"(What are your ghosts like?)
(They are on the insides of the lids of my eyes.)
(This is also where my ghosts reside.)
(You have ghosts?)
(Of course I have ghosts.)
(But you are a child.)
(I am not a child.)
(But you have not known love.)
(These are my ghosts, the spaces amid love.)"
-Jonathan Safran Foer (Everything Is Illuminated)


THE SPACES AMID LOVE

Para todos da seção Ron/Hermione do 6v, com amor.


CAPÍTULO 1:
RUN OFF THE ROAD

Não conseguir se desprender do sono era uma das sensações de que Hermione menos gostava. Ela segurou as mãos dos ocupantes dos assentos ao lado do seu — a de Ron porque ele não se sentia muito seguro no avião, e a de Harry porque ela também precisava de algo que fosse maior do que o que ela por inteiro passava — enquanto piscava repetidamente, como se para apagar as perturbações das vistas.

Parecia que estavam fadados à companhia um do outro. Mais uma vez, não sabiam muito bem o que procuravam, ou o que encontrariam quando chegassem. Hermione sentia que devia fazer a viagem sozinha, como se ainda fosse a mesma pessoa de antes, como se sua vida não pertencesse mais tanto ao inimaginável. Acabou, contudo, com três passagens para Brisbane nas mãos. Ron havia sorrido apenas para ela, pela primeira vez em dias, e Harry havia concordado imediatamente em acompanhá-los, para depois acrescentar que gostaria se eles não o deixassem desconfortável. Ela se sentia egoísta, especialmente em dias em que a senhora Weasley não queria nada além de tê-los todos em casa, mas precisava desses pequenos confortos que os amigos proporcionavam. Era de se esperar que, depois de tantos meses sozinhos em uma barraca, ficassem cansados um do outro, mas Hermione estava certa em dizer que essa familiaridade havia se tornado ainda mais necessária no que devia fazer.

Mais tarde, enquanto o carro os conduzia para mais perto do oceano, ela tentaria entender o silêncio em que se encontravam. Os três observavam a cidade que se estendia para muito além das janelas, o sol que não devia desaparecer por completo nunca por lá. As pontes, as casas, as pessoas, tudo parecia intacto, como se nada pelo que tinham passado tivesse se estendido além dos lugares que tinham como casa. Era, ao mesmo tempo, um pensamento triste e reconfortante. Hermione se perguntou se Harry e Ron também encontravam pedaços desses pensamentos intrusos naquele lugar intocado por suas histórias, e um breve vislumbre de seus rostos lhe disse que sim. O tempo havia pesado neles, ainda teria que reconstruí-los.

Não demorou muito para chegarem ao pequeno consultório dentário dos Wilkins. Faltava pouco para que os dois dentistas voltassem para casa, então decidiram esperar. Hermione queria sair correndo do carro e desfazer seu encantamento antes de dizer qualquer outra coisa, mas também queria esperar para ganhar a coragem e pensar no que fazer. Ela havia prometido a eles, naqueles momentos difusos em que o fim do mundo mais uma vez chegava, que os libertaria quando tudo estivesse bem novamente, mas tinha uma forte suspeita de que provavelmente não estaria viva para ver isso.

Haviam sido, ela via então, ingênuos demais. Tudo o que eles tinham lutado contra ainda se espreitava nas ruas, mágicas ou não, em suas consciências, nos semblantes das pessoas. Havia esperança, havia amor, e era muito melhor do que antes, e os livros de História os homenageariam ao contar sobre sua bravura e seus sacrifícios, mas provavelmente não falariam sobre a desolação que se seguiu, sobre a instabilidade. Não estava tudo bem, como havia pensado que ficaria, como havia prometido, mas ela ia fazer ficar.

"Não são eles ali?", Harry perguntou do banco de trás.

Quando Hermione se virou para olhar, os pais já estavam no carro. Eles seguiram o carro azul discretamente com uma ansiedade estranha, como se a estrada fosse acabar antes que pudessem chegar. Ali da curva da rua, a casa dos Wilkins não era muito diferente de Shell Cottage; o mar também devia deixar nos habitantes aquela sensação de movimento, mas era completamente distinta em outro sentido, era quente. Era bonita e agradável, também, mas Hermione não conseguia tirar da cabeça que, assim como aquele lugar tantas vezes fora feito como prisão ao longo do tempo, ela havia provocado o mesmo.

Ron suspendeu o feitiço no carro e abriu a porta com um suspiro. "Nós vamos esperar aqui fora", disse enquanto se sentava na calçada da casa vizinha com Harry. "Estamos aqui se você precisar." Eles sorriram e, apesar de tudo o que sentia no momento, Hermione não conseguiu deixar de sorrir de volta.

Vista de perto, a casa era bem como Hermione queria que a dela fosse algum dia. As janelas largas deixavam o sol do fim da tarde entrar, e davam uma noção da felicidade dentro da casa para quem via de fora. Hermione assistiu enquanto o pai apontava para a televisão, falando para a esposa sobre alguma coisa de ruim que acontecia na Inglaterra. A relação dos dois continuava a mesma. Observando ali da janela, ela percebeu que, na verdade, eles não haviam mudado muito. Os olhos de ambos ainda eram bondosos, mas inteligentes. Pareciam mais jovens assim, de longe, estavam até bronzeados.

Hermione foi até a outra janela, apenas para encontrar seu próprio reflexo. Ela, sim, havia mudado. Pensou, não pela primeira vez, se não era melhor deixá-los ali, naquela terra imaculada pela vida que ela levava, na felicidade em que os encontrou. Tentou imaginar como seria se refizesse suas memórias, eles claramente não se lembrariam da pessoa que ela havia se tornado.

Ela sentiu as lágrimas escaparem talvez pela décima vez em apenas aquele dia, e se lembrou de quando Ron disse que ninguém poderia sentir tanto ao mesmo tempo. Olhou para Wendell e Monica Wilkins mais uma vez, e foi se juntar aos amigos na calçada. Harry passou uma cerveja amanteigada para ela.

"Estamos orgulhosos de você", disse depois de muito tempo.

"Pelo quê?", ela perguntou, não conseguindo esconder a surpresa da voz.

Um olhar que diz muito se passou entre ele e Ron, então ele simplesmente deu de ombros. Mais tarde, eles sorriram, beberam enquanto assistiam ao pôr-do-sol. Hermione nunca gostou muito daquela hora do dia, mas foi com ela que veio sua decisão, e de repente era a vez dela de sorrir depois de dizer algo muito sério.

"Eu vou reverter o feitiço neles. Mas não hoje."

Hermione transfigurou as garrafas vazias de cerveja amanteigada em guarda-chuvas, porque ela sabia que eles precisariam de mais do que um ao outro para passar por aquela tempestade de verão que se aproximava, e eles foram caminhando em direção ao sol.