mudado e de forma absurda. Mas, isso era o de menos.

Naruto estava vivo!

E agora seu otousan tinha a pessoa que amava ao lado dele. Da maneira que deveria ser. Ele não sofreria mais, não viveria vazio, não precisaria mais amargurar tudo o que perdera junto com a morte do loiro.

Hoshi, definitivamente, sentia-se vitorioso.

— Itachi-oji-san, Nii-san! Qual é? — o menino moreno recostado na cama reclamou, cruzando os braços sobre o peito, olhando-os com estranhamento. — Vão tirar ele daqui, ou não?

Ao som da voz irritada, Hoshi se afastou do abraço. O garoto enfezado os olhava com um jeito de poucos amigos e a expressão amena que Itachi há pouco exibia se desfez completamente adquirindo um olhar seco. O garoto somente elevou uma sobrancelha, exibindo-se desafiador ante a crítica velada do mais velho.

— Por favor, oji-san. — a atenção desviou-se para o menorzinho que diferente do outro menino, parecia preocupado.

Itachi desfez a rigidez de seu rosto e assentiu para o loirinho, indo na direção da cama do mesmo. Hoshi sabia que aquele cenário escondia algo estranho. No fundo, as lembranças que tinha ainda se mesclavam com as que vivera naquela realidade nova, mas eram lentas, arrastadas, lhe passando apenas vultos de memória que no momento temia forçar a se encaixarem.

— Naruto-kun… — Itachi chamou, tocando o ombro do loiro, tendo que apertar um pouco mais forte e sacudir levemente para finalmente fazê-lo despertar.

Os olhos azuis se abriram com dificuldade e Hoshi sentiu a respiração parar ao deparar-se com aqueles orbes cristalinos. Ele parecia cansado de verdade; havia olheiras escuras marcando sua expressão e os fios loiros estavam mais bagunçados do que deveriam. Ainda assim, a única coisa que conseguiu constatar, mentalmente, foi que Naruto estava realmente muito bonito.

A maturidade de seus trinta anos de idade deu ao garoto que conhecera no passado um aspecto mais sério. Naruto perdera completamente os trejeitos infantis, vestia-se formalmente com trajes da ANBU; em seu braço, a tatuagem se exibia na pele bronzeada delineada por leves músculos; mas os olhos… não via mais os olhos do passado, não via mais aquele brilho…

Hoshi sentiu-se confuso, enquanto fazia questão de buscar por lembranças de quando aquele azul se tornara tão… desbotado.

— Itachi-bastardo… — a voz grave do loiro citou o nome do Uchiha mais velho como se ainda tentasse se situar.

— Venha descansar. — Itachi sugeriu, escondendo qualquer sentimento que ainda guardasse por aquele homem.

Naruto piscou, erguendo o corpo e olhando imediatamente para o filho mais novo na cama. O sorriso meigo que ganhou o fez parecer menos atribulado, principalmente depois que o garotinho garantiu:

— Eu to bem, chichiue.

— É, não precisa ficar aqui. — o moreno na outra cama enfatizou, incisivo. — Pode ir.

Naruto não olhou para trás, mas Hoshi notou como sua postura se tornou tensa.

— Kisho! — Taiyou exclamou o nome do irmão, censurando-o, contrariado. Em seguida, segurou com as duas mãos o pulso do pai que se levantava e pediu: — Chichiue, fica…

Hoshi sentiu o coração apertado ao ver os olhos do caçula praticamente suplicando para Naruto e se contraiu completamente ao escutar a resposta.

— Eu venho visitá-lo depois, Tai-chan.

— Não, não! O chichiue não vai, não é, oji-san? — Taiyou desviou os olhos para o tio, pedindo auxílio, mas em seguida focaram em outra figura um pouco além de onde Hoshi estava parado. — Tou-chan, fala pro chichiue que ele não pode ir embora.

Se Naruto parecia tenso antes, agora Hoshi notara que ele havia se petrificado. O adolescente olhou para trás, deparando-se com a figura imponente de seu otousan, desperto provavelmente pelo falatório que vinha daquele quarto.

