Disclaimer: Star Trek pertence a Gene Roddenberry e a várias outras pessoas, e eu, infelizmente, não estou incluída nesse grupo. Escrevo essas histórias só pela diversão do shipp rs
Univeroso: Muito chamado de Abrams Universe, ele consiste nos dóis últimos filmes da franquia Star Trek ( Star Trek 2009 e Star Trek into darkness)
Avisos: É SLASH! Se você não curte dois caras se amando, pode fugir. Se curte, venk 3
Timeline: Pós Into Darkness, com a missão de cinco anos já começada. Bem no comecinho dela, na verdade.
N/A: Cá estou eu com mais uma spirk, cheia de amor pra dar, hehe. Essa história pode ser encarada como uma sequência da About death and frendship, mas você não precisa necessariamente lê-la pra entender essa e tal. A postagem dos capítulos vai ser feita com um intervalo de, em média, um mês. Eu sei que é muito tempo, MAS NÃO ME CRUCIFIQUEM, posso me explicar. Tenho duas betas, uma para julgar a fidelidade dos personagens aos originais (ver se eles não estão OOC e tal) e para me ajudar com questões psicológicas dos personagens (vou trabalhar com estresse pós traumático, e não queria falar nenhuma baboseira) e outra pra me ajudar com a questão da gramática. Tento escrever o mais rápido possível, mas também tenho minha vida. Trabalho, estudo, e tenho que ter um pouco de lazer (não que não me divirta escrevendo) e minhas betas também. Então, no final, a demora é pra que vocês, meus queridos leitores, tenham uma boa experiencia e possam aproveitar ao máximo a história :3
Ou seja, é tudo porque eu amo vocês 3 qq
Vou indicar uma musiquinha pra cada capítulo, só pra compor o clima. A desse é All I See, do Lydia.
Enfim, boa leitura, seus lindos 3
A escuridão no quarto era quase plena, com exceção do piscar de algumas luzes no painel de comunicação do quarto do capitão. O único som que cortava o silêncio era o tênue ranger da cama de Kirk, conforme seu corpo se jogava de um lado para o outro, inquieto em seu sono. Seus olhos estavam apertados, a expressão contraída em algo entre dor e angústia enquanto se movia involuntariamente, lutando contra os terrores de mais um pesadelo.
Seu embate continuou por longos minutos antes de finalmente acordar abruptamente, engasgando-se com um ofego. Seu corpo passou de deitado a sentado em uma velocidade impressionante, enquanto era tomado por um acesso violento de tosse que fez sua cabeça latejar. Os olhos azuis ainda estavam arregalados quando a tosse parou, e só voltaram a seu estado normal no momento em que sua respiração estabilizou completamente.
Quando se sentiu seguro o suficiente, o loiro deslizou suas pernas para o lado da cama, pousando seus pés descalços no chão. Estava gelado, mas ignorou o desconforto da diferença de temperatura. Havia suado tanto durante o sono que a havia uma marca úmida na cama com o formato de suas costas, e duvidava que o motivo fosse algo tão simplório quando calor. Apoiou os cotovelos sobre os joelhos e, arqueando as costas, escondeu o rosto entre as mãos, permitindo que um longo suspiro escapasse por seus lábios.
Já havia perdido a conta de quantas vezes acordara daquele jeito desde que a Enterprise começara sua missão de 5 anos, a pouco mais de um mês. Na primeira semana só aconteceu duas vezes, na segunda foram quase todas as noites, na terceira eram, de fato, todas as noites, e a partir da quarta passaram a ser vários episódios por noite. Eram sonhos diferentes, mas todos o faziam reviver as cenas mais terríveis de sua vida, de novo e de novo, fazendo-o ver o inferno sempre que fechava os olhos.
