Título: Água Mole em Pedra Dura
Autoria: FireKai
Nº de Capítulos: 3
Género: Yaoi, não gosta, não leia.
Casal: Seto Kaiba e Joey Wheeler
Aviso: Yu-gi-oh e as suas personagens não me pertencem
Sumário: Yaoi, Seto x Joey. Joey quer, a todo o custo, conquistar Seto. Desde segui-lo, a beijá-lo descaradamente, nada pára Joey. Mas quando o amor passa a obsessão, as coisas complicam-se. Haverá ainda tempo de Joey poder recuperar e conquistar Seto? Oneshot.
Água Mole em Pedra Dura…
Capítulo 1: Investidas
Era uma manhã solarenga de segunda-feira. Na Escola Secundária Dominó, os alunos começavam a chegar, a maioria sem grande entusiasmo de voltar às aulas e lamentando o fim-de-semana ter terminado tão depressa. Seto Kaiba estava nesse momento a entrar no edifício onde se situavam as salas de aula, preparado para mais um dia de escola. Ao contrário dos outros alunos, não se lamentava por estar ali, porque gostava sempre de aprender mais e mais. Porém, havia algo que Seto queria evitar.
Antigamente, Seto Kaiba atravessava os corredores da escola de cabeça erguida, cheio de confiança e indiferença por tudo e todos. Mas as coisas tinham mudado. Agora, Seto caminhava devagar, atento a tudo e todos, não fosse surgir-lhe à frente a pessoa a quem estava a tentar evitar. Ao virar numa esquina, encaminhando-se para outro corredor, parou de repente, mas era tarde demais. Joey Wheeler já o tinha visto.
"Kaiba! Ainda bem que apareceste agora." disse Joey, encaminhando-se para Seto.
Seto ainda pensou em recuar e tentar fugir por outro corredor, mas achou que isso, além de parecer ridículo, de pouco serviria. Provavelmente Joey iria a correr atrás dele e mesmo que não fosse, considerando que eram da mesma turma, teriam de se ver mais cedo ou mais tarde. Seto apenas queria que fosse mais tarde. Nesse momento, Joey chegou ao pé de Seto. Yugi, Téa e Tristan, que tinham estado com Joey no corredor, sendo que iam todos a caminho da sala de aula, ficaram parados, prontos para mais uma cena, o que já se estava a tornar hábito.
"Pensei que só te iria ver daqui a uns minutos, na sala de aula." disse Joey, sorrindo.
"Pois, eu pensei o mesmo." disse Seto.
"Mas é óptimo ter-te visto já. Alegraste-me a manhã."
"Quando é que paras de dizer esse tipo de coisas?" perguntou Seto, aborrecido.
"Nunca. Porque é que eu haveria de parar de dizer algo que é puramente verdade?" perguntou Joey, continuando animado. "Vá, vamos os dois juntos para a sala de aula."
"Eu dispenso a companhia." disse Seto, começando a andar de novo e passando por Joey.
Tristan, Téa e Yugi entreolharam-se e abanaram a cabeça. Claro que aquilo não podia correr bem. Nunca correra nas tentativas anteriores. Mas Joey não era pessoa de desistir facilmente do que queria. E Joey queria ficar com Seto Kaiba. Tinha-se apaixonado por ele e agora colocara como seu objectivo conquistá-lo, pelo que usava um método que podia ser simples, mas nem sempre eficaz. Persistência. Joey tentava estar sempre perto de Seto, falar com ele e tudo o mais.
E Seto, que fora bom a evitar muitas coisas na sua vida, bem como pessoas, não conseguia, por mais que tentasse, fazer com que Joey se afastasse dele. Estar calado não impedia Joey de falar, nem mesmo tentando insultá-lo ou sendo abertamente rude tinha feito com que Joey desistisse de o conquistar. Naquele momento, Joey também não desistiu e apressou-se a ir atrás de Seto.
"Porque é que dispensas a minha companhia?" perguntou Joey, já a caminhar ao lado de Seto. "Tu precisas de conviver com as pessoas."
"Já convivo o suficiente, quer aqui na escola, quer na Kaiba Corporation."
"Não é a mesma coisa. Eu estou apaixonado por ti, portanto é diferente." disse Joey, de forma simples.
Por esta altura, já Tristan, Téa e Yugi estavam a ficar para trás.
"Lá estás tu com essa conversa outra vez. Não estás nada apaixonado por mim." disse Seto.
"Estou sim!" exclamou Joey. "Já te disse isso várias vezes. Porque é que eu haveria de mentir?"
"Há imensas razões que te podia dar, mas não me apetece continuar com esta conversa."
