CAPÍTULO UM
Território do Arizona, 1866
Precisava de uma cama macia e limpa. Depois de seis semanas na estrada, uma boa dose de uísque e uma mulher experiente também cairiam bem. Alguns homens contentavam-se com essas três coisas. Ele era um deles. Sem pensar muito, Edward decidiu que a mulher podia esperar, mas o uísque não.
Ainda tinha de percorrer um longo e poeirento caminho até chegar em casa — se é que alguém podia chamar a pensão em Needle Creek de casa. Podia chamar o espaço ocupado pela própria sombra de casa, mas, nos últimos meses, Needle Creek tinha se mostrado um lugar tão bom quanto qualquer outro. Lá, arrumava um quarto confortável, uma refeição quente e uma mulher por um preço razoável. Era um povoado onde ninguém o conhecia, que o mantinha longe dos problemas, ou o atraía, dependendo de seu estado de espírito.
Mas, naquele momento, com a poeira da estrada na garganta e o estômago vazio, com exceção do uísque que acabara de beber, Edward estava muito cansado para arranjar problemas. Tudo o que desejava era encher o estômago e encontrar um lugar para passar a noite.
O sol mal havia se escondido por trás das montanhas e o saloon onde Edward resolvera fazer uma parada já estava cheio. O lugar cheirava a bebida, suor e cigarro, mas Edward supunha que ele mesmo não devia estar cheirando muito bem. Talvez, pensou ele, fosse melhor pagar por um banho também, quando encontrasse o hotel da cidade. Havia cavalgado desde o Colorado, sem parar, e devia estar com areia até debaixo das unhas. Um banho cairia tão bem quanto uma noite de sono numa cama confortável.
Geralmente, Edward seguia viagem sem fazer qualquer parada no caminho. Quando voltava a Needle Creek, gostava de fazê-lo sem interrupção. Mas seu cavalo estava cansado e precisara de um descanso.
Era por isso que ele estava naquele bar agora. E era por isso que procuraria um quarto para passar a noite. Quando o sol surgisse no dia seguinte, juntaria suas coisas e partiria, deixando aquela cidade para trás, assim como já fizera com tantas outras. Essa era sua vida. Pelo menos, tinha sido nos últimos anos.
Agora que estava com quase trinta, a vida de forasteiro começava a parecer vazia. Continuava apreciando suas viagens, mas começava a se perguntar quando teria um lugar certo para o qual voltar.
Sentado diante do balcão, ele observou enquanto o barman oferecia fumo aos clientes. Bebendo um gole de uísque, imaginou se podia se dar ao luxo de fumar um cigarro ou se devia esperar para depois da comida. Se fosse sua vontade poderia comprar o fumo. Levava no bolso um mês de salário e havia resistido ao impulso de apostar metade no pôquer. Não que sentisse necessidade de economizar. Nos últimos tempos apenas mantinha o dinheiro no bolso para aproveitar estadias mais decentes e lugares menos obscuros. O tempo de se aventurar por saloons de fama duvidosa e hospedarias de baixa categoria havia muito fora deixado para trás.
O barman se aproximou de onde Edward estava, oferecendo-lhe fumo que dizia ter sido trazido do leste. Edward avaliou o produto, surpreendendo-se quando constatou que o homem falava a verdade, e deu-lhe algumas moedas por uma quantidade que seria suficiente para distraí-lo durante a viagem.
— Existe algum lugar por aqui onde se possa ter uma noite de sono decente? — Edward perguntou ao barman depois de encerrada a venda.
— Na Brandon's Inn. — respondeu o outro, concentrado em contar o dinheiro. — Fica no fim dessa rua, primeira curva à direita.
— A comida lá é boa? — Edward terminou de beber e, como o uísque não era bom o bastante para repetir a dose, colocou umas moedas sobre o balcão.
— O lugar tem ótimos quartos e as refeições mais saborosas da região. — disse o barman e se afastou para fazer mais negócios.
Edward se levantou, captou uma ou duas cabeças se virando para observá-lo, e caminhou para a saída do saloon. Era um homem alto, ombros largos e expressão feroz. Estava habituado a receber muitos olhares assustados e cautelosos quando passava. E nunca sentira necessidade de parecer mais amigável.
