A sorte foi lançada

No fim, só existira um protagonista.

Mas somente aquele que enfrentar seus próprios demônios

Sairia vencedor no fim!


A LENDA

PARTE II – EQUILIBRIUN

CAPITULO 1: A Volta da Estrela Mascarada.

.I.

-Apenas fechem os olhos...

Um silêncio reconfortante caiu sobre todos os acrobatas que ali estavam, deitados sobre o palco. Uma atmosfera tranqüila pareceu envolvê-los e aos poucos foi como se um véu de estrelas cintilantes pairasse sobre eles.

-Vocês podem ouvir? –a jovem de melenas rosadas indagou quase num sussurro.

Uma serie de "uhn?" Ecoou entre eles.

Um fino sorriso surgiu em seus lábios, o silencio novamente caiu sobre eles. Conseguia ouvir mesmo que fraquinho, os corações batendo de maneira compassada.

Um sonho nebuloso numa noite terrena

Afeiçoado à lua crescente

Uma canção silenciosa numa luz eterna

Canta a chegada da alvorada

-Todos que vem aqui, buscam ver em nós a realização de seus sonhos; a jovem sussurrou. –Buscam encontrar um sorriso perdido, uma lembrança guardada por muito tempo, ou aquela emoção indescritível que faz o coração bater mais rápido e aquela sensação de que se pode tudo;

Pássaros em vôo estão chamando

Lá, onde o coração move as pedras

Lá, onde meu coração anseia por você

-Sintam o palco, sintam o que ele tem a dizer; ela sussurrou. –Tantos sonhos foram depositados sob está lona. Apenas se permitam ver...

Uma pintura em uma parede de gera

Aninhada no musgo verde-esmeralda

Os olhos declaram uma trégua de esperança

Então me afasta para longe

Aos poucos foi como se uma melodia suave vinda de algum lugar, começou a soar no palco, embalando-os com mão carinhosas, para que mergulhassem em seus próprios sonhos.

Onde oculto no deserto na hora do crepúsculo

A areia se derrete em piscinas do céu

A escuridão deita seu manto vermelho

Suas fontes de luz chamarão, me chamarão para casa

Era como se fosse ontem que havia chegado ali, tendo como único objetivo fazer um teste para ingressar no Kaleido Star. Logo de cara conhecera o Senhor Policial e fora parar na cadeira, quando o pessoal da delegacia achou que estava fugindo de casa, por ser ainda tão nova e carregar uma mala pelas ruas de San Francisco.

Naquela semana ainda conhecera Mia e Anna, cada uma com seu respectivo sonho. Tornar-se uma grande escritora e uma comediante. Aos poucos cada uma foi seguindo seu destino, andando por trilhas escarpadas e tortuosas.

E então é lá que minha homenagem é devida

Controlada pela quietude da noite

Agora eu sinto, sinto você se mover

E cada sopro, cada sopro é pleno

Foi também quando recebeu o primeiro desafio, subir ao palco para substituir uma das atrizes que entrariam de coadjuvante na peça Romeu e Julieta. Tantas outras coisas foram acontecendo, como se aos poucos um imenso novelo de lã fosse sendo desenrolado.

Controlado pela quietude da noite

Mesmo a distancia parece tão próxima

-Um dia alguém me disse, que não há batalha mais difícil do que encarar o próprio reflexo diante de um espelho, dia após dia; Sora falou chamando-lhes a atenção. –Somos tudo aquilo que fazemos e aqui, nesse palco refletimos aquilo que sentimos e desejamos ser;

Um sonho nebuloso em uma noite terrena

Afeiçoado à lua crescente

Uma canção silenciosa numa luz eterna

Canta na chegada da alvorada

-O mundo ainda precisa de heróis e nós, somos aqueles que ele deposita sua fé. Somos aqueles com o poder de muitas vezes esquecermos quem nós somos, para encarnar um personagem que reflete tudo aquilo que os outros sonham, mas também é uma faca de dois gumes... Porque nós simplesmente não podemos deixar os nossos sonhos de lado para viver o dos outros;

A maioria dos acrobatas ali presente, abriram os olhos surpresos, cada um tinha um motivo em particular para saber a que ela se referia.