Seto e Joey viraram para mais um corredor e chegaram à porta da sala de aula. Seto abriu a porta e entrou. Joey apressou-se a entrar atrás dele. A primeira aula da manhã era informática. Para Joey, nem sempre era fácil aquela aula, enquanto que para Seto era um aborrecimento. Sabia tudo de cor e salteado sobre informática e todo o tipo de sistemas. Provavelmente, sabia mais que o próprio professor.
Seto caminhou até ao computador que costumava usar naquela aula e pousou a sua mochila em cima da cadeira que estava em frente à mesa onde estava colocado o computador. Quando se virou, para encarar Joey e lhe dizer algo desagradável, na esperança vã de o conseguir afastar, pelo menos por uns minutos, não teve tempo de dizer nada, pois Joey já se tinha aproximado e praticamente saltou sobre ele, entrelaçando os braços à volta do pescoço de Seto e beijando-o. Seto não o beijou de volta e tentou libertar-se. Conseguiu, após alguns segundos. Agarrou os braços de Joey e afastou-o de si, mas Joey não pareceu aborrecido. Sorriu.
"Espero o dia em que tu vais querer retribuir os meus beijos." disse Joey.
"Então acho que é melhor esperares sentado, senão vais cansar-te. E pára de me tentar beijar!" exclamou Seto.
Com aquela vez, já era a sexta vez que Joey beijava Seto e Seto não lhe correspondia. Normalmente, Joey era tão rápido a aproximar-se e apanhar Seto desprevenido que Seto não conseguia prevenir que aquilo acontecesse. Da primeira vez que Joey o beijara, fora no meio da biblioteca da escola. Não se falou de outra coisa durante pelo menos uma semana.
Agora, Joey continuava com as suas investidas, mas a bem da sua saúde física, decidiu investir sobre Seto em locais onde não houvessem muitas pessoas. Afinal, Seto tinha fãs na escola e a última coisa que Joey queria era que esses fãs se juntassem contra ele e, por exemplo, resolvessem bater-lhe por andar a beijá-lo à frente de toda a gente. Apesar dessa precaução que tomava agora, não era isso que o deixava menos animado ou o incentivava menos a conquistar Seto.
"Pronto, pronto, não ter zangues, Kaiba. Não precisas de ficar assim todo nervoso."
"Eu não estou nervoso!"
"Não? Hum, está bem, vou fingir que acredito. Não percebo é porque resistes aos meus beijos. Eu tenho a certeza absoluta que tu ias adorar se correspondesses."
Seto revirou os olhos e não respondeu nada, fazendo Joey sorrir ainda mais intensamente. Pouco depois, Tristan, Téa e Yugi entraram na sala de aula e segundos mais tarde chegaram os restantes colegas, pelo que cada um se sentou em frente ao seu computador. O lugar de Joey era perto de Yugi e dos amigos, mas Seto ficava no lado oposto da sala. Apesar disso, havia maneira de Joey comunicar com Seto durante a aula.
Seto ficava bastante aborrecido por os computadores da escola terem limitações e não conseguirem bloquear um simples programa de mensagens instantâneas, que nem deveria estar a funcionar em primeiro lugar. A verdade é que esse programa funcionava, permitia o envio de mensagens entre os computadores e Seto não conseguira bloqueá-lo, pois o computador dizia-lhe que não tinha permissão para isso. Por conseguinte, nas aulas de informática, Seto era bombardeado de mensagens que não queria receber.
O professor de informática chegou pouco depois, confirmou as presenças e distribuiu uma folha a cada um dos alunos, com as tarefas que tinham de fazer nesse dia. Seto abriu um dos programas do computador e concluiu rapidamente o exercício por completo. Mal isso tinha acontecido, uma janela abriu-se no computador, com uma mensagem. Seto quase suspirou. Claro que era uma mensagem de Joey. Levantando os olhos para o outro lado da sala, Seto viu Joey a sorrir-lhe e leu a mensagem.
"Hoje estás ainda mais sexy do que o habitual, Kaiba." escrevera Joey.
Seto sentiu-se verdadeiramente embaraçado, apesar de no seu exterior não o demonstrar. Não iria dar essa pequena vitória a Joey. Pensou em não responder aquela mensagem, mas sabia por experiência própria que assim seria bastante pior, pois Joey iria bombardeá-lo com o dobro das mensagens e acusá-lo de estar tão contente com o que lera que não conseguia sequer responder à mensagem.
"O Wheeler pensa que chega a mim através deste tipo de mensagens, mas está enganado. Eu não estou afectado. Não, claro que não." pensou Seto.
Apesar de Seto pensar daquela maneira, muitas vezes as pessoas tentam convencer-se de certas coisas que sabem que não são verdade. Seto digitou rapidamente uma mensagem para Joey. Segundos depois, Joey recebeu a mensagem e leu-a.
"Eu estou sempre sexy, para tua informação, Wheeler. E não preciso dos teus elogios para nada. Deixa-me em paz." escrevera Seto.