Quando saiu para a rua mal iluminada pela luz das lamparinas, seguiu em direção à pousada indicada pelo barman. O bafo quente do dia tinha sido dragado pela brisa gelada do anoitecer no deserto. Caminhando pela calçada, o ar frio no rosto, Edward sentiu-se grato por não ter de dormir ao ar livre naquela noite.
Quando estava prestes a dobrar a esquina, uma movimentação no beco do outro lado da rua chamou sua atenção. Dando de ombros, imaginou que devia ser apenas uma briga entre bêbados.
Foi quando uma menina, com uma expressão assustada no rosto, saiu correndo de dentro do beco. Ela avistou Edward e, sabe-se lá Deus por que, correu na direção dele, os olhos arregalados num pedido mudo de socorro.
Um segundo depois de a garota se postar atrás de Edward, como se ele fosse um escudo de proteção, um rapaz saiu de dentro do beco. O rapaz também fitou Edward, os olhos escuros e perigosos, por um longo tempo. Quando observou a mão que ele mantinha casualmente no coldre da pistola, o rapaz exibiu um sorriso amarelo.
— Então é verdade o que dizem, não é? — disse ele. — Edward Cullen está de passagem pelo Arizona. E parece disposto a entrar numa boa briga.
— Não estou disposto a entrar numa briga. — replicou Edward com tranquilidade. — Nem você está.
— Deixe a garota para mim e você não morre. — aconselhou o rapaz, separando as pernas em desafio e abaixando a mão até o coldre do revólver.
— Ela não parece querer sua companhia. — Edward o observou tamborilar os dedos sob a arma. Ele tinha uma cicatriz no dorso da mão, usava um coldre, apenas um, com a pele desgastada na borda. Calmamente, Edward levantou a cabeça para fitá-lo nos olhos. — Vai ser melhor para você se deixar a garota em paz.
— Você tem fama de ser rápido. — O rapaz ignorou o aviso. Agora, parecia mais interessado em entrar num duelo contra Edward Cullen. O fato de que alguns homens tivessem se aproximado apenas o deixou mais vaidoso. — Ouvi dizer que acabou com Buckett Bill em Albuquerque.
— Está bem informado. — Edward estava começando a se cansar daquilo. Fitou o outro por um instante. Ele era jovem e tinha um aspecto agitado. Usava o chapéu caído nos olhos e seu pescoço brilhava de suor. Edward estava a ponto de suspirar. Conhecia aquele tipo de rapaz: eram os que buscavam problemas a todo custo.
— Sou rápido, mais rápido que Buckett e mais rápido que você. E nessa região não tenho concorrência.
— Meus parabéns. — murmurou Edward, agora realmente de saco cheio, virando-se de costas para o rapaz e fitando a garota que ainda se mantinha sob sua proteção. — Onde está sua família? — Ele perguntou a ela.
A menina demorou algum tempo para responder, fitando-o com pavor nos olhos, mas mesmo assim indicou com a cabeça o final da rua, para o lugar ao qual Edward teria seguido se ela não tivesse corrido em sua direção.
Ele assentiu e virou-se para o rapaz encrenqueiro.
— Por que você não me procura daqui a uns cinco anos? — perguntou Edward. — Estarei ansioso para atirar em você.
— Não posso perder a oportunidade de resolver as coisas agora. Já encontrei você. Quando eu terminar, não vai haver viva alma nesse maldito oeste que não conhecerá Jack Hooster.
— Facilite as coisas para nós dois, Jack Hooster, e diga a todos que me matou.
Edward fez partido para dar as costas a ele novamente, mas Hooster sacou a arma. Edward percebeu o movimento, não nas mãos, mas nos olhos do outro, e também sacou sua arma.
Uma luz foi vista e um disparo ecoou pela rua.
Ele não tinha se movido, apenas atirara de onde estava, o corpo meio curvado para trás, confiando em seu instinto e experiência.
Jack Hooster estava no chão da rua.
Edward se virou definitivamente para a menina trêmula às suas costas e indicou-lhe que devia seguir para a esquina à frente. Não sabia se havia matado ou não o homem, e também não se importava. Tudo o que sabia era que o maldito episódio havia tirado seu apetite.
— Lily!