-Nós não podemos mudar o mundo, mas podemos ensinar os outros a sonhar e torná-lo um pouco melhor. Mas nunca, sonhar pelos outros... Agora mantenham os olhos fechados e se perguntem, que sonhos vocês realmente estão buscando realizar?

Pássaros em vôo estão chamando lá

Onde o coração move as pedras

Lá onde meu coração anseia

Tudo pelo seu amor

O silêncio voltou a reinar sobre eles, entretanto uma infinidade de perguntas começou a pairar sobre o palco. Enquanto aquela suave melodia aos poucos tornava-se apenas um suave sussurro levado pelo vento.

.II.

Há muito tempo atrás, quando o universo consistia apenas em um monte de nada, Deus criou o Sol, que com seus raios dourados iluminou a escuridão do universo e deu inicio a vida.

Mas Deus sabia que mesmo ele sendo o Astro Rei não seria suficiente para dar origem a todos os seres que habitariam o universo. Assim criou a Lua, delicada e feminina para juntos velarem pela Terra.

Entretanto, Sol e Lua foram destinados a viverem separados, ele de dia e ela à noite. A Lua desolada, sofreu muito por viver separada de seu grande amor e sua luz aos poucos começou a se apagar.

Desesperado, o Sol passou a enviar sua luz para a Lua, mas nem mesmo isso era capaz de amenizar a dor da separação. Preocupado com sua amada, ele sofreu.

Temendo que até mesmo o Sol perdesse seu brilho, Deus criou as estrelas para que pudessem fazer companhia a Lua, mas nem isso era suficiente.

Então o Sol foi até Deus e pediu-lhe, que lhe permitisse pelo menos uma vez se aproximar da sua e abraça-la, tentando aplacar a saudade que sentiam um do outro. Assim Deus permitiu que pelo menos uma vez a cada trezentos e sessenta e cinco dias o Sol e a Lua se encontrassem no céu.

Muitos dizem que foi assim que nasceu o primeiro eclipse solar, quando Sol e Lua se encontraram e o céu entrou em completa harmonia. Não é noite e não é dia.

Já outros cuja imaginação é mais ousada, arrisca-se a dizer que a história foi um pouco diferente. Que antes das estrelas surgirem, Deus permitiu que o Sol e a Lua se encontrassem e quando eles deitaram sobre o manto azul e infinito do céu. O universo entrou em harmonia, refletindo a intensidade do amor que eles sentiam. E quando seus sentimentos se tornam nebulosos e o climax se aproxima nascem as estrelas.

Recostou-se na cadeira sentindo as costas estalarem por conta do tempo que estivera ali digitando. Olhou para o relógio digital na parte inferior direita da tela e constatou que já passavam das duas da manhã.

-Nossa; Mia murmurou, alongando os braços para cima, sentindo as costas estalarem.

Depois da reunião que tivera com Carlos e o senhor Kennedy fora para o quarto e começara a trabalhar, mas a aparição de Anna lhe chamando para dar uma volta, lhe fez parar o trabalho por algumas horas.

Suspirou pesadamente, parece que tudo tinha um propósito que não poderia ser ignorado, prova disso era o intrigante episódio do palco. Todos haviam se reunido ali.

Coincidência?

Destino?

Impossível dizer...

Salvou o arquivo e desligou o laptop, dali a poucas horas o mais esperado duelo da historia do Kaleido Star iria acontecer. Não podia negar que já havia apostado em seu preferido, mas também, estava ansiosa para saber como os acrobatas iriam lidar com as novas modificações do roteiro.

Sorriu marotamente, mal podia esperar. Principalmente se levasse em consideração o que havia acontecido mais cedo; ela pensou enquanto ia se deitar.

.III.

O dia amanheceu agitado, a maioria dos funcionários já estava no palco arrumando as coisas, quando a limusine parou em frente ao Kaleido Star.

-Bom dia; Carlos falou indo recepcionar o empresário idoso.

-Bom dia Carlos, espero que tudo esteja indo conforme o planejado; senhor Kennedy falou, enquanto a limusine se afastava e os dois caminhavam para dentro do prédio.