"Porque é que pedes para eu te deixar em paz, quando não é isso que queres?" escreveu Joey de volta.
"É isso que eu quero, sim. E estava a exigir-te para me deixares em paz e não a pedir."
"Pois, mas eu não vou fazer o que tu dizes. Se quiseres e achares que eu mereço, não me importo que me castigues."
Se Seto tivesse menos controlo sobre si próprio, teria corado imenso ao ler aquela mensagem. Joey sorriu-lhe do outro lado da sala e Seto permaneceu, pelo menos por fora, impassível. Joey riu-se baixinho e Tristan, que estava sentado no lugar ao lado de Joey, espreitou para o computador do amigo, lendo de seguidas as mensagens que Joey tinha enviado e recebido. Abanou a cabeça.
"Joey, não sei como é que consegues estar a enviar esse tipo de mensagens ao Kaiba." disse Tristan, baixinho, para o professor não os ouvir. "És doido."
"Talvez. Doido pelo Kaiba."
"Estou a ver que estás definitivamente doido varrido. Joey, o Kaiba não quer saber de ti para nada e ainda acaba por se zangar realmente e ele é rico… pode mandar fazer-te mal ou assim."
"Que disparate. O Kaiba não me iria fazer nada de mal, Tristan. Eu tenho a certeza disso." disse Joey, confiante. "E tenho a certeza que o vou conquistar… como ele me conquistou a mim. É só uma questão de tempo."
Para os amigos de Joey, o interesse de Joey por Seto, considerando que eles sempre se tinham dado mal, tinha surgido como uma surpresa, mas depressa tinham descoberto o porquê. Joey, desde pequeno, depois da irmã e da mãe irem embora e ele ficar a viver com o pai, vivera uma vida difícil. O pai bebia muito e por vezes batia-lhe. Apesar disso, Joey não esmorecia e mostrava-se sempre confiante e animado perante a vida.
Porém, três meses antes, o pai de Joey tornara-se mais violento e Joey surgira na escola com marcas na cara e nos braços, que não conseguiu disfarçar. Seto acabara por ficar intrigado sobre o que acontecera e não acreditara nem por um segundo que Joey tinha caído pelas escadas abaixo. Era claramente mentira e ainda por cima uma mentira pouco original. Sem saber exactamente porquê, fora perguntar a Yugi o que se tinha passado e arrancara-lhe a verdade.
Seto, normalmente indiferente aos problemas de toda a gente, menos do seu irmão, sentira uma súbita empatia por Joey. Afinal, Seto também tivera um pai abusivo, apesar de ser o seu pai adoptivo. E então, Seto pagara a dois advogados para irem fazer uma visita ao pai de Joey. Deram-lhe dinheiro e ameaçaram-no que se as coisas continuassem como estavam, iria preso e seria acusado de vários crimes, desde violência doméstica até outros que os advogados de Seto poderiam arranjar.
O pai de Joey, apesar de beber imenso e bater no filho, não era estúpido, pelo que aceitou o dinheiro e decidiu mudar de comportamento. Isto é, decidiu deixar de bater no filho, mas não deixou de beber. Só quase um mês depois, Joey ficou a saber o que se passara, depois de o pai voltar a beber demais e lhe contar a visita que recebera e a mando de quem. A partir desse momento, em lugar da raiva que sentia por Seto, começara a crescer o sentimento de gratidão.
Joey começara então a tentar estar mais perto de Seto e conversar com ele, o que não tivera muito sucesso. Mas Joey não desistira. Seto andava sempre sozinho. Devia ter amigos. Devia ter alguém que gostasse dele. E, lentamente, Joey apaixonou-se pelo outro rapaz. Quando se apercebeu do facto, Joey decidiu que então deveria conquistar Seto, sendo que assim ficavam os dois felizes e Seto teria sempre alguém com ele. E Joey decidira também que seria aberto nos seus sentimentos, pelo que se tinha declarado a Seto logo de imediato. E continuava a fazê-lo até ao presente dia.
Depois da aula de informática terminar, seguiu-se a aula de línguas, história e por fim, a última aula da manhã seria educação física. Seto decidiu ir comer rapidamente algo ao bar, pelo que foi o último dos alunos da turma a chegar ao balneário, mas não chegou atrasado. Seto nunca se atrasava. O balneário masculino estava dividido em três compartimentos para três turmas diferentes, mais uma casa de banho e a área dos chuveiros.
