Ponteiros desajustados
Capítulo 1
Num dia qualquer, um homem andava pelas ruas de sua cidade agitada. A maior parte das pessoas provavelmente não sabia, sequer desconfiava que ele era mais do que um homem. Ele era o homem.
Seu caminhar ereto revelava parte de sua imponente personalidade, tal como o olhar firme. Seus trajes sociais demonstravam algo sobre seu trabalho ou talvez status.
Com apenas vinte e sete anos, tinha seu talento completamente reconhecido. Algumas línguas mais afiadas diziam que suas conquistas se deviam meramente aos laços de sangue. É claro, todos suspeitariam disto, trabalhando ele num dos altos cargos da empresa do tio. Entretanto, qualquer um que conhecesse tanto tio quanto sobrinho poderia facilmente perceber que qualquer destaque sem talento era algo que não cabia naquela relação de parentesco.
Isso era o que a maioria das pessoas sabia sobre ele. E era assim que ele gostaria que continuasse. Se seus modos e trajes dissessem algo sobre ele, se seu talento dissesse algo sobre ele, estava ótimo. Pois ele mesmo jamais diria algo sobre si mesmo.
Ou era isso que ele pensava.
Neji era um homem sério e competente, que prezava sua descrição acima de muitas características.
Quem o conhecia mais cotidianamente sabia se tratar de um homem praticamente ilegível. Não falava sobre sua vida pessoal. Aliás, mal falava. Somente o suficiente.
Infelizmente, para ele, hoje aquilo estava para mudar.
Suas primas, filhas do mesmo tio para o qual trabalhava, também trabalhavam em sua empresa e cada dia estranhavam mais o silêncio e o afastamento dele. Aquilo, na verdade, não o importava, mas importava a alguém.
Hinata era pedagoga e cuidava da creche da empresa – não era bem o que seu pai sonhava, mas ao menos estava sempre por perto para entender a dinâmica da companhia.
Hanabi e sua personalidade explosiva eram responsáveis – por designação do pai – por um setor que, a rigor, não existia. Sua função era basicamente vigiar todos os demais setores e funções, mantendo os funcionários na linha. Incrivelmente, ela era eficiente como ninguém.
Com personalidades e responsabilidades tão contrastantes, não era de se admirar que o pai das moças, Hiashi, se assombrasse com os assuntos em que ambas concordassem, dando prioridade a eles.
O caso de Neji, para seu infinito desagrado, era um deles.
Até onde ele sabia, as duas vinham infernizando Hiashi sobre Neji. Diziam que o primo havia mudado demais desde a infância, que estava ficando muito soturno, que aquilo ainda viraria um problema, talvez até para a empresa. Quando chegaram àquela parte em especial, Hiashi não pôde mais resistir.
A conclusão daquela terrível empreitada é que lá estava ele, Neji – uma das cabeças que geria verdadeiramente a empresa –, dirigindo-se ao setor de recursos humanos, para se encontrar com algum dos psicólogos da empresa.
- Ao menos tenho sorte de não terem conseguido me mandar para um psiquiatra – resmungou para si mesmo. Pensava se era possível ser transferido para outra cidade e se livrar das picuinhas das primas contra si.
Claro que não conseguiria. O tio nunca permitiria que ele se afastasse do centro das operações. Ali era o cérebro. Não importava quanto a empresa se espalhasse e pulverizasse sedes em outros lugares, continuava sendo naquele lugar que o poder se concentrava.
O prédio da empresa era realmente enorme e ele precisou se deslocar diversos andares para chegar ao seu destino – e mesmo no andar certo precisou se mover bastante até chegar à sala correta.
Seu secretário fora completamente enfático sobre o nome da psicóloga com quem conversaria. Disse-lhe que a mulher da recepção daquele setor estava ali em treinamento ainda, não estava interada de tudo e, certamente, o mandaria para a sala errada.
Porém, Neji suspeitava que o motivo fosse outro. Se ele falasse com a moça da recepção, ela indicaria para ele qualquer pessoa que quisesse e estivesse disponível. Mas aquilo com certeza ia contra o plano das primas.
Hinata, desde que estagiara num outro setor da companhia do pai, frequentava a sala da mesma psicóloga. E tanta fora sua insistência que Hanabi também passara a visitar religiosamente a mulher.
E ele seria o terceiro da família a se enfiar naquele buraco.
Sem muita dificuldade – ou vontade – chegou à porta da mulher. Leu na placa "Mitarashi – Psicóloga". Não se animou muito, mas bateu mesmo assim na madeira escura.
- Por favor, entre! – Respondeu uma voz distante no interior do cômodo.
Ele obedeceu e, para sua surpresa, não havia ninguém ali. O ambiente não era grande, mas era bem organizado e planejado, dando a sensação de ser maior do que realmente era. A parede exatamente à sua frente era o local onde se encontrava a janela – não muito alta, mas larga e com uma bonita vista do horizonte infindável da cidade. Contra a janela estava a escrivaninha e a poltrona de sua "médica". Havia em ambas as paredes laterais estantes, com livros, enfeites e "objetos inusitados" – como ele classificou, entre outras coisas, um bichinho de pelúcia amarelo. Não havia fotos.