-Sim está, até onde eu sei Mia já revisou aquela parte do roteiro; ele explicou.

-Ótimo, podemos anunciar as modificações após o teste; o empresário idoso comentou de maneira enigmática. –Mas me diga sinceramente Carlos, quem você acha que tem mais chances?

O brasileiro parou de andar, voltando-se surpreso para o empresário. Até ele, já não bastava aquela aposta ridícula com Cate, agora ele também queria saber; ele pensou.

-Prefiro ser imparcial senhor; Carlos respondeu de maneira calculada.

-Sim é claro, mas você tem um preferido eu suponho? –o senhor Kennedy falou com um sorriso travesso.

-É melhor esperarmos para ver; Carlos desconversou.

Suspirou pesadamente, esses testes relâmpagos ainda lhe deixariam com cabelos brancos antes do tempo. A última vez que fora feito um teste, entre Sora, Leon, Layla e Yuri passara dois dias sem dormir, agora esse para A Lenda. Só esperava que aqueles dois não aprontassem mais nada.

.IV.

Olhou para todos os lados, conferindo se os dois acrobatas já haviam chegado, e os encontrou sentados na primeira fileira do palco. Estavam esperando a chegada de Carlos e do empresário patrocinador.

Mas ainda faltava alguém; ele pensou, ouvindo um baixo chiado no fone em seu ouvido.

-Está tudo pronto Ken, pode mandá-los para o palco; a voz de Yan soou em seu ouvido.

-Yuri. Leon. Podem subir; Ken avisou, quando os trapézios foram acionados e soltos no palco.

Em silêncio os dois se encaminharam para o palco. A rede de segurança fora deixada para segurança.

-Ai. Ai. Ai. Alguém viu a Sora? –Mia perguntou, antes de sentar-se na segunda fileira, com Anna e as demais.

-No caminho pra cá, eu passei no apartamento dela, mas não tinha ninguém; Rosetta respondeu.

-Onde ela se meteu? –Anna murmurou pensativa.

-Perguntem para o Ken, talvez ele saiba; Sarah respondeu sentando-se atrás delas.

-É; as garotas concordaram ao mesmo tempo, mas diante de um olhar de aviso do chefe na primeira fila, para que ficassem quietas, desistiram.

-Depois; Mei murmurou.

-o-o-o-o-o-

Respirou fundo e com um impulso suave, soltou o peso e o trapézio imediatamente se moveu. Até três horas da manhã ainda não havia definido uma técnica para excetuar, mas depois do que ouvira, naquele mesmo palco, naquela noite, muitas coisas haviam mudado.

Infelizmente ainda não sabia como administrar todas essas mudanças, ou canalizar a energia intensa que sentia correr por seu corpo. Fazia muito tempo que não sentia toda essa adrenalina de uma vez, como se fosse capaz de incendiar.

-Comecem!

Ouviu a voz de Carlos ecoar pelo palco. Buscou-a com olhos de águia, por toda à parte, mas não a encontrou entre os espectadores. Queria que ela estivesse ali, mas sabia que Sora iria ser imparcial até o fim, não podia culpá-la.

Um salto, um giro de trezentos e sessenta graus, com graciosidade alcançou o outro trapézio. Deixou o corpo balançar. Uma, duas, três vezes. Saltou novamente, trocando de barra.

Foi quando inesperadamente algo entre os holofotes lhe chamou a atenção. Um brilho prateado em meio à escuridão que cobria a lona, mas havia algo mais que não conseguiu visualizar.

Agitado, trocou novamente de barrar, com ansiedade buscou alcançar aquele fino filete prateado. Mas nada, nem ninguém o teria preparado para o que viria a seguir.

.V.

Deixou os orbes correrem por toda a parte buscando-a ansiosamente, mas não a encontrou. Conteve um suspiro decepcionado, enquanto se aproximava do trapézio principal.

Engoliu em seco, nunca ficara tão apreensivo em um teste antes, normalmente conseguia agir friamente e manter-se calmo, mas de alguma forma dessa vez as coisas seriam diferentes; ele pensou.