— Naruto…

Sasuke olhava para o marido num misto de expectativa e outro sentimento que Hoshi não sabia bem definir o que era. Talvez remorso, ou culpa. O perturbador era que nos olhos de Sasuke não existia mais ninguém ao redor além de Naruto.

— Poderia ter vindo de dia… — começou Sasuke.

Naruto movimentou-se tão rápido que Hoshi se assustou quando ele simplesmente passou por Itachi, Sasuke e ele, deixando o quarto sem dizer uma palavra.

A comoção foi geral.

Sasuke saiu atrás de Naruto; Taiyou pulou da cama, sendo seguido pelo irmão que gritou raivoso ordenando que voltasse e assim que ele, Hoshi, seguiu os mais novos, cruzou com o outro adolescente que anteriormente havia ido se recolher para descansar.

— Naruto! Até quando vai ficar fugindo de mim? — Sasuke indagou, tentando alcançar o loiro.

Naruto não respondeu. Continuou andando rápido, ignorando o moreno, como se ele não merecesse uma resposta.

— Dobe, espera!

O que está acontecendo? — Hoshi indagou-se mentalmente, seguindo as crianças até estancarem à porta.

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Sasuke apressou-se atrás de Naruto. Estava farto daquela situação, estava farto de ver o loiro fugindo, evitando, esquivando-se. O moreno saiu da casa com a cabeça atribulada demais para se importar com seus filhos que o seguiram até a porta e ficaram parados ali na entrada, como expectadores cativos, tensos e temerosos, sem saber o que ele iria fazer.

Vendo o marido seguindo a passadas largas pela rua, Sasuke fechou os punhos e parou sem paciência de continuar tentando alcançá-lo.

— O QUE VOCÊ QUER DE MIM? — gritou subitamente.

Seu destempero atingiu Naruto que, mais adiante, estacou.

— O que você quer que eu faça, dobe? — Sasuke prosseguiu, cuspindo toda sua frustração. — Me diz! Porque eu já não sei mais!

Sasuke suspirou, tentando conter o estresse e esfregou as mãos pelo rosto. O loiro não facilitava para si, não abria a guarda. Como poderia alcançá-lo sem perder a cabeça de vez? Nunca estivera tão à beira da loucura quanto naquele momento. A distância, a falta que ele fazia, sobrepujavam seu orgulho quando jamais cogitou que isso um dia ocorreria. Se Naruto pedisse para que se ajoelhasse ali e pedisse perdão, o Uchiha o faria. Se ele quisesse lhe impor alguma humilhação física, aceitaria. Desde que ele voltasse.

Por isso, se recompôs. Abrandou a voz, conteve seus ímpetos e apelou para o que sentia.

— Tudo o que eu quero é uma chance. — falou, olhando para as costas do jinchuuriki silencioso. — Eu não mereço, sei o quanto te magoei e…

— Me magoou? — as palavras foram ditas quietamente pelo loiro, mas foram capazes de chegar aos ouvidos de Sasuke, cortando o discurso que fazia. — É isso que você pensa que fez? — as palavras suaves vieram acompanhadas de um riso não-natural, fazendo o peito de Sasuke se contrair. — Você não me magoou, Sasuke.

Naruto se virou repentinamente, encarando o moreno com olhos azuis cheios de indignação e rancor.

— Você me destruiu! — ele acusou, num sibilar.

Imediatamente, seus instintos reagiram e o Uchiha tentou se defender:

— Isso é injusto. Tudo o que eu tenho feito é me virar do avesso para ser uma pessoa melhor… Sabe que eu mudei o tanto que eu pude mudar.

— O problema é que… — Naruto, com uma seriedade impar e o olhar mais gélido do que qualquer um que Sasuke já havia visto, atestou. — eu mudei também.

Sasuke engoliu em seco, entorpecido por aquele olhar. Aquele olhar que se manteve fixo nos seus por alguns segundos antes de seu dono lhe dar às costas, resumir seu caminhar apressado pela rua vazia e sumir ao virar uma das esquinas.

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Os quatro filhos observavam o desfecho da discussão. Nenhum deles havia emitido uma opinião sequer, ou comentário, até verem Naruto partir definitivamente. Sasuke continuava parecendo o mais miserável dos seres humanos ali no meio da rua.