Foi a primeira coisa que Edward ouviu quando estavam a alguns passos da pousada no fim da rua.
Uma mulher surgiu no alpendre, a silhueta meio oculta pelas sombras, e desceu as escadas apressadamente, correndo em direção à menina.
— Minha irmã. — disse Lily a Edward e adiantou-se até a mulher. — Eu estou bem. — Ela garantiu um segundo antes de a irmã envolvê-la em um abraço apertado.
— Onde você se meteu? — quis saber a moça e em seguida percebeu a presença de Edward. — E o senhor, quem é?
— Eu... eu encontrei a menina.
Ela fungou, fitando Edward com desconfiança. Tinha olhos castanho-claros e sobrancelhas estreitas, finas, que combinavam com o brilho de cautela em seu olhar.
— Vai me contar o que aconteceu? — Ela baixou os olhos, afastando Lily o suficiente para que seus olhares se encontrassem.
— Jack Hooster.
A irmã mais velha de Lily empalideceu e novamente puxou-a para um abraço. Dessa vez, levou um longo tempo até soltá-la.
— Ele estava me esperando, perto do beco, mas eu consegui fugir e... — Lily ergueu os olhos para Edward. — Como se chama, senhor?
— Cullen. Edward Cullen.
Lily assentiu e virou-se para a irmã.
— O senhor Cullen me salvou. — Ela resumiu a história.
Novamente, e porque parecia ser sempre sua primeira reação, a irmã de Lily fitou Edward com olhos desconfiados.
— É mesmo? — Ela o avaliou, detendo-se um segundo na arma que Edward colocara de volta ao coldre.
— Sim. Ele atirou em Jack Hooster. — Lily contou e parecia animada por dizer isso.
Edward esboçou um meio sorriso, mas tratou de apagá-lo quando a irmã de Lily arqueou uma sobrancelha em sua direção.
— Eu agi em legítima defesa. — disse Edward, dando de ombros. Depois, chamou-se de tolo por sentir necessidade de dar alguma explicação àquela mulher. Nem sequer a conhecia.
— Ele praticamente atirou de costas. — exclamou Lily, supervalorizando o ocorrido. — Foi exatamente como nas histórias de Billy.
Edward viu a irmã de Lily crispar os lábios, meio contrariada. Decidiu que não devia esperar um agradecimento e resolveu tratar de seus próprios assuntos. Ainda precisava hospedar-se na pousada. Lembrou-se de que a tinha visto sair da Brandon's Inn.
— As senhoritas estão hospedadas nesta pousada? — Ele questionou. — Preciso de um lugar para passar a noite. O barman disse que esse lugar é bom.
— O barman não mentiu. — disse a irmã de Lily, virando-se de volta para a pousada, mantendo um braço protetor ao redor dos ombros da menina.
Ela tinha uma postura altiva e orgulhosa, pensou Edward. Um olhar inteligente e palavras cautelosas. Existiam mulheres assim por todo oeste e ele havia conhecido algumas, mas não se lembrava de nenhuma que o deixara intrigado antes.
Quando a acompanhou até a pousada, sentiu o cheiro de frésia que ela exalava e sentiu uma surpreendente pontada de ansiedade no estômago. Era um aroma escuro, exótico e feminino. Que combinava com ela, decidiu.
Mesmo sob a luz fraca dos lampiões, Edward tomou um tempo para observar a aparência dela. Ela tinha cabelos castanho-escuros, que caíam em cascatas onduladas até os ombros e ganhava traços avermelhados quando encontrava a luz. Seus olhos eram mais claros, de um tom castanho que lembrava chocolate derretido, e carregavam uma expressão sólida e firme como as rochas do deserto. Cílios espessos e sobrancelhas estreitas envolviam seus olhos e, como os cabelos, contrastavam com sua pele pálida.
De novo, Edward pensou que havia conhecido milhares de mulheres com aqueles mesmos traços, mas nunca se sentira atraído por uma antes.
Quando os três entraram na pousada, a jovem postada atrás do balcão da recepção fitou-os, demorando-se em Edward, com um olhar intrigado.
— Está tudo bem? — perguntou ela, dessa vez olhando para a irmã de Lily.
— Está sim, Alice. — disse a moça em um tom tranquilizador. — O cavalheiro aqui deseja um quarto. Acomode-o e ponha tudo na minha conta.
