Lágrimas e Sangue

Sinopse: Ela o amava... não importava o que dissessem, ele provara que era uma boa pessoa... não importava o quanto o desprezassem, não importava o quão desagradável ele poderia ser... ela o amava ele a amava também, e era o suficiente. Ou não. D/G, me deixem Reviews, por favooor... não é tão ruim quanto parece... -_-"

Disclaimer: Se alguém achava que eles eram meus, sinto desapontar.... que eu me lembre foi uma tal de Rowling que criou eles... T.T e eles são da Warner também.

N/A: EU ODEIO SINOPSES!!!! GAAAHHHH!! Bom... leiam... por favor... e me escrevam falando o que vocês acharam: críticas, elogios, ameaças de morte... qualquer opinião é bem vinda!! ^^" jtarasoff@bol.com.br

N/A2: Eu não fazia a menor idéia de que censura colocar... eu ACHO que não tem nada tão traumatizante assim, mas, em todo o caso... se alguém morrer ou coisa assim eu espero que vá pro céu e não venha puxar o meu pé.

I - Passado e Presente

"E era a gaiola e era a vida era a gaiola

e era o muro a cerca e o preconceito

e era o filho a família e a aliança

e era a grade a filha e era o conceito

e era o relógio o horário o apontamento

e era o estatuto a lei e o mandamento

e a tabuleta dizendo é proibido.

E era a vida era o mundo e era a gaiola

e era a casa o nome a vestimenta

e era o imposto o aluguel a ferramenta

e era o orgulho e o coração fechado

e o sentimento trancado a cadeado.

E era o amor e desamor e o medo de magoar

e eram os laços e o sinal de não passar.

E era a vida era a vida o mundo e a gaiola

e era a vida e a vida era a gaiola."

(A Gaiola, Maria do Carmo B. C. de Melo)

***

"Aproximar-se e destruir". Foi o que o seu pai disse. Em breve a guerra estouraria e o Lord das Trevas estava apenas se fortalecendo, antes de seu ressurgimento triunfal. E nesse tipo de guerra alguém como ele era valiosíssimo. Para ambos os lados. Decore horários. Deixe-os ver as coisas certas e escutar as palavras certas. Aproximar-se e destruir. Na teoria era fácil. Mas era ele quem se encarregava da prática.

***

Precisava encontrar Draco. Era só o que a mantinha lúcida. Precisava encontra-lo a qualquer custo.

Ela caminhava rápido, mal reparando nos corpos ao seu redor. Sabia que estava fazendo mais barulho do que era prudente. Eles não podiam vê-la, mas podiam ouvi-la. Ela escutara isso o tempo todo na base antes que a deixassem sair.

Ouvia os sons de batalhas por todos os lados, mas não se preocupava com eles. Nada importava, a não ser encontrar Draco. E ela sabia que um daqueles corpos podia ser o dele. Talvez por isso evitasse olhar para eles.

E ela continuou caminhando, cada vez mais rápido. Tinha certeza de que poderia ouvi-la agora, mas não se importou.

Os corredores estavam desertos. Apenas o som da batalha ao longe. E os corpos. Mas ele tinha que estar ali. Ela sabia que ele estava. Ela começou a entrar pelos outros corredores, nem ao menos prestando atenção a onde ia. Só pensava em encontra-lo. E sabia que estava começando a perder as esperanças, mas isso era uma coisa que não poderia se permitir, pois a esperança era a única cosia que a sustentava.

Portas abertas, portas trancadas, salas vazias. Agora ela sequer verificava, apenas corria pelo corredor. Sabia que era inútil, e que assim não iria encontra-lo nunca, mas não conseguia parar.

Ela sentia que as lágrimas já estavam começando a cair, mas não podia começar a chorar! Não agora! Ela precisava encontra-lo! Precisava!

Ela entrou em um dos corredores de uma bifurcação, sem nem mesmo olhar para o outro. Não estava conseguindo pensar direito, e sabia que num lugar como aquele isso era perigoso. Ela parou no meio do corredor, procurando se acalmar.

Fechou os olhos, tentando se concentrar, mas assim que o fez viu a imagem de Draco, morto por algum comensal.. os cabelos antes platinados e bem arrumados encharcados em sangue... e o olhar.. divertido e zombeteiro, agora sem vida...

