Bem, primeiramente, gostaria de agradecer às reviews para as outras fics que postei aqui no fandom... e queria pedir também, pra quem for postar review deslogada, pra por favor colocar o email na parte do nome... pq se colocar dentro da review em si, o site engole o email e eu nao consigo responder à review A___A

Aviso: Essa fic irá conter incesto entre irmãos. Se não goste, não leia.

Beta: Cristal Samejima

The Second Movement


.Ouverture.



Seus pais haviam descoberto seu talento aos três anos de idade. Tinham lhe dado uma pequena flauta de plástico, um típico presente para crianças, e se surpreenderam ilimitadamente quando notaram que os sons que o filho produzia não eram os desconexos e desafinados, normais para uma criança daquela idade. Não... o menino conseguia tirar uma harmonia incomum do instrumento precário. Era realmente estranho, já que ele era tão calado e sério, uma criança inexpressiva até, apática, impassível. Ele quase não se conectava com nada ao seu redor, como se sequer se preocupasse em tomar conhecimento dos acontecimentos a seu entorno. Como se não se importasse; e, talvez, ele realmente não o fizesse.

Um ano mais tarde, quando seus pais decidiram colocá-lo na escola, não estavam preparados para receber a noticia da educadora. Tinham conhecimento de que o menino era inteligente, mas não sabiam da dimensão daquela inteligência; pelo menos, até quando a professora lhes disse que não seria indicado que ele permanecesse naquela classe. Não quando o garoto fazia contas de cabeça, conseguia escrever o próprio nome de forma legível em apenas uma semana de prática, muito menos quando ele sequer encostava nos brinquedos ou tentava se socializar com as outras crianças. Ele era especial... e não de uma forma pejorativa. Ele era inteligente demais para permanecer na pré-escola, aquilo apenas iria lhe atrasar e desestimular.

A principio, Mikoto havia ficado receosa em deixar seu filho conviver com crianças mais velhas tão cedo, mas a escola havia lhe assegurado de que nada daria errado, já que o menino conseguiria acompanhá-las sem qualquer problema. Indicaram-lhe também que o colocasse em aulas de música, já que era um dos poucos assuntos que parecia atiçar realmente o interesse da criança, que andava para todos os lados com a velha flauta de plástico firmemente presa em sua mão. Haviam lhe dito também que as outras crianças pareciam fascinadas com ele quando resolvia tocá-la e, apesar de permanecerem a uma certa distancia respeitosa do sério garoto, elas o admiravam muito, algo que era incomum dentre crianças da mesma idade. Como se a turma tivesse consciência de que ele estava num nível superior ao delas e o tivessem como alguém mais velho, mais avançado.

Porém, nada parecia atingi-lo, tocá-lo; era como se ele estivesse se desprendendo cada vez mais do mundo real e se interiorizando na medida em que o tempo passava. Aquilo deixava Mikoto extremamente preocupada, mesmo que os diversos médicos houvessem lhe afirmado que não havia nada de errado com seu filho, além de um QI extremamente elevado, e que era normal crianças tão inteligentes se sentirem afastadas do ambiente em que viviam. De alguma forma, ele não lhe parecia feliz e era aquilo o que mais lhe doía. Fugaku havia concordado em matricular o menino numa escola de música, apesar de não terem idéia de que instrumento o menino preferiria tocar. O instrutor, irmão de seu marido, o que era uma coincidência extremamente agradável, deixara claro que os apresentaria à criança e o deixaria explorar e escolher o que mais lhe agradasse, o que deixou os pais um pouco mais tranqüilos; era uma forma de distrair o garoto, que, apesar de sempre tão quieto, parecia entediado o tempo todo.

A surpresa maior veio pouco tempo depois, quando Mikoto viu-se grávida novamente. Discutira com o marido diversas maneiras de abordar o assunto com o filho e decidira esperar a criança voltar das aulas de música daquele dia para dar-lhe a notícia. Não sabia como ele reagiria e temia por isso, mas agradecia ao fato de seu filho ser tão calmo, já que isso pelo menos seria uma garantia de que ele não faria um escândalo ou coisa parecida.

