Título: Trust me
Autor: Marcia Litman
Categoria: AU
Advertências: Nenuma
Classificação: PG-13
Capítulos: 1 (one shot)
Completa: [X] Yes [ ] No
Resumo: "Você vai ter que confiar em mim."


N/A: Embora eu tenha usado os personagens de Percy Jackson e os Olimpianos, o conceito usado nessa fic se baseia no universo de Exterminador do Futuro. É importante conhecer esse universo antes de ler essa fic, para melhor compreensão.


Trust me

A loira o observava ao longe, no escuro, enquanto ele andava pelas ruas de Nova Iorque, mãos nos bolsos e rosto baixo, quase desatento. Ela tentava ajustar a sua visão à iluminação precária daquele trecho, buscando reconhecer aquele rosto. Ela podia dizer que o conhecia tão bem, apenas pela foto que deixara para trás. Uma foto que mostrava um rapaz que ela conhecia, mas que era bem mais novo que aquele que ela conhecia. Nenhum objeto inorgânico passará, as palavras eram claras como o dia em sua memória, e por isso não houve a ilusão de trazer aquilo que facilitaria a sua busca – ou qualquer arma que fosse realmente último, lamentou consigo mesma. Mas a fisionomia estava ali, em algum canto do seu consciente, pela quantidade de vezes que ela observara a foto. Annabeth só precisava ver o rapaz a quem seguia há algumas horas.

Ele entrou em um barzinho qualquer, e ela imitou o caminho do modo mais discreto que pode. Sabia que não poderia abordá-lo enquanto não tivesse certeza. Precisava esperar. Seus olhos vasculhavam a aparência do rapaz: cabelos escuros e arrepiados, estatura mediana, um pouco mais alto que ela. Mas não havia absolutamente nenhuma possibilidade de ver o rosto ainda. Talvez se a luz do estabelecimento fosse um pouco melhor...

Ainda mantendo a discrição, ela diminuiu os passos ao entrar no estabelecimento, procurando a mesa ocupada pelo rapaz, mas tentando não mostrar que o estava olhando. Rapidamente ela achou algum lugar e se acomodou nele, procurando continuar sua averiguação silenciosa. Precisava continuar quase invisível, porque o bar estava quase vazio, a não ser por ela, o rapaz que seguia e um sujeito com aparência de motoqueiro que estava no balcão. Annabeth tinha quase certeza que era ele. Só mais um pouco...

O sujeito com jeito de motoqueiro se movimentou de um jeito que deixou Annabeth alarmada. Ela respirou mais compassadamente, buscando a pistola que estava escondida no bolso interno da jaqueta que vestia, aquela que custosamente achara, assim como a arma cujo coldre era totalmente envolvida por sua mão, pronta para ser usada. A loira observou em silêncio pelos próximos instantes, engolindo em seco. Qualquer reação precipitada a denunciaria. Mas uma reação atrasada poderia colocar tudo a perder.

Isso fez com que Annabeth perdesse o foco do rapaz a quem ela tentava determinar como aquele a quem ela procurava e sequer se deu conta quando ele se levantou e fixou o olhar sobre ela. Ele franziu a testa, antes de abrir a boca no formato da letra "O", aparentemente assustado.

-Hey, você é a louca que tá me seguindo.

Foi somente ali que ela pode ter a certeza que acabara de encontrar a pessoa que procurava: Percy Jackson. E isso aconteceu apenas um segundo antes que o motoqueiro se levantasse repentinamente de seu lugar, virando-se na direção deles e perguntando com uma voz que soava quase como um trovão.

-Percy Jackson?

Um arrepio na espinha da loira: era um exterminador. E ele também acabara de encontrar o que procurava.

-Sim?

Annabeth segurou o ímpeto de rolar os olhos. Como você confirma a um desconhecido assustador que é a pessoa que aparentemente ele procurava?

-Abaixa!

Ela gritou imediatamente, correndo para o rapaz e forçando-o cumprir sua ordem, atirando na mão do exterminador, impedindo que ele disparasse contra o rapaz. Annabeth disparou mais duas vezes nos locais que causassem o máximo de dano possível antes de puxar Percy pelo colarinho de qualquer jeito – ignorando os protestos veementes do rapaz – para fora do bar.