Quando Seto entrou no compartimento destinado à sua turma, colocou o seu saco com o equipamento para a aula num lugar vazio. Havia apenas mais dois alunos da sua turma no compartimento, a terminarem de calçar os ténis para a aula. Um deles era Joey. Os restantes rapazes da turma já tinham ido até ao ginásio, para esperarem pelo inicio da aula, que estava quase a começar. Seto virou costas a Joey e ao outro aluno e começou a despir a sua gabardina. Entretanto, o outro aluno, já pronto, saiu do compartimento, deixando Seto e Joey sozinhos. Quando Seto se preparava para despir a camisola preta que vestia nesse dia, para vestir uma t-shirt para a aula, ouviu um barulho e virou-se, vendo Joey fechar a porta do compartimento e sentar-se num banco que havia ali perto.
"O que é que estás a fazer, Wheeler?" perguntou Seto.
"Eu? Bem, fechei a porta para termos um pouco de privacidade. Mas não está trancada nem nada assim, portanto, nada de pânico."
"Pânico? Porque haveria eu de me preocupar e entrar em pânico?" perguntou Seto, erguendo uma sobrancelha.
"Hum, tens razão. Bom, continua lá a mudar de roupa."
Joey ficou quieto no seu lugar e sorriu a Seto. Seto aguardou uns segundos sem se mexer e depois ergueu a outra sobrancelha, em aborrecimento.
"Tu vais ficar aí parado?" perguntou ele, a Joey.
"Ah, ainda não tinhas percebido que era essa a minha ideia?" perguntou Joey, continuando a sorrir. "Lembrei-me disto naquela aula de história super aborrecida. Como as nossas aulas de educação física são logo antes do almoço e tu vais logo para a tua mansão e tomas lá banho, nem tenho possibilidade de ver muito do teu corpo. E depois lembrei-me que podia realmente ver bastante se ficasse à espera de te ver trocar de roupa. Tu teres sido o último a chegar e já só estarmos aqui os dois foi apenas uma feliz coincidência."
"Tu… és um pervertido!" exclamou Seto.
"Oh, não sejas mau. Só me interessas tu e mais ninguém. Agora vá lá, muda lá de roupa. Não queres chegar atrasado à aula, pois não? Afinal, tens fama de nunca te atrasares. Vais deixar que, por eu estar aqui, acabes por chegar atrasado pela primeira vez?" perguntou Joey. "Claro que se calhar a minha presença aqui, considerando que agora estamos os dois sozinhos, pode ser um bom motivo para um atraso. Se calhar queres é mesmo ficar aqui comigo e faltarmos os dois à aula, para estarmos juntinhos…
"Pois, vai sonhando, Wheeler."
"Sonhar não custa. Então Kaiba, como é? Estou pronto para o espectáculo de striptease."
Joey riu-se da sua própria piada, enquanto Seto ficava indeciso sobre o que fazer. Se não se despachasse, chegaria atrasado à aula. Mas agora tinha ali Joey, a querer vê-lo a despir-se. Seto não se dava muito bem com situações físicas, quer fosse a tocar nos outros ou a mostrar partes do seu corpo. Por alguma razão usava muitas vezes camisolas de gola alta, para mostrar o menos possível. Seto respirou fundo e encarou Joey mais uma vez.
"Wheeler, vai-te embora, senão eu expulso-te daqui. Sou mais forte que tu." ameaçou Seto.
"Ai sim? Podemos ver isso, mas se perdes tempo a lutar comigo, chegas atrasado na mesma." disse Joey, abanando a cabeça e levantando-se. "Kaiba, se quiseres, eu não me importo nada de te ajudar a despir."
"Mas porque raio é que tu estás assim, seu tarado? Preferia quando te enfurecias com os meus insultos e me detestavas." disse Seto. "Agora estás sempre a falar em namorar comigo. Eu não quero nada contigo! Com ninguém, aliás!"
"Não podes ficar para sempre sozinho."
"Não estou sozinho. Tenho o Mokuba."
"Kaiba, o Mokuba vai crescer e vai querer ter a família dele. Não quer dizer que se esqueça de ti, mas ele vai seguir com a sua vida, portanto devias seguir com a tua." disse Joey, aproximando-se de Seto. "E porque não dares uma hipótese a alguém que gosta mesmo de ti?"
Seto não sabia exactamente o que dizer e Joey aproximou-se mais dele. Antes que Seto pudesse fazer algo, Joey estava novamente pendurado no seu pescoço, a beijá-lo pela segunda vez nesse dia. Seto deu um passo atrás e desequilibrou-se, caindo no chão e levando Joey consigo. Mesmo no chão, Joey não quebrou o beijou. Seto sentia a sua cabeça zonza e não estava certo de se dever à queda. Joey continuava a beijá-lo e, pela primeira vez, Seto cedeu e beijou-o de volta. O beijo durou apenas segundos, mas quando Joey o quebrou, sorriu, triunfante.
"Aha, finalmente cedeste!" exclamou ele.
"Acho que está na hora de saíres de cima de mim, antes que eu tenha de o fazer à força." disse Seto, de maneira fria, como se nada tivesse acontecido segundos antes.
