Esquecer : Não se lembrar, perder a lembrança, pôr em esquecimento.


Lembre-me.


Relatos de sua narradora.


Sentiu-se confortável, como há muito – teve a impressão –, não se sentia. Inalou uma grande quantidade de ar e abriu os olhos. Demorou um pouco para que eles se acostumassem com a luz fraca do lugar.

Quase em cima dela, havia um lustre, daqueles bem antigos, sabe?, daqueles que tem até velas. Mas nesse, no lugar da vela, era uma lâmpada. Era bem bonito, até. Fascinante.

Notou que uma das lâmpadas piscava incessantemente, tornando o ambiente, ora mais escuro, ora mais claro. Trazia um ar de mistério.

Percebeu que não sabia onde estava.

— Acordou? — Uma voz forte e máscula perguntou e, percebendo que não haveria resposta, prosseguiu. — Que bom. — Mas a inexpressividade era clara em sua voz. — Pensei que morreria. — Uma vacilação no fim da frase trouxe até uma sensação de preocupação por parte dele.

Podia ter se assustado, mas sentia segurança perto daquele rapaz. Girou a cabeça com uma pequena contração no rosto – tudo doía – a fim de ver de onde a voz vinha. Notou um rapaz esguio, dono de músculos braçais bem definidos – era possível notar pela blusa social dobrada até o antebraço – e cabelos negros, com algumas madeixas caiando diretamente nos olhos, algumas vezes. E os olhos. Os olhos eram fenomenais. Eram verdes, mas não aqueles verdes comuns. Eram verdes misturados com a névoa e traziam um ar sombrio, misterioso e de indiferença. Mas, por algum motivo, traziam, também, um sentimento reconfortante – ao menos para ela. O mais intrigante era as marcas negras que escorriam pelas bochechas. Pareciam caminhos pré-determinados de onde as lágrimas correriam. Teria ele pintado aqueles caminhos com tinta, forçando, assim, às lágrimas descerem por onde bem quisesse? Seria, penso eu, muito metódico.

Ele vestia uma calça social negra, e estava de meias. As mãos, dentro dos bolsos da calça e a camisa social aberta nos três primeiros botões. Notou um buraco negro no lugar onde deveria ser a traquéia. Não a assustou. Teve a sensação de que já vira aquilo várias vezes.

— Está se sentindo bem?

O homem aproximou-se a fazendo lembrar de que não sabia onde estava. Olhou em volta de si.

Era uma sala com aspecto antigo. Tudo parecia ter sido construído em meados de 1935, mas com tudo muito bem conservado. O chão era feito de madeira, assim como todo o aposento. No teto, como já dito, tinha um lustre glorioso. No chão, um tapete gigantesco que se estendia por todo o local, elegantíssimo, com requintes avermelhados, dourados e esverdeados. Mais a frente de onde a menina estava – que logo reparou que era um sofá vinho de veludo – havia um espelho. Olhou-se por um momento. Aparentava muito frágil. Talvez pela sua roupa, pois vestia-se como uma boneca: estava com um vestido cor-de-rosa, cheio de babados e bordados em branco. Seus cabelos rubros tinham, do meio ao final, cachos.

— Fiz-te uma pergunta, Orihime.

Estaria ele falando com ela?

Ergueu os olhos, tentando mexer o mínimo possível da cabeça.

— Desculpe, senhor. Orihime seria meu nome?

E, como um choque, a expressão de inexpressividade esvaiu-se do rosto do rapaz, que logo fez questão de consertá-la.

— Sim, você se chama Inoue Orihime, e eu, Ulquiorra Schiffer.

— E o que aconteceu, Ulquiorra-san?

A menina não percebeu, mas, o rapaz demorou a responder. Acho que talvez fosse pelo jeito que ela lhe chamou. Afinal, ele não tinha cerimônias com ela.

— É complicado, temo que não há como lhe explicar agora. Digamos que eu descumpri uma ordem para te salvar.

Ela sorriu com ingenuidade.

— Ah, obrigada Ulquiorra-san ! E o senhor pode me dizer qual é a nossa relação?

Agora ele encarava-a com seus olhos sombrios, esperando qualquer reação da parte dela, com aqueles ingênuos olhos cor-cinza.

— Somos conhecidos, apenas.

— Entendo... Bem, obrigada de novo, Ulquiorra-san ! Mesmo o senhor não conhecendo, arriscou-se para me salvar! O senhor deve ser uma ótima pessoa!

Mas continuar aquela conversa seria muito desgastante, principalmente para ele. Não aparentava ter um coração, mas possuía lembranças. E ela simplesmente esquecera-se de tudo aquilo que importou mais do que a vida dele.

— Engana-se, Inoue Orihime. Não sou e nunca serei uma boa pessoa. Agora, pode me responder se sente-se melhor?

Ela não sabia como se sentia antes, mas, pela entonação da pergunta, deveria aparentar pior do que estava agora, sendo assim...

— Sinto-me bem, acho. Dolorida, mas bem. Mas diga-me, bom senhor, onde estamos ?

— Estamos em um vilarejo, mais precisamente em uma casa abandonada, na Grã-Bretanha.

Orihime ponderou.

— E por que estamos aqui?

— Estamos fugindo.

A expressão confusa dominou a feição da ruiva.

— Mas por quê? Fizemos algo ruim a alguém?

Ulquiorra observou-a com um estranho olhar.

— Não. Não fizemos nada de errado.

Mas houve uma estranha ambigüidade na frase. Não fizemos nada de errado. Não foi exatamente o que ela perguntou.

— Mas agora não é hora pra isso, mulher. Durma.

E, como se estivesse obedecendo àquilo, fechou os olhos devagar e sorrateira.

Sentiu ele sentando-se em sua frente e acariciando os cabelos, enrolando os dedos nos cachos.

— Não sabia que aconteceria assim... Mas não se preocupe, eu tentarei te consertar.

Foi a última coisa que ouviu antes de adormecer. Estava sorrindo, confortável com o carinho que ele lhe fazia.


Bem, espero que todos apreciem o primeiro capítulo desta mais nova fic.

Sobre Desejo&Insanidade: Resolvi deletar porque não estava atraindo leitores e a história estava empacada.

Espero que comentem e gostem deste novo UlquiorraxOrihime.

Sem mais o que dizer, agradeço aos que leram até aqui;

Agatha C.