-Esse é o primeiro de muitos desafios que terá de enfrentar se realmente quiser ser a grande estrela do Kaleido Star; a voz de Fool soou a seu lado. –A estrada que o levara até lá, contém curvas e vários obstáculos, mas nada se consegue sem merecimento...;

Viu aos poucos o espírito do palco desaparecer, procurou se concentrar e saltou. Entretanto treino algum havia lhe preparado para aquilo, por um momento quase perdeu o equilíbrio, os olhos embaçaram, fazendo-o forçar a visão quando trocou de barra.

De soslaio, sentiu a presença do outro acrobata e buscou manter-se distante, para não correr o risco de se chocar contra Leon por acidente. Céus, não conseguia enxergar direito, o que estava acontecendo? –Yuri pensou preocupado.

Foi quando ela apareceu, saltando o andaime mais alto e pegando com destreza um dos trapézios para se balançar. As roupas negras estavam coladas ao corpo e a mascara prateada parecia cintilar.

-Layla! –Yuri murmurou surpreso.

Porque ela estava vestida como a "Estrela Mascarada" de novo? –Yuri se perguntou confuso. Viu-a acenar para ambos se aproximarem e o verdadeiro teste começou.

Não era fácil acompanhar-lhe os movimentos, segurou-se com força no trapézio para manter o equilíbrio. A única vez que vira Layla executar uma técnica no trapézio de maneira tão suave, fora a Técnica Angelical, mas essa era diferente. Era suave demais para ela. Não conseguia acompanhar um ritmo tão lento ao mesmo tempo em que era tão rápido.

Não! Não ia desistir, precisava acompanhá-la. Se ela estava ali, provavelmente era parte do teste; ele pensou convicto, mas quando trocou de barras novamente, sua visão turvou. Então tudo aconteceu...

O cheiro de café fresquinho inebriou-lhe os sentidos, a porta da frente bateu e um garotinho com pouco mais de cinco anos saiu correndo para atendê-la.

-Papa;

-Estou aqui filho; Aaron falou sorrindo, ao pegar o pequeno nos braços e lançá-lo para cima, como se ele fosse tão leve quanto uma pluma. O garotinho riu, abraçando-lhe o pescoço e acomodando-se no colo do pai.

-Papa, já fiz a lição de casa; ele avisou prontamente.

-Que bom, vamos até a cozinha que eu quero ver; Aaron falou, afagando-lhe as melenas rebeldes.

Puxou uma cadeira da mesa e sentou-se, colocando-o em cima de uma de suas pernas. O pequeno debruçou-se na mesa e puxou um caderno de desenho, onde fizera o dever de casa passado pela professora.

-A tia pediu que fizéssemos um desenho daquilo que gostaríamos de ser quando crescermos; o garotinho explicou.

-Uhn! E o que você fez? –o acrobata indagou enquanto olhava atentamente os rabiscos feitos pelo filho.

Viu duas pessoas e duas setinhas sobre cada uma, onde ele havia escrito seus nomes. Sorriu afagando-lhe os cabelos ao reconhecer ao pé do desenho a lona do Kaleido Star.

-Quando eu for grande, quero atuar no Kaleido Star e fazer a Técnica Fantástica com o senhor; Yuri falou convicto.

-Quando você for grande eu quero que você seja feliz. Mas ficarei muito contente se formos parceiros; Aaron falou pousando um beijo suave sobre a testa do pequeno.

-Querido, já chegou; uma bela jovem de longas melenas loiro-prateado falou, entrando na cozinha.

-Decidimos parar o treinamento mais cedo hoje, para dar tempo de descansarmos bem para amanhã; Aaron explicou, levantando-se e colocando Yuri na cadeira, ele aproximou-se da esposa. –Como foi seu dia?

-Bem, apesar de a professora ter me chamado na escola novamente; Alésia falou, enquanto o jovem de melenas douradas envolvia-lhe a cintura delicada, acomodando-a entre seus braços, enquanto observavam o pequeno distraidamente continuar a desenhar.

-O que ele aprontou dessa vez? –Aaron indagou curioso.

