[Risco de Explosão]
[Por Patrícia Guerreiro]
Prólogo
Destroços, pedras soltas, do que outrora foram paredes, pedaços de madeira e de metal que deveriam ter pertencido a mesas e cadeiras, fios eléctricos espalhados que faiscavam ocasionalmente, poças de água resultante dos canos da canalização que rebentaram. Destroços, pó, destruição, era tudo o que restava da escola.
Corpos sem vida jaziam por todo aquele cenário de destruição, alguns era-lhes impossível distinguir os traços do que fora o seu rosto, pedaços de membros e vísceras espalhados pelos destroços. Gritos de desespero dos sobreviventes, alguns mutilados, outros queimados, e esmagados.
Os bombeiros andavam numa azáfama de uma lado para o outro procurando e resgatando sobreviventes e recolhendo os cadáveres… ou o que restava deles… Os paramédicos faziam o que podiam para salvar as vítimas, que chegavam cada vez em maior quantidade, muitas delas sem salvação ou já mortas, apenas restando declarar o óbito e seguir para a próxima. Polícias a tentar descobrir o que se tinha realmente passado tentando interrogar sobreviventes em completo estado de choque, que pouco faziam mais do que arregalar os olhos e debater-se em pânico.
Vê-se uma pedra a tremer ligeiramente, a elevar-se subtilmente e a deslocar-se lateralmente, o suficiente para um braço coberto de pó acenar freneticamente e uma voz débil a tentar gritar por ajuda. Por sorte alguns bombeiros estavam nas proximidades. Apressaram-se a remover a grande pedra para encontrarem um sobrevivente uma rapariga a chorar copiosamente agarrada a dois corpos sem vida. Pegaram na rapariga, e recolheram os cadáveres.
- Tens aqui um corte feio. Como te chamas? – Perguntou uma paramédica que lhe tratava de um corte no antebraço esquerdo ostentando um sorriso cansado, a rapariga continuava a chorar. – Preciso do teu nome, linda.
- E-Eles! Eles morreram! – Foi a única coisa que lhe saiu dos lábios, com uma pontada de loucura a tremer-lhe no olhar. A paramédica tentou abraça-la mas a rapariga recuou assustada, limitou-se a suspirar e foi tratar do acidentado que se seguia.
- Encontrei mais! – Gritou um bombeiro, apontando para o local onde o seu cão escavava avidamente, depressa chegaram mais quatro bombeiros munidos de pás que começaram a procurar os possíveis sobreviventes, e cobertos de pó, a tossir e sujos de sangue, encontraram um rapaz e uma rapariga. Levaram-nos para umas das tendas de pronto socorro a fim de serem examinados. A rapariga tinha várias costelas partidas e uma ferida de bala no joelho além de inúmeras escoriações e nódoas negras ao longo do corpo, o rapaz tinha o braço partido e um corte na zona do abdómen, que parecia infectado, provavelmente feito por algum ferro que ficara exposto aquando da explosão do edifício.
Deitados em macas, uma próxima da outra, olharam um para o outro e a rapariga fez a sua mão deslizar até à do rapaz, fitando-o com os seus imensos olhos negros, até chegarem alguns paramédicos e o contacto foi quebrado.
- AJUDEM! AJUDEM! – Gritava um rapaz loiro de porte musculado, a coxear da perna com uma rapariga nos braços. Depressa uma multidão de paramédicos e bombeiros acolheram ao seu pedido, pegaram na rapariga aparentemente desmaiada, esta tinha um corte profundo no ombro e estava branca, ao encostar dois dedos ao pescoço da rapariga, um paramédico olhou o rapaz com pena. – ESTÃO À ESPERA DO QUEÊ? NÃO VÊM QUE ELA JÁ PERDEU MUITO SANGUE? FAÇAM ALGUMA COISA!
- Lamento imenso, mas não tem pulsação. – Declarou um dos paramédicos.
