Sasuke acaba se ferindo em uma missão Anbu, e tem de passar por uma cirurgia. Porém, ele não esperava permanecer por 10 dias, internado. Tsunade prevendo uma possível fuga, coloca uma pessoa para vigiá-lo, garantindo que o Uchiha não saia do hospital. A vigia é ninguém mais, ninguém menos que, Sakura Haruno.
Esses dias serão suficientes para resgatar um sentimento antigo? Ou farão com que ambos se distanciem ainda mais?
Naruto não me pertence.
10 Dias Com Ela — Capítulo I
Primeiro Dia
..
Estou em um hospital.
Como sabia disso? Sentia que meu corpo repousava em uma daquelas camas pouco confortáveis do lugar, somado ao cheiro típico de antisséptico que pinicava minhas narinas. Além de que o ar dali era mais frio, bem diferente do clima que presenciei antes de apagar.
Lentamente abri meus olhos, tentando me acostumar com a claridade. Após o momento chato de ter a visão desfocada e estrelas brincarem na minha frente, consegui observar melhor onde me encontrava. O quarto desprovido de cores e decorações afirmou minha observação. Devia estar na ala dos machucados em missões Anbu.
Bufei me negando a acreditar que havia sido pego em uma armadilha. Era para ser uma missão simples, pegar uns ladrões que tinham furtado documentos da sala da Hokage, dar uma lição com os punhos neles, e devolver os artigos para Tsunade.
Porém, Lee e eu subestimamos o inimigo. Resultado disso foi uma emboscada, a qual caímos feito patinhos. Meu adversário era esperto, possuía um estilo incomum, o de bloquear pontos de chakra e forçar o outro no corpo a corpo. E infelizmente fora exatamente o que aconteceu.
Não podendo usar jutsus, parti para o combate direto. Fui relativamente bem, até que o desgraçado golpeou-me fortemente no quadril. A dor foi intensa e me cegou. A última coisa que me lembro antes de apagar, foi de Lee chegando para me ajudar.
A porta sendo aberta interrompeu meu momento de autoacusação, e por ela passou uma mulher loira de frente avantajada. Tsunade tinha o cenho franzido, me alertando de que não viria boa coisa por aí.
— Vejo que está acordado. – comentou-a.
Dei de ombros, emburrado. Odeio hospitais.
A Hokage encostou-se na parede e me encarou.
— Acredito que queira saber o que aconteceu contigo. – falou-a.
Afirmei com a cabeça.
— Você está um caco. Um de seus pontos de chakra foi bloqueado, teve o colo do fêmur fraturado e seu corpo está em um estado de fadiga extremo. Qual foi a última vez que tirou folga, Sasuke?
Levantei as sobrancelhas diante meu diagnóstico. Quando foi que passei de um ótimo ninja para um saco de batatas? Talvez o meu objetivo de voltar a ser querido pelas pessoas de Konoha tenha feito isso. Após a guerra, mesmo estando ao lado deles, as pessoas ainda me olham de maneira torta. E posso não demonstrar, mas me fere.
Aos poucos fui me aproximando novamente do meu antigo time, mesmo que tenha um intruso atualmente, Sai. E apesar da companhia alegre de Naruto, me sinto sozinho quando volto para minha casa no enorme Distrito Uchiha. Toda aquela admiração que sentiam por mim quando adolescente, evaporou. Eu queria aquilo de volta, e por isso me esforçava demais nas missões.
— Quanto tempo vai demorar? – questionei.
Tsunade entendeu minha pergunta, e apertou os lábios em reprovação. Ela não ia me sugerir uma folga, não é? Eu não a aceitaria.
— Você vai ficar internado por 10 dias, Sasuke. – ela levantou a mão, calando minhas objeções que já se formavam. – Nem adianta discutir. Seu corpo precisa desse descanso, para se recuperar da cirurgia feita e da fadiga.
Cerrei os dentes diante isso.
— Posso ao menos ficar em casa?
— Não. Te conheço, sei que vai fugir em uma missão na primeira oportunidade. Vai ficar aqui no hospital. E nem pense em armar uma fuga, não vai adiantar, já tomei providências para que você fique nesse quarto durante esse tempo.
E dando esta sentença, ela saiu do quarto, deixando-me a sós com a minha fúria e incredulidade.
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Tudo naquele recinto era irritante, desde a simples maçaneta ao peculiar vaso que se encontrava na escrivaninha. Perguntei-me se estava realmente correto sobre tudo aquilo e logo obtive a verdadeira resposta: não havia nada mais tedioso do que um quarto de hospital. Senti uma certa pena de todos aqueles que se encontravam naquelas instalações. E isso se estendia a mim.