Joey acabou por se soltar de Seto e se levantar. Seto levantou-se também logo de seguida e olhou para o relógio de pulso. Já estava atrasado.
"Fizeste-me atrasar para uma aula." disse Seto, encarando Joey. "E beijaste-me à força, mais uma vez."
"Isso não é bem assim. À força? Tu beijaste-me de volta, lembras-te?"
"Deves estar a sonhar." disse Seto. "Eu não te beijei nada de volta."
"Beijaste sim!" exclamou Joey. "Como é que podes negar?"
"Deixa-me em paz de uma vez por todas. Wheeler, já chega! Pára de andares atrás de mim, senão eu interponho uma providência cautelar para te manter afastado de mim." ameaçou a Seto. "Ou falo com o director da escola e arranjo maneira de te expulsar ou até posso contratar uns brutamontes para te darem uma lição. Eu tenho dinheiro e posso fazer-te muito mal se quiser, percebeste?"
"Eu ouvi o que disseste, mas não fiquei nem um pouco intimidado." disse Joey, sem ceder um milímetro. "Sabes porquê? Porque tu me beijaste de volta. Podes tentar negar e dizer que não, mas fizeste-o. Portanto, eu estou contente e a tua atitude é apenas uma máscara para o que estás realmente a sentir. Pronto, vou ceder na situação de te ver a despir, porque não quero que chegues demasiado atrasado à aula. Até já."
Joey sorriu a Seto e de seguida saiu do compartimento do balneário. Seto ficou alguns segundos sem se mexer e depois lembrou-se que já estava atrasado para a aula, pelo que mudou rapidamente de roupa. Enquanto o fazia, a sua mente não parava de trabalhar.
"As minhas ameaças não funcionaram. O Wheeler nem sequer pareceu preocupado com o que eu disse. Eu podia realmente fazer o que disse e dar-lhe uma lição… mas… na realidade não consigo." pensou Seto. "Que estupidez! Porque não? Ele merece. Anda sempre a aborrecer-me e… o que é que se passa comigo? Porque é que o beijei de volta? Não o devia ter feito. Raios…"
Seto saiu de seguida do compartimento e foi até ao ginásio. O professor ficou surpreendido por Seto chegar atrasado, mas sendo uma situação sem precedentes, não disse nada. Joey lançou um olhar a Seto e sorriu-lhe. Seto desviou o olhar.
Água Mole em Pedra Dura…
À hora do almoço, Joey, Yugi, Tristan e Téa sentaram-se numa mesa do canto do refeitório, para almoçarem. Enquanto o faziam, Téa falou das lições de dança que estava a ter, Yugi disse que felizmente as vendas na loja do seu avô estavam a aumentar e depois Joey largou a bomba de que tinha beijado Seto no balneário e ele tinha correspondido. Os seus três amigos ficaram verdadeiramente surpreendidos.
"Tu tens a certeza absoluta do que estás a dizer, Joey?" perguntou Yugi. "Não estarás a fazer confusão?"
"Também me parece que sim. O Kaiba, a beijar-te de volta? Parece-me muito, mas mesmo muito improvável." disse Tristan.
"Pois, podia até ser improvável, mas de facto aconteceu." disse Joey, sorrindo. "Eu sabia que ele iria acabar por ceder e foi realmente o que aconteceu. Agora posso ter mais esperança de ele corresponder aos meus sentimentos."
"Joey, não tenhas muitas ilusões." avisou Téa. "Tu sabes como o Kaiba é."
"Sim, eu sei, mas ele está a mudar, lentamente. Ajudou-me com a situação do meu pai e agora acabou por retribuir o beijo, apesar de depois ter negado e ter-me feito algumas ameaças."
"Ameaças? Que tipo de ameaças?" perguntou Yugi.
Joey explicou aos amigos o que Seto lhe tinha dito, mas não pareceu nada alarmado.
"Se ele realmente quisesse fazer isso, já o teria feito. Não, ele até pode achar-me um pouco aborrecido, por andar atrás dele, mas no fundo, até gosta."
"Pelo que ele aparenta, só se for mesmo lá no fundo." disse Tristan.
"Só tenho pena que acabei por não o ver a despir-se."
"Por favor, poupa-nos aos pormenores." pediu Tristan.
"Mas aí está. Não há pormenores." lamentou-se Joey. "Mas talvez haja no futuro. Eu não vou desistir."
"Tu ficaste mesmo apanhadinho pelo Kaiba." disse Téa. "Quem diria. Vocês detestavam-se."
"Isso foi no passado." disse Joey. "Agora as coisas mudaram e eu vou conquistá-lo, nem que seja a última coisa que faça!"