_ NÃO! _ ela gritou, no meio do corredor, sabendo no mesmo momento que fora uma idiotice. Logo algum comensal perceberia que tinha alguém ali e ela teria que duelar. E não estava nem um pouco preparada para isso agora. "Bobagem" ela tentou se acalmar "Não tem ninguém por aqui! Ninguém..." ou talvez não.

_ Virgin? _ era pouco mais que um sussurro, mas mesmo assim, ela ouviu claramente.

E ela nunca pensou que ficaria tão feliz em ouvir aquela voz pronunciando o seu nome. Não foram poucas as discussões que tivera com ele por causa do "Virgin". Ele insistia em chamá-la assim, apesar de saber que ela odiava o apelido. Por que ele não a chamava de Virgínia ou Gina, como todo mundo? Bem, o que fazer? Ele gostava de irritá-la. Mas dessa vez não chegou nem perto de seu objetivo. Sem sequer pensar no que estava fazendo, Gina arrancou a capa e correu até ele, e o abraçou, murmurando:

_ Como você sabia que era eu?

_ Eu sempre sei. _ ele respondeu com a voz cansada por entre os braços dela.

Ela o largou, o que ele pareceu agradecer, e ela entendeu o porquê assim que olhou para ele. Estava com as vestes sujas, o cabelo despenteado (o que era realmente raro de se ver) e tinha vários cortes e hematomas. Na mão, segurava o estimado punhal incrustado com esmeraldas no cabo. Era visível que tinha sido torturado.

_ Você está bem? _ ela perguntou, estupidamente.

E quase pode ouvi-lo responder: "É claro que não, Virgin, você não tem olhos?" Mas ele apenas sorriu, como fazia pouquíssimas vezes a não ser para ela e disse, antes de desmaiar:

_ Estou ótimo.

***

Aquilo era patético, e ele mal podia acreditar que ia fazer.

Sabia que a Grifinória havia tido treino de quadribol, e sabia que em breve a pessoa que ele esperava encontrar estaria voltando para o castelo.

Já estava escurecendo, e ele rezava para que não passasse mais ninguém por ali. Sabia que isso arruinaria sua reputação, mas, como ele mesmo insistia em se lembrar o tempo todo, sua reputação seria arruinada de uma maneira ou de outra em breve, e não havia nada que ele pudesse fazer. Era inevitável, se queria que as coisas dessem certo. Mas ainda sim a idéia o incomodava, e muito.

Com um último suspiro, e ainda mal acreditando no que ia fazer, ele se sentou, apoiando-se numa árvore e começou a chorar descontroladamente.

Já haviam se passado cerca de cinco minutos quando ele viu um vulto se aproximando, e fez os seus soluços aumentarem de intensidade, o que não foi muito fácil.

Como era de se esperar, assim que o "alvo" o ouviu, foi correndo na sua direção. Draco escondeu a cabeça nas mãos, assim que viu que ele vinha na sua direção e tratou de fingir que não tinha percebido. Alguns segundos depois, o "alvo" chegou até onde ele estava.

_ Se acalme! O que aconteceu? _ e ele precisou de cada fibra de concentração que tinha para não soltar um grito. Ele era ela! Era uma garota! Não era o Potter!

Com certeza uma de suas fãs idiotas que estava assistindo ao treino, e arruinara todo o seu plano! Mas era impensável mudar de estratégia agora, não poderia simplesmente levantar e alterar a memória dela, e depois voltar para o castelo como se nada tivesse acontecido. Bem, tecnicamente, poderia. Mas o tempo era precioso e ele não podia passar dessa noite.

_ Você não entenderia... _ ele disse com a voz pastosa, erguendo a cabeça. Ao fazer isso, precisou reprimir outro grito: era uma Weasley! Bem, havia tantos que ele não fazia idéia de qual seria, mas como esse era uma fêmea, ele achou que talvez pudesse identificar... Pelo que se lembrava, só existia uma, mas Weasleys se reproduzem tão rápido que ele não estava certo...

A garota visivelmente o reconheceu também, pelo modo com que levantou o seu livro e tentou atingi-lo na cabeça, mas ele se desviou antes.

_ Ei! _ ele exclamou, parando de chorar e se levantando, caso a tal Weasley viesse com outra idéia assassina e ele precisasse se defender. _ Eu já não pareço suficientemente mal? Você precisa tentar piorar a minha vida?_ e isso soou falso até mesmo para os seus próprios ouvidos, mas ele tentou ignorar.

