Prólogo
Contam os anciãos que há mais de mil anos existiu um Reino na Lua.. Aquele pequeno satélite da Terra, aquela esfera envolta por negrura, foi avançando econômica, política e socialmente e estabeleceu tratados de paz com os planetas que lhe rodeavam. Contatou com Mercúrio, Marte, Júpiter, Venus, Saturno, Urano, Netuno e Plutão e todos aceitaram o pacto de paz. O Reino da Lua, ao contar com mais tecnologia e um reino bem estabelecido, se converteu em capital do sistema que se denominou Milênio de Prata em homenagem a cor dos cabelos de sua soberana, a Rainha Serenity.
O Reino da Lua também tentou que a Terra se unisse ao Milênio, porém os humanos da Terra rechaçaram a oferta da Lua porque tinham medo de que os habitantes dos demais planetas quisessem colonizar-lhes e tiranizar-lhes. O Milênio de Prata foi se esquecendo da Terra e começou a se desenvolver de forma prospera. Criou-se uma milícia comunitária, cujos representantes eram as Sailor Senshi, um esquadrão de Guerreiros compostos pelos herdeiros de cada planeta. Os herdeiros eram levados desde cedo ao Palácio da Lua, onde eram treinados com dureza e disciplina para converterem-se em Guerreiros. Tinham muita força e um poder mágico superior ao de qualquer habitante do Milênio de Prata Eram um grupo de combate invencível.
E desta forma viveram anos de esplendor, bailes à luz das estrelas, dias repletos de luz e calor e noites cheias de romântico misticismo.
A paz durou pouco. A lenda diz que Caos, um ente obscuro proveniente do espaço exterior, quis se apoderar do Sistema Solar. Os próprios deuses tiveram de deixar o paraíso para combater aquele ente malvado, dotando a cada Guerreiro do domínio de um elemento da natureza, poder, força e valor e à Rainha da Lua um mágico Cristal de Prata capaz de conseguir milagres. Dizem que a luz daquela jóia dotada de mistério simbolizava a segurança do Reino. O Milênio de Prata viveria enquanto aquele frágil cristal conservasse sua luz.
O Caos foi derrotado, mas sua reminiscência se instalou nos Planetas Exteriores: Saturno, Urano, Netuno e Plutão, convertendo as Outer Senshi em seres cruéis, ambiciosos e sedentos de sangue, que seriam capazes de vender sua alma ao diabo a cambio de poder.
Impulsionadas por esta ambição, as quatro, encabeçadas por Saturno, deusa da destruição, formaram um bloqueio sólido e unido pelo ódio, deram um golpe de estado na Lua, dando inicio a uma batalha crucial entre as Inner Senshi, as guerreiras dos planetas cálidos, e as Outer Senshi.
O ódio teria se apoderado do Milênio de Prata se no ultimo momento não tivesse aparecido uma luz branca, virginal, cegante e sublime que destruiu o Caos que reinava os corações de seus Guerreiros. A Rainha Serenity, com sua beleza sobrenatural, o vestido flutuando contra o vento e seus cabelos refulgentes banhados pela luz dos planetas, havia usado o Cristal de Prata. Os avós contam a seus netos que aqueles que presenciaram a batalha choraram ao ver aquela luz serena. E que depois era apenas silêncio.
A paz retornou ao Milênio de Prata, mas a Rainha Serenity não perdoou a traição cometida por aquelas quatro guerreiras. Sentenciou-as ao Sono Eterno do qual não despertariam jamais. As Inner Senshi depositaram as Outer Senshi em câmaras de cristal, nos palácios de seus respectivos planetas, e juraram não desperta-las a menos que o Milênio de Prata dependesse disso.
Mais alem das fronteiras do Milênio de Prata criou-se um reino paralelo ao da Lua: O Reino Obscuro. Invejava a boa saúde da que gozava o Milênio de prata e atacou em numerosas ocasiões o Reino de Serenity, com demônios e seres provenientes dos mais tenebrosos lugares do inferno. Pouco a pouco o Cristal de Prata foi perdendo sua luminosidade, adotando uma cor opaca, presságio de que a situação se tornaria critica.
A Rainha Serenity chamou a Guarda. As Inner Senshi apareceram diante de sua soberana e agacharam a cabeça solenemente, fincando um joelho no solo como sinal de respeito. Serenity sorriu. As Guerreiras haviam demonstrado ser uma força de combate insuperável, uma única força física e mental. Aquelas quatro mulheres compartiam um vinculo que ia além da amizade, alem do amor. Expunham sua vida a morte para proteger ela e sua família. Olhou de soslaio o Cristal de Prata e lagrimas assomaram em seus olhos, lutando para sair.