Não que estar ali ou no distrito fosse realmente mudar alguma coisa, entretanto, o local que costumava ser referencial dos Uchihas ainda era meu lar. Ou costumava ser. A verdade, é que eu não aguentava toda aquela inércia. E sabe o porquê? Pois ela era semelhante a mim.
Aquelas paredes presenciaram os momentos mais felizes da minha vida e apesar de querer afastar todas as lembranças de uma suposta família, meu peito se aquecia, pelo menos por um instante. As fotografias e objetos que representavam todos os meus laços, continuavam presentes em toda casa e penso porque diabos ainda não os deletei. Talvez por eles serem os únicos pontos de alegria que ainda existem naquela morada, pois eu era somente mais um poço de aflição e arrependimento.
Eu seria tolo demais em não admitir tais coisas. Mentiria pra mim mesmo, e eu definitivamente estava cansado de mentiras, muitas me foram contadas e já não conseguia mais distinguir uma verdade de uma omissão.
E dessa forma eu ia levando minha medíocre vida. Sendo apenas um Uchiha.
Continuava deitado na espaçosa cama, arrependendo-me amargamente por despertar todos aqueles pensamentos. Eu tinha o péssimo hábito de remoer o passado e infelizmente levaria essa escória até os últimos dias de minha vida. A não ser que algo ou alguém me faça mudar de opinião, todavia duvido muito que isso aconteça.
Percebi alguém abrindo a porta de meu quarto, e logo um vulto rosa se faz presente no local. Ela parou e me encarou durante minutos, fazendo-me estranhar tal coisa. O que ela pretendia com aquilo? Ao longo dos anos Sakura se tornara uma incógnita, um problema terrivelmente maior que eu e isso irritava-me de maneira explosiva. Sempre fora muito transparente pra mim, por que mudara tão agressivamente?
Olhou-me de forma superior, como se eu fosse apenas um aluno e ela a intocável professora. Quando achei que finalmente se voltaria até mim, caminhou até o sofá mais próximo e ficou por ali mesmo. Ela encarava o chão, distante, como se fosse possível mover mares com seus esmeraldinos olhos. Cada tamborilar de dedos intrigava-me e eu queria perguntar qual era o significado de toda aquela porra.
Foi quando eu finalmente tomei a iniciativa.
— O que você quer, Sakura? – perguntei-a de forma direta.
— O que você quer, Sasuke? Se matar? – a pergunta surpreendeu-me de imediato, como um belo tapa na cara. E eu sabia que era exatamente isso que Sakura gostaria de fazer.
— Não me venha com sermões. Minha mãe costumava fazer esse papel brilhantemente e ela já não está mais entre nós. – por um instante me arrependi de ter proferido tais palavras a Sakura. Mas por que ela sempre insistia? Sabe o quão teimoso eu sou, porém, mesmo assim, continua me enfrentando. Instigando e interrogando como o mais experiente dos shinobis.
Aquela criatura apenas deu de ombros e aproximou-se ainda mais. Ela puxou o lençol, avistando-me com aquela ridícula vestimenta. Como se aquilo pudesse ser chamado de roupa, era somente mais um tecido desnecessário. Entretanto, o pior não era isso e sim o que se escondia por debaixo daquele horrendo traje: tudo. Sim, tudo e um pouco mais. Estava nu diante da Sakura. Diante do demônio rosado.
— Mas que droga?! – exclamei surpreso, enquanto tentava inutilmente puxar o lençol.
Sakura revirou os olhos diante minha reação.
— Não faça um escândalo, Sasuke. Não é a primeira vez que vejo alguém nu. – debochou-a erguendo uma sobrancelha rósea. – E as suas regiões baixas já não são novidades para mim. Quem você acha que auxiliou na cirurgia?
Era só o que me faltava. Ela já tinha me visto nu, e pior, duas vezes.
Estranhei o fato de ela também não ter as bochechas coradas, isso significava que meu instrumento não a impressionava? Isso já era demais.
— Vamos. Temos que te dar um banho, o tempo pós-cirurgia já passou e você pode tirar um pouco desse suor aí.
— Como vou tomar banho, se nem consigo me mexer muito bem? – indaguei e indiquei com as mãos a minha perna direita amparada por alguns tubos metálicos.
Ela deu uma risada, que poderia ser classificada como maligna.
— Eu vou te dar banho.
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Vergonha.