_ Me desculpe, foi um reflexo. Essa história de rivalidade entre famílias, sabe? _ ela disse, ainda com o livro levantado, e Draco poderia jurar que ela estava querendo rir da cara dele.

Mas, ouvindo isso, ele voltou a incorporar seu papel e se sentou na árvore, prestes a chorar novamente.

_ Não, espere, não chore! Tem alguma coisa que eu possa fazer? _ por mais que a voz da Weasley parecesse confortadora, ele não conseguia tirar os olhos do livro em posição de ataque.

_ Ninguém pode me ajudar! _ ele disse, num tom excessivamente melodramático, e emendou em pensamento: "ótimo Draco, agora você já pode participar de um dramalhão de quinta categoria"

_ Deve haver alguma coisa! Por que você não me conta qual é o problema? _ ela perguntou, parecendo estranhar aquela situação tanto quanto ele, ou até mais...

_ Bem, você poderia começar abaixando esse livro. _ ela obedeceu, parecendo constrangida._ Eu... eu não poderia falar disso com você...

_ Por que não? Olha, eu poderia te ajudar! Mas você precisa me contar qual é o problema!

Draco estava começando a achar que aquilo era pura curiosidade, e não compaixão, já que um Malfoy chorando não é coisa que se vê todo dia.

_ Eu não posso... Não com você, que tem todos aqueles irmãos, e a sua família....

_ Ah, não! Você não vai ofender a minha família! _ ela começou a gritar de repente, parecendo indignada. _ Eu estou aqui, tentando ajudar, e o que você faz? Ofende a minha família! E depois nós é que somos os pobres... Pois você é que é pobre, Malfoy! Pobre de espírito, pobre de...

_ VOCÊ NÃO ENTENDE! _ ele berrou, para faze-la parar, acrescentando, mais baixo: _ Você não entende. Eu sei o quão horrível é a minha família... _ e baixou a cabeça, se perguntando da onde esperava tirar mais lágrimas.

_ Sabe? _ agora ela parecia visivelmente confusa.

"O que foi que eu disse?"

_ Sei... e é por isso que eu não posso falar com você sobre isso. Você tem uma família grande, _"Realmente, isso é indiscutível!" _ feliz, e eu? O que eu tenho? Um pai que me odeia! _ mais para refrear uma gargalhada do que para qualquer outra coisa, ele voltou a esconder o rosto nas mãos, prestes a chorar novamente.

_ Não, seu pai não pode te odiar! Qualquer um diria que ele te ama! Você é insensível, frio, despreza qualquer um.. Por que ele não iria gostar de você?

Se Draco não soubesse que provavelmente seria expulso por isso, teria lançado uma maldição Cruciatus na cara idiota daquela Weasley no mesmo momento. Mas mesmo assim, ele disse:

_ Viu? Até você me odeia!

_ Malfoy, _ ela respondeu num tom exasperado _ Todo mundo te odeia. É você que faz as pessoas te odiarem!

Tudo bem, bancar o coitado não estava dando certo, pelo contrário, só estava fazendo com que ele ficasse mais irritado. Ou talvez fosse a mera presença da Weasley. De qualquer forma, ele resolveu mudar de tática, e também porque duvidava que pudesse continuar com aquilo por muito mais tempo.

_ É, Weasley._ele falou, dessa vez no costumeiro tom de desprezo. Definitivamente se sentia melhor assim. _ Mas isso não significa que eu queira ser um Comensal da Morte.

E a garota ficou branca, o que Draco não gostou nem um pouco. A pele dela já era clara, e agora estava parecendo uma vela de tão pálida, o que produzia um contraste horrível com as suas sardas, na opinião dele. E como ele odiava sardas... aquelas pintas horríveis tinham o dom de estragar qualquer pele. Claro, uma marca Weasley. Mas isso era o de menos, porque aquela cara de pânico fez ele pensar que ela fosse desmaiar, ou pior, soltar um grito e atrair o time todo da grifinória para lá. E pelo que lhe constava, havia pelo menos dois Weasleys no time, e ele nem queria pensar no estado físico em que ficaria se eles o encontrassem com a Weasley caçula (se não tinha nascido mais nenhum desde que ele soubera que ela era a caçula, o que era pouco provável) à noite, sozinho, atrás de uma árvore. Poderiam pensar que ele estava tentando mata-la, e, de fato, era o que ele queria nesse momento.