Annabeth achou um beco escuro e se escondeu com Percy nele. Os dois ficaram abaixados e os olhos dela estavam atentos à movimentação da rua.

-Você atirou no cara!

Annabeth colocou o dedo indicador sobre os lábios pedindo silêncio.

-Sério que você descobriu isso sozinho? - ela sussurrou, franzindo a testa. - Ele ia atirar em você. Acho que essa parte passou desapercebida.

-Mas você matou o cara!

-Shiiiiiiu!

Percy ficou em silêncio enquanto Annabeth analisava o ambiente.

-Infelizmente não, ele não está morto. E ele não é um cara. Mas é muita história pra contar, agora temos que sair daqui.

Os olhos da loira vasculharam a rua mal iluminada e viu que tinha alguns carros. Ela escolheu um dos mais antigos, aquele que certamente seria mais fácil de realizar uma ligação direta.

-Escuta: - ela chamou a atenção de Percy. - você vai me seguir, sem discutir, e fará o que eu mandar, não importa o quão louco ou arriscado pareça.

-Por quê eu faria isso? - ele adotou o tom sussurrante que ela impusera como ideal. - Você é só uma doida armada que tava me seguindo. Ou acha que eu não percebi?

Ela respirou fundo. Não podia culpá-lo pelo susto. Ele não sabia de nada do que acontecia à volta. Ou o que seria do mundo em apenas alguns anos. Nada estava salvo, mas protegê-lo podia ser a manutenção daqueles que resistiam à dominação das máquinas, como aquelas que os procuravam.

-Você vai ter que confiar em mim, pelo menos se quiser sair dessa.

-E se você quiser me matar?

-Digamos que você terá que lidar com um homicida por vez.

Percy abriu a boca, mas nenhum som saiu dela. Então ele a fechou, acenando com a cabeça.

-Ok – ele concordou.

-Ótimo. Então o que eu vou fazer é correr para um daqueles carros. Você me observa. Quando eu der o sinal, você vai fazer exatamente do mesmo jeito que eu, então preste atenção.

Ele acenou mais uma vez e Annabeth achou que seria satisfatório. Então ela se concentrou no carro. Contou mentalmente até três, antes de disparar para o veículo que estava do mesmo lado da calçada que eles. Annabeth permaneceu abaixada, usando as técnicas aprendidas na batalha contra as máquinas para arrombar o veículo. Assim que conseguiu, abriu a porta e acenou para Percy. Quando ele chegou até onde ela estava, ambos entraram no carro, permanecendo com a cabeça abaixada enquanto Annabeth fazia ligação direta.

-Você parece experiente nisso – ele comentou.

Annabeth olhou rapidamente para ele antes de continuar.

-Mais do que eu gostaria.

Ela olhou no retrovisor e viu a aproximação da silhueta que não queria ver. Respirou fundo, a garganta secando e o coração acelerando. Os movimentos das mãos se aceleraram, tentando dar a partida no carro. Eles precisavam sair dali imediatamente.

Mais um olhar no retrovisor e ela viu o exterminador puxando uma espingarda. Ela se apavorou, apenas um segundo antes que o carro ligasse. Ela pisou na embreagem, engatou a marcha e pisou no acelerador antes de conseguir se ajeitar no banco, dirigindo o mais rápido possível, olhando nervosamente o retrovisor.

-Como ele consegue...? - Percy parecia desconcertado.

-Longa história. Agora eu preciso que você pegue o volante.

-O quê?

-Só pega a droga do volante, Percy!

Ele o fez imediatamente, trocando de lugar com Annabeth, e mostrando certa habilidade em fazer isso em um carro em movimento. A loira não teve tempo de se mostrar impressionada, antes colocando parte do corpo para fora da janela e buscando mira.

-Não desacelera, Percy!

Ela mirou a máquina e atirou: uma, duas, três, quatro vezes antes de recarregar. A velocidade do exterminador diminuiu, mas ela pareceu frustrada ao perceber que ele simplesmente não caia.

-O cara não cai!

-Ótimo! - Annabeth rosnou. - Mais um fato óbvio. Só... continua dirigindo esse treco.

