Ela é diferente

Capítulo Um

Quando eu finalmente percebi

- Vamos, chegou o dia.

Foi assim que minha mãe me acordou no dia primeiro de setembro. Acordei e me dei conta da enorme dimensão que Hogwarts dava à minha vida. Malas por todos os cantos do quarto, e o quarto em si, limpo. Aquele cheiro enjoativo que sobe às narinas quando você sabe que está prestes a fazer uma longa viagem.

- Quarto ano, né? - perguntei, ainda confuso, mesmo certo que a resposta era sim. Minha mãe apenas concordou com a cabeça, sorrindo.

- Vamos tomar o café? Seu pai está meio impaciente.

Me levantei e a segui até a cozinha, onde meu pai estava sentado nos esperando.

- Scorpius, você tem trinta minutos para comer alguma coisa, tomar seu banho, se vestir, escovar os dentes e dar um jeito nesse cabelo.

- Draco! - minha mãe reclamou.

- Astória! - ele respondeu em um tom sarcástico, mas ao encarar o olhar de minha mãe ele concordou em me dar quarenta e cinco minutos ao invés de trinta.

Comi apenas uma bolacha e subi, tomei um banho rápido, coloquei qualquer roupa e coloquei minha varinha e o uniforme dentre de uma velha pasta do meu pai. Dei um jeito no meu cabelo, dando aquela despenteada básica que sempre achei que me deixava mais atraente, e escovei meus dentes. Lindos dentes brancos.

Vou confessar, eu sou irresistível. Ainda mais esse ano! Quarto ano, agora sou um Sonserino com músculos. Chega até a ser injusto com os outros meninos, um loiro de olhos azuis tão perfeito como eu.

- Suspirando para o espelho, filho? - era o meu pai. Não fazia nem ideia que ele estivera vendo minhas caras e bocas para o espelho.

- Ah, claro, você pode entrar. - eu ignorei a sua primeira frase.

- Relaxa, filhão. - ele enfiou uma mão no bolso dos jeans e com a outra se apoiou no canto da parede - Você me lembra muito de mim.

- E isso é realmente um grande consolo pra mim. - disse, irônico.

- Eu sei que não tenho sido um ótimo pai ultimamente, Scorp...

- Não tem sido um ótimo pai? Você não chega nem a ser um pai de verdade. Já devem fazer uma ou duas semanas que você não dá a mínima pra mim e nem para a minha mãe. Você só quer saber daqueles seus amigos idiotas, e nunca me leva a lugar nenhum.

- Filho, me desculpe...

- Pedir desculpas não muda nada agora, pai. - confessei - Na verdade, fico até feliz que esteja indo para Hogwarts hoje. Lá eu tenho amigos de verdade. Como Bryan e Doug. Eles me dão atenção.

- Eles te dão atenção? Scorpius, desde que conheceu esses meninos suas notas abaixaram, você não faz outros amigos...

- Chega! - eu o interrompi pela terceira vez - Bryan e Doug eram os únicos que decidiram ser meus amigos, pai. A culpa foi toda sua, porque no primeiro ano, quando você ainda era pai de verdade, ninguém quis chegar perto de mim, porque os pais deles provavelmente disseram à eles quem eu era e quem era você.

- Posso saber o que está acontecendo? - minha mãe apareceu no corredor.

- Agora? Mais nada. - saí furioso do quarto, peguei os malões e entrei naquela droga de carro.

Quando finalmente chegamos, achei que iria me sentir aliviado, mas foi bem ao contrário. A pessoa que eu menos queria ver naquele momento de fúria estava lá.

- Malfoy?

- Oi, Weasley.

- Senhor e Senhora Malfoy. Quanto tempo! - Rose sorriu para mim. - Escuta, Bryan está te procurando e está com Doug, eles estavam nas cabines lá de trás, se quiser te mostro.

- Ah, certo. - concordei e, virando para meus pais apenas sorri pra minha mãe e deu um aceno de cabeça tímido para o meu pai. Agora iria pra Hogwarts, e iria me esquecer deles por um bom tempo.

Segui Rose pelo trem até que ela chegou à sua cabine. O Weasley e os Potter estavam lá também.

- Bom, eu fico aqui. Seus amigos estão te esperando numa cabine à direita, é só seguir mais uns dois metros no corredor.

- Ok. Obrigado, Weasley. - agradeci tímido.

- Não foi nada. - e ela se despediu com um aceno e eu segui no corredor. Não precisei nem tentar adivinhar onde os meninos estavam, porque assim que me virei vi Doug balançando as mãos para fora da cabine.

- Você está perdidinho na da Weasley, cara.

- Oi para você também, Doug.

- Oi. Olha, não se preocupa, eu não falo pra ninguém parceiro. Nem pro Bryan se você não quiser.

- Eca. - eu deixei escapar - Porque ele tá dormindo e babando tanto assim?

- Não sei, cara. - Doug comentou, erguendo uma sobrancelha. - Quer um sapo de chocolate?

- Não, valeu. Eu estou cansado. Briguei com meu pai de novo. - disse, mexendo no cabelo.

- Ih, cara, que barra, hein? Você me mandou, tipo, umas noventa e sete cartas só falando das brigas com ele. - Doug disse enquanto pegava um sapo de chocolate para ele mesmo comer.

- Não, dessa vez foi pra valer. Botei tudo pra fora com ele. Você sabe, quando eu fico nervoso é o que eu faço, eu não consigo evitar. Falo tudo na cara.

- Né, irmão, fazer o quê. Mas agora você vai pra Hogwarts e do jeito que tá pode até dar uns amassos na ruivinha.

- Que ruivinha? - eu fingi estar confuso, mas Doug apenas fez aquela cara de não finja que está confuso porque você sabe muito bem do que eu estou falando.

- A Weasley, cara.
Quando ele disse isso, dei uma risada forçada mas era tarde demais, Doug me conhecia desde o segundo ano. Tempo demais, se quer saber.