Água Mole em Pedra Dura…
No dia seguinte, Joey chegou à escola quase na hora da primeira aula começar. Tinha-se atrasado, pois tivera uma ideia à última hora e resolvera que tinha de a pôr em prática ainda nesse mesmo dia. Demorara-se alguns minutos a escolher uma t-shirt para colocar na mochila, juntamente com um copo e uma pequena toalha. Tudo objectos necessários para o seu plano.
Joey entrou na sala de aula apenas uns segundos antes da aula começar e dirigiu-se ao seu lugar. Sorriu ao ver Seto, mas ele desviou o olhar. Meses antes, no início das aulas, Joey tinha amaldiçoado o seu azar por ter chegado atrasado à primeira aula de matemática. Quando chegara, havia apenas um lugar vazio no fundo da sala, ao lado de Seto.
Nessa altura, Joey pensava que não lhe podia ter acontecido nada pior. Teria de ficar ao lado de Seto em todas as aulas de matemática e não gostava nada da ideia. O único beneficio que poderia ter, seria em tentar copiar as respostas dos problemas de matemática que Seto resolvia, mas rapidamente descobriu que Seto não permitiria isso. Agora, no presente, Joey pensava que tinha sido o destino a fazê-lo chegar tarde meses antes. Não podia estar mais contente por, em todas as aulas de matemática, estar ao lado de Seto.
"Bom dia, Kaiba." disse Joey, sentando-se no seu lugar.
Seto não disse nada e começou a folhear o seu manual de matemática. Joey acenou a Yugi, Téa e Tristan, que estavam sentados numa das mesas da frente da aula. Pouco depois, o professor de matemática chegou e começou a aula. Depois de uns minutos a ensinar nova matéria, mandou os alunos fazerem alguns exercícios que constavam do manual e começou a andar pela sala, para ajudar os alunos com mais dificuldades. Seto começou a fazer os exercícios rapidamente, enquanto Joey olhou para eles e não fazia ideia de como os resolver.
"Ei, Kaiba, podias dar-me uma ajudinha nos exercícios." sussurrou Joey. "Ficava-te muito agradecido."
Seto fingiu não o ouvir e continuou a resolver os seus exercícios. Joey não desistiu.
"Kaiba, estás a ouvir-me?" perguntou Joey, mas foi ignorado novamente. "Ok, então acho que vou ter de fazer um teste para ver se não estás surdo. Que tal eu levantar-me e gritar que te amo, para todos ouvirem? Assim testo a tua audição e a dos outros."
Seto bufou, aborrecido, e encarou Joey.
"Porque é que não consegues deixar-me em paz?" perguntou ele.
"Ouve Kaiba, eu só te estou a pedir ajuda nos exercícios, mais nada."
"Eu não sou o professor. Pede-lhe ajuda a ele."
"Não és nada simpático. O que é que te custa? Se me explicares como é que eu consigo fazer pelo menos o primeiro exercício, eu acho que depois consigo fazer os outros sozinho. Por favor?"
Joey lançou a Seto a sua melhor expressão de cachorrinho abandonado. A expressão de Seto manteve-se impassível, mas no seu interior, sentiu um nó na barriga. Suspirou e puxou o seu manual para mais perto de Joey.
"Vou explicar-te, mas presta atenção, porque o vou fazer apenas uma vez." disse Seto.
Joey sorriu e Seto explicou-lhe como fazer o exercício. Joey passou para o segundo exercício e depois de o resolver, mostrou-o a Seto, que acenou afirmativamente.
"Está certo. Agora faz os outros." disse ele.
"Vou fazer. Obrigado pela ajuda. Se não soubesse que iríamos direitinhos ao director da escola e receberíamos um grande castigo por isso se te beijasse aqui na sala à frente do professor, dava-te um beijo de agradecimento." disse Joey.
"Dispenso o beijo."
"Não dispensas nada. Estás só a fazer-te de durão, mas no fundo tu gostas dos meus beijos. Por isso é que me beijaste de volta ontem."
Seto não respondeu e voltou a sua atenção para os exercícios que ainda lhe faltavam terminar. Joey continuou a sorrir, enquanto fazia os seus exercícios de matemática. A matemática era muito mais divertida desde que se apaixonara por Seto. Por seu lado, Seto lançou um olhar disfarçado a Joey, quando ele estava a resolver um dos exercícios.
"O Wheeler é tão… nem consigo pensar numa palavra exacta." pensou Seto. "Está sempre a atirar-se a mim descaradamente. O que me irrita bastante… e ao mesmo tempo… estou definitivamente a ficar maluco da minha cabeça. Nem posso sequer pensar em ter nada com o Wheeler… não… nem pensar! Não quero nada com ninguém. Mas lá que ele beija bem… ok, tenho de me concentrar nos exercícios. Esquecer o Wheeler… ignorar a sua presença… sim, é isso que tenho de fazer."
