Autora: Dark K
Ship: TG
Gênero: hurt\comfort
Classificação: K
Observação: A fic não tem nenhum pov de cunho romântico, e o pov é do Arthur.
watershine
Eu já não ouvia o som da infância.
Risos e brincadeiras repentinamente eram o som do passado e os olhos iluminados perdiam a luz, como brasas apagadas pelas cinzas que haviam se tornado o tom exato da pele da minha pequena, minha filha, minha vida.
Já não a ouvia rir, já não a ouvia falar e seus olhos já não dançavam como antes, não doces, não inflamados, sua voz alta e aguda já não reverberava pela casa e eu já não sabia mais o que fazer.
Já não sabia mais se havia algo para fazer. Algo em minha filha havia se perdido para o monstro que morava dentro das páginas do diário, e a última vez que a vi chorar foi no dia em que Harry e Ron a trouxeram de volta à vida.
Ela já não chorou mais, ela não viveu mais.
Minha filha já não sentia mais.
Naquele verão em que o sol não dava espaço à chuva, em que não se via as nuvens cinza no céu, tudo que havia em nossa casa parecia ser tocado pelo véu negro que Tom Riddle representava.
O silêncio na casa só era quebrado pelo meu olhar para a minha filha, que parecia nem mesmo estar ali, seus cabelos flamejantes encostados na poltrona onde ela estava sentada, o livro aberto em seu colo há tanto tempo no mesmo lugar que era enervante, e seus olhos fixos na janela por onde a luz do sol se infiltrava sem ser convidada.
O silêncio e a solidão de estar presente para ver o sofrimento da pessoa que eu mais amo no mundo e não poder fazer nada para ajudá-la.
O vento que aumentou sua força, forçando sua passagem entre as cortinas da janela, fazendo-as balançar sem ritmo e tocar o rosto dela, minha Ginny, que levantou o olhar e fechou os olhos, como se viva pela primeira vez. As nuvens que se fecharam no céu, o cinza chumbo agitado tomando o lugar do amarelo contente, as primeiras gotas batendo contra os vidros e os pequenos passos descalços dela em seu vestido de verão, indo até a porta e parando ali, contemplando o milagre da água que caía.
Seu primeiro passo na terra, descalça, olhos fechados enquanto a chuva caía, encharcando-a, e eu pensei em adverti-la a entrar até ver seu sorriso. O primeiro em tanto tempo, tantos dias, um sorriso leve, tão diferente da chuva que caía sobre ela, forte.
E o sorriso que transformou-se em riso conforme seus braços erguiam-se acima da sua cabeça, em um giro despreocupado e inocente, a água que escorria em seus cabelos e a fazia gargalhar aos poucos, a água que lhe devolvia a vida na dança da chuva que lhe trazia liberdade.
Limpa e purificada como que por magia, minha filha me encara e eu sei que ela jamais vai esquecer do que passou, mas vejo que ela quer, pela primeira vez, melhorar.
E saio na chuva com ela, com meu bebê, a jóia mais preciosa que eu jamais poderia ter, dando-lhe a mão, enquanto ela gira na água, sujando mãos e rosto e cabelos, e eu rio com ela.
Minha filha não é mais quem era, mas está livre para escolher um caminho.
E tudo que eu quero é que ela seja feliz.
.fim.
Essa fic estava aqui há ERAS, simplesmente, e eu esqueci de postar. Well.
R E V I E W !
