Se eu não tiver você
CAPÍTULO I
- Consegui! Consegui! Consegui!
Uma linda jovem de 19 anos, longos cabelos lilases e expressivos olhos verdes entrava em casa gritando, o que fez seu pai vir correndo verificar o que estava acontecendo
- C-Calma Saori, calma!- pedia enquanto tentava conter os pulos da menina- Meu Deus, o que aconteceu?! Conseguiu o quê?!
A moça parou, olhou o pai e praticamente se jogou no pescoço dele
- Sr. Kido, você está falando com a mais nova estagiária das empresas Toshio de Tóquio!!
O pai não pôde conter a alegria e dessa vez era ele quem estava dando pulos de alegria
- Empresas Toshio? Aquela de exportação marítima?
Saori balançou a cabeça positivamente
- Oh meu Deus! Parabéns filhota! Você merece! Esforçou-se muito pra isso! – a jovem o abraçou com mais força- Mas agora... dá pra soltar um pouquinho o meu pescoço? Tá me sufocando... – o Sr. Kido disse com a voz falha
-Ops... Desculpa papai! Foi mal. Mas é que eu estou muito feliz!!
-E pra demonstrar sua felicidade precisa quase me estrangular?-disse arrumando o colarinho da camisa - Você não muda mesmo Saori!
Ela fez uma cara de sapeca, mas percebeu quando a feição alegre do pai desapareceu e ele se aproximou dela
-Minha filhota... - disse passando a mão no rosto da jovem- Você cresceu e eu nem percebi. Ontem você era uma criança e hoje já é uma mulher que vai começar a construir a vida... Longe de mim.
Saori entendia o pai. Ela também não queria deixá-lo só. Mais foi logo quebrando o clima antes que começassem a chorar
- Ah, papai. Não fique assim... E, aliás, por que todo pai fala isso pros filhos, hein? Vocês combinam as falas uns com os outros?
O Sr. Kido deu um sorriso e abraçou a filha
- Porque todo pai ama seus filhos. E na verdade, a senhorita pode ter crescido fisicamente, mais ainda tem o jeito moleca que eu tanto aprecio em você – deu-lhe um beijo na testa - por isso quero que vá e seja muito feliz, entendido mocinha?
-Entendido chefe!- Saori brincou fazendo continência ao pai- Mas agora já vou dormir. Tenho que acordar bem cedinho amanhã. Ainda há muitas coisas para arrumar e só tenho mais dois dias. Boa noite pai!
-Boa noite minha filha! -deu um beijo em sua testa - Durma bem.
Saori subiu ao seu quarto, fechou a porta e jogou-se em sua cama. Mal acreditava em tudo que estava acontecendo. Estava radiante!
- Finalmente vou sair dessa cidadezinha e conhecer o mundo- falou enquanto pegava um retrato de sua bela mãe, que estava sobre o criado-mudo – Ah mamãe... como eu queria que estivesse aqui comigo para ver tudo isso. Mas tenho certeza que você esta me observando ai de cima, não é mesmo?
A mãe de Saori morreu tragicamente em um acidente em Tóquio quando ela tinha apenas cinco anos. Mas isso não a entristecia. Pelo contrário, ela cresceu com o pensamento de que a mãe havia se tornado mais um anjo no céu para protegê-la e por isso todas as lembranças boas que tinha dela afagava a tristeza de não tê-la mais por perto.
O pai de Saori ainda não tinha sono para dormir. Não antes de fazer uma coisa muito importante. Apagou as luzes da sala e da cozinha, e subiu ao quarto da filha.
-Saori? Ainda está acordada, filha? – sussurrou o pai da jovem, abrindo a porta bem devagar.
-Estou sim, papai. Entra! - pediu, fazendo um sinal para que o pai sentasse ao seu lado- Aconteceu alguma coisa?
O Sr. Kido sentou-se e passou o braço por cima do ombro da filha
-Estava pensando em sua mãe, não é? – o silêncio que Saori fez já lhe respondia a pergunta- Eu também sinto muita falta dela.
Uma lágrima rolou do pai que via em sua filha, o retrato de sua esposa. Eram iguais tanto fisicamente quanto na personalidade forte. Depois da morte dela, mudou-se para o interior, a fim de criá-la em um local tranqüilo.
-Papai, eu prometo que assim que eu estiver estabilizada eu virei te visitar. E se eu for efetivada na empresa, venho te buscar imediatamente para morar comigo.
O Sr. Kido apenas sorriu e pegou a mão da filha, onde depositou uma linda corrente com um pingente de prata. Dentro do pingente, a última foto que a família havia tirado antes da morte da mãe de Saori.
-Era da mamãe, não é?- o pai assentiu com a cabeça- Obrigada papai. Vou guardar para sempre aqui comigo. Vai me dar muita sorte, tenho certeza disso- disse colocando a corrente no pescoço.