Quando a aula terminou, Seto foi dos primeiros a levantar-se e sair. Joey arrumou vagarosamente as suas coisas, já a pensar novamente no seu plano. Qual seria a melhor altura para a pôr em prática? À tarde, claro. Na hora do intervalo maior. Sim, seria aí o momento perfeito, pois já conhecia os movimentos de Seto, apesar de Joey não gostar da ideia de ter de aguardar tanto tempo. Pouco depois, ele estava a deixar a sala de aula, com os seus amigos.
"Consegui fazer todos os exercícios graças ao Kaiba." disse Joey, sorrindo. "Pedi-lhe ajuda e ele ajudou-me mesmo. Nem tive de copiar nem nada. Acabei por os conseguir fazer sozinho, depois de perceber qual era o método correcto."
"Vá lá, algo de bom que venha na sequência dessa tua paixão pelo Kaiba. Se fosse dantes, nem ajuda lhe pedirias." disse Tristan.
"Isso era dantes. Já tinha dito." disse Joey. "O Kaiba e eu estamos destinados a ficar juntos, só que ele ainda não sabe… ou talvez saiba, mas ainda não aceitou isso."
O grupo estava nesse momento a encaminhar-se para a sala onde teriam a próxima aula.
"Joey, és meu amigo, gosto muito de ti e também gosto que estejas apaixonado e feliz, mas tu estás a agir como… sei lá, um daqueles malucos que perseguem alguém." disse Téa, abanando a cabeça. "Os famosos têm pessoas assim malucas, que são obcecadas por eles e idealizam coisas que não são verdade…"
"Estás a chamar-me maluco, Téa?" perguntou Joey, irritado.
"Joey… eu tenho de ser sincera. Todos nós percebemos que gostas do Kaiba, mas o problema é que tu andas sempre atrás dele, fazes tudo para o beijares e queres que ele fique contigo, mas ele não quer isso." disse Téa. "Portanto, se ele te diz na cara que não quer nada contigo, devias desistir de uma vez."
"Tenho de concordar com a Téa, Joey." disse Yugi. "De que te serve andares atrás do Kaiba se ele não gosta de ti? Acho que assim fazes com que ele goste ainda menos. E se continuas assim… se calhar vais precisar de ajuda psicológica."
"Argh, vocês não percebem nada!" exclamou Joey, aborrecido, encarando os amigos. "Eu gosto do Kaiba e vou ficar com ele! Vocês pensam que ele não gosta de mim, mas eu sei que sim! Não estou maluquinho da minha cabeça ou a enganar-me. Se eu achasse que não tinha hipótese nenhuma, já teria desistido. Mas eu sei que tenho e pensei que vocês me apoiavam."
"Lá por sermos teus amigos, não quer dizer que te apoiemos em todas as maluqueiras que fizeres." disse Tristan.
"Olhem… não quero mais conversas com vocês. Deixem-me em paz!"
Joey afastou-se dos outros, bastante aborrecido. As horas foram passando. Joey não voltou a falar com os amigos nas aulas que se seguiram, nem almoçou junto deles no refeitório. Sentou-se debaixo de uma árvore no pátio da escola, a comer uma sandes, na hora do almoço e ficou pensativo.
"Eu não estou louco. Gosto realmente do Kaiba… mas estarei a exagerar? Eu quero-o para mim. Mas isso é normal, quando estamos apaixonados, acho eu. E além disso, eu sei que o Kaiba também sente algo por mim. Talvez não seja tão forte como o que eu sinto por ele, mas os sentimentos também se constroem." pensou Joey. "Será que o plano que tenho preparado vai resultar? Agora que penso nisso… se os meus amigos soubessem do plano, achariam definitivamente que eu estou maluco. Será que devo desistir desse plano? Não. Não vou desistir. Vou com ele para a frente. Tenho um objectivo e vai ser cumprido!"
Água Mole em Pedra Dura…
Mal a aula antes do intervalo grande terminou, os alunos começaram a sair da sala de aula. Joey estava impaciente para dar seguimento ao seu plano. Estando zangado com os amigos, não teve de lhes dar nenhuma desculpa para onde ia. Discretamente, seguiu Seto. Durante o tempo que andara atrás de Seto, aprendera alguns dos seus hábitos. Um deles é que Seto aproveitava sempre aquele intervalo para ir à casa de banho lavar as mãos. Nesse dia, não foi diferente e Joey viu quando Seto entrou na casa de banho masculina daquele andar.
"Ok, agora é só dar seguimento ao meu plano. Espero que tenha um pouco de sorte e não esteja mais ninguém na casa de banho neste momento." pensou Joey.
Quando Joey se preparava para entrar na casa de banho, o seu colega de turma Ryou Bakura aproximou-se, para ir também à casa de banho. Joey ficou alarmado e surgiu-lhe uma ideia rapidamente.
