Para Sempre, Ou Nunca. (por Mistress Alice)
1. Quando As Cores Se Tornam Cinza.
-Sinto muito, Gregory, mas já decidi, vou embora.
Observei ele levantar e ir embora de perto de mim, da minha vida. Para sempre.
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Ainda o ouço falando aquilo, ainda sinto a dor daquele dia, daquelas palavras, da expressão dele. Tudo. E faz um ano que eu não o vejo. Um ano de luta comigo mesmo, um ano de tristeza. Vê-lo ir, é como se fosse a morte, perdi algo de mim, que nunca mais vi, nunca mais toquei. Que apenas se tornou uma lembrança, e um fim que se tornou pesadelo.
Adocei, adocei, mas esse café continua amargo. Talvez não seja o café, talvez seja eu que tenha me tornado assim. E parece que não foi só o Amor que eu afastei de mim, meus amigos mal falam comigo... Não tenho tido vontade de dar risada com o Chesire, de ver a expressão meiga do Laimi sorrindo para mim. Ao menos, sem eu precisar me expressar em palavras ou com atitudes, a Brigitte compreende a minha dor, sei que a machuco por não querer a companhia dela como antes, mas ela mesma sente que eu deixei de ficar preparado para estar na companhia de qualquer pessoa que seja, há um ano. Já pedi perdão para ela, saudade daquela inocência doce.
Tenho saudade da minha vida inteira.
Como tem gente nesse Starbucks. Tanta gente, e só quero uma pessoa. Só ele.
Talvez... Seja drama meu demais, afinal, estou aqui, tentando tomar um café, lembrando que no dia de hoje, há um ano, minha vida acabou. E ele lá, feliz por não me ter mais para lhe causar dor. Se realmente existe equilíbrio nas coisas, esse é um equilíbrio extremamente cruel. Apenas por eu não estar tão feliz quanto ele.
Na realidade, não sei como saí do Castelo hoje. A minha real vontade era ficar trancado no meu quarto, chorando de dor até eu me acabar. Bom, definitivamente não é drama, é culpa. Mereço, mas não queria merecer.
Sempre fico pensando como é que ele está. Se ele superou o que sentiu por mim. Gregory, não seja idiota, é claro que sim! E é nessas horas que a consciência existe. Que droga.
Esse café está me deixando enjoado... Mas por fim, olhei em volta da cafeteria. Costumei fazer isso, sempre na falsa esperança de revê-lo, mesmo que de longe. Em alguns momentos, fiquei tão impaciente que quebrei a colherzinha de plástico que veio junto. Mesmo contra a minha vontade, é tedioso vir em um lugar como esse sem companhia. Suspirei e voltei ao café, que não estava nem pela metade.
-Aí está você! – Levei um susto ao perceber uma bolsa bater em cima da mesa que eu estava. Reconheci a voz, mas não senti prazer como antes ao reconhecer. Levantei o rosto e tentei sorrir, mas meus lábios me traíram.
-Boa tarde, Brigitte... – Encostei-me à cadeira, olhando-a com pouco caso enquanto sentava. Certeza que o sermão seria eterno. –O que foi dessa vez, meu bem?
-Boa tarde nada! Faz três horas que estou atrás de você, e nada de sentir seu cosmo. Ao menos, atende a droga do celular! – Ela estava realmente furiosa, mas por quê? Até onde eu sei, não existe motivo.
-Nossa, calma aí, Bri. Que estresse todo é esse? E além do mais, eu desliguei o meu celular, tirei o chip e escondi no meu quarto... – Deixei de olhá-la, não gosto de ver a expressão dela de decepção. Embora fosse algo difícil do jeito que ela estava agora.
-Típico! – Ela bufou. – Mas quero ir direto ao assunto. E- - Tive que interrompê-la, assim que voltei a fitá-la.
-Bri, desculpa, mas não vai me dar mais bronca, não é? Eu realmente não preciso disso hoje. - - Acho que fiquei surpreso dela me interromper.