Alguns sonhos eram apenas memórias, como o que via as várias mortes que presenciara enquanto corria pelo caos dos corredores da Enterprise, mortes de seus tripulantes, sua família, pessoas que, como capitão, jurou proteger. Em alguns ele revivia apenas as sensações que sentira próximo a morte, e esses eram tão incrivelmente realistas que era comum acordar sem ar deles. Mas os piores ainda eram os outros, onde as memórias se misturavam com terríveis projeções de seu inconsciente. Nesses era comum ver Khan andando sobre os corpos mortos de toda sua tripulação, gargalhando em vitória, enquanto várias naves como a Enterprise caiam dos céus, em ruínas, e em algum lugar Spock o olhava com seus olhos de chocolate, com a mesma expressão triste que o olhara enquanto morria.
Um calafrio subiu por sua coluna ao pensar nos sonhos, um bombardeio das imagens mais perturbadoras de cada um deles tomando-o de supetão. Passou uma das mãos pelos cabelos úmidos nervosamente, sentindo uma pressão incômoda atrás dos olhos quando os pressionou, na débil tentativa de afastar as imagens. Abriu-os para a escuridão do quarto quando percebeu que não daria certo, deixando-os caírem sobre o relógio. Faltava pouco menos de duas horas para seu turno começar, precisava se recompor.
Levantou-se da cama, e o quarto girou. Suas pernas cederam e ele voltou a posição anterior, respirando fundo, esperando que isso ajudasse aquela maldita tontura a sumir. Demorou alguns minutos, mas passou. Ele tentou se levantar novamente, dessa vez um pouco mais devagar, e o quarto continuou no mesmo lugar. Tentou se lembrar da última vez que comera uma refeição inteira, e quando não conseguiu pensou que essa poderia ser a razão da tontura. Fez uma nota mental em relação a isso; tentaria empurrar quantidades descentes de comida goela a baixo, mesmo que ultimamente não tivesse a mínima vontade.
Na verdade, nas últimas duas semanas, não tivera vontade de fazer absolutamente nada. Aqueles pesadelos estavam sugando toda sua vivacidade, não tinha dúvidas. Mas apesar disso, ele ainda se empenhava para parecer consigo mesmo. Forçava o maxilar ao máximo para sorrirpara todos os tripulantes, fazia um esforço descomunal para se manter brincando com todos sem parecer falso, e pelo menos isso parecia fazer bem. Não podia deixar que sua tripulação visse seu capitão daquele jeito, não podia decepcioná-los, não tinha o direito de manchar a imagem que construíram dele.
Não era como se aquilo não o incomodasse, porque incomodava. Não era nada agradável mentir para todos eles. E estava mentindo para eles o tempo todo. Mentia quando tentava aprender esgrima com Sulu na sala de treinamentos, mentia quando se sentava na engenharia para jogar pôquer com Scotty entre os turnos, mentia quando se sentava á mesa de Uhura durante algumas refeições somente para lhe encher a paciência, e até para McCoy, enquanto fugia do assunto sempre que ele lhe perguntava sobre sua saúde, e a forma como estava lidando com o pós-morte.
Em meio a mais um suspiro, o loiro decidiu que era hora de começar a se arrumar. As pernas de Kirk se moviam meio vacilantes pelo cômodo, como se seus músculos ainda não tivessem acordado plenamente. Não demorou a chegar à porta do banheiro, e checando que o mesmo estava desocupado, entrou. Aquele banheiro era comum a seus aposentos e aos de seu primeiro oficial, por isso era equipado com sistema de segurança que se ativava sempre que um deles entrava no recinto, travando a porta de entrada do outro cômodo. A trava fora ideia de Spock, obviamente. Provavelmente o Vulcan, em todo seu pudor, não queria correr o risco de pegar Kirk com nenhuma peça de roupa a menos, ou vice-versa. Uma sombra de sorriso passou pelos lábios do loiro ao imaginar a expressão de Spock ao entrar o banheiro e o pegar nu; com certeza seu rosto iria ficar verde como um abacate, e ele não duvidava do outro nunca mais o olhar nos olhos.
