Não tenho nada com Mello. Pelo menos não oficialmente. Matt esgueirava-se sorrateiramente pelos corredores da Wammy's House, rezando para que Roger não aparecesse. Mas, mesmo que tivesse azar, já tinha a desculpa perfeita: estou indo estudar sociologia com Near, diria, com um sorrisinho inocente. Que outra coisa dois adolescentes fariam de madrugada? E alem do mais, não seria o primeiro nem o ultimo a formar grupos de estudo e virar a noite com a cara enterrada nos livros. O máximo que poderia lhe acontecer era ser mandado de volta para o quarto.

Mello com certeza estava dormindo. Ou então, estudando. Aquele garoto vivia estudando, por algum motivo incompreensível para Matt. Não tinha a mesma paciência de Mello para os estudos: acompanhava-o apenas por que o loiro era bonitinho, e um bom entretenimento.

Passou por uma janela, já perto do quarto de Near, que dava para o enorme quintal do orfanato. Brilhando a luz da lua crescente, uma arvore em especial o fazia lembrar de seu pequeno romance.

Havia amanhecido a pouco tempo, e os dois estavam sentados á sombra da arvore, tomando os últimos goles da garrafa de achocolatado que , junto com as piadas de Matt os ajudara a manterem-se acordados a noite. Os dois haviam passado a noite estudando a segunda guerra mundial, a ponto de que Matt mataria qualquer um que dissesse uma palavra sobre Hiroshima ou Perl harbor. Mello, no entanto, estava satisfeito por ter virado a noite. Sentado ao seu lado, ele falava alguma coisa sobre seu maior ídolo, o detetive L, para o qual Matt não ligava.

Entediado, resolveu engatinhar até mais perto de Mello, encostando os lábios em sua orelha. E se eu te contar um segredinho? Ele sussurrou em seu ouvido, sentindo a fragrância dos cabelos dele inundarem suas narinas. Mello estremeceu quando sentiu os lábios de Matt roçarem sua pele. Que segredo? Mello tentava disfarçar o nervosismo tomando um gole de chocolate. Eu gosto muito de você, ele disse, se aproximando ainda mais. Eu também gosto de você, respondeu Mello, engasgando-se com o chocolate.

Então Matt o puxou pela camisa, deixando seus lábios s milímetros dos dele. Mesmo? Ele sussurrou, sem mover o rosto. Mello corou até as orelhas.

Matt, por fim, soltou uma risada comprida, afastando-se. Caiu, hein? Mello suspirou aliviado. Fui no inferno e voltei, sua bicha desgraçada. Vamos, a gente não deveria estar aqui a esta hora da manha.

Ainda rindo da expressão consternada do amigo, o ruivo lembrou-se da promessa, a muito esquecida de que Mello lhe emprestaria um vídeo-game, e cobrou-a. Mello deu um tapinha na própria testa, rindo, e tão logo chegou ao quarto, abaixou-se diante do armário em baixo da escrivaninha para procurar pelo jogo. Matt não conseguiu deixar de olhá-lo. De quatro, tão perto dele, o corpo de Mello era desejável. Mello em si já era bastante desejável, porem daquele jeito ele chegava a ser sedutor. Inocente e acidentalmente sedutor.

Toma aqui o jogo. Cuidado com o chefão do quinto nível, por que ele... Mas sua frase jamais foi concluída. Matt o puxou pela camisa e o forçou a beijá-lo. Com uma Mao prendeu-lhe o pulso e com a outra puxou sua perna, encaixando-a em seu quadril. Com o corpo completamente colado ao de Matt, Mello retribuía o beijo quase que involuntariamente.

Matt derrubou o loiro na cama, procurando com as mãos pelo zíper de sua calça. Neste momento Mello o empurrou. Um brilho de angustia passou pelos seus olhos, o que apenas excitou Matt ainda mais. Pare com isso! Nós... nós temos aula de física pela manha. Mello arfou, interrompendo os movimentos de Matt.