-Deixe-me terminar, Gregory. – Gente, que fúria é essa comigo? Estou perdendo também uma amiga? Meu coração tá saindo pela boca, não vou agüentar.
-Ele voltou. – Permaneci olhando-a.
-Não estou a fim de pensar. – Como eu costumo dizer, nem agora, nem sempre. E ela virou os olhos, com muito pouco caso. –Ei. – Manifestei, isso já era maldade dela.
-Gregory, Fiodor voltou para o Castelo. – Ela falou pausadamente, como quem fala com uma pessoa mentalmente incapacitada. E eu senti meu corpo congelar diante do que ouvi.
-Brigitte, isso não tem a mínima graça. – Respondi da mesma forma, e sem pensar, senti minha mão no meu próprio peito. Eu havia ficado nervoso.
-Acha que eu caçaria você pelo centro de Munique para fazer uma pegadinha de primeiro de Abril? – Ela cerrou os olhos e eu engoli seco. Já sentia a dor da bolsa na minha cara.
Sinceramente eu quis dizer "sim". Mas ela carrega muita coisa na bolsa...
-... Falou com ele?
-Não... – Aquele suspiro dela, e o olhar de frustração me deixaram levemente decepcionado. -... Quer dizer, eu ainda não tive chance. O vi saindo do quarto dele, e logo Pandora o abordou no meio do caminho. Devem estar em reunião.
-Huuum. – Expressei, demorando mais tempo que necessário para resolver o que eu faria agora.
-"Huuum" é só o que você tem para dizer? Então terei que arrastar você para fora daqui e de volta para o Castelo?
-Vamos. – Falei logo em seguida que ela fez a pergunta. Inclusive, a peguei pelo braço e saímos do Starbucks. Como eu já havia pagado, então não precisei dar satisfações lá dentro. – A gente se encontra lá.
Senti ficar mais animado com a notícia. Embora, o medo dele ainda me rejeitar, não querer me olhar na cara, ainda me consumia. Demais. Mas a ansiedade e o nervoso se misturavam em cada segundo que passava. Então, deixei Brigitte no carro dela, e ela veio atrás de mim.
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Subi as escadas numa pressa que nem toda a energia da cafeína poderia me proporcionar. E fui direto para o quarto dele, quis ter a certeza de ver malas, bagunça, de ver o quarto dele de volta como antes. Nisso, meu coração já pulsava no meu corpo inteiro. Talvez meu coração quisesse explodir pela alegria dele ter voltado.
Abri a porta, educadamente, caso ele tivesse voltado. E como eu sabia que ele não trancava a porta, então nada me impediu. Mas aquela onda de decepção me tomou novamente, nada dele. Mas a boa notícia é que ali ainda estavam as malas, sem serem desfeitas. Acabei dando um sorriso, finalmente. Mas fechei a porta, depois de sentir algum cosmo se aproximando de onde eu estava, então disfarcei e fui até o meu quarto.
Mas eu não queria ficar no meu, estava ansioso demais para vê-lo. Talvez Pandora esteja ainda em reunião com ele... Boa! Saí de novo. Não ia ficar sossegado.
Foi nesse momento que meu coração doeu de saudade... Ao vê-lo no fim do corredor.
Fiodor. Na realidade, queria dizer isso, mas eu me sentia tão nauseado por enfim, encontrar com ele, que pela primeira na minha vida... Eu não sei como agir.
Os segundos estão passando, e nós dois só trocando olhares. Ele não vai falar nada? O ódio é tanto? Só queria um "oi", um aceno de mão, de cabeça... Qualquer coisa para eu perceber que ele ainda me vê. Sinto que meus olhos estão ficando úmidos. Na atual situação minha eu realmente queria chorar.
Foi então que entrou no quarto dele. Ao menos ainda tenho um chão para desabar.
-Gregory? – Ouvi a voz da Bri novamente, mas não consegui me virar para olhá-la, só me senti frustrado o suficiente para abaixar a cabeça. E então, ela tocou no meu braço.