Esperou Fugaku buscá-lo e levá-lo para casa, de forma relutante, já que o garoto parecia querer passar cada vez mais tempo na escola de música. Era como se aquelas três horas diárias não lhe bastassem. Preparou-lhe os biscoitos preferidos, algo que achava curioso; ele não gostava muito de comer, mas quando lhe ofereciam algo com açúcar, era como se seu apetite tivesse dobrado. Sorriu, nervosa, enquanto ouvia o carro estacionar na frente de sua casa. Não deveria estar tão ansiosa, mas não conseguia evitar... seu filho era tão imprevisível...

- Itachi, vá para sala. Sua mãe está esperando. – Ouviu o marido ordenar, respirando fundo ao ouvir os passos suaves do garoto em sua direção.

- Sente-se, querido. – Pediu, suavemente, vendo-o olhar para o prato de biscoitos e em seguida para si, erguendo uma sobrancelha num pedido mudo. Sorrindo, sinalizou para que ele se servisse, o que o menino obedeceu prontamente. – Bem, eu e seu pai temos uma notícia muito importante para dar a você.

- É? – Ele respondeu, desinteressando, enquanto mordiscava o doce.

- Sim. Você vai ter um irmãozinho. – Declarou, dando uma pausa para observar-lhe a reação, vendo o marido fazer o mesmo de seu ponto, encostado no batente da sala. Porém, quando nada aconteceu por vários segundos, Mikoto resolveu tentar instigar, já que aquela falta de interesse de Itachi a estava deixando ainda mais nervosa. – Não é maravilhoso, meu bem?

- Deve ser. – Ele voltou a responder, olhando para a mãe como se esperasse por uma autorização para deixar a sala, não parecendo sequer incomodado pela notícia que recebera.

- Como assim 'deve ser'? Você não está feliz ou chateado? Afinal, é outra criança para dividir as coisas com você. – Tentou novamente, começando a sentir um estranho bolo se acumular em sua garganta.

- Eu não me importo.

Mesmo que tentasse engolir as lágrimas que se formaram em seus olhos, elas verteram sem sua permissão. Percebeu que seu filho arregalara os dele levemente em surpresa por sua reação, voltando em seguida para sua habitual expressão apática, apesar do leve toque de melancolia que podia ver naqueles olhos, tão negros quanto os seus. Quis abraçá-lo, pedir para que ele lhe dissesse, lhe desse qualquer indicação de que se importava, de que era uma parte efetiva daquela família... de que ele estava vivo por dentro. Mas não o fez.

- Desculpe. – Ele pediu, fazendo uma leve reverência e se retirando da sala. Porém, mesmo que sua voz houvesse soado totalmente inexpressiva, Mikoto pode perceber uma pequena nota de pesar, como se ele estivesse triste por tê-la decepcionado. Ou poderia ser apenas algo de sua imaginação.

Percebeu que o prato de biscoitos permaneceu na mesa da sala, ainda praticamente cheio, e teve o ímpeto de levá-lo ao quarto do filho. Porém, quando os braços de seu marido a envolveram firmemente, tentando acalentá-la de alguma forma, não conseguiu evitar que os soluços deixassem seus lábios, assim como as lágrimas que escorriam por seu rosto. O que havia de errado com seu Itachi? Por que seu filho era tão sozinho, tão distante... tão infeliz?

-

Segurava o bebê em seus braços, sorrindo ternamente enquanto o observava dormir. Fugaku prometera levar Itachi ao hospital para que ele pudesse conhecer o novo irmãozinho e, quem sabe, sentir algo que fosse pela criança que agora faria parte de sua vida também. Não via o filho mais velho há três dias e não podia negar que estava com saudades... mesmo distante, seu menininho ainda era uma parte de si e não conseguia se desapegar dele como ele parecia desapegado de si.