Ela procurou na jaqueta outra arma que havia roubado, uma de um calibre mais grosso. Precisava tentar. Fez mira e atirou, sentindo o tranco mais forte que o anterior. O exterminador caiu e ela se sentiu mais aliviada. Eles teriam mais tempo para se esconder.


Era uma casa abandonada. O máximo que eles tinham conseguido com aquele carro e o combustível que eles possuiam. Annabeth agradeceu o fato de ainda achar algo que pudesse ser aproveitado em curativos e um colchão velho que ficara para trás. Teriam um lugar para repousar à noite, antes de fugir pela manhã. Muito embora ela soubesse que não pregaria os olhos. Estava acostumada com essa rotina.

-Então, você sabe meu nome, mas não sei o seu.

Annabeth olhava pela janela enquanto Percy estava sentado em um canto no chão, observando-a.

-Tenente Chase.

Ele apertou os lábios, acenando com a cabeça.

-Tenente Chase parece muito impessoal. Ou você não tem um primeiro nome?

-Por quê se preocupar com primeiros nomes?

-Ora, eu confiei, como você pediu. Acho que seu nome é o mínimo que posso receber.

Ela não tinha argumentos.

-Annabeth.

-Ótimo, Annabeth. Agora, você pode me contar o que é aquela coisa e como você sabia o que fazer?

Um encontro de olhares rápido.

-Agora não. Acho melhor você dormir.

-Agora não? - ele se levantou e foi em direção a ela. - Olha, eu tô tentando não surtar, ok? Mas um cara, ou sei lá que coisa é aquela, tentou me matar, e você tava me seguindo. Então é, você precisa me falar mais que um simples agora não.

Ela encarou aquele rosto que lhe parecia tão familiar, mas que pertencia a um perfeito desconhecido. Ele estava diferente daquela foto e do que ela conhecia, um pouco mais novo, e mesmo assim ela podia ver aquele fogo no olhar. Ele era uma das pessoas mais corajosas e altruístas com quem tivera a honra de batalhar. E vê-lo assim, tão novo, só lembrava das saudades que ela sentia. Muito embora ele ainda não fosse o Percy que ela conheceu, mas seria aquele mesmo que a recrutaria em apenas alguns anos. O mesmo que conquistaria o seu coração. Embora ela tinha a impressão que ele já batia descopassadamente naquele segundo.

-Nós já nos conhecemos, Percy. Quer dizer, você me conheceu agora, e quando me encontrar no futuro já saberá praticamente tudo sobre mim.

Percy franziu a testa antes de cair na gargalhada.

-Você tá vendo muito filme, né?

Annabeth rolou os olhos.

-E um Cabeça de Alga mesmo – foi o resmungo dela.

-Você acha mesmo que eu vou acreditar nisso?

-Não, você não vai. Primeiro fará essas piadas que, desculpa, não tem graça. Depois vai fazer uma cara séria, igual a essa que tá fazendo agora. Aí vai me chamar de louca. Como eu não vou dizer nada, você simplesmente vai sentar naquele colchão, colocar a cabeça nas mãos e ficar em silêncio por uns quinze minutos antes de estar disposto a ouvir o que tenho a dizer. Então nem vou tentar.

Ao final das palavras, Annabeth percebeu que Percy se encaminhara para o colchão, repetindo o gesto que ela havia narrado. Ela então voltou o olhar para a janela, vigiando.


Anos se passaram desde aquele primeiro encontro e vê-la, um pouco mais jovem do que ele conhecera, parecia irreal. Mas era só mais uma constatação de que tudo o que ele vira e vivera era real. E, dentro de toda a destruição, Percy estava feliz em ver Annabeth mais uma vez, especialmente depois de ter sido salvo por ela. De ter visto ela partir em seus braços. De ter presenciado a moça destruir o exterminador que os perseguira.

Ele tinha pedido que ela fosse trazida depois que ele a achou em um dos abrigos. Seu coração disparou. Ele esperara tempo demais por revê-la, mesmo que agora ela estivesse mais jovem do que quando ele a conhecera.

-Percy Jackson, a lenda da resistência. O que deseja de mim?

-Annabeth Chase.

A moça pareceu surpresa com o fato de um dos homens mais importantes da resistência saber seu nome.

-Como...?

-Escuta: você não me conhece, mas eu te conheço. E preciso que você confie em mim. Tenho algumas coisas a contar.