Por mais que não quisesse admitir, Leha
(pronuncia-se Léa) tinha total e imensa razão. Humilhei Potter tantas vezes,
que já perdi a conta no primeiro mês do inferno. Há três anos e meio, Tiago
Potter, o garoto mais irritante do mundo inteirinho, pediu para sair comigo.
Resposta? Simplesmente não. O caso é que ele nunca havia levado um fora,
e isso feriu brutalmente seu orgulho. Aquele ego gigantesco que faz dele, a
pior pessoa, em minha opinião. Graças a ele... Tudo graças a aquele miserável!
Se não existisse, eu não implicaria, e não tocaria no assunto com minha melhor
amiga. Agora, estamos brigadas, apenas por um misero comentário de minha
parte... Ver um garoto ajeitar o cabelo me lembra ele! Toquei nesse assunto com
Leha... E ela disse que eu pego muito no pé dele! Só que de certa forma, ela
está certa! Isso me irrita muito... Detesto ser contrariada... Ela sabe
disso... Agora estou aqui, sentada nesse banco desconfortável, com as mãos em
torno do joelho, com o cabelo ruivo, cobrindo minha face, chorando. Sim,
chorando... Quando falo de Potter, literalmente me descontrolo. Começo a
falar bem mais do que devo, e afasto meus amigos... Estou começando a achar que
isso é uma doença... Ele me faz mal... Alguém entrou na cabine,
estrondosamente. Se sentou ao meu lado.
- Hum... Er... Tudo bem, garota? – Perguntou a voz ridícula, e ao mesmo tempo
carinhosa dele! É... Ele mesmo, Tiago Potter... Por que justo ele tinha
que entrar aqui bem agora? E me pegar chorando, acabada?! O que aconteceria com
minha pose de durona, difícil? Provavelmente iria pro brejo... Tanto trabalho
pra nada... Resolvi não responder, talvez, com muita sorte, ele não percebesse
quem era o vulto infeliz a sua frente. – Oi?
Nossa... Como o oi dele me irritava! Continuei indiferente, tentando, sem muito
sucesso continuar imóvel. Mas isso não durou por muito. Sabe quando aquela
coisa, que você mais teme acontece? Então... Potter delicadamente ergueu minha
face com a mão esquerda. Fitei seus olhos castanhos esverdeados, profundamente
interessados em mim, e vi meus próprios olhos, verde esmeralda, transparecendo
nos dele. Pude notar que seu rosto se contorceu, mas ele logo abriu aquele
enorme sorriso.
- O que foi, Lil? – Perguntou carinhosamente. Se eu não conhecesse Potter o
suficiente, teria certeza de que este, provavelmente estaria apaixonado. Mas
era impossível. Potter é sinônimo de safadeza, arrogância e coração de pedra. E
agora? O que falaria?! Quando estou perto dele, todas as minhas desculpas – até
as esfarrapadas – escapam! Eu não raciocino! – Você está bem? – Acho que ele
percebeu, que eu evitei o máximo que pude para falar, então trocou de pergunta.
Ufa... Pelo menos uma vez, Potter foi sensato.
- Estou sim... Foi apenas um cisco... – Disse. O que?! De onde eu havia tirado
essa idéia hipócrita e sem sentido?! Eu estaria me acabando de chorar apenas
por causa de um cisco, pequeno e inútil?
- Lil... Se você não quiser desabafar... Eu entendo... Mas saiba que quando
precisar, sempre terá um ombro amigo. – Prosseguiu. Sorrindo como sempre. Ele
"ajeitou" seus cabelos negros, piorando-os ainda mais. Essa frase me deu
inúmeras náuseas! Ele nunca fora melodramático, por que escolher bem hoje? É
para me atazanar a vida, só se for...
- Ta... – Ai, ai... Fiz uma coisa que nunca esperei fazer em toda a minha vida.
Chorei, chorei mesmo, na frente de Potter... Acho que foi por tudo que ele já
me fez, por tudo que eu já fiz. Fala sério, estava me tornando uma
esquisita deprimida. Mas fazer o que? Eu tinha que chorar... Eu sou
daquelas pessoas, que choram uma vez a cada três anos, e esse dia chegou... Meu
organismo tinha que ter escolhido bem hoje?! Bem agora?! Potter sorriu,
isso, involuntariamente, me deixou com muito mais raiva ainda. – Não sorria da
desgraça alheia! – Disse, ainda entre soluços. Ele foi chegando mais perto, eu
fui recuando, até que senti minhas mãos no final do banco. Não podia mais
recuar, cairia de bunda... Ele me abraçou. Abraçou! Como ousara tocar em
mim sem ter meu consentimento? Parei de chorar, de imediato, olhei-o com
incredulidade.
- Quem você pensa que é para me abraçar?! – Perguntei, com uma "pequena"
pontada de irritação. Aquela irritação que só esse retardado me fazia ter.
- Desculpe, Lil... Só estava tentando ajudar. – Disse com simplicidade. Isso,
de alguma forma mexeu comigo. Estava o julgando, sem nem mesmo ter razão?!
Quando ele apenas queria me ver bem?! Como pude ser tão idiota a ponto de fazer
isso?! Mas... Mas ele era Potter! Potter nunca fala sério...
Senti um baque, e no momento seguinte fui arremessada contra a parede, com um
Potter caindo em cima de mim. O trem, lentamente parou, e ficou visível o
começo de Hogsmead, um vilarejo bruxo. - Será que dá para sair de cima de mim?
– Comentei, tentando ser o mais amigável possível. Mas ele não colaborou.
Murmurou apenas um "ahn?" e continuou imóvel. – Potter, saia de cima de mim! –
Berrei. Ele continuou lá, ergueu o braço, e ajeitou uma mecha que caia sobre
meu rosto. Corei. Não sabia o por que, mas fiquei rubra! Segundos depois,
continuei vermelha, mas dessa vez de raiva. Ele se deitou em cima de
mim, mas precisamente em meus seios! Empurrei-o sutilmente para o lado, e logo
em seguida lhe dei um tapa. Sai correndo da cabine, deixando ele no vácuo.
Essa era apenas mais uma das inúmeras razões pelo qual eu o odeio. Pelo simples
fato de que em um momento eu estou morrendo de raiva, e no outro me dá pena!
Isso me atormenta há mais de três anos! Sinceramente... Não sei por quê não
aceito de uma vez os pedidos dele... Aí talvez ele pare de insistir e me deixe
em paz!
