Baseado em um sonho que tive em 2008
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Theory of Noything
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I
Fim
"Porque tu és pó e ao pó hás de voltar." - Gênesis 3:19
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Estive a pensar ao longo do tempo como contaria uma história.
E qual história deveria contar.
Assisti a tantos descobertas sem razão. Tantas guerras sem valor. Tantos casamentos sem amor. Tantas mortes que não tiveram vida.
Já vi de tudo nessa vida e morte.
Vi o homem nascer do útero de um chimpanzé, Eva comer o fruto, Prometeu fugir com o fogo. Presenciei Jesus se sacrificar, Maomé fugir, Lutero desobedecer. Acompanhei Alexandre conquistar um povo, Julio César tornar-se Otávio, Ciro dominar uma terra. Estava lá quando Carlos Magno se curvou, quando Papa Urbano II empunhou a espada do Rei Artur, quando Os Lusíadas desafiaram Poseidon. Vi Napoleão cair, George Washington se levantar, Sebastião tornar-se santo. Andei ao lado de Mandela, chorei com os palestinos, senti fome com Gandhi. Fui eu quem contou os mortos de Hitler, quem socorreu as vítimas de Stalin, quem se lembrou dos esquecidos dos Aliados.
Quantas vidas contaram a você, histórias de Glória, de Salvação, de Esperança. Mas a minha história ultrapassa a todas, pois ela contará a história de todos.
Será que devo contá-la para ti mortal ou imortal que lê meu monólogo? Será que devo confiar-lhe meus segredos? Meu passado, presente e futuro...?
Talvez dez pessoas leem aquilo que minha razão vos descreve.
Provavelmente menos... Mas está tudo bem.
Um segredo só funciona se todos aqueles que sabem estiverem mortas. Mas não te preocupas, caro leitor, pois sua morte já está definida e não há nada que Eu possa fazer.
Está sentenciado, assim como eu e todas as figuras ilustres que tiveram a vida narrada em papéis.
Minha história? Alfa e Omega, o princípio e o fim, o que era e o que há de vir: é o que vou lhe contar.
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21 de dezembro de 2012, 23h47min
Campos próximos a Jerusalém, Palestina
"Eu vi quando o Cordeiro abriu o primeiro dos sete selos, e ouvi o primeiro dos quatro Seres vivos a dizer com voz de trovão: 'Vem!'. Vi então um cavalo branco. Seu cavaleiro tinha um arco, e deram-lhe uma coroa. Saiu vitorioso e para vencer mais a ainda."
O exército inteiro estava lá.
Homens e Mulheres. Deuses e Deusas. Animais. Seres. Heróis e Vilões.
A batalha seguia ardente. O campo de batalha era cercado por violentas chamas que queimavam com ódio a terra. Não havia escapatória.
Tudo estava destruído. Era um descampado sem vida, exceto pelas almas que estavam lá guerreando. O pouco do céu visível por entre as fumaças negras estava púrpuro, o Sol era imenso e vermelho pairando no horizonte a leste, e contracenando a oeste brilhava a lua cheia, com todas as suas crateras mortas.
A Água Fora manchada de sangue, a Terra estava envenenada pelos fluidos dos corpos, o ar tornava-se pesado pelos vapores consumados pelo fogo. E o Fogo destruía a tudo, inclusive a si próprio.
Os que batalhavam? Gritavam em plenos pulmões. Agarravam com todas as forças a chama de suas vidas. Levantavam, caiam, levantavam e caiam. Até o último suspiro. Cambaleavam, amaldiçoavam, lutavam.
Os que morreram? Seus corpos estavam lá, espectadores de uma batalha que jamais deveria acontecer. Seus olhos vidrados guardavam imagens que ninguém jamais deveria ver. A pele queimada pelo suor. O rosto petrificado amaldiçoavam tudo o que viam.
Suas almas? Não há alma, nem espírito ou energia que sobreviva sobre os campos que um dia jorraram leite e mel.
Haviam homens no céu que detinham asas. Algumas asas eram macias e brancas. Outras asas eram duras e negras. Eles batalhavam entre si, fazendo o Céu azul sangrar e transformar-se em vermelho vivo.
Haviam homens na terra que tinham armaduras. Algumas armaduras eram brilhantes e douradas. Outras armaduras eram opacas e acinzentadas. Eles batalhavam entre si, fazendo a Terra verde e o Oceano azul sangrarem e transformarem-se em vermelho vivo.
Haviam homens no inferno que não tinham nada. Não havia guerra nem sangue. Os homens se amavam, abraçavam uns aos outros. Buscavam Luz. Calor. Amor. Cura. Comida. Água. Ar. Vida. Fazendo o inferno vermelho vivo transformar-se em dourado.