"Bakura! Não entres na casa de banho!" exclamou Joey.
"Hum, porquê?" perguntou Bakura, confuso.
"Rebentaram uns canos e a casa de banho ficou cheia de água. Eu até tinha visto um placard a dizer que a casa de banho estava fora de serviço, mas algum dos alunos parvos deve tê-lo tirado. É melhor ires a outra casa de banho." disse Joey.
Bakura, convencido de que a história que Joey inventara era verdade, afastou-se para ir a outra casa de banho. Joey avançou, abriu a porta da casa de banho e entrou. Tal como previra, encontrou Seto a lavar as mãos. Joey olhou para os compartimentos que haviam na casa de banho e estavam todos vazios. Perfeito. Estava a sós com Seto.
"Então Kaiba, é desta vez que te vejo despir?" perguntou Joey.
Seto virou-se para encarar Joey.
"Até à casa de banho me seguiste?" perguntou Seto. "Tu estás cada vez pior. E respondendo à tua pergunta, não me vou despir, portanto tira daí essa ideia."
Joey abanou a cabeça. Já esperava aquela resposta. Joey colocou a sua mochila no chão e abriu-a, tirando de lá o copo que tinha colocado lá nessa manhã. Seto ergueu uma sobrancelha, sem perceber o que Joey estava a fazer. Joey foi até uma das torneiras e encheu o copo de água. Depois, virou-se para Seto.
"Não queres mesmo despir-te para mim? Só a camisola chegava."
"Wheeler, já disse que não!" exclamou Seto, irritado. "Agora sai-me da frente que eu vou…"
Antes de Seto poder terminar a frase, Joey usou o copo com água e lançou-lhe a água contra a camisola, ensopando-o. Seto arregalou os olhos, surpreso.
"Olha o que fizeste!" exclamou Seto. "Tenho a camisola ensopada. E a água está a escorrer para as calças!"
Joey pousou o copo no chão e retirou a toalha que tinha na mochila, estendendo-a a Seto.
"Aqui tens uma toalha para te secares. E tenho na mochila uma t-shirt que podes vestir." disse Joey. "Se tiveres o casaco molhado, tens de o tirar, para não ficares doente."
"Tu estás louco? Porque é que me atiraste com água?" perguntou Seto, furioso e depois percebeu. "Claro, tu preparaste tudo ao pormenor. Água, para me molhar, a toalha para me secar e uma t-shirt. Querias ver-me a despir e arranjaste este plano para eu agora despir a camisola e vestir a t-shirt e assim tu poderes ver-me a mudar de roupa… tu és completamente doido!"
"Kaiba…"
"Não digas mais nada." disse Seto. "Não quero a tua toalha, nem a t-shirt. Afasta-te de mim e falo a sério! A princípio, quando tu começaste a andar atrás de mim, pensei que isso passaria, eventualmente. Mas foste ficando mais insistente… e até certo ponto, eu não achava completamente mau. Mas passaste dos limites."
"Eu amo-te, Kaiba." disse Joey.
"Não, não amas. Estás só obcecado por mim. Quem me dera ter estado quieto no meu canto e nunca me ter envolvido com a tua história familiar. Assim, não terias razão para teres ficado assim. Eu nunca, mas nunca vou gostar de alguém que me faz o que tu fizeste! Sei lá o que irás fazer no futuro, também! Se tu tivesses feito tudo como deve ser… como uma pessoa normal, a tentar conquistar outra, sem forçar… as coisas podiam ser diferentes. Mas não foram e quero-te longe de mim, senão as ameaças que eu fiz ontem no balneário vão tornar-se realidade. Estás avisado!"
Furioso e molhado, Seto saiu de rompante da casa de banho, enquanto Joey ficava paralisado e chocado. Encostou-se a uma parede e sentiu uma dor no peito.
"Ele odeia-me… é tudo culpa minha. O que fiz eu? Eu amo-o, mas… eu queria tanto vê-lo a mudar de roupa, ver a pele dele, o corpo dele sem roupa… que fiz isto e agora o Kaiba odeia-me e não me quer por perto." pensou Joey. "Mas eu não consigo estar longe dele. Não posso..."
Nesse momento, Joey lembrou-se das palavras dos amigos. Tinha-se zangado com eles, por lhe dizerem que poderia estar a ficar obcecado com Seto e afinal, eles tinham razão. Joey deixou-se cair no chão, abalado.
"Eu preciso de fazer alguma coisa. Não posso deixar o Kaiba odiar-me, mas ele não me quer junto dele e eu… eu não me importaria de fazer uma loucura para o ter junto de mim…isto não é normal… eu preciso de ajuda… preciso dos meus amigos, antes que enlouqueça!"
Continua…