-Andou fazendo piruetas em cima da mesa de novo e quase caiu; Alésia explicou dando um suspiro cansado. –Você precisa conversar com ele, Yuri já não me ouve quando eu digo que é perigoso fazer isso. Sabe o que ele me disse outro dia?

-Não, o que?

-Se meu pai pode, eu também posso; a jovem respondeu lançando-lhe um olhar repressor. –É perigoso uma criança da idade dele se meter a fazer coisas que adultos fazem, alias, nem adultos deveriam se arriscar tanto; ela continuou.

-Querida já falamos sobre isso; ele murmurou, vendo de soslaio se o garotinho prestava atenção naquilo que eles conversavam. –É só até amanhã, nós treinamos muitos e vai ser impossível errar. Alem do mais, é bom para o Yuri que ele vá interagindo com esse meio, ele sempre gostou do Kaleido Star, quem sabe um dia não estará fazendo os testes para entrar lá;

-Eu sei, mas ele é muito pequeno ainda, tem muitas coisas para viver antes de poder decidir se quer ou não seguir esse caminho. Eu queria que ele tivesse uma infância tranqüila; Alésia confessou.

-Ele vai querida, quando a temporada terminar, vou pedir umas férias ao Carlos e vamos viajar, conhecer algum lugar diferente; Aaron falou afagando-lhe os cabelos carinhosamente. –E outra coisa...;

-O que? –ela indagou curiosa.

-Carlos me propôs sociedade, no Kaleido Star; Aaron respondeu dando um baixo suspiro. –Ele quer que eu fique com a parte administrativa e eu confesso que estou tentado em aceitar; ele completou.

-Isso seria maravilhoso querido, mas...; Alésia hesitou. –Você ama o trapézio, não pode desistir dos seus sonhos agora;

-Eu amo mais a minha família e também sinto que já esta na hora de me retirar; Aaron falou. –Eu quero poder ver Yuri crescer, quero estar a seu lado quando precisar. Mas no ritmo de treinamentos que ando levando, quase não tenho tempo para nada. Entretanto, depois que essa temporada acabar, começaremos uma nova fase em nossas vidas;

-Ah! Querido, fico muito feliz em ouvir isso; ela murmurou abraçando-o fortemente.

-o-o-o-o-o-

Sorriu de maneira acalentadora para o pequeno, deu-lhe um abraço forte e apertado.

-Quando papai executar a técnica fantástica, aplauda o mais forte que puder; Aaron falou sorrindo. –Para que o papai receba o melhor dos aplausos, promete?

-Eu prometo; o garoto falou convicto.

-Agora eu tenho de ir; o acrobata falou afastando-se e acenando de leve para o filho.

Observou o pai de afastar com um sentimento inquietante brotando em seu pequeno coração, viu um boniquinho flutuando sobre o ombro dele, franziu o cenho, não se lembrava de ter visto aquilo antes.

-Papa; Yuri chamou, correndo até ele.

-Sim; Aaron falou virando-se.

Fitou o ombro dele intrigado, enquanto o bonequinho mantinha-se silencioso e observador. Será que estava vendo coisas? Talvez; o menino pensou.

-Amo o senhor;

-Também amo você pequeno; Aaron falou abraçando-o mais uma vez antes de entrar no palco.

-Não posso; Yuri murmurou segurando-se nas barras, enquanto lágrimas turvavam seus olhos.

Droga! Por que tinha de pensar nisso agora? –ele pensou agitado. Ouviu os aplausos lá de baixo e tomou isso como deixa para sair. Não estava preparado para enfrentar aquele desafio, já deveria ter admitido isso há muito tempo; ele pensou saltando para o andaime do topo e praticamente correu para longe do palco, pelas galerias internas.

Mal notou que estava sendo seguido...

.VI.

Saltou para o palco, com o cenho franzido, nos últimos minutos da apresentação sentira uma mudança no outro acrobata, mas quando olhou Yuri já havia sumido. Estranho, porque tinha a sensação de que no final, aquele teste deveria ter sido adiado mais um pouco?