-... Ele tava ali... E não falou comigo. – Depois de sentir o toque dela, me virei e a abracei, e só ouvi a bolsa dela cair no chão.
Ela retribuiu o abraço, me apertando o mais forte que podia. Principalmente depois de ela ter percebido que eu havia começado a chorar.
-Calma... Acho que ele deve estar esperando uma oportunidade melhor para abordar você. Um momento em que ele não tenha afazeres dos mestres... Só isso.
-Ou pode ser o ódio que ele sente de mim e já desencanou. – Senti os dedos dela me fazerem carinho nos meus cabelos que acabei por deixarem crescer nesse tempo todo.
-Eu... Não acredito que ele possa ser tão frio assim. Ele amava muito você para poder te ver e te ignorar.
Então me afastei, pois para mim, ouvir aquilo foi de certo, um absurdo.
-Brigitte, ele sumiu por um ano. Se ele me amasse tanto assim, não acha que teria me dado uma chance ou qualquer coisa do gênero...? Ou ao menos tivesse mandado uma mensagem, respondido o email que eu mandei para ele... – Não fui grosso, só estava mais frustrado, decepcionado por tudo ter ficado ainda pior naquele instante.
-Eu sei. – Ela se abaixou para pegar a bolsa, e pela expressão, deve ter achado grosseria minha responder daquele jeito. – É que vocês passaram por muita coisa. Ainda acho que isso foi um tempo para ele pensar. E inclusive, você mesmo. – Ela me olhou, de mãos na cintura e estava séria. Isso definitivamente foi uma repreensão dela. Acabei suspirando e deixando de olhá-la.
-Será que foi só "um tempo"? Mas precisava ser um ano? Eu dava 24 horas... Sete dias... Mas um ano? – Tentei fazer certa graça, mas para mim não foi engraçado. E nem para ela.
-Se você esperou e um dia ele apareceu, acho que o tempo vai te responder tudo isso. Acho que posso puxar uma conversa com ele. Mas quando ele foi embora... Não estava contente comigo também.
Existe muito sentido no que ela disse. E isso me animou um pouco, foi uma possibilidade que eu não havia pensado... E senti uma esperança surgir em mim.
Só espero que não seja uma falsa esperança.
-Vamos ver como os próximos dias irão surgir, Bri...
Depois que falei com a Brigitte, o resto do dia foi muito calmo, apesar do que acontecia dentro de mim. Ah, e o fato de que não vi mais o Fiodor até a hora que eu fui dormir.
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Hoje, eu tinha o dia livre. Não era folga, mas não teria aula obrigatória, e sendo assim, acordei e nem tomei café da manhã, estava sem fome. Apenas me troquei, pus em uma bolsa uma toalha, e uma troca básica de roupa, e assim desci para a piscina.
E eu achava que as coisas não podiam piorar.
-Alguém resolveu cair da cama hoje.
Naquele instante, a minha maior vontade era de falar uma dúzia de palavrões. Mas não, decidi por ignorar umas coisas na minha vida, já chegam outras, e a Verônica era uma.
-Resolvi aproveitar. – Continuei meu caminho até a piscina.
Então, ela se pôs bem na minha frente. Poucos metros até a água, você não tem o que fazer não?
-Eu só queria compartilhar a novidade. Ninguém melhor do que você para saber disso.
A olhei com muito, mas muito pouco caso. Ela parece uma galinha falante. Daquelas bem chatas mesmo.
-Qual novidade... Verônica? – Não estava nem um pouco interessado.
Vi os lábios dela se abrirem num sorriso enorme. Fiquei um pouco desconfiado daquela extrema alegria.
-O Fiodor pediu para voltar comigo, ontem à noite. – Nisso, ela jogou os cabelos louros para trás.
Fiquei chocado em ouvir aquilo. Desviei o olhar, não quis que ela percebesse que aquilo mexeu comigo, demais.
-... Se for verdade, fico feliz por vocês. – Dei um sorriso rápido, e caminhei, passando por ela de cabeça baixa.