Alice piscou várias vezes, abriu a boca para dizer alguma coisa, mas tornou a fechá-la.
— Não precisa fazer isso, senhorita. — Edward adiantou-se, meneando a cabeça.
Ela ergueu os olhos para fitá-lo e, pela primeira vez, não lançou em sua direção um olhar desconfiado.
— Salvou minha irmã, senhor Cullen. — Foi tudo o que ela disse e depois fez um gesto para que a recepcionista seguisse seu pedido. — Lily, vá com a Alice. Eu encontro você daqui a pouco.
Lily pareceu insatisfeita, mas não discutiu a ordem. Algo na voz confiante e no olhar firme da irmã a fez assentir e seguir a recepcionista.
Quando as duas sumiram pela escada, a irmã de Lily virou-se para Edward.
— Não pense que eu agi por generosidade, senhor Cullen. — Ela disse e seu tom de voz contrastava pesadamente com sua figura delicada. Tinha uma voz clara, autoritária e firme. — Estou apenas sendo justa. O senhor ajudou minha irmã, eu retribuí o que fez. Portanto, não lhe devo mais nada.
Edward assentiu devagar, incapaz de desviar a atenção daqueles olhos orgulhosos. Era incrível como um pouco de altivez podia tornar interessante uma mulher de atrativos comuns.
— Obrigado por esclarecer as coisas, senhorita... — Edward elevou uma sobrancelha, percebendo que ainda não sabia o nome dela. — Posso perguntar como se chama?
— Isabella Swan.
Era um nome à altura dela, pensou Edward. Exótico e desafiador, que fazia cócegas na língua e instigava um homem a procurar a melhor forma de pronunciá-lo.
— Isabella. — Ele repetiu e ela crispou os lábios.
— Boa noite, senhor Cullen. — disse Isabella e, um segundo depois, quando a recepcionista descia as escadas, apressou-se em seguir para o segundo andar.
Edward a observou até que ela ficou fora do seu alcance. Baixou, então, o olhar para a recepcionista e percebeu um brilho assustado nos olhos dela.
— E-eu reservei o quarto dez para o senhor. — disse a moça, hesitante.
Levando um dedo à aba do chapéu, ele se lembrou do nome dela.
— Obrigado, Alice.
Com um sorriso nervoso, ela lhe entregou a chave do quarto e enfiou-se novamente atrás do balcão.
Edward subiu os degraus de dois em dois, sentindo-se mais relaxado agora, disposto até mesmo a fazer aquela refeição.
O episódio na rua empoeirada tinha sido completamente ofuscado por uma figura muito mais interessante e digna de atenção.
E ela se chamava Isabella Swan.
NOTA DA AUTORA
Oi, gente!
Lembram-se de mim? Pois é, eu excluí minhas duas fics porque passei por alguns problemas pessoais e pensei que não poderia mais voltar a postar, mas, felizmente, alguns meses depois, tudo se resolveu. Então, se eu não me engano, Reckless Heart estava concluída e faltava postar o fim de Scottish Bluebell, certo? Imagino que vocês queiram terminar de ler Scottish e, talvez, reler Reckless? Não sei, não sei. Só sei que quero deixar ambas as fics no site. Dessa vez, sem excluí-las!
Então, eu pensei muito se devia postar as duas fics de uma vez só, mas eu gosto tanto de interagir com as leitoras que resolvi postar aos poucos. Farei isso três vezes por semana: segundas, quartas e sextas. Sempre posso contar com leitoras novas também, imagino. Outro motivo porque vou fazer isso é que, durante esse tempo, eu revisei ambas as fics. Não acrescentei muita coisa, mas fiz correções e amarrei algumas pontas soltas (que devo ter deixado passar quando postei da primeira vez). Ah, sim. Eu vou postar tanto Reckles quanto Scottish nos dias da semana citados acima. O que acham?
Porém, como eu sei que, para quem acompanhava Scottish, só faltava o último capítulo e o prólogo, não vou torturá-las e fazê-las esperar. Se você acessar meu perfil, lá tem um link dessas duas últimas partes. Então, se você é ansiosa como eu, corre lá para ler!
NessieDawson,
leitoradefanficspontowordpresspontocom
