N/A: Ficlet pro projetos Soulmates Never Die, do seis vassouras. Feita com a música "From Where You Are", do Lifehouse, e eu recomendo ouvir enquanto ler.
Lifetime
Faz muito tempo.
Ela sente os cabelos longos se espalhando enquanto se deita. Ela sente frio. Sente falta do sorriso dele. Faz muito, muito tempo, e não tem como saber onde ele está, não, porque ele está em algum lugar salvando o mundo bruxo e condenando a si mesmo no processo, porque é isso que Harry faz, foi por isso que ela se apaixonou por ele.
(E se apaixonou por ele há tanto tempo; por que, afinal? E sequer sabe responder.)
Ela pensa nele. Ela espera que ele se lembre dela, mas no fundo prefere que não, porque a idéia de que ele lembra e simplesmente prefere não voltar dói demais, apesar de ser verdade. E ele pensa sobre ela, e ela pensa sobre ele, e é fato que os dois estiveram prestes a morrer, não foi? De maneiras diferentes, mas estiveram.
Ela pensa na Guerra. Não é original, no fim das contas, todo mundo pensa na Guerra, o tempo todo, eles só gostam de fingir que não, gostam de fingir que tudo ainda está bem, porque ninguém pensa que ela entende. Eles não querem machucá-la e por isso fingem, porque eles não sabem o quanto dói. Eles não sabem que ela está sangrando por dentro.
(Porque ela nunca deixou escorrer, de qualquer modo.)
Ela fecha os olhos e quando fecha os olhos vê o sorriso dele, vê a risada dele, vê Harry corando depois de ser pego observando-a num treino de quadribol e por alguns segundos, pensa que está tudo bem, que nada mudou. E ela abre os olhos e vê os cabelos negros despenteados dele cobrindo a cicatriz, a cicatriz que determinou vidas, que determinou o mundo inteiro, e ela se lembra de como aqueles cabelos são macios, como é bom enfiar as mãos no meio deles e mexer por todos os lados porque não faz diferença, afinal, ele está sempre uma bagunça mesmo. E Harry está sempre uma bagunça mesmo, e eles costumavam rir disso, e ele terminava com um daqueles sorrisos tristes que eram sua marca registrada. Faz tempo que ela não o vê sorrir – faz tempo que ela não o vê. Faz muito, muito tempo. Porque em vez disso está vendo mortes e sangue, e notícias de ataques saindo a todo momento no Profeta Diário e talvez ele seja o próximo, talvez já tenha sido, por que não? E pensar no quanto de sangue e mortes ele viu, e o ponto positivo é que estão vendo a mesma coisa, estão do mesmo lado, deviam ser capazes de se tocar, não deviam? Mas não o fazem porque estão ouvindo gritos, estão ouvindo feitiços, estão sentindo medo e precisam fingir que não, que está tudo bem, que são fortes e não se incomodam. O ponto positivo é que sabem que são fracos. E ela sente falta de lhe dizer isso, e de ouvir isso, e de simplesmente ouvir a voz dele gaguejar besteiras românticas mal-decoradas no seu ouvido de noite. Faz tanto tempo que não ouve isso. Faz tanto tempo que não o ouve.
Tanto, tanto tempo.
E agora deita na cama e pensa nele, e pensa que o ama, e ele também está deitado em algum lugar distante agora, ela sabe, e ele também pensa nela e pensa que a ama, então é uma pena que os dois não possam estar juntos. E ela estende a mão e toca o rosto dele e ele a puxa até encontrar seus lábios, e os dois se tocam e sentem vontade de chorar, e ouvem os gritos e vêem as mortes e o sangue.
(Faz três anos que a Guerra terminou.)
E os dois se encolhem com medo e com frio um no outro, e em vez de ela chorar ele chora, e ela sente o gosto salgado das lágrimas dele e pensa em um dia tocá-lo, em um dia enxugá-las, se eles se encontrarem novamente.