Mas ela não gritou nem desmaiou, ela só se afastou alguns passos dele e balbuciou:

_ Você é um Comensal?

_ Você além de pobre é surda? Eu não acabei de dizer que não quero ser um Comensal?

No mesmo instante ele percebeu o quão estúpido isso foi. Agora nunca conseguiria fazer a Weasley pobretona confiar nele.

_ Malfoy, a minha condição financeira não afeta a minha audição, mas acho que a sua afeta o seu cérebro.

Bom, pelo menos ela não estava mais em estado de choque.

_ Não me importa o que você acha.

_ E não me importa o que você acha do que eu acho. _ ela disse, cruzando os braços e encarando-o.

"Isso é ridículo! Mudar a minha imagem com essa garota não ajuda em nada! Tudo bem, ela é uma Weasley, e poderia me ajudar a conseguir a confiança de outros Weasleys, mas mesmo assim...."

_ Você ainda não me disse por que estava chorando. _ a voz irritante dela interrompeu seus pensamentos.

_ E isso te importa? _ ele respondeu, sem nem se dar ao trabalho de olhar para ela, concluindo que o plano do seu pai não valia uma conversa com aquela garota insuportável.

_ Claro que sim. Eu não posso simplesmente chegar na Sala Comunal da Grifinória dizendo que eu vi Draco Malfoy chorar. Se eu souber o motivo a história fica muito mais interessante.

Dessa vez, Draco precisou se segurar para não pegar a varinha e lançar um Avada Kedavra na Weasley. Quem ela pensava que era para falar com ele daquele jeito?

_ Basicamente meu pai é um bruxo mau e quer que eu seja mau também. _ ele teve um breve vislumbre do Weasley pai batendo na porta da sua casa amanhã e levando seu pai para um interrogatório... então, seu pai se virava e matava o Weasley... ótimo! Mas vendo a Weasley filha olhando para ele, lembrou-se do que estava falando e concluiu: _ Isso vai te render uma ótima história, não é?

_ Mas você já é. _ ela disse, ignorando a pergunta.

Como aquela garota podia ser tão ingênua?

_ Weasley, _ele quase cuspiu o nome dela_ existe uma grande diferença entre insultar Sangues Ruins e matar Sangues Ruins.

_ Não pra mim. Se você despreza alguém simplesmente pelo seu sangue, sem ao menos conhecer a pessoa, você não é muito diferente de todos aqueles assassinos.

A garota definitivamente era ingênua demais. Draco nem queria pensar em como ela acabaria naquela guerra... Provavelmente morta. Ele se divertiu em pensar como gostaria se fosse ele que a matasse.

Mas, por algum motivo, ele não conseguiu pensar em nada para dizer a ela.

_ Ótimo, você ajudou muito. _ ele disse, com a voz carregada de sarcasmo _ Então, esse é o conselho. Eu já sou um bruxo mau e devo seguir o caminho do meu pai para o lado das trevas, _ e novamente a imagem do Weasley morto, dessa vez com moscas voando pero do cadáver abandonado nos jardins da casa... Ele se segurou para não rir e continuou: _ só preciso desenvolver um pouco mais o meu caráter maligno. _ e ele completou com um sorriso cruel: _ Você ganharia muito dinheiro se vivesse de dar esse tipo de conselho.

_ Na verdade, o conselho era: "Sim, você é uma pessoa ruim Malfoy, e se não é esse o futuro que você quer, você tem que mudar."

Por um momento ele apenas olhou para ela. Depois disse, num tom um tanto mais baixo que o habitual, e um tanto mais malicioso também:

_ Como?

_ Ajudaria parar de julgar as pessoas antes de conhece-las _ ela disse, desviando o olhar do dele. _ E você deveria demonstrar menos orgulho pelo seu pai e pelo que ele faz se você o odeia tanto assim.

_ Ótimo. Agora você já pode ir embora? _ aquela conversa definitivamente não estava tomando o rumo que ele queria.

Ela pareceu levemente chocada, mas foi uma coisa tão sutil que por um momento Draco achou que talvez tivesse imaginado.