A contemplação do ambiente e o espanto de não encontrar ninguém na sala logo se desfizeram, quando a mesma voz que o mandara entrar lhe deu ordens através de outra porta:
- Sente-se aí no divã. Parece clichê, mas é confortável à beça.
Ainda menos animado do que quando entrara, ele se "sentou", ficando de costas para a escrivaninha da "voz" e com os olhos fixos no teto.
Em poucos segundos, ele ouviu a porta abrir e os passos firmes e pesados da psicóloga em direção à mesa:
- Desculpe por não receber o senhor como se deve, jovem Hyuuga, mas a pessoa que esteve aqui antes do senhor acabou – como posso lhe explicar? – se excedendo. Precisei trocar as vestes – justificou-se em tom despojado.
- Não me importo – disse seco.
Não esperava que ela risse, mas ela riu.
- Não muito animado, não é? Muitas pessoas também não se animam. E, pelo que suas primas me disseram – fora do período de consultas -, o jovem senhor não se animou mais do que a maioria. Ouso dizer que se animou até menos.
- A senhora está certa, senhora Mitarashi – respondeu, sem sentir vontade de olhar no rosto da interlocutora.
- Não sou casada e não quero, portanto, que me chame de senhora. Bem, ao menos estou feliz que esteja sendo sincero. Costuma dar trabalho lidar com pessoas que mentem, mas não falemos disso.
Ele ouviu quando ela se serviu de um copo de água. Deve ser por falar tanto, ele pensou acusadoramente.
- Agora, jovem Hyuuga – disse, assustando-o, num tom gélido e profissional -, pode me dizer o que o traz a mim.
Neji pensou uns instantes no que a médica pedira e chegou a uma resposta que não a satisfez:
- O que me traz aqui são duas mulheres implicantes, que me atormentaram e ao meu tio também, fazendo-me estar aqui em seu "maravilhoso divã cor púrpura".
- Jovem Hyuuga, você é mais inteligente que esta pergunta – respondeu suave.
Então, a moça respondia rispidez com suavidade.
- Eu não sei o que me trouxe até você que não seja a vontade das minhas primas.
- Bem, então, vamos facilitar as coisas para o senhor, já que nosso tempo é escasso.
- A senhorita dispensa ser chamada de senhora e eu dispenso ser chamado de senhor – interrompeu.
- Como preferir, jovem Hyuuga, mas, neste caso, serei obrigada a chamá-lo informalmente e a fama de sua seriedade e profissionalismo o precede.
- Não importa.
- Muito bem, então, como eu dizia, vou facilitar as coisas para você. Suas primas – mais uma vez fora do horário de consulta – disseram várias vezes que sentem falta da pessoa que você foi quando criança. Já que está aqui pela vontade delas, é disto que trataremos.
- Qual é seu método? – Perguntou repentinamente.
- Eu escuto.
- Vai me deixar falar o tempo todo?
- É praticamente isso. Vez por outra possa confrontá-lo com perguntas, mas eu diria que todo o trabalho será feito por você.
- Qual a utilidade disso?
- Autoconhecimento – respondeu simplesmente.
- Sei...
- Jovem Hyuuga – chamou-o.
- O que é?
- Não estamos aqui para falar dos meus métodos, mas do que ocasionou a sua mudança de "gênio".
- E o que quer que eu diga?
- Pode começar me falando de quem era você na sua infância.
Neji não gostava de expor sua vida, não se sentia à vontade fazendo aquilo, mas a voz de sua psicóloga tinha um quê de persuasão. Ele simplesmente não pôde resistir e começou a falar, como há muito tempo não falava.
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Olá, pessoas.
Eu levei séculos, mas finalmente consegui terminar mais uma fanfic. Não é nada espetacular e nem é muito longa, mas espero que gostem. Tentarei organizar os capítulos de forma mais decente, porque, do jeito que eles estão de verdade, vai ter caps. com menos de uma página (este primeiro, por exemplo, de fato são dois, exatamente por esse probleminha).
Bom, falando no primeiro capítulo, eu sei que ele não tem nada de mais, mas eu acho que não sei fazer capítulos de introdução que sejam emocionantes ou coisa assim. Só posso sentir muito e torcer para conseguir me redimir.
A classificação da fic é T, mas no geral não tem coisas muito pesadas, foi mais uma precaução. Em capítulos mais para frente há sugestão de temas mais "complicados", mas procurei não fazer nada explícito (é demais para mim x.x)... Espero não causar constrangimento a ninguém.
Creio que fiz uma revisão mais decente desta vez, mas nunca se sabe quando a incompetência vai aflorar. Qualquer coisa, estou aberta a críticas, mas com delicadeza, tá? Não vale esculachar!
Enfim, obrigada àqueles que leram e vierem a ler ^^.
Besos&AtéBreve
