Ele olhou para aquela poça de sangue. Imóvel, exceto por seus braços, que tremiam inconscientemente. Tremiam ritmados á batida dolorosa de seu coração.

Em sua mente confusa, ele tentava entender como aquela pessoa tão bela e contagiante podia ter se tornado aquela triste imagem ensangüentada e sem vida, o medo petrificado em seu rosto. Mas isso não conseguia torna-la feia, na verdade, continuava bela. Não que isso a deixasse menos macabra, pelo contrario, apenas a tornava ainda mais doentia e aflitiva.

Ele se aproximou, apesar de um pouco hesitante. Ajoelhou-se frente ao corpo, ensangüentando os joelhos. Tocou-lhe a face com os dedos. Estava fria.

"Não pode ser", o pensamento ecoou opressivo em sua cabeça.

- Ei, abra os olhos. - ele acariciou as madeixas, ainda macias. Sua voz falhava.

"Ela não vai", uma voz respondeu em sua mente. "Não percebe? Ela está morta."

Um calafrio percorreu sua espinha. Ele puxou o corpo para si e abraçou-o com força. Não sentiu as lagrimas que lhe corriam sobre o rosto.

"Você sabe por que isso aconteceu, não sabe?",a voz continuou. "Por sua culpa!"

- É mentira! - ele gritou - Isso é uma ilusão, não é? É uma ilusão que você criou!

A voz riu. "Pode dizer isso, mas você sabe que é real. Sabe que quem está tentando se iludir é você. E também sabe que a culpa é sua."

- Cale a boca!

"Isso tudo aconteceu porque você é fraco! Não consegue sequer proteger quem ama!"

- Não é verdade!

"É a mais clara verdade. Se você tivesse me ouvido antes e deixado que a insanidade lhe desse poder, nada disso teria acontecido. Agora, aqui está o resultado. A pessoa que você decidiu proteger está morta."

-Não, ela...- um sorriso se escancarou em seu rosto, e uma risada saiu por entre seus dentes cerrados- Ela está morta!

A voz em sua mente riu também. Riu porque finalmente conseguiu descontrolar aquela mente fechada e irritante. Agora ela era livre para não pensar.

Ele abraçou com mais força o corpo, ainda rindo. Agora, a loucura o dominava acima de sua tristeza infinita.