_ Como você quiser, Malfoy.

Ela já estava se virando para ir embora, quando Draco falou, sem nem pensar no que estava dizendo:

_ E o que você estava fazendo no Campo de Quadribol a essa hora? Achei que estivesse vazio. _ "Que pergunta...ela estava vendo o Potter jogar, óbvio... Não é nenhum segredo que a Weasley é mais uma das fanáticas pelo Menino-Que-Sobreviveu... Patético.."

E ela virou-se, parecendo confusa:

_ Campo de Quadribol? Eu estava nas Estufas. O Campo é do outro lado.

E Draco poderia jurar que um letreiro com a palavra "estúpido" aparecera na sua testa.

A garota já estava caminhando em direção ao castelo quando Draco a chamou:

_ A propósito, Weasley,_ ela parou e olhou para ele _ você nunca me viu chorar.

Ela revirou os olhos e continuou seu caminho.

_ Claro, Malfoy...

***

Draco abriu os olhos.

Branco.

Piscou.

Branco.

Piscou.

Vermelho.

Vermelho?

_ Virgin? _ ele sussurrou, e logo sentiu os braços dela agarrando seu pescoço.

_Finalmente você acordou! _ ela praticamente berrou em seu ouvido.

_ Ai! E se você não quer que eu desmaie de novo, fale baixo!

Draco esperou que ela se desculpasse, mas ela já estava acostumada com o mau humor dele e nem se deu ao trabalho.

_ Há quanto tempo eu estou aqui? _ ele perguntou.

Ela se afastou, e Draco pôde confirmar suas suspeitas: estava em uma das milhares de camas que lotavam a enfermaria. Ele era um dos poucos que raramente ia para lá, e achou que dessa vez deveria ter compensado todo o tempo que ele passou fora.

_ Quase uma semana. _ ela apoiou os cotovelos na cama, e o rosto nas mãos e ficou olhando para ele. _ O que eles fizeram com você, Draco?

_ Nada de novo. Maldição Cruciatus e aquelas torturas físicas e antiquadas, o de sempre. _ ele acrescentou com um sorriso irônico: _ Nada que não fosse suportável.

Ela o abraçou de novo, e dessa vez mais forte. Mas ele entendia aquele exagero todo. Por mais que fosse comum naqueles dias, Draco nunca havia sofrido torturas graves daquele jeito.

_ E como foi que vocês conseguiram me tirar vivo de lá? _ ele perguntou, quando ela finalmente o soltou.

_ Não foi fácil, você estava muito bem protegido._ ela sorriu.

_ E morreu alguém? _ ele disse, soando apreensivo. E nem precisou esperar pela resposta. Apenas o modo com que ela se aprumou na cadeira e baixou o olhar para as mãos, agora apoiadas no colo, lhe disse tudo.

_ Quem? _ Draco perguntou, após alguns segundos.

_ Abbot, Longbotton, Fawcett e mais alguns que você não conhece.

Draco deu um longo suspiro, fechando os olhos.

_ Mas, calma Draco. Eles também saíram perdendo._ ela tentou reconforta-lo.

_ Alguém importante? _ ele perguntou no mesmo instante, levantado a cabeça. Naqueles tempos, o que mais se via eram Comensais jovens e inexperientes que se deixavam seduzir pelo lado das Trevas e eram facilmente exterminados.

Gina voltou a olhar para as mãos, desviando o olhar do dele de novo. Mas dessa vez parecia bem mais embaraçada.

_ Lúcio Malfoy é nosso prisioneiro. _ ela disse, muito baixo.

Draco não respondeu imediatamente. Parecia estar absorvendo a informação. Então, inesperadamente, ele começou a rir. Mais precisamente, gargalhar. E gargalhava tão alto e descontroladamente que as cabeças na enfermaria se viravam, assustadas, para eles.

_ O que foi? _ ela perguntou num tom baixo e repreensivo, como que para lembra-lo de onde estavam.

_ Bom, não deixa de ser irônico. Um Malfoy por outro.

Mas ela não pareceu compreender a graça, pelo contrário, ficou ainda mais irritada. Mas ele não esperava que ela compreendesse. Ela não poderia.

Gina se levantou, ainda irritada e disse:

_ Vou avisar a Dumbledore que você acordou. _ e completou, com um olhar de censura: _ Apesar de eu duvidar que alguém aqui ainda não tenha percebido!