— Sabia que não ia dar em nada. — resmungou Kisho, entediado. — Otou-sama deveria parar de correr atrás desse idiota… Aaai!

Taiyou havia dado um soco no braço do irmão e, antes de entrar correndo para dentro de casa, os olhos negros de Kisho demonstraram um leve arrependimento ao ver o marejado nos olhos cristalinos do mais novo.

— Ei, Tai! Deixa de ser babaca! Tai! — chamou, indo em busca do caçula da família. — Espera aí!

Ficaram para trás, ainda parados e observando Sasuke, somente os dois mais velhos. Hoshi, pensativo, revolvia lembranças, revolvia palavras e declarações — esperanças que se manchavam com a crítica realidade que presenciava. Tsuki, que dificilmente demonstrava seus medos e anseios, transparecia a insegurança pelo futuro do relacionamento de seus pais; e a tristeza ao ver que os erros que ambos haviam cometido, refletiam negativamente e os separavam.

— Eles não vão se entender, não é, aniki? — questionou, no fundo, querendo que o mais velho lhe desmentisse; desse alguma segurança de que ficariam bem.

Mas o primogênito não sorriu, nem negou.

— Eu não sei… — ele confessou, em meio ao turbilhão de coisas que pensava e sentia.

Hoshi queria ter uma resposta mais animada, mais confiante, porém, no momento, com o que vira, simplesmente não foi capaz. Sentiu o irmão retroceder e se perder dentro da casa como os outros, enquanto a sua presença era substituída por outra que, com a intenção de prestar auxílio ao seu dilema, disse:

— Você não pode tomar sempre todo o peso do mundo para si, Hoshi. Tem que deixar que eles sejam responsáveis por suas próprias vidas.

— Pra você é fácil falar. — Hoshi retorquiu, com animosidade. — É capaz de estar feliz por eles estarem separados.

— Independente de qualquer coisa, eu lutei para que eles dois fossem felizes. Juntos. — Itachi relembrou ao rapaz que sucumbiu a razão, sentindo um remorso imenso por suas palavras, no mínimo, injustas.

Estava desconsiderando os sentimentos de Itachi ao longo dos anos e de como vinha ficando do lado de Sasuke ao invés de correr atrás de Naruto. Por isso, forçou a se desculpar, lutando contra o ímpeto de não fazê-lo.

— Sinto muito. É só que as coisas não estão do jeito que eu pensei que estariam.

— Às vezes, as coisas simplesmente não são como a gente quer. — Itachi atestou, voltando para dentro da propriedade, deixando para trás o jovem com um bico de insatisfação.

Hoshi não precisava ouvir aquele tipo de coisa, nem mesmo acreditar. Ele vinha fazendo tudo ao seu modo e precisava continuar.

Ainda fitando Sasuke que parecia perdido e extremamente desolado, Hoshi esperou mais um pouco, até que o pai se virou, com os ombros pesados e o semblante cabisbaixo, e o olhou.

Seu coração bateu forte e um sorriso tímido e sem graça tingiu seus lábios. Queria passar alguma simpatia pelo que acabara de presenciar. Percebeu o pai respirar profundamente, como se buscasse coragem para dar o primeiro passo e, em seguida, vir em sua direção.

Sasuke parou apenas por alguns segundos, o suficiente para colocar a mão no ombro de Hoshi e dar-lhe um leve aperto, dizendo:

— Vai ficar tudo bem.

E aquela proximidade, aquele elo entre eles transmitido somente pelo breve olhar, trouxe um alento a Hoshi.

As coisas podiam não estar do jeito que idealizara, mas sem dúvidas estavam bem melhores do que quando partira para modificar o passado.

E o que quer que estivesse de errado agora, Hoshi tinha certeza de que conseguiria consertar, afinal, burlara o destino ao impedir que Naruto morresse.

Com a confiança renovada, inspirou profundamente e entrou na casa.

Nada mais poderia detê-lo.

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Continua...


Notas:

Para quem quiser ver como são os filhos do Naruto, só acessar o link que estará disponível no meu profile. Créditos pela imagem à Raquel Sumeragi que foi quem desenhou os meus originais.