Era a única coisa que conseguia pensar aqui, sentado em um banquinho baixo de metal no banheiro, enquanto Sakura passava a esponja de maneira rude, pelas minhas costas. Ela só conseguiu me convencer a vir aqui, após explicar o por que de tudo isso. Tsunade a havia designado como minha vigia, ela ficaria me observando 24 horas por dia e ajudara-me com os procedimentos de recuperação.
Porém, mesmo sabendo que esse era o papel de profissional dela, não tornava o banho menos constrangedor. Pelo menos ela não ficou me tarando como fazia antigamente, quando jovens. Se bem que o total desinteresse dela pelo meu corpo, incomodava-me.
— Pegue. – ela me falou, entregando a esponja coberta de espuma.
Olhei de modo indagador para Sakura.
— É para terminar de se limpar. Ou você quer que eu pegue no seu querido? – zombou-a.
Bufei indignado. Em menos de meio dia, ela já conseguiu fazer inúmeras piadinhas contra a minha pessoa. Cadê a Sakura apaixonada que nunca me zombava? Estou sentindo saudades dela já.
— Pode ao menos se virar?
Rindo, ela fez o que lhe pedi.
Mas isso não deu certo. Assim que ela se virou, um de seus pés pisou em um montinho de espuma, fazendo-a perder o equilíbrio.
A rosada caiu estatelada no chão molhado, com a bunda generosamente empinada para o meu lado. O ângulo que seu corpo fazia, me dava uma visão da sua calcinha preta que apareceu após sua saia subir.
Rapidamente olhei para a parede, não seria bom ficar olhando-a nesse estado. Primeiro, por que levaria uma surra. Segundo, eu não era de ficar fazendo voyer em ex-companheira de time. E terceiro, não sou de ferro, algo poderia acordar e eu levaria outra surra.
Sakura levantou-se tentando manter a dignidade.
— Você não viu nada. – sentenciou-a.
— Não vi nada além de uma calcinha velha. Está na hora de fazer umas compras, Haruno. – cutuquei a onça. Estava perdendo o juízo? Provavelmente.
Irritada, ela soltou um grunhido. Sua respiração rápida pela raiva, fazia seu peito subir e descer rapidamente chamando a atenção para eles, principalmente por conta da camisa branca molhada, destacando seu sutiã preto.
Até que você não é uma tábua.
— Vou pedir para uma enfermeira vir te auxiliar. Mas, não pense que escapou de mim Sasuke, eu volto para continuar com meu trabalho.
Dizendo isso, ela saiu tempestuosamente do banheiro.
A rosada nunca dirigira suas emoções de maneira adequada e isso certamente era uma oposição aos seus talentos natos, já que possuía um controle de chakra perfeito. E apesar de controlar-se severamente em todo esse tempo de contato, deixou transparecer o descontrole que eu conseguia tão bem. Eu sabia que a verdadeira Sakura estava por ali e iria cutucá-la inúmeras vezes se fosse necessário.
De certa forma provocá-la seria um de meus passatempos prediletos durante a estadia no hospital. Ela não parecia incomodada com todos aqueles sarcasmos que eram proferidos a ela, porém Naruto alertou-me que a rosada havia construído uma muralha em volta de si nesse meio-tempo. E raras eram as vezes que transparecia sua verdadeira personalidade. Entretanto, não culpo-a, ser shinobi exige alguns dolorosos sacrifícios.
Posso supor o quão difícil tenha sido essas mudanças. Sakura sempre fora uma menina delicada e sensível, disposta a ajudar aqueles que precisavam de seus cuidados. E quando se escolhe um caminho cheio de incertezas e desconfianças, algumas de nossas características devem ser deixadas na penumbra. Ou até mesmo tornarem-se inexistentes.
Mas eu também sei que ela tem um temperamento aguçado, nunca levara desaforo pra casa e se necessário lutaria até o último segundo, apenas para mostrar-se capaz a todos que não acreditavam em seu potencial. Talvez esse seja um de seus maiores defeitos, Sakura sempre importou-se demais com a opinião dos outros e não dava a mínima para como estava interiormente. Aparências não alimentam a alma e certamente ela aprendera isso.
Farei de minha permanência um divertimento e posso dizer-lhe que ela será feita as custas de Sakura. Estava disposto a presenciar suas inconstâncias e beneficiar-me de algumas delas. Afinal, depois de tudo o que vinha presenciando, merecia um momento de descontração.
Um sorriso brotou em minha face. Esses 10 dias certamente não seriam tediosos como pensei.