E saiu para buscar o bruxo. Draco quase riu de novo, mas achou que o expulsariam da enfermaria (mesmo ele sendo um "doente"). Ela sempre acabava fazendo com que ele falasse com Dumbledore. Até agora vinha sendo útil.

***

Olhos cinzentos.

Olhos cinzentos que geralmente eram divertidos e irônicos. Olhos cinzentos que também podiam se transformar em duas lascas de gelo capazes de ferir qualquer um. Mas ainda sim, belos olhos cinzentos que ela raramente vira tão perturbados. Talvez nunca. E ainda perturbados como estavam, ela não conseguia deixar de se perder naqueles grandes olhos cinzentos cada vez que olhava para eles...

Mas ela não devia se perder neles. Pelo menos, não agora. Agora ela precisava descobrir o que os afligia tanto.

_ Draco, o que você tem? _ ela perguntou, num tom cauteloso. O humor dele, que já não era dos melhores, ultimamente andava pior do que nunca.

Mas dessa vez ele não explodiu em resmungos e reclamações sem sentido, como ela esperava que fizesse. Ele apenas levantou uma das sobrancelhas e por um breve instante ela pôde vislumbrar o brilho de divertimento em seus olhos. Mas um divertimento perturbado.

Ela esperou que ele dissesse alguma coisa, mas vendo que não ouviria resposta nenhuma daqueles lábios, ela resolveu arriscar:

_ É o seu pai de novo?

E o brilho desapareceu por completo. Por um momento ela desejou que tivesse ficado de boca calada. E logo depois ele desviou o olhar, mas ela não poderia culpa-lo: ele parecia ocupado demais observando a textura de uma das diversas folhas que estavam espalhadas ao redor com os dedos.

Estavam conversando (se é que se poderia chamar aquilo de conversa) embaixo de uma árvore um pouco afastada nos jardins da escola. Não que estivessem se escondendo. Ela achava que não tinha nada para esconder, e por mais que a sua família e a de Draco não fossem exatamente amigas, ele mudara. Draco mudara muito nesses dois anos, e qualquer um com olhos podia ver. Mas o seu pai parecia cego. Segundo ele, o Grande Lúcio Malfoy estava ocupado demais programando o futuro do filho para prestar atenção no presente. Ela nem queria pensar no que ele faria se resolvesse realmente tomar uma atitude sobre o assunto... Ela mal conseguia se imaginar sem Draco agora, e com certeza o pai mandaria para Durmstrang ou coisa pior... Mas uma amizade do garoto com uma Weasley, nas atuais circunstâncias, era a última de suas preocupações.

E era por causa dessas suas "outras preocupações" que Gina achava que Draco estava daquele jeito.

Não era mistério para ela que Lúcio exigia demais do filho (assim como o mimava demais, também, na opinião dela), principalmente no que se tratava de Artes das Trevas. Ora, ele lhe contara isso no dia em que se conheceram (em um arroubo de emoção que até hoje Gina achava um tanto estranho. Depois de conhecer melhor o garoto, aquela cena lhe parecia incrivelmente surreal. Às vezes ela se pegava pensando se Draco bebera alguma poção errada naquele dia, ou fora alvo de algum feitiço mal feito. Mas sequer pensava em perguntar algo a respeito a ele, achava que não sobreviveria para escutar a resposta).

Mas com o passar do tempo, Draco pareceu esquecer do assunto, salvo algumas vezes em que ela o via perturbado, por pressão do pai, como agora. Mas dessa vez ele parecia pior do que nunca.

Finalmente, ele disse, ainda ocupado com a folha e sem olhar para ela:

_ Não é o meu pai. Não o meu pai.

_ Draco, sé é porque é o seu último ano em Hogwarts, não se preocupe, todo mundo passa por...