Acho que ela não se satisfez com a minha reação.
-Me enganei, achei que você ainda gostasse dele. – Senti a voz dela confusa.
-... Porque eu deveria? Acabou faz um ano, acho que não existe mais nada o que sentir. – Eram palavras que eu realmente deveria seguir, e agora, para a minha própria sanidade.
-Ah, é uma pena. Sinto muito. Até porque eu ia dizer que ele sentiu saudade daqui e de você.
Levantei a cabeça e por um momento, me senti reconfortado com aquelas poucas palavrinhas. Mas como vinham dela, permaneci de costas, sem deixar que Verônica percebesse quaisquer reações minhas.
-Acho que eu duvido um pouco. Se ele disse que sentiu saudade minha, porque ele diria isso para você, enquanto reatavam?
-Porque eu perguntei. Afinal, deixei de acreditar a muito tempo na possibilidade dele me enxergar em algum momento.
Queria saber por que ela passou a ser bem menos sarcástica no que estava dizendo. Agora, eu não compreendo mais nada. E minha esperança de antes, se confirmou em ser falsa. E por fim, me virei e a olhei, deixando de me importar como ela me veria naquele momento.
-Querida, corta o papo. Você já veio, já jogou na minha cara que ele quer você e não a mim. E outra, pára de querer me reconfortar inventando palavras dele, tá bem? E por favor, eu gostaria de ficar sozinho. – A olhei, muito bravo. A gozação já não tinha mais graça.
Ela levantou um pouco as mãos, como se fosse culpada, percebi que ela me olhava surpresa.
-Tudo bem. Um dia, você vai acreditar em algo que eu tenha dito. Mas saiba que será muito tarde, Gregory de Gembu. – Acho que ela ficou ofendida, acabou por virar-se e ir embora.
-Obrigado, Hades. – Clamei, comigo mesmo.
Agora além de tudo que eu sentia, percebi que a dúvida procurou um lugar dentro de mim. Será que ele voltou com ela para me fazer ciúme? Será que foi para me esfregar na cara o que eu fiz? Será que o sentimento todo realmente acabou e agora ele está seguindo com a vida?
Tantos "será" na minha cabeça. Ela está começando a doer com isso.
Preciso de um pouco de paz. Desci até aqui, e não vou voltar para o meu quarto.
Se ele realmente decidiu por seguir a vida dele, está na hora de eu fazer o mesmo. O problema é: será que eu consigo?
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Notas da autora:
A idéia original consistia em ser uma fanfic de capítulo único. Mas pensei, pensei e ficaria uma história praticamente que resumida, e como está sendo um pouco trabalhoso usar a personalidade de um personagem que quem na verdade usa e joga é uma amiga minha, então decidi que se for para usá-lo, usaria direito. Portanto, ficou e ficará mais desenvolvida e irei mantê-la dramática.
Inclusive, pensei em fazer duas versões deste capítulo, adiantando a aparição do Espectro de Mandrágora. Talvez eu faça e poste como extra na mesma fanfic. E também, pensei em usar música aqui, mas fica para a próxima.
Para esclarecer: Dentro dos parágrafos, as frases do Gregory em itálico são seus pensamentos. E falas em itálico referem-se ao passado, são flashbacks. Usarei esse esquema por toda a história, e é bem possível para deixar claro muitas outras coisas, que poderão haver outros flashbacks, mais longos.
E caso eu use música, serão trechos traduzidos em negrito.
E como de costume, meus títulos são inspirados em nomes de música. Neste, o título provém de Forever Or Never [Cinema Bizarre] e Frozen [Celldweller].
Disclaimer: Saint Seiya, os personagens aqui citados, e o cenário são propriedade de Masami Kurumada e Shiori Teshirogi, encontrados também no mangá Lost Canvas. Com exceção do nome Brigitte, que possui dona e não pode ser usado sem permissão da escritora: Elisa Suyama. E sim, a Brigitte é um Espectro criado pela mesma escritora, portanto não usem sem permissão dela!