Havia visto no Cristal que desta vez o inimigo era diferente, mais poderoso. Duvidou. Não sabia se sairiam desta e... Tomou uma decisão, esperando com todo o seu coração não ter se equivocado. Escoltada pelas Inner Senshi, se dirigiu aos Planetas Exteriores.
Primeiro se dirigiu a Urano, o planeta do vento. Sem sua protetora, o planeta havia se tornado árido, deserto, onde o vento estabelecia suas normas e um povo que havia sido abandonado tempos atrás. Serenity sentiu remorso já que quando selou as Outer Senshi ao Sono Eterno, também acabou com as princesas daqueles planetas. E as lutas contra os demônios e sua própria condição, haviam esquecido a gente daqueles planetas consumidos pela fome e pela guerra.
Venus, a líder das Inner Senshi notou que sua Rainha tremia e, ao levantar a vista, viu que suas bochechas brilhavam debaixo da luz dos satélites de Urano. Lagrimas?
Júpiter deu o primeiro passo e depositou as mãos sobre a urna de cristal que continha o corpo de Urano, cuja mente vagava pelas terras do Sono. Marte e Mercúrio a imitaram, deixando que a energia se acumulasse sobre o cristal. Venus colocou a mão sobre o ombro de sua Soberana.
"É o correto", murmurou.
Então, Serenity, suspirando pausadamente, colocou as mãos ao lado da de Venus na urna.
Apareceu sobre o cristal uma luz dourada e Urano abriu os olhos. Serenity não viu restos de Caos naquela confusa mirada verde. Sorriu aliviada.
Se dirigiram ao planeta Netuno, onde o Palácio era o único edifício que se assomava dentre as furiosas ondas e os cantos das sereias. Repetiram a operação esperando que, ao despertar, não houvesse rastro de Caos na Guerreira dos Oceanos. Uma luz verde azulada apareceu sobre o cristal da urna em que repousava Netuno e uma jovem de olhos azuis despertou depois de dezenas de anos de inatividade.
A Rainha Serenity olhou o Cristal de Prata que pouco a pouco ia perdendo sua luz e seu poder a medida que os demônios iam entrando no Milênio de Prata e atacavam os planetas e seus satélites. Se perguntou se também deveria despertar a Plutão e Saturno. Plutão era a Guardiã do Tempo e Espaço, tinha um poder desconhecido e uma forma de atuar cheia de mistérios. Plutão nunca deu explicações a ninguém sobre seu comportamento e foi uma das mais sanguinárias durante a Guerra. E Saturno, a Guerreira da Destruição, o Messias do Silencio... Seus poderes eram incalculáveis. Sozinha podia destruir um planeta inteiro com um leve movimento do bastão do Silencio, aquela grande foice afiada que brandia com sua mão direita como se fosse a própria morte.
Mercúrio havia confessado em uma conversa há umas semanas que só a energia de todas as Guerreiras do sistema solar seria capaz de vencer a onda de terror que as ameaçava e que a união de suas energias poderia renovar o espírito do Cristal de Prata. Mercúrio sempre foi a mais inteligente. Confiou que nesta ocasião também não falharia.
Se dirigiu ao Planeta Plutão e, com a ajuda das Inner Senshi, de Urano e de Netuno, despertaram a Guardiã do Tempo.
A Rainha Serenity olhou, com terror, os anéis que protegiam Saturno. Seria correto desperta-la?
Sentiu uma mão em seu ombro e um cálido apertão. Marte, a líder espiritual de sua Guarda pessoal. Não precisou olhá-la para compreender que devia seguir. Era a única forma de salvar o Milênio de Prata.
A lenda conta detalhadamente como a aura benfeitora das Guerreiras do Milênio de Prata, unida de novo, pôde regenerar o Cristal de Prata e trazer a paz ao Reino da Lua. E como a Rainha decidiu dar uma segunda oportunidade as Outer Senshi, pois viu que em seus corações já não havia rastro de Caos.
Mas quando as crianças perguntam a seus avós como o Milênio de Prata chegou a cair, os maduros olhos dos maiores se enchem de sombras e recordam as ruínas do Palácio da Lua, as flores mortas do jardim, as fontes despedaçadas, a visão dos cadáveres mutilados dos soldados, os corpos sem vida das Guerreiras, da Família Real... E o lento cair do véu da Morte sobre um Milênio nascido para brilhar.
Assim nasceu a lenda.