O Sr. Kido já ia se levantando para voltar à seu quarto, quando Saori o abraçou pelas costas
-Boa noite, papai. - disse, dando-lhe um beijo na bochecha.
-Boa noite, minha princesinha- respondeu carinhosamente à filha. Não sabia o porquê, mas só agora poderia dormir tranqüilo.
Dois dias depois, Saori estava pronta para partir. Um carro que a empresa tinha enviado a estava esperando na porta de casa. A empresa era muito responsável com seus funcionários, por isso dava-lhes toda a assistência necessária, inclusive, para aqueles que moravam longe de Tóquio, como Saori, fornecia-lhes hospedagem em pequenos apartamentos espalhados por toda cidade
- Saori! O carro já chegou e está te esperando!- A moça escutou o pai chamando
-Já tô indo, papai! Peraí! – respondeu enquanto olhava pro quarto, numa espécie de "despedida". Tinha a maldita sensação de que nunca mais estaria ali. Balançou a cabeça como se quisesse espantar tais pensamentos. Pegou a mala que estava sobre a cama, deu uma última olhada em tudo e desceu. Lá embaixo, encontrou o pai com os braços abertos, esperando-a para abraçá-la. Depois de largar a mala no chão, ela foi correndo atender ao pedido do amado pai
-Te amo filhota! Se cuida, viu!
-Também te amo muito, muito, muito – a garota disse enchendo-o de beijinhos- E vê lá o que vai fazer sem mim aqui pra te vigiar, hein! E não se esqueça de tomar seus remédios para pressão e de...
- Hei! Eu sou o pai aqui! Essas falas são minhas!
Saori ia abrir a boca para falar algo, mas foi interrompida pelo som da buzina do carro, que o motorista tocava insistentemente a fim de apressá-la
- Calma aê!! Eu já tô indo!!- gritou a menina- Cara mais chato!- resmungou logo em seguida.
Depois de ouvir do pai todo tipo de recomendação possível, inclusive a de não arranjar encrenca (coisa que ela era especialista), Saori entrou no carro e acenou para o pai. Logo o carro estava virando a esquina, sob os olhares do Sr. Kido.
Fim de tarde, três horas numa intediante viagem, e o carro já se encontrava próximo de Tóquio. Era possível reconhecer a aproximação graças aos enormes arranha-céus que iam surgindo e ao incessante barulho de buzinas de carros, obras e pessoas. Não era muito diferente do que ela imaginava.
- Já chegamos! É aqui!- avisou o motorista, já saindo do carro para abrir a porta para Saori.
Ao descer do carro, ela se deparou com um enorme prédio, todo cheio de luminosos e com uma arquitetura belíssima, moderna e ao mesmo tempo, clássica. O motorista sorriu ao ver a cara de admiração da garota.
-Nossa... Eu não queria estar na pele do dono dessa empresa. Deve ser uma barra administrar tudo isso, não acha?- Saori perguntou ao motorista
- Nem tanto. O Sr. Shion Toshio conta com vários funcionários para ajudá-lo. Ele prefere contar com funcionários capacitados, que o ajudem tecnicamente, do que se associar a vários empresários que não entendam de negócios. Por isso todos pensam que ele administra a empresa sozinho.
- Entendo. Mas ele não tem medo de que alguém aja de má fé? Quero dizer, alguém pode entrar na empresa como espião, fornecer informações importantes para outras empresas. Isso é muito perigoso!
- Você tem razão. Mas para um funcionário ingressar na empresa, ele passa por um sofisticado sistema de avaliação. Inclusive, se você vai trabalhar aqui, deve ter sido rigorosamente avaliada. Mesmo que não tenha percebido.
Saori estava ficando intrigada. Ou seu futuro chefe era muito bom, um anjo na Terra, ou era muito burro. Como uma empresa daquela magnitude era administrada daquele jeito? Mas de qualquer maneira, esse método estava dando certo. Nunca se ouviu falar de nenhum escândalo que envolvesse seu prestigiado nome.
-Senhorita?- o motorista interrompeu os pensamentos de Saori- Está se sentindo bem? Ficou calada de repente.
- Hã?- olhou para o motorista, assustada- Ah, sim, sim, estou ótima! Só... estava pensando.
- Então, se está tudo bem, eu já vou indo. Mais tarde alguém a levará até a sua nova casa. Com licença.
- Sim. Muito obrigada. E não se esqueça de pôr o cinto!- disse a menina acenando para o motorista.
O motorista apenas sorriu. O carro partiu, deixando Saori em meio a uma grande cidade, e em frente a uma das maiores empresas do mundo. Sorriu, ao pensar nas grandes oportunidades que poderia ter ali dentro e em como sua vida poderia mudar
- Vamos lá, Saori! Vamos ver o que te aguarda- pensou consigo mesma.
CONTINUA...