-É sempre difícil escolher entre dois ótimos acrobatas, mas já temos a decisão final; o empresário idoso falou, levantando-se de seu lugar na primeira fileira e se aproximando de Leon. –Meus parabéns meu jovem, você é o novo protagonista de A Lenda;

-Obrigado; ele limitou-se a responder.

Buscou-a com os olhos, mas constatou que ela realmente não viera para ver o teste. Mesmo sabendo que ela tinha seus motivos para não estar ali, não pode evitar a pontinha de decepção, queria que ela estivesse ali agora.

-Nossa, para um domingo esse transito estava um inferno; Cate falou entrando no palco acompanhada de Layla, ambas visivelmente aborrecidas.

-Senhorita Layla? –Mei falou chocada ao vê-la ali.

-Algum problema? –a jovem indagou confusa quando todos os olhares voltaram-se em sua direção.

-Eu pensei que-...; Rosetta murmurou indicando os trapézios.

-Nós pensamos que fosse a senhorita lá em cima, agora há pouco; Mei falou surpresa.

-Impossível! Nós acabamos de chegar, pegamos um congestionamento em toda via principal. Até tentei ligar para o celular do Carlos, para ver se não atrasavam um pouco, mas estava aparentemente desligado; Cate resmungou, vendo o chefe retirar o aparelho do bolso e sorrir sem graça ao constatar que ele estava mesmo desligado.

-Mas quem era a estrela mascarada então? –Anna perguntou.

-Como? Do que estão falando? –Layla indagou.

-Alguém acabou de aparecer no meio da apresentação e atuou junto com Leon e Yuri, mas a pessoa usava a fantasia da estrela mascarada; Sarah explicou.

-Quem era não importa agora; Carlos falou as cortando. –Mia prepare-se para fazer os ajustes finais na peça. Como pedido pelo senhor Kennedy, a peça terá dois sóis. A luz e a sombra, quero que você ajuste a cena do clímax da peça; ele avisou.

-Mas Carlos...; Mia começou.

-Outra coisa, os ensaios começam amanhã, Leon e Yuri, não espero menos do que o melhor de vocês e-...; Carlos parou ao ver que Leon era o único ali.

Franziu o cenho e todos acompanharam seu olhar pelo palco, buscando o outro, mas ele não estava ali.

-Onde esta o Yuri?

-Era isso que eu ia falar; Leon respondeu aborrecido. –Ele sumiu;

-Estranho; o chefe murmurou preocupado.

No meio da apresentação notara uma mudança no acrobata, mas não pensou que fosse nada serio.

-Bem, quero o roteiro novo pronto amanhã para uma última revisão, antes de ser distribuído o restante dos papais; ele avisou, antes de deixar o salão acompanhado do senhor idoso.

-Certo; Mia falou convicta, mas também sabia que havia alguma coisa errada ali.

Despediu-se de todos e cumprimentou Leon com um aceno antes de deixar o palco. Tinha muitas coisas para resolver incluindo, acertar a cena do clímax da peça que deixara pendente, por não saber qual deles seria o protagonista, mas agora as coisas ficariam mais fáceis.

-Hei pessoal! Cadê a Sora? –Cate perguntou, não a encontrando ali.

-A Sora não veio para o teste; Mei respondeu. –Alias, ninguém sabe onde ela esta;

-Uhn! Estranho, muito estranho; Anna murmurou, fazendo pose de Sherlock Holmes, enquanto Mariun aparecia sabe-se lá de onde com uma máquina na mão e começou a tirar fotos dela.

-Já que a Sora não veio, vamos procurá-la e contar que o Jovem Leon ganhou; Rosetta propôs.

Todas concordaram e rapidamente saíram do palco, procurando por toda a parte a jovem.

.VII.

Ouviu alguém chamar seu nome, mas não parou de correr. Apenas freou seus passos ao sentir uma mão delicada fechar-se sobre seu pulso. Voltou-se para trás, pronto para mandar quem quer que fosse, lhe deixar em paz, quando notou que a sua frente estava à estrela mascarada.

Franziu o cenho, ela não podia ser a Layla, a acrobata era quase da mesma altura que si e aquela que estava a sua frente, praticamente batia na altura de seu ombro. Então só podia ser-...;

-Sora; Yuri sussurrou, vendo-a retirar a mascara prateada e lhe fitar com preocupação.

