Trecho Um - Amor
RECEBEMOS UMA VISITA INESPERADA
Na semana anterior ao verão eu já estava ansioso para voltar ao acampamento e conhecer todos os novos campistas que chegaram após a promessa dos deuses de reconhecerem todos os seus filhos semideuses, há dois invernos atrás. Eu senti falta de tudo, de Quíron e até mesmo de Clarisse. Grover não nos deu muito tempo para saudade já que aparecia sempre que estava em uma de suas missões de salvamento da natureza em nome de Pan.
No verão passado Annabeth e eu não fomos ao acampamento. Ela estava muito ocupada com a reconstrução do Olimpo e tudo mais e eu fiquei feliz em ficar com minha namorada em Nova Iorque, apesar dela ter insistido que eu fosse rever os amigos do acampamento. Não apareceram muitos monstros que quisessem nos fazer de lanche e depois usar nossos ossos para palitar seus imensos dentes tortos. Eu me diverti vendo jogos de basquete na tela gigante que Atena mandou para Annabeth, junto com todos os canais sobre arquitetura, história e construções especiais da TV Olimpo. Acho que ela se lembrou de que talvez eu gostasse de esportes e mandou junto todos os canais de esportes exclusivos dos deuses. É, eu adorei isso.
Agora eu estava deitado em meu sofá-cama com Annabeth recostada em meu peito enquanto assistíamos a um documentário sobre construção de edifícios em formatos circulares na TV. Observei seu rosto azulado pela luz da TV, seus cabelos loiros e pensei em seus olhos cinzentos superconcentrados, absorvendo tudo o que fosse possível.
É, cara, namorar uma meio-sangue arquiteta e construtora de Olimpos não era fácil. Ela sempre me dava toda a atenção, mas um programa de TV sobre máquinas mortíferas, paredes elevadiças, pisos antigos ou qualquer outra coisa que cheirasse a areia e cimento era suficiente para deixá-la completamente absorta, como estava agora. Ou não.
Como se lesse meus pensamentos ela levantou a cabeça e espalmou suas mãos em meu peito, apoiando-se nos cotovelos, e me olhou com um meio sorriso no rosto.
- O que foi cabeça de alga? – Ela me deu um beijo e sorriu. – Já está com sono?
- Estava pensando em Quíron e no acampamento... – disse eu.
- Ah! Nem me diga! Estou ansiosa para voltar ao acampamento e mais ainda para ver a inauguração do novo Olimpo. – Os olhos dela brilharam.
Na tela os créditos subiam.
- Bem, tenho certeza que todos vão adorar e que Atena vai ficar muito orgulhosa de você. – Dei-lhe um beijo na testa e me levantei para buscar um copo de leite.
Cheguei à geladeira e bebi um gole de leite gelado. NY tinha agora dias e noites quentes e abafados.
- Acho que preciso de uma camisa para dormir. Não sei como vai estar o tempo essa noite. – Eu disse, fechando a porta da geladeira.
Andei em direção ao meu quarto, que agora pertencia a Annabeth, temporariamente. No início ela ficou em um hotel próximo ao Empire State, mas depois de minha mãe insistir tanto e ficar choramingando que ela deveria ficar conosco, Annabeth decidiu se mudar para nossa casa e ocupar meu quarto. Eu fiquei com o sofá, obviamente.
Minha mãe havia saído para um jantar em homenagem a Paul Blofis, meu padrasto e professor na faculdade dela e na minha escola. Eu e Annabeth estávamos em um de nossos poucos momentos a sós.
Encontrei no armário uma camisa de flanela, enquanto Annabeth tirava lençóis de sua cama. Fechei a porta do armário e ela estava parada bem na minha frente, me fitando com aqueles lindos e penetrantes olhos cinzentos. Ela se aproximou e jogou seus braços em meu pescoço, então me beijou. OK, devo admitir que beijar Annabeth era como afundar em um oceano gelado e depois ser atirado em um vulcão. Senti um frio descer pela espinha e, enquanto suas mãos desciam por minhas costas, senti como se houvessem faíscas em seus dedos. Abracei sua cintura e ela se aproximou de mim.
Annabeth moveu seu rosto beijou minha bochecha, então notei uma sombra no piso, vindo da janela. Virei o rosto e lá estava Nico di Angelo, com suas roupas pretas da cor de seus cabelos e seu rosto pálido. Annabeth deve ter visto também porque se afastou de mim e segurou minha mão. Não era algo muito espantoso já que Nico sempre nos fazia visitas inusitadas.
- Ahm... Err... Hmm... - Nico pigarreou – E-eu estava apenas de passagem e resolvi deixar um oi para vocês... Desculpe, não queria incomodar. – Ele disse, parecendo engasgado.
Tive vontade de dizer Que isso cara, já estou acostumado com pessoas surgindo em minha janela como fantasmas e quase me matando de susto.
- Oi, Nico. Como vão as coisas? – Annabeth perguntou. Parecia um tanto desconfortável. Ou talvez só quisesse arrancar a cabeça de Nico.
Nico mudou de posição.
- Ei, Nico, hmm, entre. O que está fazendo por aqui? – Perguntei.
– Eu estava por aí, sabem como é. Meu pai precisou de uns favores. Agora existem mais dois campistas de Hades e Perséfone não gosta muito que ele se envolva ''com esses bastardos'', então eu fui designado, como irmão mais velho, para acomodá-los no acampamento.
- Oh, sim! Bem, acho que vou beber uma água, volto já. – Disse Annabeth, deixando o quarto.
Nico sorriu para mim.
- Ei, cara, você e Annabeth, hein! Hm... Estão bem, quero dizer, ela realmente gosta de você e tudo. Fico feliz por vocês. Vocês estão sozinhos hoje, hein? – Ele levantou as sobrancelhas, falando sem parar.
- Ei! Ei! Não vamos falar sobre isso! – disse eu.
- Oh, sim. Bem, OK. Semana que vem estaremos todos no acampamento?
- Claro. Eu e Annabeth vamos direto para lá depois da inauguração do Olimpo.
- Cara! Vai ser uma festa grande. Até meu pai foi convidado! – Ele parecia empolgado. – Então... eu preciso ir. Diga a Annabeth que deixei um abraço. Grover mandou lembranças!
Ele se virou e desapareceu antes mesmo de eu me despedir.