- Não há como vencermos isso. - o corpo ensanguentado do rapaz apoiava-se em uma foice.
- Vamos destruir esse lugar. - Falou a moça negra. - E levá-los junto conosco para o inferno.
- Convoque-os. - e dizendo isso, o rapaz ergueu seu pingente em forma de cruz sujo de sangue.
-... Não há escapatória. - a outra jovem suspendia o corpo em uma rocha e em uma espada.
"Eu criei o Alfa."
"Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo Ser vivo dizer: 'Vem!'. E apareceu um outro cavalo, vermelho, e ao seu cavaleiro foi dado o poder de tirar a paz da terra, de modo que os homens se matassem uns aos outros. E foi lhe dada uma grande espada."
Um jovem segurando um rosário ajudava uma mulher que pouco respirava, segurando-a e protegendo-lha, mas ainda detinha nas mãos frouxas uma katana.
- Faltam dez minutos. Não vai dar tempo... Precisamos pará-los e...
- Se destruirmos esse lugar, sentenciaremos toda vida que há. - falou o jovem louro.
- E se não destruirmos... Eles o farão. - a moça respirava com muita dificuldade. - E consumirão a tudo que existe. Tudo o que fizemos será...
Ela se calou quando raios começaram a cair do céu, iluminando a todos com uma luz mórbida. O cheiro de enxofre intensificava-se e poeiras levantavam do chão.
- Se destruímos esse planeta e leva-los junto para o Tártaro, então daremos a oportunidade de outro planeta, em alguma parte desse universo, gerar vida. - Um homem moreno apareceu atrás do casal - É nossa única chance.
- Onde ela está? - a moça desvencilhou-se dos braços de seu apoio e foi até o homem que falava. - Onde estão todos?
- Está viva. Os outros também estão, mas não por muito tempo. - voltou seu olhar ao outro. - Compreende nossa situação, não é mesmo?
Os três olharam para o Sol que morria lentamente no horizonte. Haviam inúmeras estrelas que brilhavam com tamanha intensidade que elevava a temperatura, secava a água e trincava o chão.
- Então, vamos.
"Eu destruí o Omega."
"Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro Ser vivo dizer: "Vem!". Vi então um cavalo preto, e o seu cavaleiro tinha na mão uma balança. E ouvi uma voz no meio dos quatro Seres vivos: "Um quilo de trigo por um dia de trabalho! Três quilos de cevada por um dia de trabalho! Não prejudiques o azeite e o vinho".
- Isso é ridículo! - os cabelos cinzas esvoaçavam, cortando a garganta de todos que via pela frente. - Não vamos desistir, isso ainda não acabou!
Dois jovens estavam parados ao seu lado, nada os atacava, mas também não atacavam a ninguém. Um mulher vestida de véu e um velho de olhos fechados e pendendo em sua mão um cajado, olhavam o mais jovem a guerrear incessantemente. Sombras materializavam-se e eram mortas pelo menino. Incessantemente.
- Já acabou, meu caro. - falou o senhor.
- NÃO!
- Sim. Vamos nos reunir com os demais e explodiremos essa dimensão. - abriu seus olhos branquiçados. - Falhamos.
- Vai desistir velhote?! E tudo que fizemos? E toda a humanidade que está lá fora hein?!
O senhor ficou estático, olhando para o menino a sua frente com um olhar irredutível.
- Não há futuro para nós. - a mulher que permanecia calada retirou o véu. - Vamos... Por favor - e estendeu sua mão ao mais novo, que relutou até enfim embainhar sua espada e segurar-lhe a mão, fria.
- Reunimo-nos. - e dizendo isso, o velho ergueu seu cajado que iluminava em sua ponta.
Um pouco mais ao fundo, próximo ao leito de algo que no passado foi um rio, uma mulher tentava estancar as entranhas de um homem que urrava de dor.
- Precisamos de mais um minuto! - os dedos finos estavam empapados de sangue.
- Não temos tempo! - arreganhou os dentes de dor - Pegue isso! - estendeu uma fecha dourada. - Enfie em meu coração e pegue meu poder! Precisamos destruir esse lugar antes que aqueles caras vão para outras Galáxias. - gemeu.
A moça de cabelos lisos e prateados, assim como seus olhos, tomou a arma em suas mãos e sentiu lágrimas escorrerem dos olhos.
- Não há esperança...
"Eu ocultei o Gama."
"Quando abriu o quarto selo, ouvi o quarto Ser vivo dizer: "Vem!". Vi então um cavalo esverdeado, e o seu cavaleiro era chamado "a Morte", e a Morada dos mortos o acompanhava. Foi-lhe dado poder sobre a quarta parte da terra, para que matasse pela espada, pela fome e pelas feras da terra".
