Tudo era um pouco irritante, o barulho, as pessoas, o lugar insalubre. Não era diferente de alguns lugares que teve que pisar graças à comida barata, durante sua peregrinação pelo antigo reino da Terra. Ela e Mako foram ali para isso, após uma exaustiva perseguição dos seguidores de Kuvira que capturaram o príncipe Wu em um conflito mais cedo, estavam famintos. E mesmo ali, era mais agradável que andar à esmo através da névoa acinzentada das ruas estreitas e vazias de Republic City durante aquela noite fria. Eles estavam sem qualquer pista e não tinham mais sentido vagar no escuro e entraram no primeiro lugar que encontraram.
Mas nada naquele lugar era mais irritante que a presença soturna e ranzinza de Mako. Não era como se tivessem brigado, eles tinham conversas amistosas,e até divertidas, como antigamente, mas havia uma áurea quase formal, uma distância que ele impunha e nunca deixava claro o que era. Naquele momento ela não estava com paciência pra lidar com toda aquela... Aquela frieza.
Tentou se misturar a multidão, mas podia sentir a presença da qual fugia. Impensadamente, se viu aceitando um drink que um estranho a ofereceu no meio daquela multidão, sob um olhar frio e duro que a observava à distância.
...
Idiota,repreendeu a si mesmo enquanto a via ir em direção ao bar com um homem alto, com traços típicos da Nação do fogo: Cabelos negros e longos com olhos âmbar. Idiota, sussurrou para si mesmo, mas dessa vez era sobre aquele homem, que conversava distraidamente com Korra. Korra... Ela que sempre fora linda, havia se transformado em uma bela mulher. Postura relaxada, os cabelos curtos teimando em cair pelo rosto enquanto se movia. Os traços, que sempre foram belos quando namoravam, haviam se acentuado, se definido, passando um ar mais maduro. Sentia que podia ficar ali, contemplando-apor tempo indeterminado. Na verdade não ali, queria entra no lugar daquele rapaz que conversava com ela os últimos 29 minutos e 54 segundos. Sentiu uma onda de irritação crescer em cada segundo, que passou, mas nada comparado a quando o viu se inclinar em direção a ela, elevando uma das mãos, fazendo menção de embalá-la em seus braços. Havia desejo nos olhos do homem, um desejo tão... Carnal. Ele nunca a havia tocado enquanto namoravam. A garota destemida e impulsiva se revelara, inesperadamente, tão inseguras e cautelosas se tratando uma relação mais íntima. Ele, que não era mais experiente e seguro que ela, nunca teve problemas em lidar com isso. A verdade é que estava tão aterrorizado quanto ela, se tratando disso, e não tinha pressa. Queria passar a vida com ela, e em sua mente, tinham todo o tempo do mundo. Passariam a vida juntos, certo? Mas ela não era mais aquela garota de 18 anos, inexperiente e insegura que havia namorado. O tempo passou e a levou para longe. Era uma mulher, que passou os últimos seis meses andando pelo reino da Terra. Pode ter encontrado alguém, ou muitos alguéns. Ela era livre, um espírito da água, mutável e impetuosa, podia fazer o que quisesse. Mesmo repetindo esse mantra, a perspectiva de outro a tocando o deixava irracionalmente irritado. Buscou afastar o pensamento. Korra se retraiu mediante o contato, sua postura ficou repentinamente tensa, mas o homem não parecia inclinado a desistir da aproximação. Por mais ridículo que parecesse, ele não podia conter o impulso de ir lá e acabar com aquilo.
E não conteve.
— Korra, é hora de irmos — disse, tirando o copo de sua mão e envolvendo o seu braço, esperando que ela o seguisse.
— O quê? O que pensa que está fazendo? — indagou raivosamente, puxando-o para o lado, esperando ser discreta e não constranger o rapaz com que conversava anteriormente com a cena.
— Você está acompanhada? — perguntou o rapaz da nação do fogo
Korra hesitou em explicar a embaraçosa situação. Mako se conteve encarando-o firmemente, o rapaz manteve o olhar dignamente, se limitando a acenar, quando Mako se virou caminhando em passos largos, com Korra em seu encalço, perguntando que diabos ele tinha na cabeça, enquanto a multidão se impunha em meio deles.
— Nós temos um trabalho a fazer — disse com uma voz pausada e fria.
— Tínhamos acordado em continuar com as buscas amanhã — refutou.
— Sim, e provavelmente você não fará se virar a noite com seu amiguinho.
— Só estávamos conversando
— Quero saber como ele pretendia continuar fazendo isso com a língua dentro da sua boca — disse sarcástico- Você não está mais no Reino da Terra, para passar a noite por aí, com estranhos. — Sua voz pausada e fria.
— Ah, então já te avisaram que passei os últimos meses dormindo com todo o reino da Terra —''ao invés de lutando pra me reestabelecer, após um homem louco me envenenar'' queria completar, mas não... Não queria soar como uma vítima, apesar da suposição irritá-la, disse com os lábios crispando de raiva:
— Então se quer mesmo saber, sim Mako, eu passei todo esse tempo dormindo com caras aleatórios, e olha... Foi ótimo, de-li-ci-o-so, eles...
— Chega Korra!- Interrompeu Mako bruscamente, não queria mais ouvir uma palavra, enquanto Korra ria com gosto e lançava um olhar de desdém e deboche.
— Em todo caso, foi bem melhor que estar aqui, vendo você me tratar como uma estranha. — disse, cuspindo as últimas palavras sentindo o gosto amargo do que aquilo significava.