Matt soltou as calças de Mello e colocou as mãos uma de cada lado da cabeça dele. Vai me dizer que nunca teve curiosidade de saber como é com outro cara? Matt perguntou, sorrindo. Enquanto Mello lutava para verbalizar alguma resposta, Matt procurou mais uma vez pelos lábios quentes e úmidos a sua frente, que por fim cederam ao que teve inicio como um mero capricho de um adolescente curioso. No entanto, Matt chegou a um ponto em que sabia que suas ações eram algo mais que uma simples diversão. E era nesse "algo mais" que morava o mistério.

Mello não parecia pensar diferente. Sem tirar os lábios dos de Matt, puxou os óculos dele, bagunçando seus antes impecáveis cabelos vermelhos como o sangue, e avançando depois para as eternas e sem propósito luvas negras. A sensação da língua de Mello era enlouquecedora para Matt, que o ajudou a tirar suas luvas, levando de brinde sua camisa.

Antes que se esquecesse, tirou o Nintendo DS do bolso e o colocou na mesinha de cabeceira, antes que o danificasse, sem deixar por um segundo os lábios de Mello. Depois puxou novamente a perna dele e a manteve colada ao próprio corpo. Mello já havia parado de reclamar a muito tempo, e voluntariamente levantou-se um pouco para tirar a própria blusa. Matt aproveitou para inverter as posições, sentando-o em seu colo.

Em algum lugar do passado foram perdidas as bombas atômicas e confrontos entre países, embora estivessem falando nisso a menos de uma hora. Havia uma autentica corrente elétrica entre seus corpos, unindo-os e fazendo-os se aproximarem mais um do outro. Eram yin e yang, ordem e caos, seme e uke. Como os pólos opostos de imãs, se aproximaram como na esperança de tornarem-se um só, embora soubessem que breve teriam de se separar. Sabiam. Porem... Obedeceriam? Dificilmente.

Cuidadosamente, Matt deitou-o na cama de solteiro que os forçava a ficar ainda mais próximos e tirou-lhe as calças de uma maneira carinhosa. Sustentaram o olhar um do outro, enquanto Matt terminava de se despir. Estou com medo, Mello confessou. Matt puxou a Mao dele e a encostou em seu peito, para que ele pudesse sentir sua pulsação. Eu prometo que não vou te fazer mal.

Delicadamente, introduziu-lhe o indicador, preparando-o física e mentalmente para o que viria a seguir. Mello arfou de dor, apertando a Mao de Matt, ainda no peito dele. Matt, então, levou as mãos de ambos até o rosto do outro e deslizou as costas da sua nas faces coradas do jovem amigo. Não se contendo, introduziu-se inteiramente no rapaz, que se contorcia num misto de dor e prazer.

Ainda esta doendo muito? Matt perguntou, empurrando delicadamente uma das pernas do outro. Não, Mello arfou, não mais.

Ambos estavam no ápice, embora ainda tentassem conter os gemidos que se formavam no fundo de suas gargantas, quando foram interrompidos por severas batidas na porta. Mello? Você e Matt estão aí? A aula já vai começar e vocês dois nem deram as caras ainda! Eu, Near e Linda estamos procurando vocês dois e Roger... Dizia uma voz no corredor. Estamos aqui, Mello o interrompeu, levantando-se de um salto e começando a vestir-se. É que ficamos estudando até tarde e perdemos a hora.

Ouviram, então, um barulho de passos no corredor, e julgando que o visitante indesejado tivesse isso embora, aproveitaram que estavam a sós para se permitirem um ultimo e ardente beijo, antes de se vestirem e se recomporem para sair, não sem antes jurarem segredo sobre o pequeno "romance".

Mas mesmo que ambos tenham definido aquilo como uma mera brincadeira, apenas uma diversão, aquele beijo temperado de chocolate ficou gravado a fogo nas mentes deles. Matt, mesmo que tentasse ser discreto com os acontecimentos, viu-se perdido em devaneios com Mello. O resultado disso foi que tornaram-se amantes, mesmo que não trocassem uma mísera declaração de amor.

Sendo assim, não eram namorados, ou seja, não o estava traindo. Mas se Matt estava tão certo disso, por que ainda relutava, na frente do quarto de Near?