O colchão era duro.

Não apenas duro, era quase como pedra. Karin acordava todos os dias com dor nas costas, mas isso não a impedia de dormir nele todas as noites. A dor despertava seus nervos, e como a instalagem era confortável - no bolso -, ela não deveria reclamar.

Talvez a ruiva tivesse alguma coisa com a dor.

No entanto, não foi somente o incômodo do colchão que a fez acordar de madrugada; para ser sincera, não doía. O que fez Karin despertar e passar o resto da noite sem dormir foi a ausência da dor, a falta de alguma irritação. E, como dito antes, ela tinha algo com a dor. Não era um vício ou um desejo, mas quase uma necessidade: ela precisava sentir algo, uma ardência no peito ou o arrepio de uma brisa gelada.

Uzumaki Karin tinha passado mais uma noite sem sonhar com Uchiha Sasuke.

Irônico, não? A única coisa que ela fazia era espalhar para os quatro cantos do mundo o quanto amava Uchiha Sasuke. Mesmo quando ele a tinha rejeitado, se rendido e voltado para Konoha, a ruiva acreditava firmemente que um dia ele cairia em seus braços - e assim trazendo aquela dor que ela tanto ansiava.

Passava o dia todo se esforçando para lembrar dele: comparava seus olhos aos pássaros negros que passeavam aqui e acolá; os tomates da feira ao sangue um dia escorrido em sua bochecha; as nuvens brancas eram como a palidez do peito que Karin tivera o privilégio de contemplar brevemente. Mas o sonho não vinha de noite. Não vinha dor, não vinha a ardência de uma ferida aberta. Apenas havia Karin, com a madrugada sem aviso de ventos, um armário empoeirado e um colchão duro.

Uma vez tinham dito à ruiva que lar era onde havia alguém esperando por você, e Karin esperava.

Ora, então por que Sasuke ainda não tinha voltado?

Sua resposta apareceu quando encontrou com Sasuke e sua redenção.

Não tinham exatamente se encontrado. A kunoichi apenas o visualizou, esparramado na grama de um bosque, alimentando um gato de rua com o seu almoço. Por causa disso, quase não o reconheceu. Aquele não tinha como ser Sasuke. O último dos Uchiha era frio e sanguinário; ansiava por mortes e sofrimento alheio. O nukenin apreciava o ato de dilacerar seus inimigos, cortá-los ao meio.

Aquele não era o Sasuke que ela tinha conhecido.

E, então, por um momento, Karin se deu conta do tempo. Os anos que tinham se passado desde quando o conheceu, um adolescente apático, sem emoções no rosto, mas cativante para qualquer um que o enxergasse. A Uzumaki lembrou de todos os altos e baixos do ex-desertor e de repente se sentiu tonta.

Ela viu Sasuke, sua katana e Danzo. Viu Sasuke, sua katana e seu irmão. Viu Sasuke, sua katana e Killer Bee.

Viu Sasuke, sua katana e a ninja médica de cabelos rosas. Porém, agora tudo que via era Sasuke e as luzes do pôr-do-sol que atingiam seu rosto, fazendo-o reluzir. A face numa tranquilidade que Karin antes considerava impossível.

Aquele não era o Sasuke que Karin estava esperando em seu colchão desconfortável, muito menos o vingador que a destruiria e reconstruiria todos os dias.

A dor que Karin tanto esperava morrera junto com o desertor por quem se apaixonara.