— E não foi isso que você se esforçou pra se tornar? Três anos, agindo como se as pessoas que se importam com você não existissem. — replicou Mako, sentindo o rosto queimar de raiva. Porém, assim que falou isso, desejou pegar as palavras de volta: O rosto de Korra, que não estava tão diferente do seu até então, mudou rapidamente para uma expressão de decepção, denunciando o que ele havia sido ao falar isso. Cruel.
—Tanto faz. — Korra disse, reestabelecendo-se e indo embora, esse perdendo em meio a multidão, deixando um Mako desconcertado e envergonhado.
Idiotadisse mais uma vez para si mesmo.
...
Para ele não era difícil imaginar onde ela estava. Apesar do tempo passado, ele sabia exatamente onde ela gostava de ir tirar um tempo para pensar em Republica City. Ela estava sentada pensativa no deck de madeira que dava para o Rio, onde pessoas pescavam durante o dia, ou apenas sentavam para apreciar a baía. Era a vista mais bonita da cidade, particularmente àquela hora, onde as luzes da cidade preenchiam o horizonte como estrelas no meio da noite. Precisava desculpar-se.
— Korra, eu lamento — introduziu Mako desconcertado, aproximando-se de onde ela estava sentada, mas ela não se virou para olhá-lo. — Foram três anos sem falar com você. Três anos sem saber como estava buscando cada vestígio de notícias com Tenzin ou seus pais, sem ter a oportunidade de saber como realmente se sentia. Você se fechou para o mundo, e foi doloroso não fazer mais parte de sua vida. Aí você ainda some por seis meses, deixando todos loucos. Eu...
— Eu li cada uma das cartas. — interrompeu Korra, que ainda se recusava a olhá-lo- Todos os dias. A ponto de poder visualizar cada detalhe que me contavam, e o que não me contavam. Juro que podia ouvir a Lin anunciando seu novo trabalho de baby sitter, seu muxoxo, ver sobrancelhas arqueando em desgosto... - Continuou, dessa vez esquivando o olhar, tentando afastar lágrimas começavam a querer sair. - Mesmo que não estivesse lá. Eu nunca quis afastá-los... Eu só não sabia o que falar. Vocês estavam seguindo com suas vidas e a minha estava um... Um pesadelo. Eu não quero ser uma estranha, não quero estar mais tão... Desconectada — conclui em lágrimas, lembrando-se do que Toph lhe falara, enquanto Mako a envolvia em um longo e profundo abraço. Ela podia sentir todas as defesas e distância criada por eles, tanto pelo isolamento de Korra, quanto pela postura defensiva que Mako adotara nos últimos dias, ruir. Ela não queria mais essa distância.
— Korra... — Mako a mantinha em seus braços esperando que ela deixasse toda aquela dor ir. Podia sentir sua respiração, cada batimento de seu coração, sua vulnerabilidade e força. Tudo ali. Não era a Korra que conhecia? — Você nunca será uma estranha para mim. — continuou encarando-a seriamente, segurando aquela face que tanto amava e afastando com um toque um pouco daquela corrente salgada que a perpassava – Não é como se o tempo fosse algo que importasse.
— Vou lembra-lo disso quando tiver hora extra com o Wu — disse sorrindo e apressando-se para libertar-se do abraço. Havia algo naquela proximidade que fazia seu estômago se retorcer e seu rosto queimar.
— Não diga isso, diria que até a Kuvira ficará com pena de mim quando chutá-lo ao amanhecer, por não aguentar o drama de chá de cactos com repolho para o café e suas exigências para o sono de beleza.
— Não parece tão terrível.
— Certo cinco palavras: Sessões. Xâmanicas. Na. Repolho. Corp. Tá bom pra você? — sibilou Mako, lembrando-se da mania que Wu adquiriu de ir diariamente para essas sessões, obrigando Mako a participar.
— Sessões Xamânicas, sério? Ele não parece alguém lá muito espiritualizado. Divertiu-se Korra, admitindo eu era um bom argumento.
— Bem, ele não é. Ele dizia que era para expansão espiritual, mas posso assegurar que garotas era 6/7 dos motivos que levavam Wu até lá.
— Wow! — Exclamou Korra pensativa- Então não era tão ruim, de todo. - Disse tentando soar descontraída, mas pensar naquilo não a deixava nada contente.— Digo, garotas,encontros. Você sabe... — insistiu meio embaraçada, não sabendo porquê o tema a atrair tanto.
— É, pode-se dizer que saí com algumas.
— Ual, temos aqui um Dom Ruan.— disse Korra forçando um sorriso nervoso
— Não ferra, Korra.— brincou, tentando matar o assunto.
— Então... Você conheceu alguém? Algo como namorada? — perguntou hesitante, sentindo as bochechas queimarem, não sabendo se queria mesmo saber a resposta. Amaldiçoou-se pela curiosidade mórbida. Não havia como ela gostar de ouvir nada que envolvesse Mako com outras garotas, como ela não podia conter a atração por esse tema?
— Bem, eu conheci algumas garotas legais, mas não é como se tivesse como ir pra frente.
— Por quê? — indagou Korra, sem nem pensar se estava sendo invasiva.
— Porque...— hesitou, lembrando-se de todas as vezes em que sentiu-se frustrado em seus encontros. Todas as vezes em que contava as horas para voltar pra casa e ficar sozinho, por mais legal e linda que fosse a outra garota que estivesse com ele.— Não era como estar com você.
