Gêmeos
Summary: "O que ele quer, cópia de mim - ou seria ele o autêntico e eu a cópia?"
Disclaimer: Eu nem sequer cito nomes, mas tudo bem... é tudo do Kurumada, não estou ganhando dinheiro com isso, não venham me processar!
Aviso, por via das dúvidas: Algumas alusões bem leves a yaoi, que um leitor desavisado pode nem encontrar.
Volto, depois de muito, pensando estar livre dele - no entanto, é o primeiro que vejo.
Observo-o, ainda distante. Meus olhos me enganam? Não, é realmente ele quem retribui meu olhar. Aproximamo-nos, tímidos.
Não me esperava. Pensava-me morto, como eu a ele. Nós dois havíamos nos esquecido da profecia que nos persegue: enquanto houver uma fagulha de vida em meu peito, igual fagulha arderá nele.
Agora estamos frente a frente. Quanto tempo, irmão? Dois anos? Quinze? Teríamos nos afastado desde nosso primeiro choro, mesmo criados juntos?
Tento tocar seu rosto, mas ele me rechaça com sua mão. A palma aberta segue a minha, lenta, indecisa, até que tocamos nossos dedos - frios como o vidro no inverno, os dele.
Permanecemos assim, palma contra palma, meu outro braço como o dele repetindo o movimento anterior. Estamos agora estáticos, olhando nos olhos um do outro.
"O que você quer, irmão?" Pergunto num sussurro. Os lábios dele voltam a pergunta para mim. Não sou capaz de ouvir sua voz. O que quer este homem, tão como eu? O que ele quer, cópia de mim - ou seria ele o autêntico e eu a cópia? O que poderia querer este ser que nasceu comigo, comigo se formou e que me há de seguir na travessia do Estige, em um último ato de mútuo egoísmo?
Como hei de saber, quando nem mesmo sei o que eu quero?
Quero chegar mais perto, beijar-lhe a face como há muito não faço, mas ele vira o rosto. Aos meus lábios oferece apenas os dele.
Recuso. Sei que não quero deixar tudo ainda mais difícil.
Olhamo-nos com raiva - ele do que não fiz, eu do que quase fizemos. Nossos olhares se desprendem por um momento, voltamos o rosto para os lados, para o chão. Mas a visão da figura dele, tão igual à minha, atrai com incomparável força meus pensamentos.
Ele, como eu, está triste.
Minha fronte busca apoio na dele; posso mesmo ver a ponta de seu nariz roçar na ponta do meu. Não há mais palavras a dizer, e há tantas... eu, que já o quis morto, agora queria apenas compreendê-lo. Este homem que sei que me odeia, que pensa que o odeio, mas que não sabe que, em verdade, o amo sem me esforçar para tanto.
Serão os pensamentos dele, neste momento, como os meus?
Afastamos o rosto. A mágica que unia nossos dedos se desfaz. Dou dois passos para trás, decidido a deixá-lo; ele faz o mesmo. Olho uma última vez para ele: seus olhos, no mesmo azul do meu, brilham com uma lágrima não liberta.
Mas algo nos diferencia. Ele sorri.
Nota da Autora: Só uma curta viagem em prosa poética - nenhuma pretensão a nada demais, serinho. Inspirado num miniconto da amiga e fanfiqueira Tendou Akane. Eu te odeio, sua maldita XD LOL!