Depois de uma leve batida na porta, seu marido entrou com o filho mais velho, que, como sempre, exibia uma expressão de intenso tédio. Ele não fez qualquer menção em se aproximar da cama, fazendo-o apenas devido ao não tão suave empurrão que seu pai lhe dera naquela direção. Sorriu sem conseguir conter o orgulho pelo fato de, mesmo perdendo o equilíbrio, Itachi conseguir se manter aprumado e elegante, como se sequer houvesse recebido um impulso para que se movesse. Ele era realmente uma criança linda e graciosa... quase irreal.

- Venha aqui, meu amor. Vem ver seu irmãozinho. – Pediu, abaixando o pequeno embrulho em seus braços para deixá-lo no mesmo nível dos olhos do garoto mais velho.

Apesar de entediado, Itachi pareceu levemente curioso ao ver aquela criança rosada e frágil, erguendo uma sobrancelha ao notar que os olhos dele sequer tinham se aberto direito. E aquilo deixou Mikoto um pouco mais esperançosa; Itachi raramente esboçava alguma expressão, e só o fato de ele o fazer já era o suficiente para demonstrar que a atenção dele estava presa.

- Toque-o, vamos. Ele é só um nenenzinho, mas gosta de receber atenção. – Incentivou, vendo-o olhar em seus olhos, um pouco confuso, antes de seguir-lhe as instruções e, hesitantemente, levar a ponta dos dedos até o braço do irmão.

Mikoto observou atentamente enquanto seu filho mais velho deslizava os dedos, vagarosamente, pela pele do bebê, como se estivesse surpreso pela suavidade de sua textura. Viu-o contornar a mão firmemente fechada da criança, a curiosidade agora explícita em seus olhos ao perceber o quanto os ossos dele eram moles.

- O nome dele é Sasuke. – Mikoto declarou, sorrindo para o mais velho.

- Sasuke... – Ele repetiu, num sussurro, e a mulher quase riu quando o garoto se assustou ao ter seu dedo firmemente segurado pela mão sensível do bebê. Itachi se encontrava com os lábios entreabertos, numa expressão clara de surpresa, enquanto balançava o dedo suavemente para testar a força do irmão.

- Você pode ensiná-lo a tocar flauta quando ele for maiorzinho. – Sugeriu, vendo os olhos do filho se voltarem para si por poucos instantes, para novamente fitarem o bebê em seus braços, perdido em pensamentos.

- Oh.

Um pequeno sorriso - tão minúsculo que Mikoto teve que olhar para seu marido para que ele confirmasse que não havia sido algo de sua cabeça – adornou os lábios de Itachi ao ouvir o bebê suspirar e adormecer, seu dedo ainda firmemente preso por aquela mãozinha tão frágil e delicada. A forma relaxada e expressiva que o mais velho olhava para o irmão a fez ter certeza de que tudo ficaria bem; de que, mesmo não sendo uma criança normal e não conseguindo se fazer parte do ambiente a sua volta, Itachi havia conseguido outra coisa que o conectava com o mundo real. Reconhecia aquela expressão: o mais velho olhava para Sasuke da mesma forma que olhava para sua flauta de plástico, com a mesma curiosidade e afeição.

Apesar de surpresa por aquela conexão instantânea – o que era realmente estranho para Itachi, já que ele não lidava bem com pessoas num geral – não questionou, apenas aceitou o fato. Talvez, o fato de haver uma possibilidade de Sasuke compartilhar dos mesmos gostos, da mesma essência que ele, ou mesmo ser ensinado a tal, afetasse Itachi mais do que ela previra. Talvez, seu filho estivesse realmente tentando buscar no irmãozinho um semelhante, alguém para dividir seu mundo imaginário, irreal. E Mikoto esperava que assim fosse, e que seu pequeno Itachi conseguisse, finalmente, apagar aquela dolorosa, porém quase imperceptível melancolia de seus olhos.