-O que aconteceu? –ela perguntou docemente, vendo um traço fino e úmido marcar a face dele.

-Eu... Só quero ficar sozinho um pouco; ele balbuciou.

-Compreendo, mas não concordo... Vem comigo, vamos procurar um lugar tranqüilo para conversar; a jovem falou, puxando-lhe pela mão.

-Mas...;

-Fique tranqüilo, vai ficar tudo bem; ela o tranqüilizou, com um doce sorriso.

Apenas deixou-se levar, no momento a única coisa que não queria pensar era em caminhos a serem percorridos.

-o-o-o-o-o-o-

-Acha que ele vai ficar bem? –o empresário indagou, apoiando-se na porta da limusine.

-Eu não sei o que aconteceu lá em cima para ele ficar tão abalado, mas ele logo vai se recuperar; Carlos garantiu.

-É o que eu espero, eles lutaram bastante para chegar até aqui, seria uma grande pena um deles desistir;

-Vou averiguar o que realmente aconteceu; Carlos garantiu, antes de se despedir e afastar-se para que o outro pudesse entrar no carro e partir.

Jamais iria reclamar do Kaleido Star estar extremamente calmo novamente; ele pensou contendo um suspiro antes de voltar para o escritório.

.VIII.

Jogou-se na cama, sentindo o corpo cansado pelos últimos dias que treinara até a exaustão, fazia tempo que não sentia aquela necessidade de dormir, mas estava realmente cansado agora.

Fechou os olhos lentamente, rememorando tudo que havia acontecido no teste. A tal estrela mascarada aparecera. Fora interessante a forma com que os instigara a executar algumas das mais complicadas acrobacias. Entretanto, o que aconteceu ao outro acrobata foi o que lhe intrigou.

Foi como se Yuri houvesse se desligado de tudo por alguns segundos, depois simplesmente deixou o palco.

-Acha que essa é uma preocupação que você deve ter como futura estrela?

Abriu os olhos, vendo a miniatura de poltergaist flutuar a sua frente.

-O que quer? –Leon perguntou seco.

-Você não deveria se preocupar com ele, se Yuri desistiu é porque não passa de um fraco; Fool falou em tom sério.

-Muito me admira que a Sora tenha te agüentado por tanto tempo, falando assim; o acrobata falou sem levá-lo a sério.

Uma vitória nunca seria justa, se os dois lados, não lutassem de igual para igual; ele pensou, apagando o abajur sobre o criado mudo e deixando-se levar pelo sono.

Afastou-se, pairando sobre a cama, antes de fazer um ágil movimento com as mãos, o globo de cristal azulado surgiu entre suas mãos e estrelas brilharam dentro dele.

-O caminho para se tornar a verdadeira estrela, esta apenas começando, ainda restam muitos provas para serem vencidas...

-o-o-o-o-o-

A chaleira apitou, colocou os dois saches nas xícaras e despejou a água fervendo dentro delas. De soslaio, viu-o apoiar os braços sobre a mesa e manter-se cabisbaixo.

Conteve um suspiro, tinha alguma coisa errada, quando acordara aquela manhã tivera um pressentimento estranho e o sumiço de Fool apenas ressaltou isso. Procurou por ele em toda a parte, mas quando chegou ao apartamento de Rosetta, não o encontrou lá também. Foi quando a idéia de participar do teste surgiu.

Pegou as xícaras e voltou até a mesa, colocou uma delas na frente dele, antes de sentar-se e colocar a sua sobre a mesa.

-Beba, vai te fazer bem; ela murmurou, vendo-o assentiu silenciosamente.

A conversa seria longe, bem mais longa do que qualquer uma das que tiveram antes. Sabia que Leon era o mais preparado para aquele papel. Porque apesar de tudo, ele era aquele que mais tinha força para se reerguer, já Yuri, ainda possuía algumas correntes que o prendiam ao passado e o forçavam a manter-se na escuridão por tanto tempo.

Continua...

n/a: Música tema do capitilo "Mystic's Dream"