O interior da Terra rugia, lavas escapavam pela boca dos vulcões, as montanhas cresciam, os abismos afundavam-se. Os animais corriam e se escondia, as aves fugiam. As árvores perdiam suas folhas ao vento brusco que soprava, as plantas estavam destroçadas.
A poeira subia para a atmosfera, impedindo a passagem de Luz e criando uma penumbra permanente.
Meteoritos despencavam do Espaço em chamas, maltratavam o planeta que fora o primeiro a ter vida.
Ao longe, pessoas vestidas de negro misturavam-se com as sombras que se formavam. Elas olhavam fixamente o Sol que se punha para jamais retornar. O campo de batalha era um deslumbre aos seus olhos e todo o cenário montado estava perfeito. Aos pés do mais alto, estava jogado o corpo de uma mulher, pálido e esguio, com cabelos brancos sujos de sangue, a boca entrea aberta e os olhos vidrados.
- Asteria. - Uma menina, criança sem inocência, estava estirada no campo, olhando o corpo da mulher morta. Seu cabelo confundia-se com a terra e seus olhos completamente azuis, estavam secos de qualquer lágrima. Estava sem armadura ou proteção, apenas na mão direita trazia um cetro dourado.
- Não sabe quando deve desistir, querida. - O homem mais alto não desviou seu olhar do horizonte.
Ele usava uma longa capa negra que ocultava completamente o seu rosto e corpo, como um espectro, como a morte.
- Não venci, mas também não perdi. - a menina voltou seu olhar a Lua, que brilhava intensamente. - Não vai ganhar essa luta... - sussurrou algo que apenas ele e o conjunto de pessoas pudesse ouvir.
Se estivessem cara a cara, a garota teria percebido que o homem ficara tenso, prendendo o maxilar com força e seus olhos ficaram vermelhos de ódio. Subitamente, a figura encapuzada segurava o pescoço da menina com força, fazendo sair sangue das veias, em pouco menos de um piscar.
Estavam cara a cara e ela pode ver o rosto do homem, mais jovem que sua voz denunciava ser. Olhos azuis encarando os vermelhos. Ódio e Calma.
Por um momento não houve reação alguma e as batalhas cessaram-se. A Terra tremia, a Lua rachava, O Sol se apagava. Uma sombra crescia lentamente, cegando aos poucos todos que estavam lá.
- Você perdeu... - sussurrou algo que apenas ela ouviu, sem se importar com o seu arredor. Apertava cada vez com mais força e raiva. - Como se sente tomando do próprio veneno?
A menina, sem expressar nada, continuou a encarar os olhos vermelhos do homem, vendo seu reflexo. Em seu reflexo, viu em seus olhos tudo que os cercava. Sentiu a falta de ar, o sangue escorria de sua garganta e boca sujando sua túnica branca. Os olhos começaram a ficar esbranquiçados, cegando-lhe calmamente.
Ela olhou ao seu envolto.
Uma chuva de raios e meteoritos castigavam o Planeta.
O Sol, quase se extinguindo, brilhava vermelho e quente ao horizonte.
A Lua, quase se rachando, brilhava pálida e fria ao pino do céu.
A menina encarou os olhos vermelhos até sentir a mente viajar naquele cenário vermelho embriagante.
Perdendo sua última batalha.
Suspirou e afrouxou o corpo.
"Este é o Fim" - e sentiu um formigamento em todo seu corpo, e a cegueira a invadiu.
Tudo ao redor ficou branco e o homem, ainda segurando o corpo flácido da menina, disse:
- Façam-se as Trevas.
"Eu plantei, colhi e queimei a Árvore da Sabedoria e me tornei conhecedor do Bem e do Mal."
"Eu sou o Todo Poderoso"
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25/12/2014
Muito boa noite de Natal Senhoritas, Senhoras e Senhores!
Para os antigos leitores que leram essa história em meados de 2013, peço mil perdões por nunca mais ter postado nada. Essa história começou a ser escrita em 2012 e foi postada inicialmente com o nome de "O último suspiro do universo", mas problemas surgiram, aumentaram e foram superados parcialmente e tive que parar.
O básico da história é o mesmo, mas muito mais amadurecida e aprofundada, afinal eu cresci nos últimos anos.
A Theory of Anything será postada duas vezes por mês, a partir de janeiro de 2015 e não faço a menor ideia de quando irá acabar.
O primeiro capítulo de fato será postado dia primeiro de janeiro, então vejo vocês lá!
Espero que gostem dessa ideia completamente maluca que tive. E como a história irá envolver muita religião e mitologias, já aviso que não será de meu intuito de ofender ninguém e garanto a todos que pesquisei muito antes de sair escrevendo.
Beijos a todos! E se quiserem, deixem um review!
Feliz Natal!