Logo sua camisa de dormir e a boxer azul marinho que usava jaziam em algum canto do banheiro, e Kirk já estava enfiado no chuveiro. Fechou os olhos enquanto tentava aproveitar ao máximo aquela sutil sensação que a água quente proporcionava, afastando, por aqueles poucos minutos, toda a tensão de seus músculos cansados. Quando os abriu novamente, olhou de soslaio para a porta que dava aos aposentos de Spock. Pensou nos momentos que passavam juntos, e também se sentiu culpado por enganá-lo. Tinha vontade de contar àele sobre seus pesadelos, principalmente durante as partidas de xadrez, que agora quase faziam parte de uma rotina pra eles. Aqueles eram um dos poucos momentos em que conseguia distrair sua mente perturbada, onde se permitia se sentir confortável e relaxado.
Queria contar, mas sentia como se não pudesse. Havia tantas coisas que o impediam que era até difícil enumeras todas elas, mas a mais forte de todas, com certeza, era o medo. Kirk tinha medo da reação de Spock a tudo que sentia, tinha medo da forma que ele encararia isso. Ele sabia que não havia nenhum oficial melhor do que o Vulcan, e todo primeiro oficial deve primar pelo bem estar de seu capitão, e principalmente de sua nave. E se ele julgasse que o capitão não está mais em condições psicológicas de comandar a nave, o que sua lógica mandaria que fizesse?
– Merda. – Resmungou entre dentes, algo entre um rosnado e um murmúrio, enquanto deixava que sua testa de chocasse contra a parede do box. Por mais que tivesse aprendido a confiar em Spock, aquele não era um risco que ele estava disposto a correr. Não podia permitir que o separassem de sua nave, não agora, não depois de tudo. Ele não suportaria.
O pensamento o deixara tão tenso que nem a água quente estava fazendo mais efeito. Não se demorou no resto do banho, e logo já irrompia pelo quarto com uma toalha enrolada na cintura, separando suas roupas em cima da cama. Terminou de se secar e, após deixar a toalha em algum canto do quarto, começou a se vestir preguiçosamente. Olhou o relógio novamente enquanto terminava de acertar a camisa no corpo, constatando que ainda faltava cerca de 20 minutos para seu turno começar. Chegou a cogitar ficar um pouco mais no quarto, porém a ideia fora logo descartada quando percebeu que não havia muito sentido em esperar.
Estava prestes sair do quarto quando se lembrou que não havia comido nada. Voltou alguns passos, parando em frente a mesa ao lado do painel do computador. Não estava com a mínima fome, mas sabia que tinha que colocar algo no estômago, principalmente depois da tontura que tivera mais cedo. Depois de ponderar por meio segundo, replicou* uma maçã e um copo de vitamina de banana com chocolate. Acabou com a vitamina em poucos goles, deixando o copo sobre a mesa, porém deixaria a maçã pra comer no caminho da ponte.
Estava a dois passos da porta do quarto quando parou de andar. Os olhos azuis se fechavam enquanto enchia seus pulmões com a maior quantidade de oxigênio que suportavam. Por todo o tempo que aquela respiração profunda durava, ele fazia uma promessa silenciosa. Todos os dias, desde que os fantasmas de sua morte começaram a assombra-lo, ele fazia essa promessa. Todos os dias ele prometia que nenhum daqueles fantasmas afetariam seu trabalho, e todos os dias ele cumpria.
Quando os olhos azuis se abriram para enfrentar o corredor, não eram mais os olhos de quem vira o inferno todas as noites. Eram, agora, os olhos que todos queriam ver. Eram os olhos do de James T. Kirk, o orgulho da frota, o Capitão destemido que não tinha medo da morte.
Só que aquilo era apenas uma máscara, e o que Kirk não sabia era que ela tinha prazo de validade.
*O termo Replicador refere-se a uma máquina que as naves e casas possuem em muitos cômodos, como refeitórios e quartos, que faz réplicas de comidas com exatidão. Acho que ela não é citada nos últimos filmes, mas de vez em quando ela aparece nos episódios do TOS.