Ele olhou para ela de súbito e ela teve de se calar. Nem em seus sonhos mais absurdos (e ultimamente eles não eram poucos) ela esperara ver Draco com um olhar como aquele. Nem mesmo quando o conhecera, e ele chorava tão desesperadamente que ela achou que pudesse inundar a escola ela o vira daquele jeito. Ele tinha tanta dor, e tanta frustração no olhar, que ela precisou se segurar para não abraça-lo no mesmo instante e tentar de alguma maneira reconforta-lo, lhe dizer que estava tudo bem... mas não. Draco não era o tipo de pessoa que se deixava abraçar, ou que chorava (uma ilusão... aquilo tinha que ter sido uma ilusão), ou que andava de mãos dadas com alguém, ou que... ou que dizia que a amava. Definitivamente, nunca escutaria isso dele. Ela desviou os olhos, sentindo que se o encarasse por mais um segundo as lágrimas que já estavam se formando começariam a cair. Por que ele tinha que ser tão complicado? E ela também sentiu uma enorme frustração dentro de si. Lá estava ele, sofrendo como ela achava que uma pessoa como ele nem seria capaz, e ela não tinha idéia do que fazer. "Uma inútil, Virgínia, é isso o que você é." Ela sentiu que seu rosto já estava ficando molhado pelas lágrimas quando o ouviu falar novamente:

_ Você não entende, Virgin. _ ótimo, era só o que ela precisava para se esquecer de todo o resto. Por que ele insistia em chamá-la assim? Ele sabia que ela detestava! _ Não é só o meu último ano em Hogwarts. É o seu e de todos que estudam aqui. É o último ano de Hogwarts.

Ela esforçou-se para não voltar a chorar. Afinal, os problemas dele eram muito piores que os dela, e ele não estava em prantos. Olhou para ele com uma expressão intrigada, mas no fundo sabia o que ele estava tentando dizer, mas não queria admitir. Não tão cedo... Não antes que ela pudesse lhe falar...

_ Ele vai voltar. _ ele declarou. Ela quase perguntou "Ele quem?", mas sabia que era desnecessário. Ela sabia perfeitamente quem ele era, e sabia também o que isso significava, e o porquê de Draco estar tão perturbado com isso. Mesmo assim, ele colocou em palavras aquilo que ela tanto tentava ignorar:_ Você sabe que eu não posso ficar contra o meu pai. Eu não posso ficar contra ele.

Mas por quê? Por que ele tinha que se juntar a eles, por que ele tinha que fazer o que não queria, por que ele tinha que sofrer?

_ Por quê?_ ela não teve coragem de olhar para ele.

_ EU SIMPLESMENTE NÃO POSSO! _ ele gritou, mas ela no fundo já estava preparada para isso. Mas preparada ou não, ela não conseguiu impedir as lágrimas de caírem. Não era justo! Apenas... não era justo. _ Eu não posso, Virgin... _ ele completou, e ela ouviu claramente aquela nota de insatisfação e inevitabilidade que ela tanto temia.

_ Draco... _ ela não conseguiu se segurar mais. Agarrou-se a ele, abraçando-o, como se assim pudesse prendê-lo a ela por mais tempo. Como se assim pudesse mudar o que não podia ser mudado. E, ao contrário do que pensava, Draco retribuiu seu abraço. Talvez porque ela estava chorando, ou talvez porque ela o apertava com tanta força que ele não tinha outra escolha. Ela não queria larga-lo mais, nunca... Queria esquecer que existia uma droga de guerra prestes a acontecer, esquecer a droga de Lorde das Trevas que insistia em rouba-lo dela, e esquecer a droga de sobrenome de Draco.

Mas não podia.

Assim como não podia parar o tempo, não podia fazer com que suas lágrimas parassem de cair, e não podia... fazer com que Draco sentisse por ela o que ela há tanto tempo vinha sentindo por ele.

Ela o soltou, achando que se não o fizesse agora não o faria nunca, e de fato, a idéia não lhe parecia tão ruim.

Tratou de enxugar as lágrimas com as mãos, tentando por tudo parar de chorar. Encarou aqueles maravilhosos olhos cinzentos, que agora lhe pareciam um céu tempestuoso, tamanho era o sofrimento que estava estampado neles, mas antes que pudesse se perder neles novamente, articulou a única solução que lhe pareceu viável:

_ Você precisa falar com Dumbledore. Agora.

N/A: Esse primeiro capítulo é uma palhaçada... Mon Dieu... Se vocês acharam muito confuso, ou muito ruim, ou muito bom (!) me escrevam!! Eu realmente quero opiniões! (é, acho que eu sou masoquista..... -_-") Se alguém está pensando em desistir de ler essa coisa.. bem... o que eu posso dizer... Os outros capítulos não são tão ruins. Eu prometo. ¬¬