And then, all of a sudden...
Sinto um rasgo em meu peito. Palavra maldita, cuja significação há de me atormentar pra sempre. Existência maldita. Tento remendar minha dor com cuidado, todavia, torna-se impossível completar sequer um remendo – paro para ver tua tez pálida que tanto me delicia no contraste com teus cabelos rubros. Ouso, então, olhar tuas esmeraldas. Oh, como sinto falta delas! Jamais imaginará quanto teus olhos me fascinam ou como eu, humilde servo aos teus pés, queria poder voltar ao dia em que deixou de notar-me. Maldita palavra, cuja existência tomou a única coisa que tornara todos os meus anos úteis, todos os meus invernos em primaveras. A dor adormece – meu corpo fraco dar-se por vencido. Acharia eu estar morto se não fossem minha resposta ao teu cheiro, as palpitações constantes. Olho-te ao longo e noto que sorri o mais belo sorriso que minha medíocre existência foi capaz de captar. Amaldiçôo-me eternamente por não ser eu o destinatário dele. Amaldiçôo-me eternamente por ter desonrado a mais corajosa da morada de Griffyndor.
Por que? Por que você teve que resistir até o fim? Por que, simplesmente, não se rendeu, em troca de sua vida? Por que não se juntou a nós, criou teu filho e viveu com teu marido? Eu aceitaria, mesmo não sendo minha, preferiria ver tua tez pálida, teus cabelos rubros, tuas esmeraldas vívidas ao invés da carne fria, do vermelho desbotado e os olhos fechados. Mas eu compreendi. Desde sempre eu sabia da tua coragem e isto era uma das coisas que mais me encantavam em você. Uma verdadeira leoa. Tu não seria Lily Evans, caso fugisse. E se não fosse, eu não estaria condenado a amar-te para todo o sempre, como estou.
Foste malévola, Lily, pois mesmo no céu, ainda imagino-te sacudindo os cabelos e olhando em minha direção, imaculada e intocável, satirizando o fato de eu não poder ter tua doçura em minhas mãos.
Life stopped being interesting.
Passa-se em dois tempos distintos na visão de Snape: antes e após a morte de Lily.
Curta e pouco trabalhada, eu sei.