- Q-que quer isso dizer? – perguntou o rapaz a medo.
- Está morta. – E nisto, o rapaz atinge o nariz do paramédico com um potente soco, derrubando-o, dois bombeiros seguram o rapaz que se tenta libertar em desespero.
- MENTIROSO! MENTIROSO! - Gritava, debatendo-se.
- Lamento imenso. – Declararam dois paramédicos que recolhiam o corpo da rapariga e o fechavam num saco preto, levando-o para junto dos restantes corpos.
- Não… - Murmurou, ainda tentando libertar os braços que os bombeiros, já a custo, seguravam. – DIANA! Dia… - O grito de desespero morreu-lhe na garganta quando um paramédico lhe injectou algo no pescoço que o fez perder os sentidos.
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Uma rapariga e um rapaz entraram de mãos dadas no cemitério, ela era alta, de pele pálida, olhos negros e longos cabelos negros que lhe caiam nas costas até à cintura, envergava um vestido rendado ao estilo Lolita Gótica e usava um pequeno chapéu negro com um véu rendado que lhe caia sobre a cara. O rapaz era mais baixo que ela, ligeiramente curvado, cabelo castanho-escuro num corte "à tigela", olhos castanho claro, vestia uma camisa aos quadrados em tons escuros e umas calças demasiado curtas que lhe deixavam antever as meias do mesmo padrão da camisa.
Atravessaram várias ruas, cheias de campas de aspecto envelhecido e algo sinistro, algumas até apresentavam alguma vegetação. Só pararam quando chegaram a uma área isolada, mais recente, repleta de campas iguais, todas elas brancas. Passaram pela placa que já nem se davam ao trabalho de ler: "Dedicado aos estudantes, professores e funcionários que morreram na explosão do dia…".
Encontraram uma rapariga sentada na terra de cabelos loiros com algumas nuances azuis, "estilo Bob", os seus olhos acinzentados olhavam para a campa à sua frente, a sua pele morena contrastava com a roupa clara que costumava envergar, uns jeans brancos, uma camisola de alças amarelo-pálido e ténis "All Star" azul-claro. Ao ver chegar o rapaz e a rapariga de mãos dadas esboçou um sorriso e deixou cair uma lágrima. A rapariga de negro pegou-lhe na mão e ajudou-a a levantar-se e em seguida abraçou-a.
De mãos nos bolsos, olhos no chão e de cigarro no canto da boca, o rapaz loiro, de olhos azuis extremamente vivos, embora tivessem perdido grande parte da sua energia, pele morena, jeans rasgados nos joelhos e uma t-shirt de uma banda de rock caminhava em direcção da campa que se habituara a visitar. No caminho deparou-se com aquele pequeno grupo, sorriu debilmente para as duas raparigas e apertou afectuosamente a mão do rapaz de camisa axadrezada.
- Q-querem ir beber um café, ou algo do género? – Perguntou o rapaz loiro, os restantes três acenaram afirmativamente e saíram do cemitério, caminhando lado a lado em silêncio, ao passarem junto às ruínas, que ainda não tinham sido completamente removidas, da sua antiga escola, estacaram. Envolvidos numa melancolia ambígua, a escola tinha sido o palco de tanto bons, como maus momentos, e desejavam nunca lá ter de voltar.
E assim afastaram-se daquele local, que lhes despertava emoções e fantasmas que tão cedo, preferiam não recordar.
Teresa, Amadeu, Angélica e Alexio. A rapariga de negro, o rapaz de camisa axadrezada, a rapariga de roupa clara, agora suja de terra e o rapaz loiro, viraram costas e seguiram até ao café mais longe possível das ruínas que lhes roubaram os amigos, os colegas, os confidentes, os amantes…
A.N: A história começa pelo fim, no próximo capítulo será o início. A personagens apresentadas não são as únicas, há mais… :p
Espero que tenham gostado. Comentários serão bem-vindos e muito apreciados! ^^
